Prof. Douglas Barraqui
Ele foi o homem que chegou a ser
considerado o inimigo público número um do Regime Militar. Nasceu em Salvador,
em 5 de dezembro de 1911. O poeta mulato foi filho de um imigrante italiano, o operário
Augusto Marighella e Maria Rita do Nascimento, negra e filha de escravos.
Aos 18 anos, Marighella aderiu ao
campo das lutas sociais e acabou entrando para o Partido Comunista Brasileiro
(PCB). Em 1932, aos 21 anos, foi preso pela primeira vez, por escrever e
divulgar um poema com críticas ao interventor da Bahia, Juracy Magalhães.
O golpe de 1964, que colocou os
militares no poder até 1985, colocou Marighella em um novo campo de combate. Já
em maio de 1964 foi baleado e preso num cinema da Tijuca, no Rio de Janeiro. Sobreviveu
e foi libertado após 80 dias.
Marighella acabou rompendo com o
partido logo após uma viagem à Cuba (foi participar de uma reunião da
Organização Latino-Americana de Solidariedade-OLAS) em agosto de 1967. De volta
ao Brasil, pelo seu posicionamento radical, foi expulso do PCB e, em seguida,
fundou a Ação Libertadora Nacional (ALN), que preconizava a luta armada.
A ANL passou a efetuar diversas
ações de guerrilha no ano de 1968, como assalto a bancos com intuito de angariar
fundos para a luta contra o regime. No
dia 4 de setembro de 1969, militantes da ALN e do Movimento Revolucionário 8 de
Outubro (MR-8), sequestraram o embaixador dos Estados Unidos Charles Burke
Elbrick, em uma rua do bairro de Botafogo, no Rio. Os militantes exigiam a
libertação de 15 presos políticos.
A partir dessa ação Marighella passou
a ser apontado como inimigo público número um do Regime Militar. Sua foto
estava em Cartazes de "Procurados" que foram espalhados por todo o
Brasil. Sua perseguição envolveu uma mega estrutura da polícia política do
regime.
Na noite do dia 4 de novembro de
1969, na alameda Casa Branca, em São Paulo, Marighella foi assassinado em uma
emboscada preparada pelo extinto DOPS (Departamento de Ordem Pública e Social)
de São Paulo. Na ação participaram ao menos 29 agentes da ditadura, comandados
pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury.
A versão oficial da morte de
Marighella foi uma das farsas mais longevas fabricadas pelo aparato repressivo
de então. Mesmo partidários do veterano militante comunista referendaram
falsificações, como o relato de que ele portaria um revólver e teria reagido a
abordagem. Na mesma ação o delegado Rubens Tucunduva, que participou da
operação acabou ferido com um tiro na perna. Estela Borges Morato,
investigadora, acabou gravemente ferida com um tiro na testa, falecendo dias
depois. E o protético Friederich Rohmann, que nada tinha com o terrorismo, apenas
passava pelo local, acabou perdendo a vida; um inocente entre tantos.
Após 46 anos de sua morte Carlos
Marighella ainda é descrito por uns como bandido, até mesmo a historiografia
oficial tentou cortá-lo da história oficial. Porém não há como apagar Marighella
de uma das maiores tragédias da história desse país. Lutou, a sua maneira é
certo, contra a censura, a repressão a violência e a falta de democracia de um
dos momentos mais trágicos da história desse país.
REFERÊNCIAS:
JOSÉ, Emiliano. Carlos Marighella - O Inimigo Número Um
Da Ditadura Militar. São Paulo: Editora Casa Amarela, 2004.
MAGALHÃES, Mário. Marighella: O guerrilheiro que
incendiou o mundo.1ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
NÓVOA, Cristiane; NÓVOA, Jorge. Carlos Marighela: o homem por trás do
mito. São Paulo: Editora UNESP, 1999.
Nenhum comentário:
Postar um comentário