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quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

O TRISTE FIM DE OVELHAS, VACAS, CABRAS, PORCOS E GALINHAS

Pintura de um túmulo egípcio, por volta de 1200 a.C.: um par de bois arando um campo.

À medida que os humanos se espalharam pelo mundo, os animais domesticados também o fizeram. Há dezenas de milhares de anos, não mais de alguns milhões de ovelhas, vacas, cabras, javalis e galinhas viviam em nichos seletos na África e na Ásia. Hoje, segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o mundo tem cerca de um bilhão de ovelhas, um bilhão de porcos, mais de um bilhão de cabeças de gado e mais de 25 bilhões de galinhas. E eles estão pelo mundo todo, só no Brasil são 218,23 milhões de cabeças de gado, mais bois e vacas do que gente. As galinhas domesticadas são as aves mais disseminadas até hoje. Depois do Homo sapiens, o gado, o porco e a ovelha são, nessa ordem, os grandes mamíferos mais difundidos no mundo.

Infelizmente, a perspectiva evolutiva é um parâmetro de sucesso relativo. Julga tudo segundo os critérios de sobrevivência e reprodução, sem considerar o sofrimento e a felicidade individuais. As galinhas e as vacas domesticadas podem ser uma história de sucesso evolutivo, mas também estão entre as criaturas mais miseráveis que já existiram. A domesticação de animais se baseou em uma série de práticas brutais que só se tornaram cada vez mais cruéis com o passar dos séculos.

A expectativa de vida natural de galinhas selvagens é de 7 a 12 anos, e de bovinos é de 20 a 25 anos. Já a grande maioria das galinhas e vacas domesticadas no mundo hoje é abatida com algumas semanas ou no máximo alguns meses de vida.

Galinhas chocadeiras, vacas leiteiras e animais de carga às vezes têm a chance de viver por muitos anos. Mas o preço é a sujeição a um estilo de vida completamente alheio a suas necessidades e desejos. É razoável supor, por exemplo, que os bois preferem passar seus dias vagando por pradarias abertas na companhia de outros bois e vacas do que puxando carroças e arados sob o jugo de um primata com chicote.

A fim de transformar bois, cavalos, jumentos e camelos em animais de carga obedientes, seus instintos naturais e laços sociais tiveram de ser destruídos, sua agressão e sexualidade, contidas e sua liberdade de movimento, restringida. Os criadores desenvolveram técnicas como trancar animais em jaulas e currais, contê-los com rédeas e arreios, treiná-los com chicotes e aguilhadas e mutilá-los. O processo de domesticar quase sempre envolve a castração dos machos. Isso restringe sua agressividade e permite que os humanos controlem seletivamente a procriação do rebanho.

Referências:


HARARI, Yuval Noah. Sapiens: uma breve história da humanidade. Tradução Janaína Marcoantonio. 11 ed. Porto Alegre, RS: L&PM, 2016.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Evolucionismo ou Criacionismo? e agora professor?

Por Douglas Barraqui

Meus alunos, os mais e os menos crentes, sempre me perguntam: “professor, você acredita no Evolucionismo ou no Criacionismo?”. Levando em consideração que nós educadores somos formadores de opinião, temos que ter muito cuidado em colocar nossa opinião. Não vejo nada de errado em expor, para nossos alunos, a nossa opinião como professores. O que temos que nos ater é como fazemos isto.

Um primeiro ponto que o considero como fundamental para evitar eventuais conflitos é retirar esse “ismo” de criacionismo e evolucionismo. Pois dá uma noção de tipo de idéias e ideologias de cunho fundamentalista. É justamente isso que nós, professores, devemos evitar. Podemos falar, sem nenhum problema do ponto de vista teórico, em “evolução” e “criação”. Alunos do ensino médio serão muito receptivos a esta linha de observação quanto ao tema em questão.

Falando de Evolução

Ao falar de evolução, a primeira coisa a se fazer é definir para o nosso aluno o que seria evolução. Não estou falando da definição histórica de evolução, mas sim biológica. Portanto, requer do professor uma interdisciplinaridade. Para a biologia “evolução é a simples constatação de que organismos compartilham ancestrais comuns”. Podemos até dizer que esses organismos estão unidos por relações históricas. Ou seja, nenhum ser vivo desse planeta tem origem independente. Os seres vivos são parte de um todo que envolveu diversificação. Portanto, ao falar de evolução o professor não deve ficar limitado a falar de Darwin, pois a idéia de evolução é anterior a esse cientista. Falar de evolução é falar de um longo período da história de nosso planeta que rompe mesmo à existência humana, que, inclusive, também passou por um processo evolutivo.   

Falando de Criação

Ao falar de criação o professor tem que mostrar ao aluno, com cuidado e polimento das palavras, que não existe uma única versão para a criação. A versão mais difundida e comumente compartilhada nas famílias de nossos alunos é aquela disposta no livro do gênesis da bíblia, em que Deus criou a terra em sete dias.

É fundamental que o professor mostre para o aluno outras histórias sobre a criação dispostas em outros povos, culturas e civilizações. Por exemplo, os egípcios acreditavam que antes do mundo surgir existiam somente as trevas e a chamada “água primordial” (o que faz clara referência ao Rio Nilo). A partir dessa água primordial teria surgido o deus Atum, que deu origem a descendentes responsáveis pela criação dos ares, das terras e do céu. Na mitologia grega, a criação seria fruto dos filhos gerados a partir de Caos. Entre todos os descendentes, foi da união de Urano (céu) e Gaia (terra) que o mundo teria surgido.

Não há, portanto, apenas uma versão da criação. Criação é uma explicação para a origem do universo e de todas as coisas, segundo alguma doutrina religiosa ou mitológica.

Podemos Contestar a Evolução?

Aqui o professor deve explicar para o aluno que, como prova de um longo processo evolutivo, existem os registros fósseis. É fundamental que o professor explique ao aluno o conceito de fóssil e como ele pode ajudar a explicar o processo evolutivo.

Existem ainda vários casos, muito bem documentados, de fatores evolutivos atuando no momento. O professor pode citar como exemplo os salmões introduzidos no lago Washington, na década de 1950. Por contingências do próprio fundo do lago alguns desses alevinos se estabeleceram no rio, que deságua no lago Washington, e outras se estabeleceram no próprio lago em uma margem favorável a desova. Mesma população de salmões, mesmos filhotes. Sessenta anos depois, no lago Washington, há duas populações que não mais se cruzam, apesar de serem da mesma espécie de salmões e de poderem se encontrar no mesmo lago. Existe uma população que ficou fisiologicamente e morfologicamente adaptada ao rio e outra adaptada ao lago. Os salmões do rio possuem uma forma alongada, talvez influência das correntes e da necessidade de vencê-las. Os salmões do lago, sem influência de correntes, possuem uma forma mais alta e arredondada. Portanto, evolução é possível.

Até mesmo do ponto de vista da igreja católica a evolução não é mais vista como algo contra a doutrina religiosa. Desde 1996 existe um documento do vaticano, ratificado pelo papa João Paulo II, dizendo que a evolução material e do corpo era perfeitamente passível de uma explicação por parte dos evolucionistas, ou seja, por parte da ciência.

Podemos Contestar a Criação?

Não há necessidade, tão pouco seria ético, por parte do professor provar a existência de Deus, tão pouco contestá-la. Tão pouco o professor deve criar na imaginação do seu aluno – atente-se, pois a imaginação do nosso aluno pode ser demasiadamente fértil – um Deus, benevolente, que pregue a justiça, o amor entre o próximo, realizando um processo em que o mais apito sobrevive. Isso romperia com toda e qualquer ensinamento desse próprio Deus. Portanto, do ponto de vista da doutrina religiosa, não haveria espaço para a evolução. Logo, cabe ao professor o máximo de respeito a esta explicação.  Eu diria até um pouco mais, respeitar o criacionismo é respeitar o meu aluno na suas crenças e fé. Portanto, nada aqui, nem ciência e nem religião devem ser contestados, mas sim apresentados.

Concluindo


Então, “professor, você acredita no Evolucionismo ou no Criacionismo?” sempre digo que não é papel do professor dar respostas óbvias, capciosas, engessadas, maquiadas, maquinadas e partidárias. Assim sendo eu respondo ao meu aluno: “eu estou aqui, você meu aluno está ai, nós estamos aqui nesse bioma, fazemos parte desse ecossistema, desse planeta, nesse sistema solar, nesta galáxia e nesse universo, portanto, trata-se de uma questão de liberdade de escolha em que acreditar”.