Prof. Douglas Barraqui
Ontem assisti ao falado
filme “O Regresso”. O filme é baseado na “lendária” história real de Hugh Glass
que em 1820, guiando caçadores de pele, teria sido atacado por uma ursa marrão
e sobreviveu. As pessoas que Glass guiava vão embora, deixando dois homens para
cuidar dele até a morte e dá-lo um enterro digno. Os dois homens vão embora,
acreditando que Glass morreria de qualquer forma, mas ele milagrosamente
sobrevive. Não se preocupe, não é spoiler, esse mesmo enredo já inspirou outro
filme, “Fúria Selvagem” de 1971.
O filme do diretor
Alejandro González Iñárritu fez mérito a indicação ao Oscar. Leonardo DiCaprio
está quase impecável no papel de Hugh Glass, eu daria o Oscar a ele. Mas, por
de trás das belas senas de natureza selvagem, da fúria e da vingança do personagem
principal, há um plano de fundo:
1) Para sobreviver Leonardo
DiCaprio, interpretando Hugh Glass, teve que se tornar tão selvagem quanto a
própria natureza. Em uma linha tênue que o separava da selvageria e da
civilização Glass se torna o que de fato ele é, o homem. O homem tão implacável
quanto a natureza que o cerca. O homem que domina o fogo, que tem maestria com a
faca, que domina o machado, que mata com suas mãos, que faminto devora peixes e
fígados de bisão cru;
2) A natureza foi retratada
pelo cineasta Alejandro González Iñárritu como ela é: bela e ao mesmo tempo implacável.
3) Rousseau com o seu mito
do “Bom Selvagem” estaria decepcionado. No filme os índios não são retratados
como bons e belos. São retratados como pertencentes a uma terra selvagem e
bela, sendo, portanto parte dela.
4) O branco colonizador, o indígena,
lobos, bisões e ursos, bem ao estilo Thomas Hobbes, em “O Leviatã”, “o homem é
o lobo do próprio homem”. Todos querem
comer e cuidar da prole. O diretor Alejandro
González Iñárritu conseguiu retratar um
mundo quase que amoral, reduzido aos instintos mais primitivos.
O título do filme “O
Regresso”, The Revenant em língua inglesa, seria o retorno de Hugh Glass do
mundo dos mortos. Seria o regresso de Hugh Glass da natureza inóspita. Seria o
retorno de Hugh Glass ao estágio de natureza, um homem tão feroz e implacável
quanto a própria natureza.
O filme, portanto, é uma
tradução de quem é o ser humano enquanto pertencente a natureza bela e feroz
desse planeta. Mostra quem é o homem sem a sua invenção cultural chamada de
civilização e sem o plano de fundo da moral. Mostra quem é o homem quando o
frio, as águas, o urso, os índios, os seus iguais, querem matá-lo. O filme
retrata o homem como ele é, pertencente a uma natureza selvagem e bela. Portanto,
assim é retratado o homem selvagem e ao mesmo tempo belo.
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