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domingo, 14 de junho de 2015

AS IGREJAS PROTESTANTES E A CONTRARREFORMA

Prof. Douglas Barraqui
A CRISE DA IGREJA CATÓLICA
Durante a Idade Média acumulou poderes:
a)    econômico: posses de terras;
b)    Político: influência nas decisões políticas;
c)    Jurídico: interferência na criação de leis;
d)    Poder social: estabelecia padrões de comportamento moral para a sociedade
Heresias
A autoridade da Igreja era praticamente inquestionável: aqueles que ousassem julgar o comportamento dos clérigos ou discordar dos seus ensinamentos eram considerados hereges, ou seja, cristãos que escolhiam outra forma de interpretar os dogmas e as doutrinas católicas. Como isso não era permitido no cristianismo, a Igreja identificava e punia esses transgressores. A mais comum forma de punição era a morte pelo fogo.
Contexto da crise:
Ø  Com a crise que acometeu a Europa nos séculos XIV e XV (fome, pestes, dificuldades econômicas), as críticas ao domínio da Igreja católica tornaram-se cada vez mais comuns.
Ø  O Renascimento, como movimento cultural, questionou os valores medievais, buscando recuperar os ideais da Antiguidade clássica.
Ø  Criou-se assim um ambiente favorável ao desenvolvimento de cismas, que levaram os cristãos à Reforma Protestante e à criação de novas Igrejas cristãs.

AS CRÍTICAS À IGREJA CATÓLICA
I)             Conflito filosófico quanto à salvação: tomismo (salvação pela fé e boas obras) e o agostinianismo (salvação pela fé) - Aurélio Agostinho (354 – 430) e São Tomás de Aquino (1225-1274),
II)            Luxo e na riqueza desfrutados pelos membros do alto clero;
III)           Não obediência ao celibato clerical (Alexandre VI teve várias amantes, em particular Vanozza Catanei, com quem teve quatro filhos. Teve ainda por amante Giulia Farnese, mulher de Orsino Orsini).
IV)          Venda de Indulgências ("Assim que uma moeda tilinta no cofre, uma alma sai do purgatório" – Tetzel - bispo encarregado da campanha de cobrança de indulgência na Alemanha).
V)           Prática de simonia - Simonia é a venda de favores divinos, bençãos, cargos eclesiásticos, prosperidade material, bens espirituais, coisas sagradas, objetos ungidos.
VI)          Conflito de interesses entre reis (Estado) e a Igreja.
VII)          Desenvolvimento do espírito capitalista;
VIII)       Ascensão da Burguesia (lucro e da usura – práticas condenadas pela Igreja Católica);

AS REFORMAS PROTESTANTES

I)             MARTINHO LUTERO (1483 —1546)

Em 1517, o papa Leão X estabeleceu a venda de indulgências, ou seja, uma carta que assegurava o perdão dos pecados em troca de uma quantia em dinheiro. Segundo a Igreja, o dinheiro seria usado no término da construção da basílica de São Pedro, em Roma. Na Saxônia (região da atual Alemanha), o monge e teólogo Martinho Lutero, que pregava uma volta à “pureza original” da fé cristã, revoltou-se com o escândalo das indulgências.

Quem foi Lutero:
n  Lutero nasceu na Alemanha em 10 de novembro de 1483;
n  Filho de Hans Luther e Margarethe Lindemann, integrantes de uma pequena burguesia ascendente;
n  1501 - aos 17 anos, ingressou na Universidade de Erfurt. Se formou em bacharel e posteriormente mestre.
n  1505 - ao voltar de uma visita à casa dos pais, em meio a uma tempestade, teria feito uma promessa à Santa Ana;
n  Aderiu à ordem dos agostinianos.
n  1507 - foi ordenado sacerdote. No ano seguinte começou a lecionar teologia na Universidade de Wittenberg.
n  1515 - Lutero passaria pela chamada “experiência da Torre”: no alto da torre da Catedral do Castelo de Wittenberg;
n  Salmo 30: “liberta-me em tua justiça”
n  Conta Lutero em sua autobiografia: “me senti renascido, entrando no paraíso por suas portas abertas”.
n  1517 – Lutero, revoltado com a campanha de venda de indulgências, escreve as 95 teses – 95 críticas à postura e a moral da Igreja
n  1520 – Lutero é excomungado pelo papa Leão X. Passa a ser perseguido como herege. Recebeu auxílio e proteção dos príncipes austríacos, dentre eles Franz von Sickingen.

Doutrina luterana:
      I.        Salvação pela fé;
    II.        Sacerdócio universal – para Lutero “pelo batismo somos todos sacerdotes”;
   III.        Negou da infalibilidade da Igreja: a única fonte da verdade é a Bíblia, e não a tradição ensinada pela instituição religiosa;
  IV.        Negou a infalibilidade do papa: e a existência de uma hie-rarquia dentro da Igreja.
   V.        Fim dos sacramentos: exceto batismo e a eucaristia;
  VI.        Fim do culto aos santos

II)            JOÃO CALVINO (1509 —1564)

Enquanto na Alemanha e em alguns reinos escandinavos (onde hoje se localizam a Suécia, a Noruega e a Finlândia) o luteranismo avançava, uma reforma mais radical iniciava-se na região da Suíça, onde havia importantes centros comerciais e uma forte burguesia mercantil.

Foi nessa região que o francês João Calvino refugiou-se, protegendo-se das perseguições religiosas que ocorriam na França. Defensor da Reforma de Lutero, Calvino entrou em contato, na Suíça, com outras ideias protestantes, que o ajudaram a formar uma nova doutrina.

Quem foi Calvino:
n  Nasceu na França, região da Picardia, em 10 de julho de 1509 (Martinho Lutero escreveu as suas 95 teses em 1517, quando Calvino tinha 8 anos de idade);
n  1521 - com doze anos, João Calvino ganhou uma renda anual concedida pela Igreja, com o fim de estudar Teologia;
n  1529 – Mudou-se para Orleães: O pai muda de idéia e preferiu que Calvino seguisse com estudos de Direito. A "ciência das leis torna normalmente ricos aqueles que se debatem com ela", referia o seu pai (ele próprio um advogado do bispado), segundo as próprias palavras de Calvino.
n  Calvino tomou contacto pela primeira vez com a Filologia humanista". O humanismo e o renascimento são, pois, os movimentos culturais que o influenciaram em primeiro lugar
n  1532 - foi doutorado em Direito em Orleães. Memos ano em que teria dada a sua conversão de Calvino ao protestantismo (Aderiu as idéias de Lutero);
n  1534 - Calvino ajudou seus conterrâneos picardos Antonie Marcout e Fefevre d´Etaples a espalhar os cartazes em algumas cidades próximas a Paris condenando a missa como blafematória (criticavam a celebração da missa tal como ela era realizada oficialmente pela igreja católica).
n  1536 - aos 26 anos, após ser perseguido na França foge para Genebra, na Suíça.

DOUTRINA CALVINISTA
I)     Salvação pela Predestinação;
II)    Todo homem é pecador por natureza;
III)    Fim do culto aos santos;
IV)  Infalibilidade da Bíblia;
V)   Fim dos sacramentos: com exceção à eucaristia e o batismo;
VI)  Separação entre Igreja e Estado;

III)           HENRIQUE VIII (1491-1547)

O movimento reformador na Inglaterra teve origem na própria monarquia inglesa. O rei Henrique VIII, da dinastia Tudor, desejava divorciar-se de sua esposa Catarina de Aragão (filha dos reis católicos da Espanha), porque com ela teve apenas filhas, deixando o trono sem sucessores homens.

O rei queria casar-se, então, com a dama da corte Ana Bolena. Diante da recusa do papa em lhe conceder o divórcio, Henrique VIII rompeu com a Igreja de Roma em 1531 e assumiu o poder absoluto na Inglaterra.

1534 - Três anos depois do rompimento do rei com a Igreja católica, o Parlamento inglês aprovou o Ato de Supremacia, que proclamou o rei como o único e supremo chefe da Igreja na Inglaterra. Henrique VIII tornou-se assim o chefe da Igreja anglicana (expressão medieval latina datada de, pelo menos, 1246, e que significa Igreja Inglesa), com o poder de nomear bispos, desapropriar terras da Igreja católica e distribuí-las entre nobres ingleses.

Quem foi Henrique VIII
n  Nascido em 28 de junho de 1491 em Greenwich, no Palácio de Placentia. (Foi o sexto filho de Henrique VII e Isabel de Iorque, dinastia dos Tudor).
n  1509 -  foi coroado rei de Inglaterra.
n  Foi o governante absoluto da Inglaterra.
n  Excêntrico pelos seus 6 casamentos
Conflito entre Estado Inglês e a Igreja (igreja católica era detentora de 1/3 de todas as terras da Inglaterra;
n  Motivos Pessoais:
Ø  Queria a anulação de seu casamento com Catarina de Aragão,
Ø  Desejava um novo matrimônio com Ana Bolena.
Ø  Conflito com o Papa Clemente VII.
Ø  Catarina foi formalmente despojada do seu título de rainha, e Ana foi coroada rainha consorte em 1 de junho de 1533.
Ø  Clemente VII excomungou Henrique VIII;
n  Ato de Supremacia:
Ø  Confiscou todas as terras da Igreja Católica na Inglaterra;
Ø  formou uma nova Igreja a Anglicana ;
Ø  Declarou Henrique VIII o líder supremo da nova Religião.

DOUTRINA ANGLICANA
n   É uma Igreja Católica  Reformada;
n  Importância da Bíblia: Adora a Deus e entende que a Bíblia e a chave para compreender a revelação de Deus aos homens;
n  É uma Igreja Democrática onde todos tem direito de se expressar mesmo sendo minoria.
n  Aceitação do divorcio;
n  Reconhecemos os cinco Ritos Sacramentais: Confirmação, Confissão, Sagradas Ordens, Matrimonio e Unção dos Enfermos e dois Sacramentos: Santa Comunhão e Santo Batismo

CONTRA REFORMAS
n  Contra Reforma, também conhecida por Reforma Católica;
n  Resposta e reação da Igreja Católica ao avanço do protestantismo;
n  Papa Leão X, organizou a Igreja no Concílio de Trento entre 1545 a 1563;
I)             Reafirmar os dogmas da Igreja;
ü  Negou as mudanças doutrinárias realizadas pelos reformistas,
ü  Confirmando os sete sacramentos (batismo, confirmação ou crisma, eucaristia, penitência ou confissão, ordem sacerdotal, casamento e unção dos enfermos);
ü  Reafirmou o culto à Virgem Maria e aos santos;
ü  Reafirmou que um bom católico é julgado por sua fé e pelas obras que faz;
ü  Estabeleceu a supremacia dos papas, revalidou o celibato clerical e a indissolubilidade do matrimônio.
ü  Confirmou que as fontes da doutrina católica são a Bíblia e a tradição da Igreja.

II)            Moralizar a Igreja;
ü    Condenou a corrupção interna ligada à venda de cargos eclesiásticos, relíquias e indulgências.
ü    A venda de indulgências não foi proibida, mas devia ser controlada pelas autoridades da instituição.
ü    Exigiu-se que o clero voltasse a ter uma vida simples e espiritual, com a obrigação de ter conduta moral exemplar e boa formação intelectual.
ü    Determinou-se a criação de seminários para a formação de sacerdotes. Deveria haver um seminário em cada diocese,
ü    Crio a Companhia de Jesus;
ü    Criou o INDEX (lista de livros proibidos)
ü    Reabriu o tribunal da Santa Inquisição;

Referências
n  AZEVEDO, Gislane Campos; SERIACOPI, Reinaldo. Projeto Teláris: história 7 ano. São Paulo: Ática, 1º ed., 2012.
n  CAPELLARI, Marcos Alexandre; NOGUEIRA, Fausto Henrique Gomes. História: ser protagonista - Volume único. Ensino Médio. 1ª Ed. São Paulo: SM. 2010.
n  COLLINSON, Patrick. A reforma. Rio de Janeiro: Objetiva, 2006. 277 p. (Historia essencial ) 
n  COTRIM, Gilberto. História Global – Brasil e Geral. Volume Único. Ensino Médio. 8ª Ed. São Paulo: Saraiva 2005.
n  FERNÁNDEZ-ARMESTO, Felipe; WILSON, Derek A. Reforma: o cristianismo e o mundo 1500-2000 . Rio de Janeiro: Record, 1997. 416 p.
n  LÉONARD, Émile G. O Protestantismo Brasileiro. Rio de Janeiro / São Paulo: JUERP/ASTE. 1981.
n  Projeto Araribá: História – 7º ano. /Obra coletiva/ São Paulo: Editora Moderna, 2010. Editora Responsável: Maria Raquel Apolinário Melani.
n  SKINNER, Quentin. A formação do pensamento político moderno. São Paulo, Companhia das Letras, 1996. 

n  Uno: Sistema de Ensino – História – 6º ano. São Paulo: Grupo Santillana, 2011. Editor Responsável: Angélica Pizzutto Pozzani.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Um olhar sobre a Reforma luterana


Por Douglas Barraqui 
MARTINHO LUTERO

“Ajuda-me, Sant’ Ana! Eu me tornarei um monge”. Essas foram as palavras de Martin Luther ou Luder; mais conhecido como Martinho Lutero, o homem que mudaria os rumos da Igreja.

Martinho Lutero nasceu na Alemanha em 10 de novembro de 1483. Filho de Hans Luther e Margarethe Lindemann, integrantes de uma pequena burguesia ascendente, era do desejo de sua família que Lutero seguisse a carreira pública, especialmente a de advogado; e assim foi mandado a diversas escolas, em 1501, aos dezessete anos, ingressou na Universidade de Erfurt. Se formou em bacharel e posteriormente mestre. E em 1505, ao voltar de uma visita à casa dos pais, em meio a uma tempestade com muitos raios, teria prometido a Santa Ana que, se o salvasse, se tornaria um monge.  Aderiu à ordem dos agostinianos. Em 1507, foi ordenado sacerdote. No ano seguinte começou a lecionar teologia na Universidade de Wittenberg.

Porém, em meio aos seus estudos teológicos, Lutero se deparou com uma crise espiritual envolvendo a questão da soterologia – estudo da salvação do homem. Em 1515 Lutero passaria pela chamada “experiência da Torre”: no alto da torre de Wittenberg, estudando a fim de encontrar respostas para as questões envolvendo a salvação, se deparou com o Salmo 31 – “liberta-me em tua justiça” – e assim Lutero passou a compreender a justiça de Deus, não como algo punitivo, mas sim como sendo a demonstração da misericórdia de Deus frente aos pecadores. Depois disso, conta Lutero em sua autobiografia: “me senti renascido, entrando no paraíso por suas portas abertas”.
Igreja do Castelo em Wittenberg

E em 1517 Lutero escreve as 95 teses, um convite aberto ao debate sobre algumas posturas morais da Igreja – documento que em vias de fato é contestado por alguns historiadores. As 95 teses, diz a tradição, foram afixadas nas portas da Igreja do Castelo de Wittenberg e a escrita desse documento teria sido motivada em meio a uma campanha de cobrança de indulgência, organizada por Johann Tetzel – “assim que uma moeda tilinta no cofre, uma alma sai do Purgatório”: eram as palavras de Tetzel que fez de sua campanha de perdão dos pecados um verdadeiro comércio de compra e venda da salvação.

EXPLICAÇÕES PARA AS REFORMAS

De fato a idéia de Reformar a Igreja não é nova na Idade Moderna. E quando buscamos explicações para as Reformas alguns historiadores acabaram por ter uma visão simplista e limitada concentrando-se apenas na decadência moral da igreja – temas como: luxo exacerbado do alto clero; a não obediência ao celibato clerical; a questão envolvendo a indulgência e a prática da simonia. Outros autores buscaram explicações muito mais amplas para as causas que desencadearam a Reforma: Emile Leonard, vai nos dizer que a razão de ser da Reforma está na própria crise espiritual da Igreja. Ou seja, é na própria religião que se deve buscar a natureza da Reforma.

Historiadores marxistas elencam uma explicação de cunho sócio-econômico. O próprio Marx vai dizer que “a religião é filha da economia”: assim a Reforma era resultado do modelo capitalista daquele momento histórico. As transformações de caráter sócio-econômicas surgidas após o Renascimento comercial – o que podemos destacar como a ascensão da classe burguesa – teve como resultado a necessidade de um novo senso comum religioso que beneficiaria a burguesia que aos olhos da igreja era má vista pela prática do lucro e da usura. O que fazem os marxistas, portanto, é relacionar a Reforma com o surgimento da sociedade Burguesa e sua ascensão.

Outros ainda buscam uma visão Holística para as causas da Reforma, como é o caso de Henri Hauser: apontando para as causas da Reforma como um emaranhado de fatores econômicos, sociais e religiosos, indissolúveis: “A reforma do século XVI teve um duplo caráter de revolução social e revolução religiosa. As classes populares não se sublevaram somente contra a corrupção dos dogmas e os abusos do clero. Também o fizeram contra a miséria e a injustiça. Na bíblia não buscaram somente a salvação pela fé, mas também a prova da igualdade original de todos os homens”.

Uma outra interpretação muito singular quanto às causas da Reforma é a de Quentin Skinner. Ele faz uma interpretação de caráter político e será o autor que mais terei atenção neste artigo, não porque sua explicação seja a mais plausível ou a única a via de fatos, mas sim porque sua obra nos ajudará a compreender a importância da doutrina luterana na formação do absolutismo.

Particularmente eu me identifico com a visão de Cornelius Castoriadis que estabelece uma relação entre a religião e a filosofia: a partir da Idade Média a cultura Ocidental fez um resgate da filosofia grega – feita pela igreja em São Tomas de Aquino. A escolástica medieval, portanto, é um “conbinado” de Aristotelismo e cristianismo. Falando a grosso modo, o tomismo tentou compreender Deus, suas práticas, origem e dogmas usando a filosofia. Castoriadis diz que isso vai ser paradoxal e contraditório.
Mapa da Alemanha indicando as cidades pelas quais Lutero passou

A SALVAÇÃO PELA FÉ

Lutero fundamentou sua doutrina na salvação pela fé, rompendo, desse modo, com a pregação tomista de que o homem por intermédio da fé e das boas obras alcançaria a salvação. Esta idéia de Lutero está bem descrita em sua obra “De Servo Arbítrio”: obra em que ele reafirma as idéias de Santo Agostinho.

Tomás de Aquino usou argumentos filosóficos para demonstrar “a verdade” dentro das crenças do cristianismo, o que ficou bem evidente em sua obra “Suma Contra os Gentios”. O tomismo virou a filosofia oficial da Igreja e também foi declarada a única filosofia verdadeira. E Tomás de Aquino seria feito mestre da Escolástica Medieval um conjunto de doutrinas teológicas e filosóficas que combinava aristotelismo com a crença cristã. A soterologia de Aquino defendia a salvação pela fé e pelas boas obras e a soterologia de Lutero à fé: eis o conflito.

Trata-se, portanto, de uma questão de interpretação que muito além de pura e simplesmente romper com o tomismo, trás autoridade para a bíblia e retira a função e a autoridade da Igreja em seu caráter institucional.
"Pela autoridade de todos os santos, e em misericórdia perante ti, eu absolvo-te de todos os pecados e crimes e dispenso-te de quaisquer castigos por 10 dias" - Uma indulgência vendida, com autoridade do papa, por João Tetzel em 1517

AS CONCEPÇÕES DE LUTERO

As concepções de Lutero passaram pelo: I - Conciliarismo – subordinava a autoridade do papa à comunidade dos fieis representada pelo concílio; II - Eclesiologia – trata-se do entendimento de Lutero sobre a natureza da Igreja (Lutero entende a Igreja como uma congregação de fieis e não como uma instituição hierarquizada). III – sacerdócio universal – este ponto envolve a questão do batismo (para Lutero pelo batismo somos todos sacerdotes), Lutero tinha inaugurado o sacerdócio universal.

Ao mesmo tempo a questão “sacerdócio universal” terá enormes implicações quando Lutero assiste a Epistola de São Paulo aos romanos, “todas as autoridades vem de Deus”: Quando todos são pautados como sacerdotes um em especial, o príncipe, terá além da autoridade política a autoridade religiosa. É inaugurado, então, o “direito divino dos monarcas”; o que fortalece enormemente o poder dos príncipes e afirma o poder temporal acima da Igreja. Lutero ainda vai dizer que cabe ao príncipe proteger a Igreja. A reforma Luterana, em via de práticas, permitiu a formação dos príncipes frente à Igreja Católica.

Quentin Skinner destaca que os príncipes passaram a ter uma autoridade política e religiosa: quando um príncipe ordenar ao seu súdito que faça o mal, o súdito deve recusar; o príncipe utilizara de sua autoridade para punir o súdito e, segundo Lutero, o súdito não deve reagir.  Trata-se de um posicionamento de “passividade” frente a autoridade dos príncipes.

Lutero qualifica a Igreja como autoridade interposta; defende o sacerdócio universal, rompendo assim como a separação entre leigos e religiosos – assim se faz valer: “mediante ao batismo somos todos sacerdotes”. Lutero então derruba a divisão entre estado religioso e estado laico.

CONSEQUÊNCIAS DAS PRETENSÕES DE LUTERO PARA A IGREJA

Em linhas gerais as concepções de Lutero tiram da Igreja sua jurisdição e uma série de seus privilégios específicos – Antes a igreja era uma instituição visível, hierarquizada, dotada de poderes que influenciavam a vida dos homens e os Estados.

Lutero condena a pretensão da Igreja em ter um papel e poder temporal. O reino dos homens, segundo Lutero, é ordenado por Deus – trata-se de um domínio distinto já que a espada está nas mãos das autoridades seculares para manter a paz, tendo portanto, o poder coercitivo.

Portanto, o que podemos notar é uma relação de obediência e subserviência em Lutero – aqui retomamos o ponto da questão da “passividade” frente aos príncipes.

O SUCESSO DA DOUTRINA LUTERANA

Skinner atribui o sucesso da doutrina luterana a três razões básicas que, em certo grau, estão relacionadas direta e indiretamente com a própria doutrina luterana: 1º) idéia luterana de insuficiência da razão; 2º) ênfase no caráter absoluto da vontade de Deus e 3º) o pecador deve colocar toda a sua confiança na vontade de Deus.
Igreja do CasteloWittenberg

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A reforma luterana foi um marco para a história do cristianismo e, porque não, da humanidade. O principio reformador, para alguns autores, é inato de nos humanos. Sem reduzir a importância de seus atores principais, digo que a reforma de Lutero é filha de seu tempo histórico, um momento em que o mundo cristão ocidental ansiava por uma nova postura moral e religiosa, eis a reforma de Lutero.

REFERÊNCIAS

LÉONARD, Émile G. O Protestantismo Brasileiro. Rio de Janeiro / São Paulo: JUERP/ASTE. 1981.

SKINNER, Quentin. A formação do pensamento político moderno. São Paulo, Companhia das Letras, 1996.