quinta-feira, 29 de julho de 2010

A conquista do império inca: uma breve narrativa

Por Douglas Barraqui com base na obra Paul Ulrich


“‘Companheiros, deste lado é a morte, a fome, o desespero. Do outro lado é a felicidade. Aqui, o Peru e as riquezas. Ali, o Panamá e a miséria. Castelhanos, escolhei! Eu já escolhi. Vou para sul. ’” Pizarro, 180 homens e 27 cavalos rumam a Caxamalca; um número irrisório para um mundo a conquistar, um império a pilhar e ao inca subjugar. O que se segue caro leitor é um breve resumo, por mim preparado, da narrativa empolgante de Paul Ulrich a respeito da derrocada do império inca, contido na obra Os grandes enigmas das civilizações desaparecidas”.


“Em 24 de setembro de 1532, é o salto para o desconhecido: vão entrar no coração do reino inca, com a intenção de conquistá-lo com um exército que não chega a 200 homens. Impressionados com os perigos que adivinham, cinco cavaleiros e quatro infantes resolvem voltar. Pizarro, esse está pronto a tudo, infatigável. Cobre-se com uma couraça de ferro, sobre a qual lançou o manto, insígnia de sua condição de fidalgo[...].”


“Bom psicólogo, Pizarro aproveita-se dos rumores que correm e põe a circular que é um dos filhos de Viracocha, o Deus branco de Tiahuanaco. Filiação que parece tanto mais verossímil aos incas quanto Viracocha era o senhor do raio. Ora, o comandante espanhol tem os canhões e a pólvora.”


Um mensageiro do grande imperador inca oferece presentes ao chefe espanhol “[...] tecido de lã bordados a ouro, duas fontes de pedra, carne de pato seca. Em nome do rei Atahualpa, o emissário deseja as boas vindas aos estrangeiros e convida-os a visitar o campo do seu chefe [...]”.


Francisco Pizarro fala às suas tropas: “[...] que cada um de vós ganhe coragem e caminhe em frente como um bom soldado. Sem se deixar intimidar pelo nosso pequeno número. Pois nas maiores extremidades Deus combate sempre pelos seus; não duvideis de que ele abaixará o orgulho do infiel e o levará ao conhecimento da verdadeira fé, objetivo essencial da conquista.”


“Prova terrível. Estreitos caminhos foram talhados, nos francos da montanha, pelos incas, indiferentes ao precipício vertiginoso. Rude tarefa a dessa ascensão para os cavaleiros carregados de ferro e de couro, cavalgando animais de passo pouco seguro. E que locais favoráveis às emboscadas! Um punhado de guerreiros bem colocados poderiam esmagar em poucos instantes todo o grupo espanhol.” [...] “Os espanhóis sofrem com o frio atroz do vento da Sierra [...].”


“Os homens estão de tal modo esgotados que não manifestam o menor entusiasmo ao entrarem no vale onde se ergue Caxamalca. As casas brancas da cidade são rodeadas de suntuosos jardins, irrigada por uma imensidade de canais que partem de um rio de águas claras.” [...] “Eis o que conta um membro da expedição: ‘Ficamos cheios de assombro ao vermos os índios ocuparem uma tão excelente posição, um tão grande número de tendas, melhor dispostas do que jamais se vira nas índias. Este espetáculo lançou uma espécie de confusão e até temor nos corações mais firmes. Mas era demasiado tarde para retroceder ou para dar mostras de receio: pois os indígenas de nossa companhia teriam sido os primeiros, nesse caso, a lançar-se sobre nós. Assim, o mais arrogantemente possível, preparamo-nos para entrar em Caxamalca.’


“Eis o chefe inca, o senhor todo poderoso. A sua indumentária é mais simples do que as de seu séqüito. Mas tem na cabeça o ‘borla’, a franja escarlate, tão larga que lhe cai até as sobrancelhas [...]. O rei está sentado num banco muito baixo, talhado numa peça de madeira. No rosto do soberano, não se reflete qualquer sentimento. Nem no seu olhar.” [...] Um silêncio pesado reina entre os dois grupos, só perturbado pelo piafar de algum cavalo impaciente.”


Soto, um hábil cavaleiro dentre os homens de Pizarro “[...] esporeia sua montada e faz uma demonstração das suas excepcionais qualidade de ginete. Exibição tão perfeita que Soto detém o cavalo a poucos centímetros do soberano inca, que recebe alguns salpicos da espuma que jorra do franco do animal; mas alguns membros de sua guarda, tomados de medo, fogem. Nessa mesma noite serão executados, por se terem mostrado covardes diante dos estrangeiros.”


“O conquistador espanhol pelo seu lado, tem consciência da fraqueza de suas tropas. Como poderão menos de duzentos homens, mais ou menos enfraquecidos pelas privações e sofrimentos suportados, derrotar aqueles índios que tem por si a esmagadora vantagem do número?[...]”


“Uma vez mais, Francisco Pizarro deve provar que tem o ‘coração couraçado de triplo aço’. Discursa: ‘Então, vamos desistir no momento de chegarmos ao fim? Os índios tem flechas, fundas, laços? Bastará isso para fazer medo aos espanhóis que sabem bater-se a cavalo, possuem arcabuzes e canhões? Desde quando cem ‘selvagens’ valem mais do que um soldado de Carlos V? Quem será tão descrente ao ponto de não contar com o socorro da Providência? Não é a Espanha o gládio de Deus? Vamos consentir que estes infiéis continuem a prosternar-se diante de ídolos?.’”


“Sábado, 16 de novembro de 1532. O sol ergue-se na doçura da manhã rosada. Pizarro e seus homens estão prontos. Na noite de véspera os conquistadores confessaram-se e comungaram. Porque vão bater-se pela grandeza da Espanha, mas também pela de Deus. O padre Valverde, intrépido dominicano, dispensou largamente as absolvições. Pizarro pronunciou, ele próprio, o sermão. Vestiu a armadura e tem a espada na mão. As palavras jorram-lhe dos lábios. Quem pensaria estar no Peru apenas para juntar riquezas? Quem esqueceria que chegou o momento de dar a Deus a sua parte? [...].”


“[...] O chefe dos conquistadores organizou todo o seu dispositivo em torno da praça principal de Caxamalca. Esta é rodeada por edifícios cujas portas e abrem para ela. A cavalaria, dividia em dois grupos, e a infantaria, instalam-se neles. A pouca distancia é deixada uma reserva de vinte homens. Dois canhões e alguns soldados, comandados por Pedro de Candia, [...]. A tática a seguir é simples: quando o soberano inca e seu séquito tiverem entrado na praça, um tiro de canhão dará o sinal para a batalha. [...]”


“Desconfiado das intenções dos estrangeiros um dos seus [do imperador inca] melhores oficiais, Ruminagui, tomou o comando de cinco mil homens; estão encarregados de fechar todas as vias de acesso a Caxamalca. Cercados, aos espanhóis restará render-se ou morrer.”


“Eis o soberano e o seu cortejo. Os primeiros a aparecer são centenas de servidores, varrendo o caminho para expulsar o mais insignificante grão de poeira: cantam com uma voz tão rouca que ‘os seus cantos parecem vir do inferno’. Depois aparecem escravos, carregando vasos de ouro e martelos de prata; guardas envergando vestes de cores dispostas em xadrez; e os oficiais, vestidos de branco, com as orelhas bizarramente esticadas por pesados berloques. Por fim, transportados pelos mais altos dignitários do reino, o palanquim do rei. É ornamentado por placas de ouro e por penas de papagaio. O trono é igualmente de ouro maciço. O rei está suntuosamente vestido, com a faixa ritual a prender-lhe os cabelos curtos. Na cabeça tem uma coroa encimada por penas brancas e negras. Ao pescoço, um colar de esmeraldas ‘de um tamanho e brilho extraordinários’. Sobre o seu peito cintila um peitoral de ouro maciço, cravejado de pedras preciosas. Uma majestade impressionante desprende-se do rei do Peru. O seu rosto não traduz nem orgulho, nem alegria, nem temor. É o monarca planando acima dos homens.”


“[...] Encontram-se agora cinco ou seis mil índios amontoados no centro de Caxamalca. Atahualpa espanta-se e pergunta: ‘Onde estão os estrangeiros? ’ Aparece então o monge, Vicente Valverde, vestindo o seu hábito branco de dominicano. Numa mão tem a bíblia, na outra um crucifixo. ‘Venho’ – diz ele solenemente ao chefe inca – ‘por ordem do meu soberano, expor-vos a doutrina da verdadeira Fé.’”


“E explica o mistério da Santíssima Trindade, sem esquecer a criação do homem, o pecado original, a redenção de Cristo, [...]. O poder dos apóstolos [...] transmitidos aos sucessivos papas [...]. Foi um papa quem encarregou o rei da Espanha – o mais glorioso dos reis terrestres – de converter os indígenas do hemisfério ocidental. [...] Portanto, que o rei dos incas abjure dos seus erros, que abrace a verdadeira Fé, e então estará salvo. [...] reconheça a autoridade do rei da Espanha e passe a considerar-se como seu fiel vassalo. E, para terminar, a ameaça: se o inca se recusar a obedecer, será a tanto obrigado pela força.”


“Atahualpa fica mudo de assombro. A despeito dos esforços do interprete, nada compreendeu do discurso do padre. Porque há de reconhecer a autoridade de um soberano distante, quando ele, o chefe inca, é o senhor absoluto do seu reino. E que doutrina e essa da Santíssima Trindade? Aonde vai o monge buscar a sua verdade? Valverde estende a bíblia ao rei. Este vira e revira o livro entre as mãos. ‘Não conheço esse Deus único e triplo de que me falais – responde Atahualpa – conheço apenas [...] Viracocha, filho do Sol, o deus supremo.’ Depois, num gesto de cólera, lança a bíblia por terra.”


“‘Sacrilégio! Sacrilégio! ’. Grita o dominicano”.


“O conquistador não pede tanto. Pega no seu lenço branco e agita-o acima da cabeça. É o sinal. O canhão troa. Ressoa então o velho grito de guerra dos soldados espanhóis: ‘Santiago e Castela! Sus a eles!’”


“Os conquistadores abandonam os edifícios que lhes serviam de esconderijo e irronpem na praça. Assustados pelo troar do canhão, literalmente assaltados por aqueles diabos barbudos, asfixiados pela fumaça dos arcanuzes, os incas não sabem para onde fugir. Os cavaleiros lançam os cavalos sobre eles e esmagam-nos impiedosamente. Os que conseguem escapar são perseguidos e massacrados. Os guardas de Atahualpa batem-se com uma coragem exemplar para proteger o seu rei. Mas que fazer contra a fúria espanhola? Tentam desmontar os cavaleiros, esventrar os cavalos, mas são passados à espada. Se o combate abranda, é porque a fadiga começa a tornar pesados os braços dos conquistadores. No meio dos gritos de alegria dos espanhóis, dos estertores dos moribundos, [...].”


“Os soldados espanhóis abrem caminho a golpes de espada por entre os guerreiros que oferecem a vida para proteger o soberano. O palanquim real acaba por tombar. O rei do Peru está por terra e já os seus vencedores se preparam para matá-lo. Pizarro salta, afasta com um braço as espadas ameaçadoras, [...] Com as mãos ensanguentadas, agarra Atahualpa pelos cabelos e arrasta-o para fora da luta, [...] eleva-se a voz de Pizarro: ‘que aquele que preza a vida não toque no soberano inca!’”


O que vai se seguir meu caro leitor são mais de 500 anos de um dos maiores, se não o maior, genocídio da história humana. Espoliação, pilhagem, mas também resistência como nunca antes visto. A conquista em seu sentido mais amplo, de dominação total, de aculturação e de uma eliminação dos vencidos, vai nos dizer Bruit em “O Visível e o Invisível na Conquista Hispânica da América”, não chegou a realizar-se. Mesmo derrotados, explorados, usurpados de suas terras os nativos tornaram, até certo ponto, o processo de colonização instável. Que apesar da destruição e o genocídio os índios ainda sobrevivem física e culturalmente, e a sua presença é, de algum modo, marcante em quase todas as sociedades do continente americano.


Bibliografia Consultada


BRUIT, Héctor. O visível e o invisível na conquista hispânica da América. In: América em tempo de conquistas. Pág. 77-99.


ULRICH, Paul. Os grandes enigmas das civilizações desaparecidas. Rio de Janeiro: Otto Pierre, 1978. 247p.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

O Petróleo no Golfo do México: Atentado terrorista ao meio ambiente


Por Douglas Barraqui


Os especialistas “em coisa alguma” foram ágeis para projetar os danos apocalípticos sobre o derramamento de óleo no Golfo do México: mais de 1600 quilometros de águas irreparáveis e praias em estado de risco; a pesca será prejudicada por temporadas indeterminadas; espécies fragilizadas levadas à extinção e o mais trágico, para não dizer cômico, a indústria petrolífera arrasada por anos. Coitadinha.


Em 20 de abril de 2010, na costa do estado da Lousiana, EUA, o homem desferiu o maior atentado terrorista da história contra o meio ambiente quando a torre de perfuração de petróleo Deepwater Horizon, da operadora britânica British Petroleum (PB), explodiu e pegou fogo.


Obama chamou o vazamento de “um possível desastre ambiental sem precedentes”. O fato é que é decepcionante a forma com que o presidente americano vem tratando o vazamento de petróleo do Golfo. Os conservadores lançam farpas afiadas contra o governo Obama, dizem que o desastre do Golfo é algo como o Katrina de Obama, acontecimento no qual ele está demonstrando a mesma incompetência de George W. Bush depois do desastre natura. Todavia, o desastre no Golfo não é, como disse o governador do Texas Mr. Rick Perry, “um ato de Deus”, não é um desastre natural, mas sim um ato humano, é o nosso 11 de setembro de 2001, contra o meio ambiente.


Para se ter uma idéia bem cômica da proporção apocalíptica sem precedente que está tomando este acontecimento, uma estatal iraniana (arques inimigos do “tio Sam”) de petróleo ofereceu ajuda para conter o vazamento que irá atingir os Estados Unidos. Contraditório? Não! O Irã sabe muito bem que o problema ambiental dos EUA não é somente o problema dos EUA, mas sim de todos que vivem neste planeta, levando em consideração as consequências para o meio natural.


Já é sabido que mais petróleo está vazando agora no Golfo do México do que qualquer outro momento da história. São cerca de 30.000 a 60.000 barris de petróleo por dia, especialistas já dizem que este acidente superou o hecatombe do petroleiro Exxon Valdez, em 1989, na costa do Alasca, que contaminou 2.000 quilômetros de praias e dizimou milhares de aves marinhas, lontras e focas, alem de 250 águias e 22 orcas.


Em meio a tantas especulações e a todas as críticas disparadas por todos para todas as partes, a problemática decisiva é o fato deste vazamento estar a uma profundidade média de 1.500 quilômetros complicando todas as operações técnicas normais, inclusive um simples fechamento de uma válvula, torneira. Que isto nos faça refletir nas dificuldades e, principalmente, nos perigos da exploração de petróleo no nosso Pré-sal, onde as nossas jazidas estão em uma profundidade de 5 a 7 mil quilômetros de profundidade.


Portando, este é sim o maior atentado terrorista da história da humanidade contra o meio ambiente, não são simplesmente seiscentas espécies de animais que estão ameaçados com o vazamento de óleo da empresa britânica, mas sim todos nós seres humanos interligados a vida desse planeta.


Quanto de petróleo ainda tem que ser derramado? Quantos animais marinhos têm que morrer? E quantas mesquitas, armas de destruição em massa e guerras têm que ser movidas com nossa sede por gasolina, fazendo de nós mesmos terroristas em potencial?


Na seqüência dessa tragédia histórica tem que vir um plano de ação para colocar um fim em nosso vício pelo petróleo. Que essa tragédia venha a moldar as mentes humanas de como pensar o meio ambiente para os próximos anos, dando enfoque principalmente em fontes de energias limpas. É nítido que não colocaremos um fim da exploração de petróleo ou nosso vício pelo ouro negro da noite para o dia, mas será que podemos começar?!









Ainda há tempo:

BIBLIOGRAFIAS CONSUTADAS:


Globo Ciência. Obama compara catástrofe no Golfo do México a 11 de Setembro e diz que política ambiental terá que ser reavaliada. Acesso em 23 de julho de 2010.

Jornal o Globo. Obama vistoria o vazamento de petróleo no Golfo do México. acesso em 22 de julho de 2010.


Correio Brasiliense. Vazamento de óleo no Golfo do México é o maior desastre ecológico na história dos EUA. Acesso em 22 de julho de 2010.


G1. Vazamento no Golfo do México é 'pior desastre dos EUA. Acesso em 23 de julho de 2010.



quarta-feira, 21 de julho de 2010

O culto ao Corpo: uma análise sobre a ótica dos antigos gregos

Por Douglas Barraqui


“Divina Pã – e vós deuses outros destas paragens! Daim-me a beleza da alma, a beleza interior e fazei com que meu exterior se harmonize com essa beleza espiritual. Que o sábio me pareça sempre rico; que eu tenha tanta riqueza quanto um homem sensato possa suportar e empregar.” [1]


Atualmente corpos magros, saudáveis, atléticos e harmoniosos são sinônimos de beleza, qualidades supervalorizadas e, ao mesmo tempo, cobrada e imposta pela nossa sociedade.


Um culto ao corpo e à beleza que movimentam dentro da ótica do sistema capitalista bilhões de dólares em produtos e serviços e faz milhares de pessoas, se submeterem a dor e ao sofrimento, em centros cirúrgicos em dietas mirabolantes, a fim de terem o corpo desejado.


E como os gregos pensavam o corpo? Esse é o objetivo desse artigo. Não trago, portanto, nenhuma receita para emagrecer e tão menos para te dar uma “barriguinha de tanquinho”, me basto apenas em mostrar como os gregos cultuavam o corpo bem antes de nossa sociedade capitalista, consumista, estereotipada e estigmatizada.


O belo para os gregos (το όμορφο για τους Έλληνες)


De fato a batalha por um corpo bonito e saudável é bem antiga, mais ainda do que suponha, a exemplo podemos retornar aos gregos. Para estes a beleza do corpo não se resumia à estética, ela expressava um modo de vida do cidadão grego. O grego belo era aquele que tinha nos exercícios físicos uma prática de valor do grande homem, era aquele que aprendia música, um ser politizado, tendo um gosto ciclópico pelo conhecimento e pela arte.


E os Jogos Olímpicos eram a plataforma de desfile. A ocasião na qual aqueles homens competiam entre si, demonstravam também qualidades valiosas para aquele povo: coragem, astúcia, força, indo muito mais alem do que meramente corpos fortes e bonitos.


Buscando a origem etimológica da palavra ginásio, esta vem do grego “gumnos”, isto é, “nu”, isso porque os jovens que ali competiam e se exercitavam não usavam roupas. Estes ginásios, com destaque para os atenienses, tinham por objetivo transformar o jovem grego em um cidadão completo.


Ali, parte das atividades eram reservadas ao exercício físico. Uma outra parte, os alunos aprendiam leitura, escrita, cálculo, poesia e música. Aprendiam ainda, com os mais velhos, e falar bem e a argumentar com perfeição. Além disso é importante destacar que os treinamentos físicos não tinham um puro intuito militar, procuravam também preparar o homens para as competições nos Jogos Olímpicos.


A beleza nos atletas olímpicos (η ομορφιά των Ολυμπιακών αθλητών)





Os famosos Jogos Olímpicos, que sobreviveram ao fim da civilização grega e até hoje são celebrados, eram realizados em homenagem a Zeus. A data que se considera como o início dos jogos é 776 a. C., porém esta foi de fato a data pela qual o nome dos vencedores passaram a ser registrados, a historiografia sabe que as competições olímpicas eram bem mais antigas, alguns sugerem que é originária de antes do ano 1000 a. C. O ato de registrar o nome dos grandes campeões seria um ato de vaidade entre os gregos?


O torneio considerado inaugural foi realizado na cidade grega de Olímpia. O grande vencedor foi Coroebus de Ilia. Com uma armadura e escudos pesados ao corpo, como todos na pista, ele foi o grande vencedor olímpico a percorrer 193 m da prova de velocidade. A sabedoria entre os helênicos premiava os campeões com a aura da imortalidade: os feitos e marcas poderiam ser superados, todavia, nunca apagados. Chionis de Olímpia, grande campeão do salto em distância em 656 a. C. e um grande exemplo: se os arqueólogos não cometeram erros na tradução dos registros erodidos, sua marca foi a de 7 m e 05. Um recorde que atravessaria dois milênios de história. Ele venceria, com louvor, os Jogos de Atenas de 1896, quando o norte americano Ellery Clark surpreendeu saltando 6 m 35. competindo em Paris em 1900 e Saint Louis em 1904, o grego ainda subiria ao podium por duas vezes para buscar o bronze e a prata. O belo Chionis e seu feito ciclópico etraram para a história.


De fato, apenas os homens disputavam as provas olímpicas, e os vencedores, a exemplo de Coroebus e Chionis, eram premiados com uma coroa de louros. As mulheres promoviam uma competição à parte, a Herae. Sendo realizada na cidade de Argos, e significava uma homenagem a Hera, esposa de Zeus.


Atletas como Coroebus e Chionis eram, para os gregos, a expressão maior da coragem e da beleza física dos homens. Suas formas e habilidades impressionantes, a sua força invencível, suas astúcia eram sinônimo de uma cidade Estado Grega de grande homens, capazes de protegê-la.



A exemplo daquela época, os atletas modernos representam o ideal beleza e, porque não, de cidadania. Hoje, ao subir ao podium mais alto para receber a medalha de ouro e a coroa de louros, como acontecia com os atletas gregos, não é somente o atleta que esta sendo premiado, mas também o próprio país que ele representa. Sinônimo de orgulho para os seus compatriotas, um espelho aos jovens futuros atletas e uma dose de entusiasmo dentro do louvor a vitória da pátria mãe do atleta.


Assim como nos atletas olímpicos, também podemos observar o ideal de beleza grego nos heróis dos mitos gregos, a exemplo de Aquiles, que participou do cerco à Tróia; Teseu, que derrotou minotauro no labirinto de Creta e Perseu que decapitou a medusa, isso sem citar Hercules.


Entre os gregos e o mundo contemporâneo: a ditadura dos padrões de beleza


Nos idos do século XIX, os ginásios multiplicavam-se e os manuais médicos começavam a chamar a atenção para as vantagens da prática de exercícios físicos como prerrogativa para uma vida saudável. No início do século XX, surge a concepção de que mulher magra era sinônimo de beleza. O corpo magérrimo tornou-se uma moda alguns e para outros uma obsessão. Os bons casamentos passaram a depender desse aspecto de “boa aparência”.


O cinema americano tomou o lugar de Paris nos ditames da moda e da beleza. Hollywood com seus estúdios, máquinas dos sonhos, do “american way of life”, e com o poder de sedução de suas estrela e galãs serviriam de modelo para a concepção de beleza que aplaca o mundo moderno.


A velhice passa a ser encarada como perda de prestígio e de afastamento do âmbito social, a obesidade entra para o hall das aberrações e torna-se um critério determinante, sinônimo, para a feiúra. A gordura se era assistida como um entrave aos novos tempos que exigem velocidade e agilidade.


As ditas carnudas dos anos de 1950, como Marilyn Monroe, eram substituídas por mulheres esqueletizadas. E uma onda de bulimia e anorexia nervosa começa a multiplicar entre os jovens. O magérrimo e o esqueleto a mostra passa a ser concebido como belo.


Uma tirania insólita da dita perfeição física. E com os avanços da medicina estética, o que não vem de fábrica pode ser facilmente adicionado ou retirado. Assim as mulheres e recentemente os homens constantemente entram nas salas de cirurgias para corrigir suas, ditas imperfeições.


O que podemos denotar, em uma analise do culto a forma entre os gregos e o homem moderno é que enquanto os gregos cultuavam o belo de forma que o corpo serve a um propósito maior; o homem contemporâneo, nas palavras de Mary Del Priori, serve ao corpo em vez de servir-se dele.


1, Prece de Sócrates. In PLATÃO. Fedro: texto integral. São Paulo: Martin Claret, 2003. pg. 125.


Bibliografia:


PLATÃO. Fedro: texto integral. São Paulo: Martin Claret, 2003. Pg. 125.


PRIORI, Mary Del. Corpo a corpo com a mulher: pequena história da transformação do corpo feminino no Brasil. São Paulo: Senac, 200. P61-98.

sábado, 3 de julho de 2010

Crise do sistema colonial: uma visão mais panorâmica

Por Douglas Barraqui

A relação entre colônia e metrópole eu traduziria em duas palavras: dependência e subordinação. Na verdade o Brasil tinha um significado impar para a economia lusitana, era um ponto de equilíbrio para aquele país em comparação com as colônias afro-asiáticas. Mas o navio afundou e levou junto a estrutura do pacto colonial.


A crise que se abateu sobre Portugal, e que desestruturou o pacto colonial no final do século XVIII e início do século XIX, tem que ser pensada em um contexto bem mais amplo e muito mais global do que uma mera analise de crise econômica e política. Temos que retomar o pensamento iluminista que queimou como pólvora no coração da burguesia; na Revolução Francesa e seus ideais de liberdade, igualdade e fraternidade; na propagação das idéias liberais, no vapor da Revolução Industrial, no aburguesamento da Europa que se espalhou como uma doença contagiosa.


O choque entre forças renovadoras e tradicionais marcou o esgotamento da sociedade tradicional, aquela do Antigo Regime com resquícios ainda feudais, e fez aflorar uma nova sociedade, um novo sistema econômico, o liberalismo.


Portugal sofreu com a fúria das entranhas da terra, o grande sismo de 1755; estava atrelado e intrinsecamente dependente da economia inglesa, e sofreu com a crise econômica de 1766-1769: período marcado por déficit econômico e crise na produção aurífera no Brasil. Aliado a tudo isso Portugal, em plena segunda metade do século XVIII, era o patinho feio da Europa, atrasado em relação aos demais países.


Napoleão, que o filosofo alemão Hegel intitulou como sendo “o espírito a cavalo”, tinha como projeto transformar a França na maior potência do mundo. Todavia, teria uma pedra bem grande em seu sapato, a Inglaterra. Os planos de Napoleão incluíram o chamado Bloqueio Continental, segundo o qual as nações foram impedidas de comercializar com a Inglaterra sob a pena de invasão das poderosas tropas napoleônicas. Para a França era fundamental o isolamento da Inglaterra; para Inglaterra era imprescindível preservar as alianças econômicas e os portos de apoio; para Portugal, extremamente dependente da Inglaterra, restava manter a integridade do império, no momento de invasão das tropas lideradas pelo general Junot.


A vinda da família real para o Brasil em 1808, escoltada pela marinha inglesa, deve ser interpretada como uma fuga. E esse fato histórico e seus desdobramentos abalariam as estruturas do pacto colonial, decretando seu fim.


As medidas tomadas por D. João VI, então príncipe regente no momento de loucura da ainda viva rainha D. Maria “a louca”, modificariam as relações econômicas entre Portugal e Brasil. Medidas como a abertura dos portos do Brasil as nações amigas; os favorecimentos dados à Inglaterra nas tarifas aduaneiras e nos tratados de Comércio e Navegação, e de Aliança e Amizade; e quando, em 1815, o Brasil passou a condição de Reino Unido a Portugal e Algarves, podemos dizer que, teoricamente, não éramos mais uma colonial.


O fato é que a chegada da família real e as medidas tomadas por D. João VI puseram fim ao exclusivismo comercial de Portugal para com o Brasil, que passou a manter um comércio direto com a Inglaterra. Essa conjuntura era desfavorável para Portugal que sentiu a desestruturação de suas bases econômicas. Essa desarticulação do eixo estrutural colonial trouxe consequências políticas, econômica e sociais que atingiria as bases do sistema colonial.


Portando, a desarticulação do sistema colonial e seu consequente fim têm que ser pensado em um contexto muito mais global. Este está inserido no choque entre as forças renovadores e tradicionais do fim do século XVIII e início do século XIX. Foi à pá de terra fundamental para o alvorecer de uma nova sociedade e, para o caso do Brasil, uma nova conjuntura política, econômica e social.


Bibliografia Consultada:


SIQUEIRA, Maria da Penha Smarzaro. Pobreza no Brasil colonial: representação social e expressão da desigualdade na sociedade brasileira. História - revista leletrônica do Arquivo Público do estado de São Paulo, nº 34, 2009.


WEHLING, Arno & WEHLING, Maria José C. M. Formação do Brasil colonial. 3ª. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.