[...] A megafauna da Nova
Zelândia – que sobrevivera mudança climática de cerca de 45 mil anos atrás sem
um único arranhão – sofreu golpes devastadores imediatamente depois que os
primeiros humanos puseram os pés nas ilhas. Os maoris, os primeiros colonizadores
sapiens da Nova Zelândia, chegaram às ilhas há cerca de 800 anos. Em poucos
séculos, a maior parte da megafauna local foi extinta, junto com 60% de todas
as espécies de pássaros.
Um destino similar acometeu a
população de mamutes da ilha de Wrangel, no oceano Ártico (200 quilômetros ao
norte da costa siberiana). Os mamutes prosperaram por milhões de anos na maior
parte do hemisfério norte, mas, quando o Homo sapiens se espalhou – primeiro
pela Eurásia e depois pela América do Norte –, eles recuaram. Há 10 mil anos,
não havia um único mamute a ser encontrado no mundo, exceto em algumas poucas
ilhas remotas no Ártico, mais notadamente na de Wrangel. Os mamutes de Wrangel
continuaram a prosperar por mais alguns milênios e então desapareceram de maneira
abrupta há cerca de 4 mil anos, justo quando os primeiros humanos chegaram à
ilha [...]
[...] O povoamento da América não ocorreu sem
derramamento de sangue. Deixou para trás um longo rastro de vítimas. A fauna
americana há 14 mil anos era muito mais rica do que hoje. Quando os primeiros
americanos marcharam rumo ao sul, do Alasca para as planícies do Canadá e o
oeste dos Estados Unidos, encontraram mamutes e mastodontes, roedores do
tamanho de ursos, rebanhos de cavalos e de camelos, leões gigantes e dezenas de
espécies grandes que são completamente desconhecidas em nossos dias, entre as
quais os temíveis tigresdentes- de-sabre e as preguiças-gigantes, que chegavam
a pesar 8 toneladas e podiam ter até 6 metros de altura. A América do Sul
abrigava uma coleção ainda mais exótica de grandes mamíferos, répteis e aves.
As Américas eram um grande laboratório de experimentação evolutiva, um lugar em
que animais e plantas desconhecidos na África e na Ásia haviam evoluído e
prosperado.
Mas não mais. Dois mil anos após
a chegada dos sapiens, a maioria dessas espécies singulares havia desaparecido.
De acordo com as estimativas atuais, nesse curto intervalo a América do Norte
perdeu 34 de seus 47 gêneros de grandes mamíferos. A América do Sul perdeu 50
de 60. Os tigres-dentes-de-sabre, depois de florescer por mais de 30 milhões de
anos, desapareceram, tal como as preguiças-gigantes, os leões-americanos, os
cavalos e camelos nativos do continente, os roedores gigantes e os mamutes.
Milhares de espécies de mamíferos menores, répteis, aves e até mesmo insetos e
parasitas também se extinguiram (quando os mamutes morreram, todas as espécies
de carrapatos de mamute tiveram o mesmo destino).
Se a extinção australiana e
americana fosse um acontecimento isolado, poderíamos conceder aos humanos o
benefício da dúvida. Mas o registro histórico faz o Homo sapiens parecer um assassino
em série da ecologia.
FONTE:
HARARI, Yuval Noah. Sapiens: uma breve história da
humanidade. Tradução Janaína Marcoantonio. 11 ed. Porto Alegre, RS: L&PM,
2016. PG. 76 -77.
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