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sábado, 20 de janeiro de 2018

Níkos Poulantzas e Otto Bauer: uma visão da esquerda sobre o fascismo


Prof.  Douglas Barraqui

Para Níkos Poulantzas, filosofo e sociólogo grego, o fascismo constitui de uma forma de estado e uma forma de regime, representando uma conjuntura extremamente particular da luta de classes. Desenvolveu-se de forma orgânica a partir da democracia burguesa. Na concepção da Internacional comunista, compartilhada por Trotsky, fascismo corresponde a uma guerra civil aberta da burguesia contra a classe operária.

Poulantzas destaca que o fascismo não é a simples substituição de um governo burguês por um outro, mas sim uma mudança na forma de Estado. Trata-se de um fenômeno complexo que pode ser explicado a partir das suas relações com as diversas classes de lutas. O processo de fascização e a instauração do fascismo correspondem à situação de aprofundamento das contradições internas entre as classes e a fração da classe dominante.

A conjuntura do fascismo corresponde a uma crise da ideologia dominante, a democracia liberal. E acima desta crise ideológica podemos falar em uma conjuntura determinada - o pós-guerra, as consequências para os países derrotados e a crise de 1929.

Poulantzas divide o processo de fascização da seguinte maneira: em primeiro momento há o aparecimento das milícias; e em um segundo momento ocorre o recrudescimento do papel do próprio Estado.

Ainda sobre a forma embrionária de bandos armados, milícias, assumem um caráter de partido de massa quando apoiado por frações dominantes durante a etapa de ofensiva contra o proletariado. Nesse momento o partido fascista, dando garantias seguras, ganha o apoio do grande capital e sua ligação com as massas populares mantém-se forte.

Em outro momento o fascismo caminha em direção as massas há ainda uma aliança entre a fração monopolista e a pequena burguesia. Uma vez no poder: Concessões são dadas as massas, é o momento em que  se dá início da dominação do Estado.

No período de estabilização do fascismo: é imposto pelo bloco no poder certas concessões às massas populares. É neste momento que se estabelece a hegemonia do grande capital.

Na visão de Otto Bauer, um dos principais pensadores esquerda, o fascismo é resultado de três processos sociais: Primeiro: A guerra expulsou da vida burguesa e desempregou grande massas incapazes de retornar ao modo de vida burguês, formaram milícias fascistas, com peculiar ideologia militarista, antidemocrática e nacionalista. Segundo: A crise econômica do pós-guerra levou a miséria grandes massas de pequenos burgueses e camponeses. Essas massas abandonaram as fileiras dos partidos de massas democráticos e levantaram-se cheios de ódio e decepção contra a democracia. E por último: Diminuição dos benefícios contra das classes capitalistas que para ressarcir-se aumentou o grau de exploração sobre a classe operária. Como a classe capitalista duvidava que pudesse conseguir por intermédio do regime democrático conter a classe operária, optou então em recorrer às milícias fascistas nacionalistas para que semeasse o terror na classe operária.

Capitalistas ajudaram os fascistas em primeiro momento com auxílio financeiro, posteriormente induzio o Estado a fornecer armas aos fascistas e por fim cedeu o poder Estatal aos fascistas.

O exemplo do caso da Itália os oficiais da reserva desmobilizados depois da guerra foram quem constituiu os núcleos do partido fascista. Homens que não estavam na vida burguesa; odiavam o capitalista especulador;  orgulhosos de suas condecorações e seus ferimentos e que criaram uma aversão ao capitalismo proletário; ressentidos, pois sua pátria, pelo qual haviam dado seu sangue, não podia oferecer-lhes melhores condições e posições; nacionalistas exacerbados em oposição a democracia; homens que não queriam deixar os antigos hábitos contraídos durante a guerra: desejavam dar e receber ordens, usar uniformes e desfilar no ritmo da marcha. Apreciavam assim a indústria da guerra.

Foram esses homens que começaram a formar as organizações paramilitares (ainda mais numerosos na Alemanha). Foram essas as células primordiais do fascismo as que desenvolveram sua ideologia geral.

Para o caso da Alemanha a República na Alemanha nasceu em meio a uma amarga miséria. Um país arruinado no pós-guerra e humilhado. Foi nessa conjuntura que os nacionalista da intelectualidade rebelaram-se contra a situação do país. Assim podemos dizer que as consequências do pós-guerra mundial contribuíram assim para fomentar o nacionalismo alemão.

A grande crise do sistema capitalista de 1929 teve um impacto muito forte sobre a Alemanha e Hitler soube muito bem manobrar a crise de modo colocar o povo a seu lado e o nazismo no poder. Antes da crise, durante a época de prosperidade, o partido Nacional Socialista de Hitler era um grupo sem importância, com a crise de 1929 ele ganha força. A democracia não pode evitar que a crise arruinasse a pequena burguesia e camponeses. Assim esses voltaram-se contra a democracia. Em meio as constantes pressões por parte da classe operária a classe capitalista então decidiu fazer do fascismo para submeter a classe operária. Foi através das “expedições de castigo” que a classe capitalista descobriu como romper com o impetuoso ataque da classe operária. A milícia fascista foi lugar de confluência dos marginalizados de todas as classes. Podemos concluir em Otto que o fascismo nacionalista seria patrocinado pela burguesia e seu poder Estatal.


Uma vez no poder o partido fascista dominaria o proletariado; expulsaria os representantes da burguesia do poder dissolvendo seus partidos sob a justificativa de que salvaria a burguesia da revolução proletária. Na verdade o movimento operário já estava debilitado. Era o momento dos capitalistas escolherem entre destruir o fascismo e assim favorecer a classe operária, ou ceder ao fascismo o poder estatal. Talvez tarde de mais; pois o terror fascista dissolveria e submeteria à sua tutela algumas organizações capitalistas.

Níkos Poulamtzas e Otto Bauer são contribuições valiosas no que tange a compreensão dos regimes fascistas da Europa entre guerras, bem como o processo de fascilização. São autores que embora partem de uma visão de esquerda devem ser lidos e levados em consideração no estudo da história política da Europa.

Bibliografias:

BAUER, Otto. O Fascismo.

POULANTZAS, Nicos. Fascismo e a ditadura: A III Internacional face ao fascismo. Tradução João G. P. e M. Fernanda S. Granado. 1ª ed. Porto: Portucalense Editora, 1972.


sábado, 25 de novembro de 2017

NOVA ORDEM MUNDIAL

Prof. Douglas Barraqui

Após fim de URSS (1991) duas visões fundamentaram a nova ordem mundial:

UNIPOLAR – Em que EUA tornou-se potencia hegemônica.

MULTIPOLAR – A partir de fortalecimento de blocos geoeconômicos. A ex. da EU (União Europeia).

1)       BLOCOS ECONÔMICOS:

A)      CLASSIFICAÇÃO DOS BLOCOS EONÔMICOS:
I - Zona de livre comércio: Eliminação ou diminuição significativa das tarifas alfandegárias dos produtos comercializados entre os países-membros. Exemplos: NAFTA (Tratado de Livre Comércio da América do Norte),

II - União Aduaneira: Zona de livre comércio que também adotou uma Tarifa Externa Comum (TEC). Exemplo: Mercosul (Mercado Comum do Sul). A TEC, nesse caso, é adotada apenas entre os seus membros efetivos (Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai - A Venezuela foi suspensa do Mercosul, por tempo indeterminado em dezembro de 2016.).

III - Mercado Comum: Envolve a livre circulação de produtos, pessoas, bens, capital e trabalho, tornando as fronteiras entre os seus membros quase que inexistentes em termos comerciais e de mobilidade populacional. Ex.: EU (União Europeia).

IV - União Política e Monetária: Um modelo de mercado comum que passa a alcançar também o campo monetário. Adoção de uma moeda comum que substitui as moedas locais ou passa a valer comercialmente em todos os países-membros. Também é criado um Banco Central do bloco, que passa a adotar uma política econômica comum para todos os integrantes. Ex.: EU (União Europeia).


B)       UNIÃO EUROPEIA:

I – Fatores que levaram a sua criação:
Ø  Dependência dos europeus em relação ao Plano Marshall no pós Segunda Guerra.
Ø  Necessidade de promover recuperação econômica.
Ø  Necessidade de romper com a dependência econômica com os EUA

II – Origem:
1950 – Plano Schuman – Idealizado pelo ministro francês Robert Schuman, uniu França e Alemanha em um pacto de cooperação econômica (marco fundador da União Europeia).
1952- Comunidade Econômica do Carvão e Aço (CECA) -  França, Alemanha, Bélgica, Holanda e Luxemburgo deixaram suas diferenças de lado e se uniram para fazer frente as potencias EUA e URSS.
1957 - Tratado de Roma - Institui a Comunidade Econômica Europeia (CEE) (Mercado Comum).
1992 - Tratado de Maastricht – Criado oficialmente a União Europeia.

III – Diretrizes:
Ø  Adoção de uma moeda única (Euro).
Ø  Adoção de um regime de mercado único. Quatro liberdades:
1)       Livre circulação de serviços
2)       Livre trânsito de pessoas
3)       Livre circulação de mercadorias
4)       Livre circulação de capitais.


IV – Bolha Imobiliária de 2008 e suas consequências para UE
A “Bolha imobiliária” (elevação irreal dos preços dos imóveis) ou “Crise Subprime” (hipotecas com maior risco de crédito nos Estados Unidos) – afetou em longo prazo a UE:
Ø  Queda na arrecadação
Ø  Aumento de dívida pública
Ø  Deterioração econômica de alguns países: Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha (PIIGS -  alusão a porcos devido as medidas preferências de seus governo em salvar o sistema bancário financeiro em detrimento da economia do país).

V – BREXIT e as incertezas da UE:
Em 23 de junho de 2016, os cidadãos do Reino Unido participaram de um plebiscito em escolheram deixar a União Europeia. Com  52% de votos decidiriam pelo Brexit.
Ø  O termo Brexit é a união das palavras Britain (Grã-Bretanha) e Exit (saída, em inglês).
Ø  As nações do Reino Unido são a Inglaterra, a Irlanda do Norte, a Escócia e o País de Gales.
Ø  Motivos que levaram o Reino Unido querer deixar o bloco:

1)       Questão da imigração: crise de refugiados em que ondas de imigrantes vindos da África e Oriente Médio assustam os europeus, que muitas vezes reagem com xenofobia. Cresceu a percepção de que o Reino Unido estava sendo prejudicado ao facilitar a entrada de estrangeiros.

2)       Situação econômica injusta: argumento de que a União Europeia cria uma situação injusta entre seus membros, em que os países com economias mais fortes (como Alemanha, França e Reino Unido) sustentam os países economicamente mais fracos e endividados (Espanha, Portugal, Grécia, Itália, etc).

3)       Nacionalismo e conservadorismo: A decisão representa uma vitória do conservadorismo e do nacionalismo. Grupos políticos nacionalistas de outros países da Europa devem ganhar mais espaço para o seu discurso após a decisão do Reino Unido.


Ø  A saída do Reino Unido da União Europeia, abre-se um período de incertezas, afinal, essa é a primeira vez que um membro decide deixar a UE.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

AZEVEDO, Gislane Campos; SERIACOPI, Reinaldo. Projeto Teláris: história 7º ano. São Paulo: Ática, 1º ed., 2012. CAPELLARI, Marcos Alexandre.

CAPELLARI, Marcos Alexandre; NOGUEIRA, Fausto Henrique Gomes. História: ser protagonista - Volume único. Ensino Médio. 1ª Ed. São Paulo: SM. 2010.

COTRIM, Gilberto. História Global – Brasil e Geral. Volume Único. Ensino Médio. 8ª Ed. São Paulo: Saraiva 2005.

MOZER, Sônia & TELLES, Vera. Descobrindo a História. São Paulo: Ed. Ática, 2002.

NOGUEIRA, Fausto Henrique Gomes. História: ser protagonista - Volume único. Ensino
PILETTI, Nelson & PILETTI, Claudico. História & Vida Integrada. São Paulo: Ed. Ática, 2002.

Projeto Araribá: História – 7º ano. /Obra coletiva/ São Paulo: Editora Moderna, 2010. Editora Responsável: Maria Raquel Apolinário Melani.

Uno: Sistema de Ensino – História – 7º ano. São Paulo: Grupo Santillana, 2011. Editor Responsável: Angélica Pizzutto Pozzani.


VICENTINO, Cláudio e DORIGO, Gianpaolo. História Geral e do Brasil. Vol. Único. 1 Ed. São Paulo, Ed. Scipione, 2010.

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

IMAGEM HISTÓRICA - DOROTHY COUNTS

Prof. Douglas Barraqui

O racismo, o preconceito e o ódio são as facetas mais perversas da humanidade. Dorothy Counts tinha 15 anos quando se tornou a primeira menina negra no colégio Harding, em Charlotte, sul dos EUA. Era 4 de setembro de 1957, e a cidade tentava a integração racial. Por cinco dias, ela resistiu a pedras, cuspe e insultos. A provação a levaria a dedicar a vida à educação e viraria uma das imagens mais poderosas na luta por direitos civis dos negros nos EUA.




domingo, 19 de fevereiro de 2012

Carnaval: a verdade por trás das máscaras e trios


                                                                          
Por Douglas Barraqui

Não sou inimigo do Carnaval, um dos festejos mais populares do Brasil, mas faço uma crítica na forma e de como se comemora. Por de trás das fantasias do carnaval está um trio de absurdos, uma escola de ignorância é uma marcha de corruptos.

O primeiro erro é acreditar que o carnaval é uma festa genuinamente “made in Brasil”. Embora não há como comprovar empiricamente o nascimento do carnaval, sabemos que a 10.000 a.C. homens, mulheres, crianças, se reuniam no verão de corpos pintados, caras mascaradas, pulando e cantando para espantar os demônios da má colheita. Festejos parecidos e peculiares foram comemorados entre egípcios, gregos e romanos. Mas, o carnaval tal como conhecemos tem sua origem na Europa no Período Vitoriano e se espalhou pelo mundo afora metamorfoseando a outras culturas. No Brasil quando aqui chegou por influência dos lusitanos das Ilhas de Madeira, Açoures e Cabo Verdena, na primeira metade do século XVIII, recebeu o nome de entrudo. Consistia de destrambelhadas correrias, mela-mela de farinha, água com limão que evoluiu depois para batalhas de confetes e serpentinas. Os primeiros blocos de carnaval e os famosos corsos só vão surgir no século XIX. E a primeira Escola de Samba somente em 1928, com a Deixa Eu Falar, no Bairro do Estácio.

Enganam-se os pobres coitados que correm atrás de trios e de marchinhas carnavalescas pensando que carnaval é uma festa popular. Hoje carnaval é negócio, e dos mais lucrativos, coisa de gente rica. Pobre não tem acesso aos camarotes VIP (Very Important Person), as festas privadas e luxuosas e aos abadas caríssimos intitulados “passaportes da alegria”.


A maioria dos blocos, trios, palanques e escolas vivem à custa do poder público. Seu, meu e nosso dinheiro. E convenhamos ninguém subirá em um palanque somente para fazer do carnaval uma festa democrática, ou para fazer feliz o público. Esses artistas, mega artistas, não cobram menos do que na casa dos milhares e até mesmo milhões para divertir um público anestesiado e supostamente feliz porque é carnaval. Uma política de circo para uma população paupérrima que não tem se quer um pão na mesa.


Todo carnaval são as mesmas coisas dantescas: a boa música e amordaçada pelas supostas músicas do momento como “o melo da mulher maravilha” e um “ai se eu te pego”. Dezenas de ambulâncias são disponibilizadas para atender bêbados e machões brigões enquanto o povo morre as minguas nos corredores dos hospitais. A polícia é colocada com todo seu efetivo a fim de guardarem a ordem, e no dia a dia o mesmo folião que pula atrás dos blocos vive encarcerado dentro de sua casa por grades e muros com medo da insegurança.


Os falsos gurus da economia dizem até que o carnaval faz girar a economia, gera renda para dona Maria do cachorro quente e até o senhor João catador de latinhas. Se João e Maria fossem depender do carnaval para o sustento de seus filhos morreriam de fome. Carnaval só é lucrativo para grandes cervejarias, hotéis luxuosos, donos de trios elétricos, e músicos famosos. No mais é prejuízo atrás de prejuízo. São gastos para socorrer vítimas de acidentes de trânsitos os mesmos foliões embriagados ao volante. Gastos em limpeza de rua, ao passo que os foliões parecem mais com porcos dançando em um chiqueiro. Fora os gastos com gravidez indesejada, e com tratamentos para novos soro positivo.


E o ano, como dito popular, só começa de fato após o carnaval. Só depois que os trios e os tambores, pandeiros, cuícas se calaram, que o efeito das drogas passarem e que as máscaras caírem é que se vai ter uma noção do prejuízo. Que o país das cores, das luzes, do deslumbre e da dança passou pela avenida e foi embora. E ficou a realidade.



A dura e vergonhosa realidade de um salário mínimo irrisório. A realidade dos autos impostos a serem pagos ao leão, não o leão da Escola Porto da Pedra, mas, o leão da receita. A realidade dos mega salários, dos corruptos, do mensalão. A realidade dos salários indignos dos professores, policiais e bombeiros que tentam salvar o que restou após o carnaval. Entre tantas outras realidades.  Faço minhas as palavras de Danilo Gentili: “é melhor morrer no país do carnaval do que viver no carnaval desse país." 

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Face book, crise econômica e crise política: o olhar da história


Por Douglas Barraqui

Crise econômica da Europa, não se fala mais em outra coisa. Mas, olhe para esse momento histórico com um olho no presente e outro no passado. Você conseguirá, assim como eu, enxergar que o próprio conceito de crise econômica não mais consegue aplacar e nos dar a verdadeira proporção do que de fato está ocorrendo não só na Europa, mas em todo mundo.

O que de fato esta acontecendo é uma verdadeira alteração na relação entre poder e sociedade. O Estado em sua forma mais conhecida, ou como assistimos, está em crise. A crise econômica, que aos olhos nus de diversos economistas parece fácil de resolver, sufoca os Estados para uma crise política há muito conhecida historicamente; retomamos aqui a França pré-revolução.

A juventude, a opinião pública no geral está hoje muito mais informada e concientizada fazendo uma progressiva e constante desconfiança em relação ao poder. O face book e outros redes sociais estão derrubando tiranias no norte da África, movimentando protestos contra corruptos e organizando a massa frente ao caos na Grécia. Olhando com esses olhos as questões econômicas se tornam um plano de fundo para um processo muito mais amplo e complexo no âmbito da política e no conceito de poder estatal.

A crise atual não é a crise de 2008, é muito diferente. Em 2008 eram as instituições econômicas que estavam afundando, agora é muito mais grave são os Estados. Com aquela crise criou-se entre os bancos e grandes sistemas financeiros a crença de que quanto maior a crise econômica, maior seria a necessidade de o Estado intervir injetando mais e mais dinheiro nessas instituições. Contraditoriamente era a dívida dando lucro. Nuances e contradições do capitalismo.

Infelizmente não se aprendeu nada com o passado de meros 3 anos e menos ainda com a história. Continua se achando que o sistema capitalista e o mercado financeiro possuem vida própria, aos moldes do "laissez faire, laissez aller, laissez passer". Todavia esse mundo financeiro capitalista se configura como uma grande aldeia global cada vez mais conectado aos meios de comunicação, mais informados. Pessoas, as dezenas de milhares, com medo de perderem seus empregos, ficarem sem aposentadorias e cheias de remorso contra o Estado, a quem eles confiaram sua vida, e agora se vêem em apuros.

A crise política de fundo econômico, portanto tem um lado humano frágil, falível e corruptível. Talvez estejamos de frente a uma nova, grande e dramática revolução nunca antes vista na história da humanidade. Movida pelas massas e com uma nova arma, a informação.  

domingo, 30 de outubro de 2011

Níkos Poulantzas e Otto Bauer: uma visão da esquerda sobre o fascismo

Hitler e Mussolini
Por Douglas Barraqui

Para Níkos Poulantzas, filosofo e sociólogo grego, o fascismo constitui de uma forma de estado e uma forma de regime, representando uma conjuntura extremamente particular da luta de classes. Desenvolveu-se de forma orgânica a partir da democracia burguesa. Na concepção da Internacional comunista, compartilhada por Trotsky, fascismo corresponde a uma guerra civil aberta da burguesia contra a classe operária.

Poulantzas destaca que o fascismo não é a simples substituição de um governo burguês por um outro, mas sim uma mudança na forma de Estado. Trata-se de um fenômeno complexo que pode ser explicado a partir das suas relações com as diversas classes de lutas. O processo de fascização e a instauração do fascismo correspondem à situação de aprofundamento das contradições internas entre as classes e a fração da classe dominante.

A conjuntura do fascismo corresponde a uma crise da ideologia dominante, a democracia liberal. E acima desta crise ideológica podemos falar em uma conjuntura determinada - o pós-guerra, as consequências para os países derrotados e a crise de 1929.

Poulantzas divide o processo de fascização da seguinte maneira: em primeiro momento há o aparecimento das milícias; e em um segundo momento ocorre o recrudescimento do papel do próprio Estado.

Ainda sobre a forma embrionária de bandos armados, milícias, assumem um caráter de partido de massa quando apoiado por frações dominantes durante a etapa de ofensiva contra o proletariado. Nesse momento o partido fascista, dando garantias seguras, ganha o apoio do grande capital e sua ligação com as massas populares mantém-se forte.

Em outro momento o fascismo caminha em direção as massas há ainda uma aliança entre a fração monopolista e a pequena burguesia. Uma vez no poder: Concessões são dadas as massas, é o momento em que  se dá início da dominação do Estado.

No período de estabilização do fascismo: é imposto pelo bloco no poder certas concessões às massas populares. É neste momento que se estabelece a hegemonia do grande capital.

Na visão de Otto Bauer, um dos principais pensadores esquerda, o fascismo é resultado de três processos sociais: Primeiro: A guerra expulsou da vida burguesa e desempregou grande massas incapazes de retornar ao modo de vida burguês, formaram milícias fascistas, com peculiar ideologia militarista, antidemocrática e nacionalista. Segundo: A crise econômica do pós-guerra levou a miséria grandes massas de pequenos burgueses e camponeses. Essas massas abandonaram as fileiras dos partidos de massas democráticos e levantaram-se cheios de ódio e decepção contra a democracia. E por último: Diminuição dos benefícios contra das classes capitalistas que para ressarcir-se aumentou o grau de exploração sobre a classe operária. Como a classe capitalista duvidava que pudesse conseguir por intermédio do regime democrático conter a classe operária, optou então em recorrer às milícias fascistas nacionalistas para que semeasse o terror na classe operária.

Capitalistas ajudaram os fascistas em primeiro momento com auxílio financeiro, posteriormente induzio o Estado a fornecer armas aos fascistas e por fim cedeu o poder Estatal aos fascistas.

O exemplo do caso da Itália os oficiais da reserva desmobilizados depois da guerra foram quem constituiu os núcleos do partido fascista. Homens que não estavam na vida burguesa; odiavam o capitalista especulador;  orgulhosos de suas condecorações e seus ferimentos e que criaram uma aversão ao capitalismo proletário; ressentidos, pois sua pátria, pelo qual haviam dado seu sangue, não podia oferecer-lhes melhores condições e posições; nacionalistas exacerbados em oposição a democracia; homens que não queriam deixar os antigos hábitos contraídos durante a guerra: desejavam dar e receber ordens, usar uniformes e desfilar no ritmo da marcha. Apreciavam assim a indústria da guerra.

Foram esses homens que começaram a formar as organizações paramilitares (ainda mais numerosos na Alemanha). Foram essas as células primordiais do fascismo as que desenvolveram sua ideologia geral.

Para o caso da Alemanha a República na Alemanha nasceu em meio a uma amarga miséria. Um país arruinado no pós-guerra e humilhado. Foi nessa conjuntura que os nacionalista da intelectualidade rebelaram-se contra a situação do país. Assim podemos dizer que as consequências do pós-guerra mundial contribuíram assim para fomentar o nacionalismo alemão.

A grande crise do sistema capitalista de 1929 teve um impacto muito forte sobre a Alemanha e Hitler soube muito bem manobrar a crise de modo colocar o povo a seu lado e o nazismo no poder. Antes da crise, durante a época de prosperidade, o partido Nacional Socialista de Hitler era um grupo sem importância, com a crise de 1929 ele ganha força. A democracia não pode evitar que a crise arruinasse a pequena burguesia e camponeses. Assim esses voltaram-se contra a democracia. Em meio as constantes pressões por parte da classe operária a classe capitalista então decidiu fazer do fascismo para submeter a classe operária. Foi através das “expedições de castigo” que a classe capitalista descobriu como romper com o impetuoso ataque da classe operária. A milícia fascista foi lugar de confluência dos marginalizados de todas as classes. Podemos concluir em Otto que o fascismo nacionalista seria patrocinado pela burguesia e seu poder Estatal.

Uma vez no poder o partido fascista dominaria o proletariado; expulsaria os representantes da burguesia do poder dissolvendo seus partidos sob a justificativa de que salvaria a burguesia da revolução proletária. Na verdade o movimento operário já estava debilitado. Era o momento dos capitalistas escolherem entre destruir o fascismo e assim favorecer a classe operária, ou ceder ao fascismo o poder estatal. Talvez tarde de mais; pois o terror fascista dissolveria e submeteria à sua tutela algumas organizações capitalistas.

Níkos Poulamtzas e Otto Bauer são contribuições valiosas no que tange a compreensão dos regimes fascistas da Europa entre guerras, bem como o processo de fascilização. São autores que embora partem de uma visão de esquerda devem ser lidos e levados em consideração no estudo da história política da Europa.
Bibliografias:

BAUER, Otto. O Fascismo.

POULANTZAS, Nicos. Fascismo e a ditadura: A III Internacional face ao fascismo. Tradução João G. P. e M. Fernanda S. Granado. 1ª ed. Porto: Portucalense Editora, 1972.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Rio, o filme: um verdadeiro olhar sobre o Brasil


Por Douglas Barraqui

Rio é um filme de animação, da 20th Century Fox e Blue Sky Studios, foi gravado com o que há de melhor da tecnologia Hollywoodiana, em 3-D. Escrito por Don Rhymer, a surpresa fica pelo seu diretor, o “brazuca”, Carlos Saldanha. Mas, o que há de especial no Rio, filme, e no Rio, cidade, que foi muito bem assistida pelas lentes cinematográficas?

Constantemente os filmes de Hollywood quando tratam do Brasil, passam uma visão deturpada e caricaturada sobre o país, uma mistura entre futebol, samba, bunda e violência, nada mais além: No contexto da Guerra Fria, centrado na política da “Boa Vizinhança”, de manter as terras tupiniquins longe da ameaça comunista e de baixo das asas da águia americana capitalista, nasceu Carmen Miranda, uma mulher baixinha, alguma coisa por volta de 1,53 que, com enormes saltos e um chapéu ridículo de frutas na cabeça, tentava expressar a mais pura alegria do povo brasileiro. Ela teve seu papel. Walter Elias Disney criou o Zé Carioca, o papagaio malandro e boêmio. Portanto, no geral o Brasil é caricaturado como a terra do Samba, do futebol, das lindas morenas de bundas desnudas com abacaxis e bananas na cabeça. Mas, essa caricatura não é uma via de mão única. Nós também brasileiros exportamos, por meio de propaganda essa visão um tanto quanto estigmatizada do país tropical.

Rio, o filme, é uma obra que expressa o olhar de um brasileiro com o que há de melhor da tecnologia de animação americana. O resultado foi estupendo: uma visão mítica do Rio, como cidade e ao mesmo tempo poético, fidedigno a verdadeira face do Brasil, com seu céu azul cobrindo suas verdes matas e favelas, terra de um povo bonito e alegre, crioulo.

Em meio a uma expectativa de Copa do Mundo e de Olimpíadas, Rio, o filme, é um importante instrumento de propaganda e um fiel cartão postal do Brasil. Um Rio poético, comportado em nossa realidade. Assista o filme!

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Palavras de Aldous Huxley



“A mensagem de ‘amirável mundo novo’ é que é possível fazer as pessoas contentes com sua servidão. Acho que isso pode ser feito, foi feito no passado  e pode ser feito ainda mais efetivamente agora. Por que você pode dar pão e circo e quantidades infinitas de distração e propaganda.

Parece que os regimes totalitários do futuro não serão baseados em terror. Eles terão outros meios, como lavagem cerebral e propaganda que serão bem mais eficientes e econômicos do que o uso da força. Há técnicas avaliáveis no presente que parecem duplicar algumas das técnicas que eu inventei. A lição mais importante da história é que ninguém aprende as lições da história.”

Aldous Huxley

domingo, 22 de maio de 2011

O nazismo: a banalidade do mal


Por Douglas Barraqui
Regimes totalitários o Socialismo, soviético, e o Nazismo, na Alemanha, surgiram como grandes promessas de um mundo melhor – o socialismo com a promessa de fim da sociedade burguesa e o Nazismo com a promessa de um homem novo, superior e perfeito, a “raça ariana” – , todavia acabaram como marcos das grandes tragédias do mundo contemporâneo.
Meu objetivo aqui é olhar para o Nazismo e tentar explicar como a máquina que trucidou a vida de milhões de pessoas trabalhava. É possível acreditar em uma ideologia que tritura as vidas dos próprios semelhantes? É possível retirar da catástrofe algo de bom? Não seria melhor, como que com uma borracha, apagar e esquecer um passado tão dantesco?
OS JUDEUS
No século XIX os judeus gozavam de uma liberdade especial. Emancipação que significava igualdade e ao mesmo tempo privilégios. Era de interesse do Estado moderno conceder aos judeus certos privilégios em troca de tratá-los como um grupo especial.
Associar judeus ao Diabo e marginalizá-lo foi uma rotina dentro do discurso cristão, inserido na realidade medieval. Não podiam ser senhores, não podiam pertencer ao clero, não podiam ser servos, nem jurar vassalagem. Resumindo eram excluídos da sociedade medieval. Excluídos no campo, a maioria dos judeus foram para as cidades passando a se dedicar ao comércio e ao artesanato. Comercializar passa a ser uma profissão tipicamente judaica. Enriqueceram-se de certo.
No século XIX os judeus, em troca de seus privilégios como grupo a parte, atuaram como financiadores do Estado moderno Europeu. Não formavam uma classe e nem pertenciam a qualquer classe nos países onde viviam. E ao mesmo tempo evitavam serem assimilados a fim de guardarem a sua identidade cultural e religiosa. Uma via de mão dupla, pois, ao mesmo tempo era também de interesse do Estado conservar os judeus como um grupo a parte evitando assim que fossem assimilados pela sociedade de classe.
Esse caráter privilegiado, somado a sua intensa relação com o Estado, somada a sua preferência em se manterem em um círculo fechado familiar foi que fomentou-se o mito de que os judeus controlavam o Estado, logo seus privilégios se explicam. E como grupos restritos e fechados, passaram a ser suspeitos de maquinarem. O banqueiro judeu, em uma sociedade marcada pela profunda contradição do sistema capitalista e a divisão da sociedade em classes, parecia estar explorando não só a mão-de-obra e a capacidade produtiva, mas também a infelicidade e a miséria do proletariado. Era a interpretação da aristocracia.
Os judeus eram vulneráveis e tinham uma ilusão muito grande quanto a sua segurança devido a sua forte relação com o Estado.
HITLER
Como que um homem que fora, em sua juventude, um vagabundo derrotado em Viena, soldado desconhecido da Primeira Guerra Mundial, líder um tanto quanto cômico de um golpe fracassado – Putsh da Cervejaria – , que desprezava os seus professores, queria ser pintor mas fracassara por vezes no exame de admissão da Academia de Belas Artes, repudiava o trabalho regular, evitando assim seguir os paços do pai no funcionalismo público, que não era se quer alemão, era um austríaco, aos 44 anos de idade fazia o juramento como chanceler do Reich alemão e movia as engrenagens que ceifaria milhões de vidas humanas?
Hitler não veio de uma família de história política, mas seu caminho foi marcado por um fanatismo político desenfreado. Era Hitler uma pessoa politizada ou um alienado de marca maior? O homem que fundou o Terceiro Reich, que governou implacavelmente e não raro com uma astúcia incomum como grande orador, conduziu um país e seus habitantes a tão estonteante altura e ao mesmo tempo a um fim tão triste.
Era, indubitavelmente, um gênio, embora que voltado para o mal. Seu fanatismo político na promessa de um futuro melhor, principalmente quanto a sua convicção da pureza de raça, fazia de Hitler um alienado.
O PODER PELA INSTITUCIONALIDADE
Hitler não deu um golpe e tomou a Alemanha de assalto. Chegou ao poder naquele país pelo viés da institucionalidade. A partir da frustrada tentativa de golpe, o Putsh da Cervejaria, Hitler passou a ter a concepção de que a tomada do poder, a revolução propriamente dita, só poderia ser possível pelo viés institucional.
A grande crise do sistema capitalista de 1929 teve um impacto muito forte sobre a Alemanha e Hitler soube muito bem manobrar a crise de modo colocar o povo a seu lado e o nazismo no poder. Hitler demonstrara seu dão como estratego: em 1923 o nazismo não tinha condições e apoio necessário para se chegar ao poder, contudo ao longo do tempo Hitler em suas manobras políticas conseguiu o apoio dos industriais e do exército; em 1929, a conjuntura da crise foi usada para mostrar ao povo alemão que estava sendo seguindo um modelo arruinado e decadente. Assim ao longo do tempo Hitler foi preparando o caminho para o poder pela institucionalidade. Primeiro se alcançaria o poder depois se fazia à revolução.
Uma vez no poder o passo seguinte seria consolidá-lo por um processo de nazificação. E o incêndio do Reichstag – espécie de parlamento – , serviu como um catalisador para a consolidação do poder, embora sua origem seja dúbia, o acontecimento desencadeou uma série de ações que iriam ajudar o nazismo a consolidar o poder:
  • Suspensão das liberdades individuais e civis;
  • Pretensa ameaça de uma revolução comunista;
  • Aprovação do ato que dá a Hitler poderes excepcionais por 4 anos;
  • Fim da federação.

A pesar da intensa propaganda nazista a respeito do risco eminente da tomada do poder pelos comunistas, não havia sinais de uma revolução comunista em ação naquele país. O incêndio do Reichstag demonstra que, embora a modo de se chegar ao poder tenha sido pela via institucional, após a conquista do poder, houve modificações, por vários artifícios com a finalidade de consolidar o poder. A revolução para Hitler passa por uma idéia de evolução. A revolução só se consumaria dentro de uma perspectiva de uma elite racial, é a questão da superioridade de raça ariana.

A VIDA NO TERCEIRO REICH
O povo alemão parecia não perceber ou se importar com a perda de sua liberdade pessoal, de sua cultura ter sido em grande parte destruída e substituída por uma barbárie, ou de sua vida e seu trabalho terem sido regulamentados a um ponto jamais experimentado. O povo alemão parecia não sentir a ditadura e pelo contrário, apoiavam o Reich na esperança de um futuro promissor.
O nazismo mostrou que não visava simples e puramente o controle das instituições, mas também objetivava controlar a vida das pessoas. Era a perda das liberdades individuais por um bem maior.
Os judeus além de expulsos foram transformados em animais: expulsos dos empregos públicos; foram afastados das práticas comerciais e industriais. Encontravam dificuldade e até mesmo impossibilidade de comprar alimentos e medicamentos. Tiveram seus direitos de ir e vir suspensos em estabelecimentos e em algumas cidades.
A nazificação da cultura teve seu maior exemplo quando livros foram queimados no dia 10 de maio de 1933, acusados de serem contrários ao Reich. Foram ainda proibida a venda e a circulação de diversas obras. Foram criadas câmaras com a finalidade de controlar a vida cultural; a arte, a literatura, o rádio, o cinema, e a imprensa deveriam ser controlados e deslocados para realizar propaganda nazista. A cultura alemã entrou em decadência.
A educação no Terceiro Reich, como Hitler pretendia que fosse, não devia ser restringida às salas de aulas abafadas e sim realizadas à maneira espartana: grupos juvenis treinados política e militarmente. Uma educação que não visava transmitir pura e simplesmente o conhecimento. Os jovens foram organizados e postos sob dura disciplina das organizações da juventude do Reich alemão.
As Igrejas Cristãs também foram alvo dos nazistas. Membros e dirigentes católicos foram presos bem como pastores de igrejas protestantes. A perseguição aos protestantes e aos católicos não dividiu o povo alemão. Um povo que havia facilmente perdido a liberdade cultural, política e econômica não iria arriscar sua vida pela liberdade religiosa. O nazismo tencionava substituir as igrejas cristã pelo antigo paganismo dos deuses tribais da Alemanha primitiva e pelo novo paganismo dos extremistas nazistas. Seria criada a Igreja Nacional do Reich. Que não significava apenas um controle da instituição, mas uma invasão às crenças das pessoas. Dentre os seus pontos mais importantes estavam: 1. A Igreja Nacional do Reich da Alemanha afirma categoricamente o direito e o poder exclusivos de controlar todas as igrejas na jurisdição do Reich: declara serem elas as igrejas nacionais do Reich alemão; 5. A Igreja Nacional se dispõe a exterminar irrevogavelmente (…) as crenças cristãs estranhas e estrangeiras trazidas para a Alemanha no malfadado ano de 800; 7. A Igreja Nacional não tem escribas, pastores, capelães ou padres, mas oradores do Reich para falar em seu nome; 8. O ariano Jesus, teria lutado corajosamente para destruir o Judaísmo e teria caído vítima na luta, assim os alemães agora estariam exortados a chegar a serem vencedores na própria luta de Jesus contra os judeus; 14. A Igreja Nacional declara que para ela, e consequentemente, para toda a nação alemã, ficou decidido que Minha Luta, do Führer, é o maior de todos os documentos. Ele (…) não somente contém a maior, mas incorpora a mais pura e verdadeira moral para a vida atual e futura de nossa nação; 18. A Igreja Nacional retirará de seus altares todos os crucifixos, bíblias e santos. Sobre os altares não deve haver nada além de Minha luta (para a nação germânica e, portanto, para Deus o livro mais sagrado) e à esquerda do altar uma espada; 30. No dia de sua fundação a cruz cristã deve ser removida de todas as igrejas, catedrais e capelas e deve ser substituída pelo único símbolo inconquistável – a suástica.
Em meio às condições desesperadoras dos agricultores alemães Hitler tratou de conquistar o apoio deles. A promulgação da lei da fazenda hereditária significou aos camponeses um retrocesso à época feudal. Quanto à recuperação econômica alemã o primeiro passo era fazer o desempregado trabalhar pela expansão das obras públicas. Mas a base real da recuperação econômica da Alemanha fora a indústria bélica. Houve ainda um controle rígido sobre o trabalho e sobre o lazer dos trabalhadores.
O JUDEU E SEU ALGOZ: COMO O MAL PODE SER TÃO BANAL
Primo Levi foi um desses poucos que conseguiram sobreviver à máquina nazista de matar. Em seu livro, “É isto um homem?”, Primo Levi dá muito mais que um depoimento de um sobrevivente dos campos de concentração nazista ele nos trás a tona uma questão muito mais complexa em seu todo: a banalidade do mal. Como que seres humanos, iguais em sua mesma espécie, foram capazes de cometer tal atrocidade? Uma experiência histórica tão cruel nos ajuda em que? As atrocidades foram tais que valeria a pena testemunhar e relembrar o horror de um campo de concentração? Não seria melhor esquecer?
Primo Levi argumenta que o projeto dos campos de concentração tinham por objetivo transformar homens em animais. Desumanizar, acabar com a existência humana.
Há em um todo do livro a preocupação do autor em compreender o ser humano, tanto do seu lado, como judeu, quanto do lado de seu algoz, o nazismo. Os que sobreviveram aos campos de concentração, nos diz o autor, foram aqueles que de alguma forma renunciaram os valores humanos e deixaram a moral ser corrompida. Que existiram bons e maus judeus, os que sobreviveram foram os maus; pois não existe como sobreviver a um campo de concentração sem renunciar a moral e os valores que nos insere na qualidade de seres humanos. Há no autor um sofrimento e uma vergonha por ter sobrevivido. Segundo o mesmo a verdadeira memória dos campos de concentração seria daqueles que morreram.
Hannah Arendt, em um dos clássicos da literatura sobre o nazismo também nos dá importante contribuição para compreender o lado dos nazistas. A autora faz uma análise do julgamento de Eichmann, homem responsável pela deportação dos judeus para os campos de concentração. O julgamento se dá no recém criado Estado de Israel, em 1961, e há toda uma crítica da autora sobre como o julgamento foi conduzido e as suas finalidades políticas.
Para o recém criado Estado de Israel o julgamento era a oportunidade de não somente colocar nos bancos réus um alemão nazista acusado de cometer crimes contra a humanidade, mas também era a oportunidade de fazer do julgamento um exemplo, uma lição para o mundo; uma tentativa de firmação do Estado de Israel como um Estado de justiça. Seria a oportunidade para os judeus colocarem no banco dos réus o próprio anti-semitismo. Todavia, Eichmann, não se enquadrou como o grande vilão da história, tentaram transformar essa figura trágica em um personagem que personificasse o mal, mas o mesmo não se adequou ao papel.
Qual crime Eichmann cometeu? Ele se declarava inocente, pois estava apenas cumprindo ordens, cumprindo as leis de Hitler a ordem vigente de seu país naquele contexto.
A justiça para tal atrocidade então dependeria da perspectiva moral e do ponto de vista de quem está olhando para aquele passado: para Eichmann, dentro da perspectiva e da moral do Terceiro Reich ele era inocente, estava apenas cumprindo as ordens do regime, as ordens de Hitler e o objetivo era bom, era maior.
O que há, de fato, é uma completa inversão de valores para os nazistas eles estavam fazendo o bem, para os judeus eles estavam cometendo um crime contra a humanidade.
Hannah destaca ainda a participação dos próprios judeus na máquina nazista, a exemplo das deportações. Assim quem e o lobo e quem é o cordeiro? Os judeus, eles mesmos, colaboraram – a exemplo delatando famílias em questões locais, entregando o visinho ou auxiliando mesmo na logística e organização do transporte dos seus iguais –  para o próprio extermínio quer seja pela não reação, quer seja pela participação direta e indireta das engrenagens da máquina. Sem a colaboração das próprias vítimas não teria sido possível a matança de tantas pessoas.
No final o julgamento revela uma tragédia que é a questão da inversão total de valores. Mostra que “qualquer um” ser humano pode chegar à condição de genocida em um contexto de efervescência política ideológica.  Os nazistas provocaram muito mais que o colapso na moral da respeitada sociedade europeia. Os judeus foram muito mais do que corpos empilhados, a exemplo do que vemos em fotos preto e branco. Há muito mais peças na engrenagem que move a história, que move o homem e que deve ser compreendida como um todo sem se lançar a mera contradição do maniqueísmo preto e branco; bem e mal. A história do nazismo nos revela essa contradição dos ditos valores humanos: o bem maior nos parece como o mal maior.
Bibliografia
ARENDT,  Hannah. Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal. Tradução de José Rubens  Siqueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1999 (1ª ed, norte-americana 1963).
ARENDT, Hannah. O sistema totalitário. Tradução de Roberto Raposo. Lisboa: Dom Quixote, 1978 (1ª ed. Norte americana 1951).
LEVI, Primo. É isto um homem? Tradução de Luigi Del Re. Tio de Janeiro: rocco, 1988 (1 ed. Italiana 1947).
SHIRER, William L. Ascensão e queda do Terceiro Reich. Vol. 1: Triunfo e consolidação (1933 – 1939). Tradução de Pedro Pomar. Rio de Janeiro: Agir, 2008 (1ª ed. Norte-americana 1960).