sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

CARTA AO MEU ALUNO


Lamento meu prezado aluno, mas não serei capaz de lhe contar toda a história nas próximas aulas. O que eu vou tentar fazer, com todo esmero, responsabilidade e amor que tenho por essa disciplina, sem poupar esforços, será juntar um emaranhado de recortes e tentar montar um enorme mosaico para formar a mais bela história da vida em nosso planeta: a história da humanidade.

Dos bandos dos primeiros hominídeos às tribos do grande Vale do Rift; da pedra lascada ao duro ferro dos gládios romanos; de pequenas vilas às margens do rio Yang Tsé à grande megalópole de São Paulo. Está, que aqui contarei, será a história da ascensão do homem uma espécie fantástica, intrigante e, ao mesmo tempo, ameaçadora.

Do Big Bang até os dias de hoje: como surgimos? Como ascendemos em relação a outros seres vivos? Como explicamos nosso mundo real, material e mesmo o que não vemos? Como uma espécie conseguiu, em tão curto espaço de tempo, dominar o planeta e alcançar os confins do espaço?

A história é feita por homens de carne e osso, assim como eu e você. Sendo assim a história aqui contada será a minha história, a sua história, a nossa história.

Faço minhas as palavras de Lucien Febvre, na obra Combates Pela História:

“AMO a história. E é por isso que estou feliz por vos falar, hoje, daquilo que AMO.”


Prof. Douglas Barraqui



quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

HÁ ESCOLAS QUE SÃO GAIOLAS E HÁ ESCOLAS QUE SÃO ASAS

Deixo para vocês as sábias palavras de um dos autores, que particularmente considero como, mais importante da área da educação em nosso país, Rubem Alves:

Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo.

Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.



sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

99% POBRE DE MARRÉ DECI, MAS AQUELE 1% É MILIONÁRIO E VAGABUNDO

Prof. Douglas Barraqui

“Eu sou pobre, pobre, pobre
de marré, marré, marré
eu sou pobre, pobre, pobre
de marré deci”.

Uma cantiga clássica de brincar. Tem sua origem na Europa nórdica. Após algumas pesquisas pude constatar que "marré" provém, devido a inúmeras corrupções, do diminutivo do nome Maria, “Marie” em francês. Já "deci", foi extraído do verso "dans ce jeu d'ici", que significa “neste jogo daqui”, trata-se da variante belga da canção.

A canção de brincar não é meu foco aqui. Meu foco é um fenômeno, um tanto quanto curioso, quem sabe até trágico, que percebo na sociedade brasileira:

No Brasil atual, dados da revista Exame, existem 0,1% da população que são milionárias. Estou falando de nomes como o empresário Jorge Paulo Lemann, sócio da AB Inbev (dona da Ambev no Brasil). Os sócios de Lemann, Marcel Herrmann Telles e Beto Sicupira. E é claro, não poderia faltar, Marcelo Odebrecht, preso em 19 de junho, junto com outros dez executivos da Odebrecht na operação Lava Jato da Polícia Federal. Esse 0,1%, milionários, exatas 43 pessoas, vivem como tal, pois assim podem, são milionários. Muito luxo e ostentação. Também, o que não é uma regra que se aplica a todos, muita sonegação, maracutaias, leia-se aqui corrupção.

Continuando com os dados da revista Exame: 1,8 % da população tem entre 100 mil e 1 milhão de dólares na conta. São, pois, ricos. Vivem como tal, pois assim podem, eles tem muito dinheiro. Muito luxo e ostentação. Também, o que não é uma regra que se aplica a todos, muita sonegação, maracutaias, leia-se aqui corrupção.

Continuando com os dados da revista Exame: 22,2 % da população brasileira possuem entre 10 a 100 mil dólares na conta. Continuam sendo ricos. Ricos “descendendo” para já uma classe média alta do nosso país. Muito luxo e ostentação. Também, o que não é uma regra que se aplica a todos, muita sonegação, maracutaias, leia-se aqui corrupção.

Ainda com os dados da revista Exame: 75,9% da população possuem menos de 10 mil dólares na conta. Muitos aqui nessa parcela não são ricos e poucos são pobres. Muito luxo e ostentação. Também, o que não é uma regra que se aplica a todos, muita sonegação, maracutaias, leia-se aqui corrupção.

O que eu quero dizer é que no Brasil o milionário e o rico vivem como tal, pois podem. Muito luxo e ostentação. A classe média quer viver como rico, não podem, mas ostentam assim mesmo. O pobre quer ser rico, se não labutar de sol a sol como escravo morre de fome, mas ostenta do mesmo jeito em suaves prestações a perder de vista.  

Fenômeno, no mínimo, curioso. Praticamente todos se dizem ou querem ser ricos. Não medem esforços para agaranhar ou pelo menos aparentar riqueza. Mesmo que esse esforço signifique em sonegar, pagar propina, se dar bem à custa de outrem. O cenário mais trágico disso tudo, a ponta do iceberg, é a política. Para fechar, ostentação rima com...

REFERÊNCIA:

Quantas são e quanto têm as pessoas mais ricas do Brasil. http://exame.abril.com.br/economia/noticias/quantos-sao-e-quanto-ganham-as-pessoas-mais-ricas-do-brasil. Acesso em 15 de janeiro de 2016. 

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

CARTA A UM JOVEM TOMANDO DECISÕES

Há algum tempo, recebi uma carta algo aflita de um jovem de 16 anos, que chamarei pela inicial G. Ele dizia ter optado por fazer História e ser professor.A família fazia oposição.Respondi com esta carta Por que divulgo? Porque muita gente tem perguntado a mesma coisa e pode servir a outros.

Caro G. : como eu lhe prometi ontem, sento-me para lhe dar uma resposta mais complexa. Você tem 16 anos e pensa em seguir a carreira de professor e historiador. Tem dúvidas e sua família torce contra esta opção de vida.

Sartre nos diz que escolhemos a resposta ao escolher quem responderá nossa dúvida. Ao perguntar a um historiador /professor se você deve seguir este rumo, é lógico supor que você queira um reforço da sua decisão. Vivo da minha escolha há mais de 32 anos e seria estranho que eu desse outra resposta a não ser um voto de entusiasmo. Mas o mundo é mais complexo...

Vamos começar pelo item “oposições familiares”. Seus pais e parentes próximos o amam e, sendo você novo e dependente deles, tem a preocupação aumentada. Você deve entender esta “oposição” como um gesto de amor e nunca como um combate a sua liberdade. Seus pais o conhecem muito e conhecem uma parte importante do mundo e da sociedade. Eles dizem estas coisas com absoluta convicção de ajudá-lo. 

De fato, como é muito noticiado, a carreira de professor tem percalços e é, de uma maneira geral, pouco atrativa financeiramente. A média da sociedade indicará carreiras com maior valor simbólico agregado, como Direito, Engenharia, Medicina etc. Seus pais refletem este senso geral. 
Há uma coisa importante a ser dita: quando temos 16 anos e ainda não gerenciamos nossa vida material de forma autônoma, desconsideramos o dinheiro como mola das coisas e, na generosidade da juventude, falamos de valores como vocação, desprendimento etc. Quase todas as pessoas aumentam a importância que dão ao dinheiro com o tempo.

Envelhecemos mais materialistas, em geral. Até eu diria que isto é envelhecer para a maioria: medir o mundo a partir de coisas muito concretas. Além dos seus pais, você deve levar em conta que o G. de 50 anos talvez não tenha este desprendimento, mas, naquela altura, uma mudança de rumo será difícil.

Há duas observações contraditórias com tudo o que eu disse. Seus pais o amam e querem o melhor para você. Levará alguns anos para você ter consciência da extensão deste amor. Porém, seus pais expressam a consciência possível do mundo e das escolhas que eles fizeram, dentro de circunstâncias deles, que não são as suas. Mais importante: quando você chegar ao fim da sua vida e tiver de responder se a vida valeu a pena, é provável que eles não estejam mais neste mundo e que gestos de aprovação ou desaprovação, feitos meio século antes, não tenham mais nenhuma relevância. Em outras palavras: a resposta sobre sua vida será sua, sempre sua, e solitariamente sua. Seus pais o amam e você deve ouvi-los; mas seus pais não são você.

O segundo ponto é que, de fato, há dificuldades na carreira que você cogita. Mas ...todas as carreiras apresentam problemas. O popular curso de medicina, que obteria aprovação de quase qualquer pai do mundo, é o que registra o mais alto índice de suicídios e alcoolismo entre os alunos na faculdade, segundo eu soube por pesquisa recente. Aparentemente, o glamour de algumas escolhas está no âmbito das conversas familiares e não na realidade das universidade. Meu pai era advogado e reclamava, sem cessar, dos problemas da profissão. A questão é que não existe carreira perfeita, mas ela deve estar adequada aos seus desejos, ao seu caráter e a sua ambição neste momento. Mas como saber como você será daqui a 20 anos? Não existe resposta. Ninguém sabe o futuro. Talvez até você tenha que fazer mudanças na sua escolha, mas, se for coerente consigo, continuará a busca pelo que é importante.

Se você, aos 16, pensou numa carreira de humanas e com magistério, você pensa fora da curva e deve ser original entre seus colegas de ensino médio. Se você cogitou esta ideia, parabéns, você não segue o pensamento coletivo e isto já indica um traço interessante. Há um preço a pagar por ser mais original, inclusive certa solidão. Mas, meu caro G., você já é assim e será mesmo que faça curso de História, de Educação Física ou de Engenharia Mecatrônica.

Você gosta da ideia de dar aula? Pode fazê-lo em quase todas as formações que tiver. Pode fazer o curso de Direito e ser professor. Você não está limitado a uma escolha. Pode também dar aula de História e fazer este lindo curso, como pode fazer Filosofia ou até Administração: todas estas carreiras podem ter sua contribuição como professor. São estudos desafiadores e interessantes. O estudo da História também é fascinante. Dar aula é uma paixão que me encanta mais a cada ano que passa.

Uma revelação: quando fiz a opção por História, minha mãe profetizou que eu passaria fome. Isto não ocorreu. Minha carreira tem sido prazerosa e materialmente eficaz. Eu decidi que queria mais e , após o curso, fiz pós graduação. Doutorei-me e comecei a dar aula numa universidade pública. Escrevo textos, dou palestras e organizo diversas atividades que me garantem muito prazer pessoal e boa retribuição material. Não sou a regra, mas demonstro que é possível viver muito bem como historiador.

Meu caro G. , o futuro é absolutamente imponderável. Os rumos que seguiremos são fruto de interações muito complexas que ninguém pode prever. O importante é você se conhecer, seguir sua reflexão, constituir uma meta e mantê-la enquanto ela lhe trouxer as respostas que você procurava. O magistério é um mundo difícil, mas possível. Seja sempre honesto com você e diga o que você realmente quer. Siga seu sonho com intensidade e faça um esforço gigantesco para chegar aos pontos que você traçou hoje ou aos que traçará no futuro. Saiba mudar de ideia quando perceber que o rumo mudou e saiba ouvir a todos que te cercam, mas consciente de que as escolhas finais são suas. Como advertia O. Wilde, viver é muito importante, porque a maioria das pessoas apenas existe.

Talvez lhe ajude mais ler meu livro “Conversas com um jovem professor” que faz reflexões sobre esta escolha. Mas, mesmo lendo muito ou ouvindo pessoas como eu, lembre-se sempre de que você tem de tomar uma decisão sua, exclusivamente sua e só você responderá por ela.


Um abraço : Leandro Karnal

sábado, 9 de janeiro de 2016

AS GUERRAS NAPOLEÔNICAS

Prof. Douglas Barraqui

Guerras Napoleónicas foram uma série de conflitos armados que se estenderam de 1803 a 1815. As Guerras Napoleônicas marcaram uma transição: Estas foram as últimas guerras do “velho mundo” e, também, a primeira guerra do “novo mundo”. Muito além de Napoleão Bonaparte e as ações do seu grande Exército, essas guerras contribuíram para o desenvolvimento do pensamento político contemporâneo. A frase do general prussiano Karl von Clausewitz expressa, de forma concisa, o que significou as Guerras Napoleônicas:

“...a guerra não é mais que a continuação da política por outros meios”

Dessa forma, muito mais que um conjunto de sangrentos combates, as Guerras Napoleônicas foram o marco histórico de uma grande mudança rumo a um outro mundo.

As guerras napoleônicas são crias de um mundo de Revoluções: Revolução Industrial, Revolução Burguesa, Revolução Francesa. Em meio a essa conjuntura de Revoluções Napoleão Bonaparte foi uma espécie de catalisador, com sua incontrolável ambição pessoal e política. A vontade de dominar toda a Europa, até seus últimos confins, levou Napoleão não apenas à tentativa de reconstituir a obra de Carlos Magno, rei dos francos por mais de 45 anos  de 768 a 814, mas também superá-lo.

Referência:


MAGNOLI, Demetrio. História das Guerras. Organizador. 3. ed. São Paulo : Contexto, 2006. Pg. 189-219.

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

SOCIOLOGIA – AULA 01 – O QUE É SOCIOLOGIA?

Prof. Douglas Barraqui

O que torna possível a vida em sociedade?

Vamos fazer um exercício:

Olhe pela janela do seu quarto em sua casa ou apartamento. Observe os transeuntes que se cruzam na rua, se dão bom dia ou não, apenas se ignoram. Entre essas pessoas há um padeiro, mecânico, marceneiro, eletricista, professor, advogado, gari, dona de casa e por ai vai. Todos próximos vivendo em uma mesma rua, de um mesmo bairro, de uma mesma cidade em um mesmo Estado e país, VIVENDO EM SOCIEDADE.

Para a vida em sociedade dar certo em uma cidade é necessário organização. E essa organização depende das pessoas que moram nessa cidade.

Há tantas pessoas em uma cidade que a gente se pergunta: como ela se organiza? Como ela funciona? Como ela se estrutura? Para responder essas perguntas é que surgiu a SOCIOLOGIA.

SOCIOLOGIA é a parte das ciências humanas que estuda o comportamento humano em sociedade e os processos que interligam os indivíduos em associações, grupos e instituições. Enquanto o indivíduo na sua singularidade é estudado pela psicologia, a sociologia tem uma base teórico-metodológica voltada para o estudo dos fenômenos sociais, tentando explicá-los e analisando os seres humanos em suas relações de interdependência. Compreender as diferentes sociedades e culturas é um dos objetivos do sociólogo.

Mas, o que é VIVER EM SOCIEDADE? Em sociologia, uma SOCIEDADE (do latim: societas, que significa "associação amistosa com outros") é o conjunto de pessoas que compartilham propósitos, gostos, preocupações e costumes, e que interagem entre si constituindo uma comunidade. Para uma vida em sociedade além da cooperação dos indivíduos, também é necessário a atuação das autoridades públicas. Afinal de contas estamos, como diz o velho jargão, “todos no mesmo barco”.

Os estudos sociológicos:

O que a sociologia e os seus estudos estudam e se preocupa, por exemplo com
a)      as ações sociais;
b)      as interações sociais;
c)       as mudanças sociais;
d)      as instituições e práticas sociais;
e)      as relações entre as pessoas;
f)       os papeis sociais assumidos por cada indivíduo;

As bases da sociologia foram construídas por:

a)      DAVID ÉMILE DURKHEIM - Sociólogo, psicólogo social e filósofo francês. Comumente citado como o principal arquiteto da ciência social moderna e “PAI DA SOCIOLOGIA”, primeiro sociólogo moderno. Em sua obra “Da Divisão do Trabalho Social” e “As Regras do Método Sociológico”, ele argumenta que o comportamento humano é moldado pelo que ele chamou de “fatos sociais” ou pelo “contexto social” das pessoas.

b)      KARL MARX – Filósofo, economista, sociólogo nascido na Prússia. Em sua obra “O Capital” ele coloca como cerne de seu pensamento é a chamada “LUTA DE CLASSES”. Nesta obra Marx faz duras críticas ao modelo de sociedade capitalista. Para Marx o conflito entre as classes sociais é o MOTOR DA HISTÓRIA. Deve-se ao chamado marxismo a formação e o desenvolvimento de um pensamento sociológico mais crítico e radical.

c)       KARL EMIL MAXIMILIAN WEBER - intelectual, jurista e economista alemão visto como um dos fundadores da Sociologia. Weber desenvolveu estudo comparado da história, da economia e da história das doutrinas religiosas. São muito conhecidas as suas teses sobre a relação do protestantismo com o capitalismo. Tem como principais obras “A Ética protestante e o “Espírito Capitalista” e “Economia e Sociedade”.

Um padeiro, mecânico, marceneiro, eletricista, professor, advogado, gari, dona de casa, exemplos Citados no começo desse artigo, são exemplos da divisão do trabalho em uma sociedade. Cada um fazendo a sua parte para que um todo funcione. Em um olhar mais específico podemos dizer inclusive que todas as “CLASSES SOCIAIS” aparecem em uma cidade. Assim como todas as diversidades de religião, cultura gênero. Uma cidade, portanto é reflexo de como nós, vivendo em sociedade, conseguimos nos organizar.

A sociologia e a sociedade

E o que os estudos relacionados a sociologia tem a nos dizer sobre a sociedade:

Para a maior parte das pessoas é muito mais fácil compreender as relações entre conhecidos, amigos e mesmo parentes. Porém, entender como que socialmente os problemas aparecem em uma sociedade é mais complexo. Torna-se mais fácil compreender o porquê do filho do vizinho ter se tornado um delinqüente. Ao mesmo tempo é difícil entender a delinquência como um problema de caráter social. Quais as condições da sociedade que fizeram com que, em um determinado momento, o filho do vizinho partisse para a criminalidade. Aqui entra a sociologia como uma ciência que se propõe a compreender as naturezas dos problemas sociais, as suas explicações, os desdobramentos e mesmo propor a superação desse problema.

Veja o caso do problema do desemprego:

Quais seriam as condições sociais para que em uma sociedade existam pessoas desempregadas? Por que existe desemprego nessa sociedade? Quais as causas do desemprego? Há ausência de políticas públicas contra o desemprego? Há alguma razão histórica, cultura, conjuntural ou estrutural para o desemprego? Essas perguntas, bem como outros problemas da nossa sociedade são estudas por um sociólogo.

No Brasil temos importantes sociólogos que contribuem para análise da sociedade brasileira. Dois deles se destacaram para o desenvolvimento sociológico e da sociologia no Brasil:

   a)      GILBERTO DE MELLO FREYRE - Ensaística da interpretação do Brasil sob ângulos da sociologia, antropologia e da história. Recebeu da Rainha Elizabeth II o título de Sir, sendo um dos poucos brasileiros detentores desta alta honraria da coroa britânica. Gilberto Freyre fez estudos das características e da formação da sociedade brasileira a partir de investigação das raízes agrárias e escravocratas em nosso país. Elencou o papel do índio, do colonizador, do português e do escravo negro na formação da família brasileira. Suas analises sobre a miscigenação, base da formação social brasileira, levaram ao desenvolvimento do conceito de “DEMOCRACIA RACIAL” para explicar que no Brasil se tem uma democracia social através de uma mistura de raças. Casa-Grande & Senzala talvez seja sua mais importante obra.


    


    
    b)      FLORESTAN FERNANDES - Sociólogo e político brasileiro, sendo inclusive eleito deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores. Além de importantes obras sobre a sociedade brasileira Florestan Fernandes estruturou o ensino e a pesquisa da sociologia no meio universitário. Se dedicou ao estudo dos problemas relacionados a modernização e a democratização da sociedade brasileira. Investigou temas como os latifúndios e as oligarquias, autocracia e a ditadura, a exclusão social e a dependência econômica.





Conclusão:

Desde os primórdios da humanidade a diversidade dos tipos humanos e das culturas fascinou e, ao mesmo tempo, intrigou os pensadores, que tentavam entender o que provocava a diversidade. No princípio, as explicações tinham bases divinas e míticas. A elas se misturaram os preconceitos que pareciam autorizar os povos mais fortes a qualificarem os outros como inferiores. Só com o passar do tempo é que foi possível perceber que o gênero humano é único e é a história de cada um que explica o que são e por que diferem de nós. Após isso, foi possível à sociologia empreender a tarefa de compreender as ações humanas, compreender o homem em sociedade.

REFERÊNCIAS:

COSTA, Maria Cristina Castilho. Sociologia: nascimento da sociologia. Livro do Professor. Uno Internacional,  2013.

DURKHEIM, Émile. Da divisão do trabalho social. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

DURKHEIM, Émile. As Regras do Método Sociológico. Reimpreso em 1997, Editorial Fundo de Cultura Econômica.

PIERUCCI, Antônio Flávio de Oliveira. O desencantamento do mundo: todos os passos do conceito em Max Weber. São Paulo: Editora 34/ Programa de Pós-Graduação em Sociologia da USP, 2003.

SINGER, Paul. Marx – Economia in: Coleção Grandes Cientistas Sociais; Vol 31.


segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

O HOMEM E A PRODUÇÃO DA CULTURA



“Ignoramos como a arte começou, tanto quanto desconhecemos como teve início a linguagem. Se aceitarmos que arte significa o exercício de atividades tais como a edificação de templos e casas, a realização de pinturas e esculturas, ou a tessitura de padrões, nenhum povo existe no mundo sem arte. Se, por outro lado, entendermos por arte alguma espécie de belo artigo de luxo, algo para nos deleitar em museus e exposições, ou uma coisa muito especial para usar como preciosa decoração na sala de honra, cumpre-nos reconhecer que esse uso da palavra constitui um desenvolvimento bem recente e que muitos dos maiores construtores, pintores ou escultores do passado sequer sonharam com ele.”

REFERÊNCIA:


GOMBRICH, E. H. A história da arte. Rio de Janeiro: LTC, 1999. p. 40.

NÃO CONFUNDA A MINHA LIBERDADE COM A SUA LIBERTINAGEM

Prof. Douglas Barraqui

A partir da segunda metade do século XVII e durante todo o século XVIII, a palavra liberdade tornou-se ordem do dia, tomou uma forma e uma concepção pautada pelas novas luzes do pensamento da época. Era o chamado pensamento iluminista, ou ilustrado. As ideias iluministas provocaram o questionamento da ordem estabelecida, uma mal estar no chamado Antigo Regime, que perpassava os aspectos econômicos, políticos, sociais e culturais da época. Acrescida ao desenvolvimento tecnológico, que deu fruto a Revolução Industrial, essas novas ideias dariam luz a um novo mundo. A este mundo o qual eu e você vivemos devemos fortes raízes do iluminismo.

E sobre a minha frase, que serve de título para esse artigo, Charles-Louis de Secondat, o barão de Montesquieu, nos dá uma importante contribuição:

“É bem verdade que nas democracias o povo parece fazer o que quer; mas a liberdade política não consiste em fazer o que se quer. Num Estado, isto é, numa sociedade em que existem leis, a liberdade só pode consistir em poder fazer o que se deve querer e a não ser coagido a fazer o que não se deve querer. É preciso ter em mente o que é independência e o que é liberdade. A liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis permitem; e se um cidadão pudesse fazer o que elas proíbem, ele não teria mais liberdade, porque os outros também teriam esse poder.”

REFERÊNCIA:


MONTESQUIEU. O espírito das leis. Em: WEFFORT, Francisco C. (Org.). Os clássicos da política. São Paulo: Ática, 1989. v. 1.

domingo, 3 de janeiro de 2016

HOMENS E MULHERES DA NOSSA HISTÓRIA: JOSÉ DA COSTA AZEVEDO, O BARÃO DE LADÁRIO

Prof. Douglas Barraqui
Capitão de fragata José da Costa Azevedo

Futuro barão de Ladário, José da Costa Azevedo, nasceu no Rio de Janeiro, então capital do Império, no dia 30 de novembro de 1823. Membro do Partido Liberal do Império, foi eleito deputado geral pelo Amazonas e exerceu seu mandato de 1878 a 1881. Foi o último ministro da Marinha do Império, tendo exercido o cargo no Gabinete Ouro Preto.

Quando da proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, no meio de todo aquele calor do evento que mudaria o curso da história do Brasil, José da Costa Azevedo apareceu numa rua lateral com seu carro. Vinha se juntar ao ministério, já reunido no interior do edifício. Deodoro mandou que os tenentes Adolfo Pena e Lauro Müller o prendessem. Os dois oficiais se aproximaram do ministro quando ele saía do carro.

— Senhor barão, Vossa Excelência está preso! gritou o tenente Pena.

Em vez de se render, Ladário sacou uma pistola e disparou em direção ao oficial, que revidou de imediato. Ambos erraram o alvo. Ladário sacou outra pistola e deu um segundo tiro. Errou novamente, mas dessa vez foi alvejado por quatro disparos, que o atingiram em várias partes do corpo. A distância, Deodoro gritou:

— Não atirem! Não matem esse homem!

Com as roupas empapadas de sangue, Ladário procurou refúgio em uma loja próxima, mas caiu na calçada antes de chegar à porta do estabelecimento. Levado a um hospital, sobreviveu milagrosamente. Semanas mais tarde, anunciaria seu apoio ao novo governo provisório republicano.

REFERÊNCIAS:


GOMES, Laurentino. 1889: como um imperador cansado, um marechal vaidoso e um professor injustiçado contribuíram para o fim da monarquia e a proclamação da República no Brasil / Laurentino Gomes. - 1. ed. - São Paulo : Globo, 2013.

LEITE NETO, L. Catálogo biográfico; SENADO. Disponível em: http://www.senado.gov.br/sf/senadores/senadores_biografia.asp?codparl=1904&li =23&lcab=1894-1896&lf=23. Acesso em 03 de janeiro de 16.


SILVA, Hélio: O Primeiro Século da República. Rio de Janeiro: Zahar, 1987.

D. PEDRO I E SEUS NEGÓCIOS ESCUSOS

Prof. Douglas Barraqui

O aclamado por muitos como heroi da independência do Brasil. O homem que com apenas 23 anos rompia laços da metrópole com o Brasil, em sua juventude praticava negócios um tanto quanto escusos. Mesmo tendo nascido no berço da família real, D. Pedro I mantinha negócios paralelos, alguns até mesquinhos, que de longe combinavam com a figura de um príncipe.

Em sua juventude D. Pedro foi duramente repreendido pelo seu pai, D. João VI, quando este descobriu que o filho comprava cavalos comuns no Rio de Janeiro, marcava-os com o selo da Fazenda Real de Santa Cruz e os revendia por um preço muito maior.

As pessoas que compravam esses animais falsificados desejavam ostentar proximidade com a corte ao possuir um quadrúpede com o selo da fazenda real. O intermediário nas negociações, ao mesmo tempo sócio de D. Pedro I na falsificação, era o barbeiro do palácio da Quinta da Boa Vista, Plácido Pereira de Abreu, com quem o príncipe repartia os lucros.

O Código Criminal do “Império do Brazil”, de 16 de dezembro de 1830 (CCI), só entrou em vigor em janeiro de 1831. Se esta lei penal estivesse em vigor na época das maracutaias de D. Pedro I, o jovem príncipe teria sido enquadrado no crime de “estellionato“ de acordo com o art. 264, §1º do CCI:

Art. 264. Julgar-se-ha crime de estellionato:

1º A alheação de bens alheios como próprios, ou a troca das cousas, que se deverem entregar por outras diversas.

[…]

Penas – de prisão com trabalho por seis mezes a seis annos e de multa de cinco a vinte por cento do valor das cousas, sobre que versar o estellionato.

Se quiséssemos enquadrar nosso príncipe nos parâmetros atuais da nossas leis, da constituição de 1988, D. Pedro I seria um 171 de primeira. Em outras palavras, o Ministério Público republicano poderia imputar ao ex-príncipe e ao seu barbeiro os crimes de estelionato e de falsificação de selo ou sinal público:

Art. 171 – Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:

Pena – reclusão, de um a cinco anos, e multa.

§ 2º – Nas mesmas penas incorre quem:

Fraude na entrega de coisa

IV – defrauda substância, qualidade ou quantidade de coisa que deve entregar a alguém;

Falsificação do selo ou sinal público

Art. 296 – Falsificar, fabricando-os ou alterando-os:

[…]

Pena – reclusão, de dois a seis anos, e multa.


REFERÊNCIAS:

SETÚBAL, Paulo. As maluquices do imperador: 1808-1834. São Paulo: Geração Editorial, 2008.


Poderes em Revista, ano 2, n. 4. com o título “O crime do menino-rei“.