sábado, 16 de janeiro de 2010

Haiti: a pobreza escancarada


Por Douglas Barraqui

A Primeira Grande Guerra com um saldo de 19 milhões de mortos, a Segunda Grande Guerra com genocídio dos judeus e as bombas de Hiroshima e Nagasaki, o Vietnã; os atentados de 11 de setembro e tantas outras atrocidades humanas talvez tenham deixado o homem letárgico diante da banalidade do horror que é a pobreza.


Era primeiro de novembro de 1755, as igrejas estavam lotadas graças ao dia de todos os santos, e um dos sismos mais mortíferos da história matou um número superior a 30 mil pessoas em Portugal. Os filósofos iluministas se indagavam sobre a ignorância dos católicos que falavam em justiça divina e vontade de Deus.


Mas, eu pergunto a meu caro leitor: Deus é o culpado pela miséria do Haiti? Não, não é. Sob o domínio espanhol até 1697 sendo então entregue a ganância dos franceses, o Haiti se tornou uma república negra independente em 1804, após uma rebelião de escravos liderada por Jacques Dessalines que logo seria assassinado. De meados do século XIX até o século XX verdadeiras aves de rapina estiveram no poder, promovendo uma verdadeira pilhagem no país. Sob o pretexto de defender os interesses do povo haitiano os americanos ocuparam o país de 1915 até 1934. Em 1957 François Duvalier, o “papa-doc”, e sua cúpula do mal, criminosos conhecidos como tonton macoutes, afogam o país em meio a uma ditadura. Seu filho, “baby doc”, honrou o pai sendo pior do que ele ficando no poder até 1986. Na década de 1990 começa a tentativa de empurrar goela abaixo de um país assolado pela miséria a democracia.


Hoje, após um terremoto de magnitude 7,0 que dizem os especialistas em coisa alguma, ter ceifado mais de 140 mil vidas, o mundo volta suas atenções para o pobre Haiti. Por que nunca ninguém, com seriedade, pensou em ajudar esse país antes, reverter sua situação de miséria? É, de fato, mais um capítulo do compêndio da história da humanidade em que genocídios como os de Ruanda e Darfu acabam em livros, livros de história. O homem foi à lua, mapeou genomas humanos, desenvolveu a telemática (telefonia, satélites, fibras óticas), mas, a miséria escancarada continua a ser ignorada. Ou o leitor ainda acha que o terremoto do Haiti e todas aquelas vidas perdidas faz parte da justiça divina de Deus?