quinta-feira, 29 de julho de 2010

A conquista do império inca: uma breve narrativa

Por Douglas Barraqui com base na obra Paul Ulrich


“‘Companheiros, deste lado é a morte, a fome, o desespero. Do outro lado é a felicidade. Aqui, o Peru e as riquezas. Ali, o Panamá e a miséria. Castelhanos, escolhei! Eu já escolhi. Vou para sul. ’” Pizarro, 180 homens e 27 cavalos rumam a Caxamalca; um número irrisório para um mundo a conquistar, um império a pilhar e ao inca subjugar. O que se segue caro leitor é um breve resumo, por mim preparado, da narrativa empolgante de Paul Ulrich a respeito da derrocada do império inca, contido na obra Os grandes enigmas das civilizações desaparecidas”.


“Em 24 de setembro de 1532, é o salto para o desconhecido: vão entrar no coração do reino inca, com a intenção de conquistá-lo com um exército que não chega a 200 homens. Impressionados com os perigos que adivinham, cinco cavaleiros e quatro infantes resolvem voltar. Pizarro, esse está pronto a tudo, infatigável. Cobre-se com uma couraça de ferro, sobre a qual lançou o manto, insígnia de sua condição de fidalgo[...].”


“Bom psicólogo, Pizarro aproveita-se dos rumores que correm e põe a circular que é um dos filhos de Viracocha, o Deus branco de Tiahuanaco. Filiação que parece tanto mais verossímil aos incas quanto Viracocha era o senhor do raio. Ora, o comandante espanhol tem os canhões e a pólvora.”


Um mensageiro do grande imperador inca oferece presentes ao chefe espanhol “[...] tecido de lã bordados a ouro, duas fontes de pedra, carne de pato seca. Em nome do rei Atahualpa, o emissário deseja as boas vindas aos estrangeiros e convida-os a visitar o campo do seu chefe [...]”.


Francisco Pizarro fala às suas tropas: “[...] que cada um de vós ganhe coragem e caminhe em frente como um bom soldado. Sem se deixar intimidar pelo nosso pequeno número. Pois nas maiores extremidades Deus combate sempre pelos seus; não duvideis de que ele abaixará o orgulho do infiel e o levará ao conhecimento da verdadeira fé, objetivo essencial da conquista.”


“Prova terrível. Estreitos caminhos foram talhados, nos francos da montanha, pelos incas, indiferentes ao precipício vertiginoso. Rude tarefa a dessa ascensão para os cavaleiros carregados de ferro e de couro, cavalgando animais de passo pouco seguro. E que locais favoráveis às emboscadas! Um punhado de guerreiros bem colocados poderiam esmagar em poucos instantes todo o grupo espanhol.” [...] “Os espanhóis sofrem com o frio atroz do vento da Sierra [...].”


“Os homens estão de tal modo esgotados que não manifestam o menor entusiasmo ao entrarem no vale onde se ergue Caxamalca. As casas brancas da cidade são rodeadas de suntuosos jardins, irrigada por uma imensidade de canais que partem de um rio de águas claras.” [...] “Eis o que conta um membro da expedição: ‘Ficamos cheios de assombro ao vermos os índios ocuparem uma tão excelente posição, um tão grande número de tendas, melhor dispostas do que jamais se vira nas índias. Este espetáculo lançou uma espécie de confusão e até temor nos corações mais firmes. Mas era demasiado tarde para retroceder ou para dar mostras de receio: pois os indígenas de nossa companhia teriam sido os primeiros, nesse caso, a lançar-se sobre nós. Assim, o mais arrogantemente possível, preparamo-nos para entrar em Caxamalca.’


“Eis o chefe inca, o senhor todo poderoso. A sua indumentária é mais simples do que as de seu séqüito. Mas tem na cabeça o ‘borla’, a franja escarlate, tão larga que lhe cai até as sobrancelhas [...]. O rei está sentado num banco muito baixo, talhado numa peça de madeira. No rosto do soberano, não se reflete qualquer sentimento. Nem no seu olhar.” [...] Um silêncio pesado reina entre os dois grupos, só perturbado pelo piafar de algum cavalo impaciente.”


Soto, um hábil cavaleiro dentre os homens de Pizarro “[...] esporeia sua montada e faz uma demonstração das suas excepcionais qualidade de ginete. Exibição tão perfeita que Soto detém o cavalo a poucos centímetros do soberano inca, que recebe alguns salpicos da espuma que jorra do franco do animal; mas alguns membros de sua guarda, tomados de medo, fogem. Nessa mesma noite serão executados, por se terem mostrado covardes diante dos estrangeiros.”


“O conquistador espanhol pelo seu lado, tem consciência da fraqueza de suas tropas. Como poderão menos de duzentos homens, mais ou menos enfraquecidos pelas privações e sofrimentos suportados, derrotar aqueles índios que tem por si a esmagadora vantagem do número?[...]”


“Uma vez mais, Francisco Pizarro deve provar que tem o ‘coração couraçado de triplo aço’. Discursa: ‘Então, vamos desistir no momento de chegarmos ao fim? Os índios tem flechas, fundas, laços? Bastará isso para fazer medo aos espanhóis que sabem bater-se a cavalo, possuem arcabuzes e canhões? Desde quando cem ‘selvagens’ valem mais do que um soldado de Carlos V? Quem será tão descrente ao ponto de não contar com o socorro da Providência? Não é a Espanha o gládio de Deus? Vamos consentir que estes infiéis continuem a prosternar-se diante de ídolos?.’”


“Sábado, 16 de novembro de 1532. O sol ergue-se na doçura da manhã rosada. Pizarro e seus homens estão prontos. Na noite de véspera os conquistadores confessaram-se e comungaram. Porque vão bater-se pela grandeza da Espanha, mas também pela de Deus. O padre Valverde, intrépido dominicano, dispensou largamente as absolvições. Pizarro pronunciou, ele próprio, o sermão. Vestiu a armadura e tem a espada na mão. As palavras jorram-lhe dos lábios. Quem pensaria estar no Peru apenas para juntar riquezas? Quem esqueceria que chegou o momento de dar a Deus a sua parte? [...].”


“[...] O chefe dos conquistadores organizou todo o seu dispositivo em torno da praça principal de Caxamalca. Esta é rodeada por edifícios cujas portas e abrem para ela. A cavalaria, dividia em dois grupos, e a infantaria, instalam-se neles. A pouca distancia é deixada uma reserva de vinte homens. Dois canhões e alguns soldados, comandados por Pedro de Candia, [...]. A tática a seguir é simples: quando o soberano inca e seu séquito tiverem entrado na praça, um tiro de canhão dará o sinal para a batalha. [...]”


“Desconfiado das intenções dos estrangeiros um dos seus [do imperador inca] melhores oficiais, Ruminagui, tomou o comando de cinco mil homens; estão encarregados de fechar todas as vias de acesso a Caxamalca. Cercados, aos espanhóis restará render-se ou morrer.”


“Eis o soberano e o seu cortejo. Os primeiros a aparecer são centenas de servidores, varrendo o caminho para expulsar o mais insignificante grão de poeira: cantam com uma voz tão rouca que ‘os seus cantos parecem vir do inferno’. Depois aparecem escravos, carregando vasos de ouro e martelos de prata; guardas envergando vestes de cores dispostas em xadrez; e os oficiais, vestidos de branco, com as orelhas bizarramente esticadas por pesados berloques. Por fim, transportados pelos mais altos dignitários do reino, o palanquim do rei. É ornamentado por placas de ouro e por penas de papagaio. O trono é igualmente de ouro maciço. O rei está suntuosamente vestido, com a faixa ritual a prender-lhe os cabelos curtos. Na cabeça tem uma coroa encimada por penas brancas e negras. Ao pescoço, um colar de esmeraldas ‘de um tamanho e brilho extraordinários’. Sobre o seu peito cintila um peitoral de ouro maciço, cravejado de pedras preciosas. Uma majestade impressionante desprende-se do rei do Peru. O seu rosto não traduz nem orgulho, nem alegria, nem temor. É o monarca planando acima dos homens.”


“[...] Encontram-se agora cinco ou seis mil índios amontoados no centro de Caxamalca. Atahualpa espanta-se e pergunta: ‘Onde estão os estrangeiros? ’ Aparece então o monge, Vicente Valverde, vestindo o seu hábito branco de dominicano. Numa mão tem a bíblia, na outra um crucifixo. ‘Venho’ – diz ele solenemente ao chefe inca – ‘por ordem do meu soberano, expor-vos a doutrina da verdadeira Fé.’”


“E explica o mistério da Santíssima Trindade, sem esquecer a criação do homem, o pecado original, a redenção de Cristo, [...]. O poder dos apóstolos [...] transmitidos aos sucessivos papas [...]. Foi um papa quem encarregou o rei da Espanha – o mais glorioso dos reis terrestres – de converter os indígenas do hemisfério ocidental. [...] Portanto, que o rei dos incas abjure dos seus erros, que abrace a verdadeira Fé, e então estará salvo. [...] reconheça a autoridade do rei da Espanha e passe a considerar-se como seu fiel vassalo. E, para terminar, a ameaça: se o inca se recusar a obedecer, será a tanto obrigado pela força.”


“Atahualpa fica mudo de assombro. A despeito dos esforços do interprete, nada compreendeu do discurso do padre. Porque há de reconhecer a autoridade de um soberano distante, quando ele, o chefe inca, é o senhor absoluto do seu reino. E que doutrina e essa da Santíssima Trindade? Aonde vai o monge buscar a sua verdade? Valverde estende a bíblia ao rei. Este vira e revira o livro entre as mãos. ‘Não conheço esse Deus único e triplo de que me falais – responde Atahualpa – conheço apenas [...] Viracocha, filho do Sol, o deus supremo.’ Depois, num gesto de cólera, lança a bíblia por terra.”


“‘Sacrilégio! Sacrilégio! ’. Grita o dominicano”.


“O conquistador não pede tanto. Pega no seu lenço branco e agita-o acima da cabeça. É o sinal. O canhão troa. Ressoa então o velho grito de guerra dos soldados espanhóis: ‘Santiago e Castela! Sus a eles!’”


“Os conquistadores abandonam os edifícios que lhes serviam de esconderijo e irronpem na praça. Assustados pelo troar do canhão, literalmente assaltados por aqueles diabos barbudos, asfixiados pela fumaça dos arcanuzes, os incas não sabem para onde fugir. Os cavaleiros lançam os cavalos sobre eles e esmagam-nos impiedosamente. Os que conseguem escapar são perseguidos e massacrados. Os guardas de Atahualpa batem-se com uma coragem exemplar para proteger o seu rei. Mas que fazer contra a fúria espanhola? Tentam desmontar os cavaleiros, esventrar os cavalos, mas são passados à espada. Se o combate abranda, é porque a fadiga começa a tornar pesados os braços dos conquistadores. No meio dos gritos de alegria dos espanhóis, dos estertores dos moribundos, [...].”


“Os soldados espanhóis abrem caminho a golpes de espada por entre os guerreiros que oferecem a vida para proteger o soberano. O palanquim real acaba por tombar. O rei do Peru está por terra e já os seus vencedores se preparam para matá-lo. Pizarro salta, afasta com um braço as espadas ameaçadoras, [...] Com as mãos ensanguentadas, agarra Atahualpa pelos cabelos e arrasta-o para fora da luta, [...] eleva-se a voz de Pizarro: ‘que aquele que preza a vida não toque no soberano inca!’”


O que vai se seguir meu caro leitor são mais de 500 anos de um dos maiores, se não o maior, genocídio da história humana. Espoliação, pilhagem, mas também resistência como nunca antes visto. A conquista em seu sentido mais amplo, de dominação total, de aculturação e de uma eliminação dos vencidos, vai nos dizer Bruit em “O Visível e o Invisível na Conquista Hispânica da América”, não chegou a realizar-se. Mesmo derrotados, explorados, usurpados de suas terras os nativos tornaram, até certo ponto, o processo de colonização instável. Que apesar da destruição e o genocídio os índios ainda sobrevivem física e culturalmente, e a sua presença é, de algum modo, marcante em quase todas as sociedades do continente americano.


Bibliografia Consultada


BRUIT, Héctor. O visível e o invisível na conquista hispânica da América. In: América em tempo de conquistas. Pág. 77-99.


ULRICH, Paul. Os grandes enigmas das civilizações desaparecidas. Rio de Janeiro: Otto Pierre, 1978. 247p.

5 comentários:

Profº Alexandre disse...

Ótimo texto.
Meus parabéns!
Posso usá-lo em minhas aulas?
Desde já meus agradecimentos.
Alexandre.

DoUgLaS BaRrAqUi disse...

Ola meu caro amigo... fique a vontade p/ usar o texto... se é para o bem da educação, e a felicidade dos nossos alunos.
Um grande abraço ao amigo!

Anônimo disse...

Douglas,
Andei lendo alguns textos seus. Muito bom, parabéns... Uma curiosidade: gostaria de saber aproximandamente quantos turcos têm no Brasil, será que consigo uma resposta? De qualquer forma, meus cumprimentos.. Helmo
helmoamaral@gmail.com

Renan Castro disse...

E ae Dougueira, estou a informar que a Revista Commento retorna com força total e com assunto muito interessante para os dias atuais, com o tema Currículo ou Currículo Vitae. Desculpe a ausência.

Abç

Renan Castro.

Rodrigo Rocha disse...

Douglas passei para conhecer seu blog muito maneiro, not°10 de excelente conteúdo desejo muito sucesso em sua caminhada e objetivo no seu Hiper blog e que DEUS ilumine seus caminhos e da sua família
Um grande abraço e tudo de bom