Entre os hábitos cotidianos dos
romanos estavam a cena e o prandium, duas maneiras de realizar as refeições que
retratavam, respectivamente, a importância dada ao lazer e às atividades
militares e políticas.
“Os romanos conheciam dois tipos
de refeições opostas, a cena e o prandium. A primeira reunia homens, sempre
deitados (quando há mulheres, elas, tradicionalmente, ficam sentadas) em um
lugar coberto – casa, pórtico ou jardim coberto (…); um grupo social bem
definido – família, clientela, amigos da mesma idade, corporação profissional
ou sacerdotal, vizinhos – partilha os prazeres da mesa por ocasião de uma
festa. O número de convivas é limitado a uma dezena, mas o número de salas de
jantar pode-se multiplicar. Mesmo que os banqueteadores se limitem aos
habitantes de uma quinta – um camponês, sua mulher, seus filhos, suas noras,
seus netos, alguns criados –, a cena, de qualquer maneira, é uma festa, apesar
do pouco luxo; ela é sempre uma ocasião especial.
(…) Mas o romano geralmente come
apenas o bastante para se restaurar, sem cerimônia, frequentemente só, não
importando onde e quando. Porém, ele não consome qualquer coisa: come apenas
alimentos revigorantes, ‘frugais’, compostos de fruges. Este é o prandium.
Assim, o dia do romano não é
regulado pelo horário das refeições, uma vez que o alimento indispensável é
consumido quando ele sente necessidade, e os banquetes constituem eventos
especiais. Em compensação, a oposição entre cena e prandium inscreve-se nas
oposições de tempo e de espaço preexistentes.
A cena pertence ao tempo do
otium, ou seja, do lazer e da paz. O otium romano implica duas formas de
vacuidade. O otiusus não é um guerreiro, o otiusus não está engajado em uma
atividade cívica. Uma cena, geralmente, acontece numa tarde de inverno, na sala
de jantar de uma casa de Roma ou de uma quinta do campo romano; reúne, durante
duas ou três horas, homens lavados, sossegados, vestidos com togas ou túnicas
largas, esquecidos das preocupações com a labuta da manhã. O banquete termina
ao cair da noite.
Em compensação, o prandium é a
única refeição dos romanos engajados na guerra, na atividade política ou em
qualquer outra que requeira esforço (labores). Ele pode consistir em um
desjejum matinal, uma refeição leve em torno do meio-dia, mas não tem nada de
obrigatório. É, também, o jantar do solitário e do soldado em campanha, a única
refeição das famílias enlutadas. (…)”
REFERÊNCIA:
FLANDRIN, Jean-Louis; MONTANARI,
Massimo. História da alimentação. 4.
ed. São Paulo: Estação Liberdade, 1998.
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