Prof. Douglas Barraqui
Por vezes, como professores, nós
temos que ser psicólogos e orientadores:
Há algum tempo atrás um aluno
chegou para mim e disse:
– professor eu estou sofrendo bullying
e isto está me traumatizando.
Nesta hora eu usei a minha parca experiência de vida e disse ao meu aluno:
– menino olha aqui, na minha
época não tinha essa coisa de bullyng. Na minha época não havia traumas. Minha
vó materna, Catarina, dizia “eu vou te dar para o homem do saco” - que tempos
depois descobri não passava de um pobre mendigo maltrapilho. Eu era tratado
como Chantilly “bate que cresce”. Quando eu caia minhas tias gritavam: “coitadinho
corre lá alguém”. Minha mãe dizia “é bom para crescer”.
Na escola eu sofria essa coisa ai
que você chamou de bullying, que muito provavelmente você não sabe nem o
significado da palavra. Apelidos dos mais saudosos e criativos: “testa de
amolar facão”, “naréba” (devido a minha genética italiana expressa no nariz bem
dotado herdado do meu pai), mas o que mais me perturbava era “esqueleto” (isso
devido a minha magreza esquelética).
Ai você me pergunta o que eu
fazia para revidar? Eu te respondo: nada. Aristóteles, aluno de Platão e mestre
de Alexandre, o Grande, em seus escritos sobre a ética disse que havia uma linha
entre a coragem e a imprudência e entre a prudência e a covardia. Revidar ao bullying que
eu sofria seria imprudente. Na melhor das hipóteses eu só apanharia em 99,9% dos
casos. Mas, eu não era covarde. Eu reagi a minha maneira: entrava na
brincadeira, ria de mim mesmo. Mas, no fundo crescia algo dentro de mim que
dizia, não farei isso com ninguém. Eu serei uma pessoa muito melhor do que eles
são – anos depois eu descobriria que isso tinha um nome, que se
tratava do caráter.
A última vez que soube sobre um
daqueles garotos da minha tenra infância ele estava prezo. Isso de fato não me
faz melhor do que ele que está na cadeia, mas me faz uma pessoa prudente e com
coragem, uma pessoa de caráter. Então eu disse ao meu aluno:
– seja
prudente e tenha coragem, seja um menino de caráter.
Alguns minutos depois meu aluno
estava na sala da diretora com o olho roxo. Ele entendeu tudo errado. Mas, posso te dizer que em 99,9% dos casos as
pancadas da vida são os maiores e melhores mestres.
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