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domingo, 1 de maio de 2016

O ASSASSINATO DE JOÃO PESSOA

Prof. Douglas Barraqui

O assassino, sr. João Duarte Dantas, confessou que matou o presidente da Paraíba, João Pessoa,  por uma “questão de honra pessoal”. Um triângulo amoroso teria, nada comprovado historicamente, sido o pivô da tragédia.

No dia 26 de julho de 1930, João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, como de rotina se encontrava na Confeitaria A Glória, no centro do Recife, na Rua Nova. Por volta de 17h e 30 min João Duarte Dantas entrou na cafeteria. João Dantas e João Pessoa eram rivais na política. Os desafetos baterão boca no salão da cafeteria, os ânimos se exaltaram. Dantas sacou a sua arma e atirou duas vezes (o jornal Folha da Manha noticiou cinco disparos) contra João Pessoa que caiu mortalmente ferido.

Após o crime João Dantas tentou fugir, mas, ainda na calçada da cafeteria, foi alvejado por Antonio Pontes de Oliveira, o chofer de João Pessoa. Nas palavras do Jornal Folha da Manha do dia 27 de Julho de 1930: “Sua atitude despertou entusiasmo sobretudo pela serenidade com que agiu, atirando contra o sr. Duarte Dantas, calmamente, sem se apressar, visando-o na cabeça.”

João Dantas era adversário político de João Pessoa. Conflitavam pela política, e dizem, pelo coração de Anaíde Beiriz, uma mulher bela, vencedora do concurso de beleza promovido pelo Correio da Manhã em 1925. Professora e poetisa Anaíde Beiriz mantinha um relacionamento amoroso com João Dantas, escrevendo para ele diversas cartas. Interessado em ter uma arma contra o rival, no dia 10 de julho de 1930, João Pessoa deu ordem para a Polícia da Paraíba, invadir o escritório de Dantas, à Rua Duque de Caxias, a fim de encontrar alguma coisa para usar contra o rival. A polícia encontrou no cofre cartas íntimas, de amor, entre João Dantas e a professora Anaíde Beiriz. Nos dias seguintes, o jornal governista A União, e outros órgãos de imprensa estadual ligados à situação, publicaram o conteúdo das cartas. O objetivo de João Pessoa era claro, visava atingir a honra de João Dantas.

João Dantas sobreviveu ao ferimento e em depoimento para polícia confessou que matou o presidente João Pessoa “por uma questão de honra pessoal”. Declarou “que há dias, mais ou menos, o presidente mandou depredar sua residência, em Teixeira, além de estar movendo campanha de difamação á sua honra pessoal”. Acrescentou que “não estava arrependido, pelo contrario, está tranquillo e aguardando a ação da justiça”.

Criticada publicamente por razões morais e políticas, Anaíde Beiriz sentiu-se acuada após o assassinato de João Pessoa, que causou comoção popular. Anaíde Beiriz abandonou a sua residência na Paraíba e foi morar em um abrigo no Recife, onde passou a visitar João Dantas, que ficou preso na Casa de Detenção daquela cidade. Em 3 de outubro, no início da Revolução de 1930,  João Dantas foi encontrado morto em sua cela, degolado. Embora tenha sido declarado o suicídio como causa mortis na época, as circunstâncias ainda permanecem obscuras. Anaíde Beiriz, aos 25 anos de idade, no dia 22 de outubro, cometeu suicídio por auto envenenamento.

O assassinato de João Pessoa tem uma grande simbologia na história política brasileira, porque acelerou o processo no qual as novas elites urbanas derrubaram as aristocracias que dominavam o poder desde o início da República, era a Revolução de 30.

REFERÊNCIA:


FOI ASSASSINADO, EM RECIFE, O SR. JOÃO PESSOA. Banco de Dados Folha da Manha, domingo, 27 de julho de 1930. Disponível em http://almanaque.folha.uol.com.br/dossietexto2.htm. Acesso em 01 de maio de 2016.

quinta-feira, 14 de abril de 2016

GUERRA DE CANUDOS (1896 - 1897)

Prof. Douglas Barrqui

a)    LOCAL: Sertão da Bahia.
Movimento popular de fundo sócio-religioso (messiânico).


b)   CAUSAS:
I.              Miséria e abandono do nordeste:
ü  O nordestino estava esquecido pelo governo republicano. O nordeste e a caatinga não despertavam o interesse dos latifundiários.
II.            Situação fundiária:
ü  2/3 das terras pertenciam a 5% dos proprietários rurais.
ü  Os poucos recursos hídricos (diques e açudes) eram explorados e monopolizados pelos grandes fazendeiros.
III.           Seca e a fome:
ü  A região do agreste ficava muitos meses e até anos sem receber chuvas. Este fator dificultava a agricultura e matava o gado. A fome era um drama corrente.
IV.          Messianismo:
ü  Em meio a situação de seca, miséria e fome restava ao nordestino três saídas: migrar, banditismo (a esse fenômeno chamamos cangaço) ou o apelo religioso.
ü  Antônio Vicente Mendes Maciel (Antônio Conselheiro),
Ø  Nascido em Quixeramobim (CE) em 13 de março de 1830.
Ø  Após a morte do pai, um comerciante, Antônio Conselheiro abandonou os estudos no seminário e assumiu o comércio da família. O negócio acabou falindo.
Ø  Casou-se com Brasilina Laurentina.
Ø  Foi professor dos filhos dos coronéis da região.
Ø  Advogou defendendo pobres e desvalidos nos sertões de Ipu e Sobral.
Ø  Flagrou sou esposa em sua própria cama com um sargento do exército.
Ø  Passou a viver como andarilho.
Ø  Chegou a Canudos em 1893, tornando-se líder do arraial e atraindo milhares de pessoas. Acreditava que a República, recém-implantada no país, era a materialização do reino do Anti-Cristo na Terra.
Ø  Canudos era uma pequena aldeia que surgiu durante o século XVIII nos arredores da Fazenda Canudos, às margens do rio Vaza-Barris.
O arraial de Canudos visto da estrada do Rosário, litografia de D. Urpia, de 1897.

c)    OPOSIÇÃO:
ü  Construiu-se uma imagem de Antônio Conselheiro como "perigoso monarquista" a serviço de potências estrangeiras, querendo restaurar no país a forma de governo monárquica.
ü  Difundida através da imprensa, esta imagem manipulada ganhou o apoio da opinião pública do país para justificar a guerra movida contra os habitantes do arraial de Canudos.
ü  Observação: Antônio Conselheiro nunca foi um monarquista:
·         Apenas lembrava em seu discurso de como era bom o tempo em que o Estado estava atrelado a Igreja.
·         Criticava a instituição republicana e os seus altos impostos.
·         Condenava o casamento no civil.
·         Dizia que o fim do mundo estava próximo.
Igreja de Santo Antônio, em ruínas, e o púlpito onde pregava Conselheiro,
após o massacre do Arraial, fotografia de Flávio de Barros, de 1897.

d)   CONFLITO:
ü  Outubro de 1896 – Ocorre o episódio que desencadeia a Guerra de Canudos. Antônio Conselheiro havia encomendado uma remessa de madeira, vinda de Juazeiro, para a construção da igreja nova, mas a madeira não foi entregue, apesar de ter sido paga. Surgem então rumores de que os conselheiristas viriam buscar a madeira à força.
1ª expedição:
Ø  Destacamento policial de 100 praças, sob comando do Tenente Manuel da Silva Pires Ferreira.
Ø  A tropa é surpreendida durante a madrugada em Uauá pelos seguidores de Antônio Conselheiro, que estavam sob o comando de Pajeú e João Abade.
Ø  O próprio Tenente Pires Ferreira descreve o ataque destacando a "incrível ferocidade" dos conselheiristas.
Ø  Passadas várias horas de combate, os canudenses, comandados por João Abade, resolveram se retirar, deixando para trás um quadro desolador. Apesar da aparente vitória, a expedição estava derrotada, pois não tinha mais forças nem coragem para atacar Canudos.

                     2ª expedição:
Ø  Janeiro de 1897 - Os jagunços fortificavam os acessos ao arraial.
Ø  Comandada pelo major Febrônio de Brito, depois de atravessar a serra do Cambaio, uma segunda expedição militar contra Canudos foi atacada no dia 18 e repelida com pesadas baixas pelos conselheiristas, que se abasteciam com as armas abandonadas ou tomadas à tropa. ]
                      3ª expedição:
Ø  Março de 1897 - Na capital do país, diante das perdas e a pressão de políticos florianistas que viam em Canudos um perigoso foco monarquista.
Ø  O governo federal assumiu a repressão, preparando a primeira expedição regular, cujo comando confiou ao coronel Antônio Moreira César (popularmente conhecido como "corta-cabeças" por ter mandado executar mais de cem pessoas a sangue frio na repressão à Revolução Federalista em Santa Catarina).
Ø  Depois de ter sofrido pesadas baixas, causadas pela guerra de guerrilhas na travessia das serras, a força, que inicialmente se compunha de 1.300 homens, assaltou o arraial. Moreira César foi morto em combate, tendo o comando sido passado para o coronel Pedro Nunes Batista Ferreira Tamarindo, que também tombou no mesmo dia. Abalada, a expedição foi obrigada a retroceder.

4ª expedição:
Ø  Abril de 1897 – A repercussão da derrota foi enorme no Rio de Janeiro, principalmente porque se atribuía ao Conselheiro a intenção de restaurar a monarquia.
Ø  Junho até outubro de 1897 - Após várias batalhas, a tropa conseguiu fechar o cerco sobre o arraial. Antônio Conselheiro morreu em 22 de setembro, de uma disenteria.
Ø  Após receber promessas de que a República lhes garantiria a vida, uma parte da população sobrevivente se rendeu com bandeira branca (Apesar das promessas, todos os homens presos, e também grupos de mulheres e crianças acabaram sendo degolados - uma execução sumária que se apelidou de "gravata vermelha").
Ø  O um último reduto resistiu na praça central do povoado até 5 de outubro de 1897, quando morreram os quatro derradeiros defensores. O cadáver de Antônio Conselheiro foi exumado e sua cabeça decepada a faca. No dia 6, quando o arraial foi arrasado e incendiado, o Exército registrou ter contado 5.200 casebres.

e)    RESULTADO DO CONFLITO:
Ø  Estima-se que morreram ao todo por volta de 25 mil pessoas, culminando com a destruição total da povoação.

f)     CONCLUSÃO:
Ø  A guerra de canudos é o retrato de como o governo republicano, a oligarquia cafeeira, tratava as questões sociais.
Ø  A grande quantidade de vidas perdidas, de ambos os lados, apontam para um dos capítulos mais trágicos da nossa república.

REFERÊNCIAS:
BENÍCIO, Manoel. O Rei dos Jagunços: crônica histórica e de costumes sertanejos sobre os acontecimentos de Canudos.  2 ed. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas, 1997.
BOMBINHO, Manuel Pedro das Dores. Canudos, história em versos. 2 ed. São Paulo: Hedra, Imprensa Oficial do Estado e Editora da Universidade Federal de São Carlos, 2002. p. 340. Disponível em https://books.google.com.br/books?id=WHRfAAAAMAAJ. Acesso em 14 de abril de 2016.
GALVÃO, Walnice Nogueira. No Calor da Hora - a guerra de Canudos nos jornais (São Paulo: Ática. 1977).

SILVA, José Calasans Brandão da.  No Tempo de Antônio. Salvador: Aguiar & Souza, 1959. p. 121. Disponível em https://books.google.com.br/books?id=3dFmAAAAMAAJ. Acesso em 14 de abril de 2016. 

segunda-feira, 4 de abril de 2016

GUERRA DO CONTESTADO (1912-1916)

Prof. Douglas Barraqui

a)    LOCAL: Região de disputa territorial entre Paraná e Santa Catarina. Uma região rica devido à existência de floresta e à extensa plantação de erva-mate.


b)   CAUSAS:
I.              Questão fundiária:
ü  A empresa que ganhou concessão do governo para construir a estrada de ferro ligando Rio Grande do Sul a São Paulo também ganhou o direito de explorar quinze quilômetros de cada margem da ferrovia.
ü  Várias famílias foram desalojadas pela força dos coronéis que apoiavam a construção da ferrovia.
II.            Desemprego e Miséria:
ü  Com o término da construção da ferrovia vários operários, que foram trazidos de várias regiões do país, acabaram desempregados e abandonados em meio a condição de miséria.
III.           Messianismo:
ü  Regiões mais pobres tornaram-se terreno fértil para lideranças religiosas.
ü  Líder: Miguel Lucena Boaventura, ex-soldado do exército, que se fazia chamar de “monge” José Maria.
ü  No povoado de Taquaruçu, José Maria organizou um grupo chamado Os Doze Pares de França; mais tarde criou a Monarquia Celeste. Seu propósito era resistir aos que pretendiam expulsar a população cabocla, que seguiu o líder.
ü  José Maria pregava:
·         Criação de um novo mundo regido pelas leis de Deus. Onde todos teriam terras para trabalhar.
·         Prometeu a ressurreição para aqueles que morressem na luta pela causa.
Caboclos, as maiores vítimas das batalhas, durante missa: a herança perdura.


c)    OPOSIÇÃO:
ü  Governo Republicano e os coronéis da região começaram a ficar preocupados com a capacidade do beato José Maria de atrair camponeses.
ü  Acusaram José Maria e seus seguidores de serem contrários a República.  

d)   CONFRONTO:
ü  Os primeiros choques armados ocorreram em 1912. De um lado, a milícia da Monarquia Celeste, cujos integrantes raspavam o cabelo e ficaram conhecidos como “pelados”; do outro, os “peludos”, que eram jagunços contratados pelas empresas, policiais e soldados do exército.
Bandeira da "Monarquia Celestial"

ü  Apesar de inferiorizada em armas e equipamentos, a irmandade cabocla resistiu até 1916, quando o general Setembrino de Carvalho, à frente de 7 mil soldados e com apoio da artilharia e da aviação, forçou os sobreviventes a se render.
ü  O conflito matou cerca de 6 mil pessoas.

REFERÊNCIAS:

AURAS, Marli. Guerra do Contestado: A organização da irmandade cabocla. Florianópolis: Editora da UFSC, 2001.

BORELLI, Romario José. "O CONTESTADO". Teatro. 1972. Orion Editora, PR, 2006. Literatura.


VASCONCELLOS, Aulo Sanford. O Dragão Vermelho do Contestado. Florianópolis: Insular, 2000.

domingo, 1 de novembro de 2015

HiStO é HiStÓrIa HOJE: 1 DE NOVEMBRO DE 1922 MORRIA LIMA BARRETO

Prof. Douglas Barraqui
Afonso Henriques de Lima Barreto

Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu no Rio de Janeiro no dia 13 de maio de 1881. Filho de Joaquim Henriques de Lima Barreto um mulato que trabalhava como tipografo. Sua mãe, Amália Augusta, também filha de escrava, era professoro primária, faleceu quando Lima Barreto tinha apenas 6 anos de idade.

Lima Barreto foi um dos críticos mais ferrenhos da época da República Velha no Brasil. Rompeu com o nacionalismo ufanista e pós em pratos limpos a verdadeira face da República Velha, que manteve os privilégios de famílias aristocráticas e dos militares.

As obras de Lima Barreto carregam uma justa preocupação com os fatos históricos e com os costumes sociais. Tornou-se um cronista havido, um caricaturista, que se vingava com suas palavras da hostilidade dos escritores e do público de origem burguesa. Revelou a vida cotidiana dos menos abastados, sem qualquer idealização. Talvez uma das obras mais singulares de Lima Barreto tenha sido "Triste Fim de Policarpo Quaresma".

Inquieto, um rebelde de seu tempo e inconformado com a mediocridade de sua época, virou um alcoólatra. Por vezes acabou em hospitais devido a sua depressão latente. E em 01 de novembro de 1922 acabou por morrer de um ataque cardíaco. Morria um dos maiores mestres da literatura brasileira.

Lima Barreto é autor de um axioma que considero sintético, verídico e atemporal:

“O Brasil não tem povo, tem público”
(Lima Barreto)

Referências:

BARRETO, Lima. Toda crônica. Organização de Beatriz Resende e Rachel Valença. Rio de Janeiro: Agir Editora Ltda, 2004. 2v.


BARBOSA, Francisco de Assis. A vida de Lima Barreto. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 2002.