domingo, 23 de novembro de 2008

Um Monarca em Apuros


by Douguera


O movimento republicano


O ideal de república não era novo no país e se divide em duas fases: durante o Período colonial, significou a revolta contra a metrópole, é o que a autora Emila Viotti Costa chama de republicanismo utópico e após independência:, que significou uma oposição ao governo.


O partido republicano surge em 1870, sua origem está no partido liberal, que em 1868 cindiu-se em duas alas: radicais e moderados. Dentro da ala dos radicais que vai evoluir o ideário republicanismo.


De 1870 até 1889 o partido republicano ampliou sua influência. Foram criados vários clubes e jornais, e essa ampliação do ideário de república se dá graças a propaganda feita por esses órgãos, que se concentraram preferencialmente no sul, segundo o qual 73% dos jornais e 89% dos clubes, localizavam-se nessas províncias. Portanto, o sul do país demosntrava que era o grande emissor da propaganda republicana.


Grande parte do corpo militante do movimento republicano era composto por fazendeiros, rompendo com a idéia de que as zonas rurais eram predominantemente conservadoras. Os dirigentes do movimento deixavam bem claro em não ter nada a ver com a questão abolicionista (o que não significava que alguns de seus membros fossem simpáticos ao fim do escravismo) a fim de conservarem a simpatia com os fazendeiro. Quando a participação no movimento era preponderante a presença de elementos do oeste paulista em detrimento do Vale do Paraíba. Emília diz que o Oeste Paulista configurava-se em uma zona pioneira e que destacava-se pelo espírito progressista: pioneiros na substituição da mão de obra escrava pela de imigrantes, ampliação de ferrovias e organismos de credito, a própria população era mais diversificada profissionalmente, formação de uma mentalidade mais urbana do que rural devido que os fazendeiros viviam boa parte do ano nas cidades. Portanto em São Paulo os fazendeiros formavam o núcleo mais importante do partido republicano, já no Rio de Janeiro e demais províncias era constituída por representantes da camada urbana.


O partido republicano se dividia em duas tendências: A revolucionária, idealizava a revolução popular, o povo deveria fazer a revolução e a evolucionista, acreditavam que se chegaria a republicanismo pelo modo pacífico, através da via eleitoral. Essa ala evolucionista é a vencedora no congresso realizado em são Paulo em 1889, e Quintino Bocaiúva é indicado para a chefia do partido.


A solução militarista


É em 1887 que a chefia do partido começa a cogitar na possibilidade de recorrer ao exército a fim de derrubar a monarquia e instaurar a república. A questão militar era explorada pelos republicanos a fim de colocar os militares contra a monarquia, e assegurava-lhes incondicional apoio. A autora explica que não havia uma questão militar e sim várias: a primeira data do fim da Guerra do Paraguai; difusão do positivismo de conte nas escolas militares, principalmente com a ação de Benjamin Constant; entre os militares havia a difusão da convicção de que os homens de farda eram “puros” e “patriotas”, e estavam ansiosos para corrigir os vícios da organização política do país, ao contrário dos civis corruptos e sem nenhum sentimento patriótico. Dentro do corpo militar havia certamente profundas divergências, mas a adesão de uma facção, mais ou menos importante, à idéia de república foi decisiva para a proclamação da mesma. Emília argumenta que: "A república nasce sobre o signo do exército".


Tentativas de frear o movimento



O movimento abolicionista e a propaganda republicana faziam generalizar a impressão de que a monarquia estava com seus dias contados. Foram então deixadas algumas palavras proféticas pelo Barão de Cotegipe, disse ele:


“não se apresse a correr para ela que ela está correndo para nós. O meu ministério caiu por uma conspiração do palácio, o meu sucessor sairá na ponta das baionetas e talvez com ele a Monarquia.”


Ouro Preto, quem assumira o ministério em 1889, tinha a plena convicção dos riscos que estava por enfrentar. E deste modo era necessário neutralizá-la, não por meio da violência ou repressão, mas sim demonstrando a elasticidade do regime monárquico, por intermédio de reformas políticas, sociais e econômicas, inspiradas na escola democrática. Inicia-se então o programa de reformas: ampliação da representação; plena autonomia das províncias; liberdade de culto religioso; temporariedade do senado; liberdade de ensino; lei de terras que facilitasse sua aquisição; estabelecimento de créditos; elaborar um código civil; reformas no conselho de Estado dentre outras reformas de nítido carater liberal.


Pedro Luiz Soares de Souza, deputado do Rio de Janeiro, pergunta a Ouro preto: “é o começo da República?”, ao que lhe respondeu Ouro Preto: “não, é a inutilizarão da República.” A câmara recuou diante das medidas, que pareciam demasiadamente radicais. O que testemunhando, portanto, a incapacidade dos grupos dominantes em aceitar as reformas necessárias para inutilizar o movimento republicano sem a repressão. O fato é que seria impossível realizar tais reformas dentro dos quadros da monarquia.


O golpe de 15 de novembro



Com a dissolução da câmara a situação se agravou. Ouro preto tomou algumas medidas que desagradaram os militares e foram amplamente utilizadas pelos republicanos, que se aproveitando do momento de inquietação, passaram a insistir com os militares para que se colocassem à frente do movimento republicano. Em 11 de novembro, Rui Barbosa, Benjamin Constant, Aristides Lobo, Bocaiúva, Glicério e o coronel Sólon reuniram-se na casa de Deodoro a fim de convencê-lo a tomar partido. Assim em 15 de novembro era proclamada a República, por um golpe militar, conjugando três forças: O exército, fazendeiros do Oeste Paulista e Representantes da classe média urbana.



O ano de 1889, todavia, não significou uma ruptura do quadro histórico do Brasil: As condições de vida do trabalhador rural continuaram as mesmas; Permaneceu o sistema de produção e o caráter colonial da economia e persistia a dependência em relação ao mercado externo e ao capital estrangeiro.


Bibliografia:


COSTA, Emilia Viotti da. Da Monarquia a Republica: momentos decisivos. 5. ed. - São Paulo: Brasiliense, [1989?]. 361p. ISBN 8511130462 (broch.).

BEAUGESTE, Leon. Fatos do Brasil Império. Disponível em: http://fatosdobrasilimperio.blogspot.com. Acessado em 23/11/2008.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Estrada de Ferro Vitória a Minas



Uma breve tracejo, by Douguera


A bibliografia a mercê das primeiras ferrovias construídas no Brasil, revelam o quanto de idealismo, determinação e sacrifícios, inclusive de muitas vidas humanas, foram necessárias para realiza-las. Toda essa conjuntura esbarrava-se na escassez de recursos, nas dificuldades climáticas, de relevo e de densas florestas, além de doenças, isolamento e na solidão. E a Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM) não fugiu a essa regra. Bem disse o engenheiro Delecarliense de Alencar Araripe:


“arremetendo contra o desconhecido, ela travou uma batalha formidável, vencendo distâncias enormes, a solidão, a insalubridade das regiões quase inóspitas, cobertas de florestas e charcos, numa luta dramática contra o meio hostil e insalubre devorador de vidas.

Os perigos e as dificuldades estavam presentes por toda a parte a que chegava uma turma para iniciar os trabalhos. A mosquitaria infernal, as altas temperaturas no verão, as chuvas inclementes, o desconforto, eram fatores que se antepunham ao avançamento dos trilhos e, se não mais bastassem, a malária e outras moléstias próprias dos trópicos completavam o quadro dantesco...1


A primeira tentativa de construção de uma estrada de ferro ligando Espírito Santo a Minas Gerais, data de meados do século XIX, mas só veio a se concretizar em 1902, através do decreto nº 4.337, assinado pelo então presidente da república M. Ferraz de Campos Salles, que criava a Companhia Estrada de Ferro Vitória a Minas.


O início oficial das obras se deu em 30 de março de 1903 e já no ano seguinte já havia sido inaugurado o primeiro trecho, de quase 30 Km, de Porto Velho, às margens da baía de Vitória, a Alfredo Maia (São José do Queimado, as margens do rio Santa Maria) daí em diante os trilhos se estenderam por Pau Gigante2 (Ibiraçu) até Cavalinho e em 1906 chegou a Colatina, à margem direita do Rio Doce. A receita da empresa, já nesses primeiros anos, provinha do transporte do café, madeira e passageiros.


A partir de Colatina, a linha prosseguiu acompanhando as margens do Rio Doce e em um momento curioso dessa história, em 1907, quando Aimorés ainda pertencia ao Espírito Santo, André Carloni nos conta que: ainda não estando pronta a ponte sobre o rio Manhuaçu3 o Senador João Luís Alves, que tomava parte da comitiva, saltou do trem e foi ao outro lado da margem do rio, já no estado de Minas Gerais, apanhar um pouco de terra, trazendo-a para o Espírito Santo, fazendo assim, simbolicamente, a tão sonhada ligação dos dois estados por uma estrada de ferro4 nessa altura, já havia sido constatada a existência das grandiosas jazidas de minério de ferro de alto teor no Quadrilátero Ferrífero Mineiro.


Em virtude da Primeira Grande Guerra (1914 – 1918), os trabalhos foram paralisados. Com a queda nos preços do café, nessa conjuntura o principal produto da cota de exportação do Brasil, os efeitos sobre a EFVM logo se fizeram sentir uma vez que a principal fonte de receita provinha do transporte desse produto, todavia os trens não pararam de circular.


A segunda fase da construção só teve início em 21 de junho de 1919, em um ritmo mais lento. No contexto da Segunda Grande Guerra ( 1939 – 1945), fomentou-se um grande interesse por parte principalmente dos EUA com relação ao minério de ferro brasileiro. Em 3 de março de 1942, como resultado dos contratos denominados “Acordos de Washington” nasce a Companhia Vale do Rio Doce S.A, na oportunidade, foram também, estabelecida como norma à extração, transporte e exportação de, no mínimo, um milhão e quinhentas mil toneladas de minério de ferro, anualmente, contando, para isso, com a CVRD. Então já em 1943, quando os trilhos chegam em Itabira, a EFVM foi encampada pela CVRD, assim, as suas linhas, bem como seu material rodante e de tração, que encontravam-se em condições péssimas, passou por um processo de remodelação e aperfeiçoamento, o que colocou a Vitória a Minas no estágio em que hoje é vista como ferrovia modelo e com reconhecimento internacional.



Anteriormente a fase do minério de ferro, as principais fontes de receita da EFVM era o café, madeira e passageiros, o que nunca foram suficientes para cobrir as despesas. O café estava em constante instabilidade, quanto a seu preço no mercado internacional; já na década de 1930, a ferrovia já começava a sofrer com a concorrência dos transportes rodoviários. Lembrando ainda que, a partir de meados do século XX, algumas ferrovias brasileiras atingiram tal grau de decadência e sucateamento que acabaram sendo desativadas, não sendo o caso da Vitória a Minas.


____________________

1. RIBEIRO, Lucilio da Rocha. Joao Neiva origem e desenvolvimento: a contribuicao da EFVM. Vitoria, 1992. 178p.

2. Pelo decreto-lei estadual nº 15177, de 31-12-1943, o município de Pau Gigante passou a denominar-se Ibiraçu. No quadro fixado para vigorar no período de 1944-1948, o município já denominado Ibiraçu é constituído de 4 distritos: Ibiraçu, Acioli, João Neiva e Pendanga. Disponível em:

http://www.citybrazil.com.br/es/ibiracu/historia.php, Acessado em 05/11/2008.

3. O rio Manhuaçu nasce na Serra da Seritinga, divisa dos municípios de Divino e São João do Manhuaçu, e deságua no rio Doce, do qual é um dos principais afluentes pela margem direita, acima da cidade de Aimorés. Disponível em: Portal Meio Ambiente.MG,

http://www.igam.mg.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=155&Itemid=140. acessado em: 05/11/2008.

4. RIBEIRO, Lucilio da Rocha. Joao Neiva origem e desenvolvimento: a contribuicao da EFVM. Vitoria, 1992. 178p.