Os especialistas “em coisa alguma” foram ágeis para projetar os danos apocalípticos sobre o derramamento de óleo no Golfo do México: mais de 1600 quilometros de águas irreparáveis e praias em estado de risco; a pesca será prejudicada por temporadas indeterminadas; espécies fragilizadas levadas à extinção e o mais trágico, para não dizer cômico, a indústria petrolífera arrasada por anos. Coitadinha.
Em 20 de abril de 2010, na costa do estado da Lousiana, EUA, o homem desferiu o maior atentado terrorista da história contra o meio ambiente quando a torre de perfuração de petróleo Deepwater Horizon, da operadora britânica British Petroleum (PB), explodiu e pegou fogo.
Obama chamou o vazamento de “um possível desastre ambiental sem precedentes”. O fato é que é decepcionante a forma com que o presidente americano vem tratando o vazamento de petróleo do Golfo. Os conservadores lançam farpas afiadas contra o governo Obama, dizem que o desastre do Golfo é algo como o Katrina de Obama, acontecimento no qual ele está demonstrando a mesma incompetência de George W. Bush depois do desastre natura. Todavia, o desastre no Golfo não é, como disse o governador do Texas Mr. Rick Perry, “um ato de Deus”, não é um desastre natural, mas sim um ato humano, é o nosso 11 de setembro de 2001, contra o meio ambiente.
Para se ter uma idéia bem cômica da proporção apocalíptica sem precedente que está tomando este acontecimento, uma estatal iraniana (arques inimigos do “tio Sam”) de petróleo ofereceu ajuda para conter o vazamento que irá atingir os Estados Unidos. Contraditório? Não! O Irã sabe muito bem que o problema ambiental dos EUA não é somente o problema dos EUA, mas sim de todos que vivem neste planeta, levando em consideração as consequências para o meio natural.
Já é sabido que mais petróleo está vazando agora no Golfo do México do que qualquer outro momento da história. São cerca de 30.000 a 60.000 barris de petróleo por dia, especialistas já dizem que este acidente superou o hecatombe do petroleiro Exxon Valdez, em 1989, na costa do Alasca, que contaminou 2.000 quilômetros depraias e dizimou milhares de aves marinhas, lontras e focas, alem de 250 águias e 22 orcas.
Em meio a tantas especulações e a todas as críticas disparadas por todos para todas as partes, a problemática decisiva é o fato deste vazamento estar a uma profundidade média de 1.500 quilômetros complicando todas as operações técnicas normais, inclusive um simples fechamento de uma válvula, torneira. Que isto nos faça refletir nas dificuldades e, principalmente, nos perigos da exploração de petróleo no nosso Pré-sal, onde as nossas jazidas estão em uma profundidade de 5 a 7 mil quilômetros de profundidade.
Portando, este é sim o maior atentado terrorista da história da humanidade contra o meio ambiente, não são simplesmente seiscentas espécies de animais que estão ameaçados com o vazamento de óleo da empresa britânica, mas sim todos nós seres humanos interligados a vida desse planeta.
Quanto de petróleo ainda tem que ser derramado? Quantos animais marinhos têm que morrer? E quantas mesquitas, armas de destruição em massa e guerras têm que ser movidas com nossa sede por gasolina, fazendo de nós mesmos terroristas em potencial?
Na seqüência dessa tragédia histórica tem que vir um plano de ação para colocar um fim em nosso vício pelo petróleo. Que essa tragédia venha a moldar as mentes humanas de como pensar o meio ambiente para os próximos anos, dando enfoque principalmente em fontes de energias limpas. É nítido que não colocaremos um fim da exploração de petróleo ou nosso vício pelo ouro negro da noite para o dia, mas será que podemos começar?!
Ainda há tempo:
BIBLIOGRAFIAS CONSUTADAS:
Globo Ciência. Obama compara catástrofe no Golfo do México a 11 de Setembro e diz que política ambiental terá que ser reavaliada.Acesso em 23 de julho de 2010.
Jornal o Globo. Obama vistoria o vazamento de petróleo no Golfo do México. acesso em 22 de julho de 2010.
Correio Brasiliense.Vazamento de óleo no Golfo do México é o maior desastre ecológico na história dos EUA. Acesso em 22 de julho de 2010.
G1. Vazamento no Golfo do México é 'pior desastre dos EUA. Acesso em 23 de julho de 2010.
Ola meus caros amigos. Acredito que escrever é uma arte e, como tocar um instrumento, ela depende, muito além do conhecimento musical, do amor. Logo fiz uns convites a amigos que sei que quando escrevem fazem com amor. Assim minha amiga, Júnia, também historiadora, autora do Vintage Blog, escreveu para mim um excelente artigo sobre a administração de Juscelino Kubitscheck em Minas Gerais na década de 1940. Obrigado minha cara amiga.
Por Júnia Lemos
Em abril de 1940 tomava posse como prefeito de Belo Horizonte Juscelino Kubitscheck de Oliveira. Sua metanesta época já era o desenvolvimentismo e sempre nomenor espaço de tempo possível. Simultaneamente àpolítica modernizadora de JK, explodia na Europa a II Guerra mundial gerando dificuldades para que o prefeito então em exercício colocasse em pratica suas idéias devido aalta nos produtos. Mas isso não freou Juscelino que iniciouum processo de infra-estruturanecessário parao progresso que inevitavelmente despontava.
Construiu o que viria a ser um marco na economia e na indústria e colocaria BH em pé de igualdade com as grandes cidades brasileiras: a cidade industrial e o bairro Eldorado ao lado do pólo industrial, sendo este último uma espécie de“cidade dormitório” para os operários.
Na época não havia acesso até a região, então o prefeito belorizontinomandou prolongar a famosa avenida Amazonas até a Gameleira. A avenida tinha 35 metros de largura, canteiro central e passeios largos e seguia quase que em linha reta, com apenas três curvas, permitindo ligaçãorápida com o novo pólo industrial.
JKtambém se voltou para a questão do lazer dos mineiros e então a represa criada para o abastecimento de água da capital, tornou-se um lago artificial de raríssima beleza ( e recebeu o nome de Pampulha em homenagem ao córrego que ali passava e que havia sido represado).
Um arquiteto recém formado veio ajudar JK na reformulação de BH, o jovem Oscar Niemeyer. Ele fez o projeto urbanístico para a lagoa que não poderia ser apenas monumental, mas de valor urbanístico, turístico e social.
O projeto contava com quatro obras:
O Cassino: um monumento feito com concreto armado, projetando-se para dentro da lagoa em estilo moderno e de grande bom gosto. Todo cercado de jardins e desembocadores que permitiam o acesso também pelo lago, procurando desta forma prepará-lo já para o turismo e visando dar a BH uma obra que refletisse seu progresso.
A Pampulha não poderia deixar de ter umespaço para prática religiosa e para isso foi criada a polêmica Igreja São Francisco de Assis - A igreja durante quase duas décadas não foi reconhecida pelos representantes católicos devido à sua forma um tanto quanto moderna para a época da construção.
Com finalidade de se criar na região um centro de reuniões, foi projetada a Casa do Baile, local destinadoa diversão da elite mineira.
No próprio lago foi criado o Iate Golf Clube, de dimensões imensas e também voltado para alta sociedade mineira.
Para que a região não perdesse sua beleza mesmo a noite, foram instaladas 174 lâmpadas de 150 wts em postes de concreto.
Tudo isso teria sua importância diminuída se não houvesse boas vias de acesso atélocal. JK mandou de imediato melhorar a estrada velha da Pampulha. Mas a pequena via não estava à altura da grandiosidade da obra. Mandou então construir a Avenida Pampulha (hoje Antônio Carlos). Para sua construção foram exigidos trabalhos arrojados, feitos cortes profundose canalizados dois córregos, o da Cachoeirinha e o da Lagoinha. Foi feito o serviço de embelezamento com jardins e iluminação. O projeto foi concluído50 dias antes do prazo previsto.
Belo Horizonte cresceu muito com as mudanças urbanísticas do prefeito Juscelino, mas por outro lado, a popularidade do mesmo graças a estas e outras grandes obras em Minastornaram-se destaque de seu governo, abrindo portas para sua escalada a presidência da república.
Como líder Máximo do país no final da década de 50 e início de 60 carregou consigo fortes característica dopopulismo edesenvolvimentismo. JK também foi acusado diversas vezes de corrupção. As acusações vinham desde os tempos em que ele era governador, e se intensificaram no período em que ele foi presidente.
Ainda hoje é um dos políticos mais admirados do cenário nacional, sendo considerado um dos melhores presidentes que o Brasil já teve.
BIOGRAFIA:
SILVA, Luiz Roberto da. Doce Dossiê de BH. Belo Horizonte, gráfica Editora Cedáblio Ltda., 236 p.
Autora:
Júnia Lemos, além de minha amiga blogueira, é formada em história pela UNI-BH em 1995, Pos-graduada e Brasil Colônia pela PUC/MG e Pós-graduada em História da Arte pela UNI-BH.
Eis que a história política experimenta uma espantosa volta à fortuna, cuja importância os historiadores nem sempre tem percebido. Essa é a razão de existir da obra, Por Uma História Política, de René Remond, historiador francês, especializado em história da política e das idéias da Europa contemporânea, tendo sido um dos últimos de uma sólida linhagem de intelectuais católicos.
Registrar o fenômeno de retorno da história política, medir suas causas, seu alcance e o significado, para tanto, compreender mudanças ocorridas na própria política e no espírito do historiador, é a razão de meu artigo.
Durante séculos a história política desfrutou de prestígio: no Antigo Regime, com a glória do soberano e a exaltação da monarquia; com as revoluções, a história política tinha suas atenções voltadas para o Estado e a nação, consagrando as lutas por emancipação política; chegando à democracia, as lutas partidárias e os confrontos entre ideologias políticas eram seu enfoque.
Então, eis que surge em nome de uma história total, uma geração que fez revolução na distribuição dos interesses e a primeira vítima foi à história política.
A nova história apontava para a história política e encontrava nela uma série de defeitos, acusando ela inclusive de ser uma história factual. Essa nova história viria como uma nova abordagem: dando mais ênfase as estruturas duráveis e mais reais em oposto aos acidentes de conjuntura; analisando o comportamento coletivo em contraposição das iniciativas individuais; e na longa duração em detrimento dos movimentos de fraca amplitude.
Ao privilegiar o particular, o nacional, a história política privava-se ao mesmo tempo da comparação no espaço e no tempo, limitando-se deste modo a uma síntese. Enquanto o historiador deveria interrogar o sentido dos fatos, formular hipóteses explicativas, a história política permanecia uniformemente narrativa, escrava ao relato linear. Assim suas produções se aparentavam mais com a literatura que com conhecimento científico.
Essa história caia ainda no erro do idealismo, imaginando que as vontades pessoais dirigiam o curso das coisas, levando a cegueira aos que acreditavam que as idéias conduziam o mundo, quando, de fato, as idéias não passam da expressão do interesse de grupos que se defrontam.
Factual, subjetivista, psicologizante, idealista, a história política reunia então todos os defeitos, e uma geração almejava por fim a isso, passando a história dos tronos e das dominações para a dos povos e das sociedades. A história política tradicional, ao isolar arbitrariamente os protagonistas das multidões, travestia a realidade e enganava o leitor. Marx e Freud contribuíram, cada um a sua maneira, para por fim ao prestígio da história política: Marx, fazendo a luta de classes; e Freud, pondo em plena luz o papel do inconsciente.
Uma convergência de fatores, portanto, fez com que a história política fosse lançada pela evolução das realidades e a revolução do espírito dos historiadores, ao descrédito.
Eis que ela ressurge reintroduzindo a dimensão política dos fatos coletivos. É justamente dessa ressurreição que René Remond aponta os principais aspectos, explicitar os postulados, descrever os componentes e prolongamentos. Seria esse retorno fruto do modismo? Indaga o autor. Ou uma reflexão a mercê do conhecimento histórico?
Para compreender as razões de sua volta com plena força é necessário perceber as iniciativas que são obras de historiadores. Uma história como realidade tomada no sentido dos acontecimentos, teve papel preponderante nesse retorno da história política.
As guerras não podem ser explicadas somente pelos dados econômicos; a própria intervenção do Estado frente a uma economia liberal abre espaço e um leque de opções para a renascida história política; o desenvolvimento de políticas públicas e a relação política economia não eram de mão única; e percebeu-se que uma decisão política, quer seja para pior ou para a melhor, tem sim seu papel na modificação de um curso. A evolução, portanto, se fez no sentido da extensão, fazendo o universo político se expandir.
À medida que o poder público é levado a legislar, regulamentar, subvencionar, controlar, a produção, a exemplo de construção de moradias, do assistencialismo social da saúde pública e a difusão da cultura, setores passaram, um após o outro, para os domínios da história política. O próprio René, pela sua experiência pessoal, diz denotar uma elevação no nível de compreensão política, os cidadãos passaram a se sentirem mais membros do corpo político. O próprio desenvolvimento de um jornal político e do livro político apontam para isso. A uma constatação, nos diz o autor, de que a política está em toda a parte, responsável por tudo, o que leva a crer que detem a solução de todos os problemas.
O movimento de 1968, nos diz o autor, teve importante contribuição para conduzir o político ao primeiro plano de reflexão. Nos convém a análise de dois fatores, conjugados, que ajudam a explicar o fato de a história política ser hoje na França um dos ramos mais ativos da produção historiográfica: fator exógeno, já mencionado linhas acima e fatores internos, que seria a própria renovação causada pela discussão dos conceitos e das práticas. A história política encontrava também em seu próprio passado o que deveria se tornar.
René nos fala que, bem antes, já havia autores produzindo essa nova história política, os pré-cursores: Charles Seignobos, historiador francês, autor do livro História Sincera da Nação Francesa, já elencava problemas como a importância da sociologia eleitoral, divisões políticas, mudanças de regime, flutuação da opinião publica. André Siegfried, francês considerado o pai da geografia eleitoral, desenvolveu pesquisas para a compreensão do comportamento eleitoral. Outros nomes ainda como: Franções Goguel, Alain Lancelot, Albert Thibaudet (responsável por unir a cultura a sensibilidade), Georges Weill (esboçou antecipadamente as principais direções que a história política viria a tomar), Marcel Prélot (sugere estudar os partidos conjugando o estudo das instituições), Jean-Jacques Chevallier (contribuiu para o renascimento da história das idéias políticas harmoniosamente ao estudo das instituições). Esses autores, e outros, nos diz René, ajudam a demonstrar que a história política, até certo ponto, fora injustiçada pelas críticas.
Essa renovação também será estimulada pelo contato com outras ciências sociais e pela troca com outras disciplinas – pluridisciplinaridade. Historia política viria a beber na fonte do direito público, sociologia, psicologia social e psanálise, lingüística, matemática, informática, Cartografia e entre outras. Com a colaboração de outras disciplinas, ela encontraria um meio mais propício que as estruturas monodisciplinares das antigas faculdades.
Hoje, essa nova história política tem como satisfazer os historiadores mais exigentes em matéria de história total. Ela pode se orgulhar de se basear em uma massa documental tratada estatisticamente, a exemplo: contagem do sufrágio, resultados das disputas eleitorais e a conclusão dos debates parlamentares. No que tange a ser quantitativa a história política, a nova, está, pois, em primeiro lugar. Não há história mais total do que a participação política que se reflete na prática eleitoral.
A história política aprendeu que se a política tem características próprias, que tornam inoperante todas as análises reducionistas, ela também tem relações com outros aspectos da vida coletiva. A política, nos diz René, não constitui um setor separado, ela é uma modalidade da prática social.
Abraçando os grandes números, trabalhando na longa duração, apoderando-se dos fenômenos mais globais, essa nova história política descreve uma revolução completa, sendo assim, não pode ser taxada como um mero modismo ou um veranico de maio.
Bibliografia:
REMOND, René (orgs). Por uma história política. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003. Pg. 13-36.
“o mito moderno é que a ciência capacita a humanidade a tomar conta do seu destino, mas a própria ‘humanidade’ é um mito, um resto empoeirado de fé religiosa. Na verdade, só há pessoas humanas, que usam o crescente conhecimento propiciado pela ciência na busca de seus fins conflitantes.”
John Gray é seu nome, Al-qaeda e o que significa ser moderno é a sua obra. Fui me atentar a valorosa leitura deste livro quando me ative a ler um de seus capítulos: A metamorfose da guerra, e então parti para desbravá-lo. E é claro que eu não poderia deixar de comentar, uma vez que essa rica obra me agregou valores e conhecimento fundamentais na compreensão da chamada história do tempo presente.
John Gray é professor de Pensamento Europeu na London School of Economics, é colunista do jornal britânico The Guardian. Publicou também O Falso Amanhecer; Cachorros de Palha; A Morte da Utopia; Two faces of Leberalism entre outros. Esteve também ligado à Nova Direita, que influenciou decisivamente a ascensão de Margaret Thatcher na Inglaterra.
Deixamos sua paixão direitista de lado e partamos para a obra. O livro abre a discussão fundamental sobre a crença da modernidade como condição única e vital. Ao passo que as sociedades enquanto modernas seriam mais parecidas e tornar-se-iam melhores, a pobreza e a guerra, poderiam ser abolidas com o poder conferido pela luz da ciência, a humanidade então, racional que seria em seu fervor, seria capaz de criar um mundo novo. Ser moderno é de fato, portanto, “realizar nossos valores – os valores iluministas, como gostamos de pensar.”
Acreditar, como os positivistas acreditavam, que a expansão do conhecimento científico e a emancipação da humanidade caminham de mãos dadas, para Gray, é um fiasco. A experiência soviética com o comunismo e alemã com o nazismo, em pólos ideológicos antagônicos, significaram a tentativa desastrosa de corporificar o ideal iluminista de um mundo liberto. Ambos praticaram os piores atos de genocídios da humanidade. E não é diferente com a al-Qaeda com o então 11 de setembro de 2001.
“o comunismo soviético foi concebido no coração da civilização ocidental. Não poderia ter-se originado em nenhum outro meio. O marxismo é apenas uma versão radical da crença iluminista no progresso – ela mesma uma mutação da esperança Cristã.”
“Tanto em escala quanto no objetivo de fazer surgir uma humanidade nova e socialista, o terror soviético foi unicamente moderno. O mesmo é verdade no caso dos genocídios nazistas.”
“... A idéia predominante do que significa ser moderno é um mito pós-cristão. Os cristãos sempre sustentaram que há apenas um caminho para a salvação, revelada na história e aberta a todos...”
“Não apenas no uso das tecnologias de comunicação que a al-Qaeda é moderna. Também é moderna sua organização. A al-Qaeda lembra menos as estruturas de comando centralizado dos partidos revolucionários do século XX que as estruturas celulares dos cartéis de drogas e as redes planas das empresas virtuais. Sem sede fixa e com membros ativos em praticamente todas as partes do mundo, a al-Qaeda é uma multinacional global.”
Como toda boa obra, o livro de John Gray abre um leque de problematizações que dificilmente passam pelos “lugares-comuns” da história. Tem lá seus buracos e lacunas mas, é ao mesmo tempo o que torna o texto mais degustável as mentes abertas. Sendo esta uma valiosa contribuição interpretativa para a história do tempo presente.
A Primeira Guerra Mundial, disse François Furet[1], em nada se pareceu com a Segunda. Ninguém previa uma guerra provocada pelo afloramento de sentimentos nacionalista. O povo daquela época, assim como o de hoje, estava inserido na ótica do mercado: liberdade individual, a felicidade privada e o enriquecimento o que fez com que esses “homos economicus” estivessem espiritualmente despreparados para a guerra.
O homem econômico tem um papel central, mas não é o ator principal do conflito; o capital tem seu lugar marcado no Hall das desgraças da humanidade, todavia não deve ser o bode expiatório. A guerra só foi aceita em amplitude e plenitude por razões nacionalistas – a origem imediata parte das questões nacionalistas nos Bálcãs, perceptivo no sentimento de patriotismo que levou os homens ao fronte de batalha. Era, por assim dizer, o sentimento mais bem compartilhado naquele momento que se alastrava nação a nação. No caso da Alemanha em especial havia um forte amor pela “raça” que era expresso no movimento pan-germânico[2].
Podia si ver indo para o campo de batalha: a paixão da honra militar, o sentimento de nação e, a fé sega na ciência. A paixão da honra militar, sentida nas guerras revolucionárias, segredo do sucesso e das glórias dos exércitos de Napoleão, sobreviveu ao tempo; o sentimento de nação que vem dos séculos dos reis, anteriores até mesmo as democracias e a sociedade capitalista burguesa, também estava vivo; e a ciência, maior substituta da religião no século XIX, trouxe a justificativa para o pan-germanismo, retirando do evolucionismo darwinista a idéia de seleção natural e da espécie mais forte.
E entre o ataque de Sarajevo[3] e as decisões mobilizadoras, no mês de julho de 1914, era muito possível parar a engrenagem da máquina que levaria a matança. Ninguém o fez, todavia, então seu desencadeamento se deveu, em termos, digamos puramente técnico, pelo déficit da ação arbitrária diplomática. A guerra poderia também ser encurtada se um dos beligerantes tivesse a capacidade de se impor, no entanto quando a guerra foi parar nas lamacentas trincheiras há um prolongamento do embate, para lançar os dados de uma média de 30 mil mortes a cada 200 metros[4]. Assim podemos notar seu caráter interminável pelo infeliz equilíbrio das forças.
Em poucos meses de conflito: acabara o exército profissional e também não se via sua relação custo benefício, mesmo assim ela se arrastou por longos e sangrentos anos, inaugurando o ciclo das grandes tragédias que marcariam o século XX.
A guerra acaba e os ditos vencedores não têm uma concepção comum para a nova ordem mundial. E o Tratado de Versalhes[5], assinado em 28 de junho de 1919, fidelidigno as promessas feitas no calor do combate, tendeu a um caráter punitivo e vingativo em detrimento de ser um mediadordas relações causa conseqüência, fazendo com que o terreno ficasse fértilpara o totalitarismo, semente da Segunda Grande Guerra.
[1] François Furet. Historiador francês nascido em Paris, um dos principais estudiosos da Revolução Francesa
[2]O pan-germanismo foi um movimento político e sociocultural do século XIX, que
buscava a união de todos os povos germânicos.
[3]Sarajevo (por vezes Saraievo) é a capital e a maior cidade da Bósnia e Herzegovina. Palco do assassinato de Francisco Ferdinando, herdeiro do império Austro húngaro.
[4] FURET, François. O passado de uma ilusão. Pg. 62.
[5] O Tratado de Versalhes (1919) foi um tratado de paz assinado pelas potências européias que encerrou oficialmente a Primeira Guerra Mundial.
Bibliografias:
Esqueletos de soldado alemão morto durante a Primeira Guerra Mundial,encontrado em Violaines, na França. Disponível em http://www.lucianomarinho.com.br. acessado em 24/05/09.
FURET, François. O passado de uma ilusão. São Paulo: Siciliano, 1995. 599p.
HOBSBAWM, Eric J. Era dos Extremos: o breve século XX, 1914 - 1991. Tradução Marcos Santarrita. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 20001.