Prof. Douglas Barraqui
Qual é o valor?
Nos, diariamente, somos
levados a tomar decisões e agimos de acordo com os nossos VALORES. Não estou me referindo ao valor das coisas em si, não se
trata da propriedade das coisas ou das pessoas. Os valores dependem,
necessariamente, de quem avalia. Assim, valores podem variar de pessoa para
pessoa, país para país, de cultura para cultura. Valores também podem mudar ao
longo do tempo. Quando os valores mudam, significa que mudou nossa forma de ver
as coisas do mundo em que vivemos.
Valores só existem na medida
em que alguém avalia e valoriza. Portanto, há muitas diferenças nos valores. Valor
implica em uma relação de um sujeito com o objeto. Veja um exemplo:
Sr.
Eclésio está indignado com a quantidade de cães vadios abandonados nas ruas e
defende a captura; e que esses animais sejam sacrificados. D. Fátima, pelo
contrário, é defensora dos animais, favorável a castração e que todo cão
abandonado deve ser cuidado e mereça um lar.
Perceba que os cães
abandonados têm um valor diferente para cada um. A preocupação com a sobrevivência
de outras formas de vida podemos qualificar como sendo um VALOR ÉTICO.
Nossas decisões, bem como
nossas ações do cotidiano são tomadas em relação aos valores que temos. Mas, o
mais correto seria dizer que as nossas decisões e ações mostram quais valores
nos temos. Há casos em que as pessoas dizem acreditar em determinados valores e
acabam agindo de outra forma. Assim o valor de verdade é aquele que se manifesta
em nossas ações. Veja exemplo:
Claudia
tem uma opinião forte e bem formada sobre o aborto, se diz contra. Porém em sua
farmácia vende medicamentos abortivos.
Veja outro exemplo na charge
abaixo:
Se eu digo que sou contra a
corrupção, mas na prática eu suborno um guarda de trânsito indo para uma
manifestação contra a corrupção, então o verdadeiro valor que eu estou
defendendo não é o que está nas placas dos manifestantes, mas sim em minhas
ações no cotidiano.
Vamos ver um exemplo de como
os valores mudam ao longo da história: no passado mulheres “gordinhas” era sinônimo
de beleza. Hoje, gordura é sinônimo de feiúra.
Mas quem inventa os valores?
Como é possível que algo que tenha valor para mim, não tenha valor para outra
pessoa? Nos seres humanos é que inventamos os valores. E nos estamos
continuamente avaliando, bem como, reavaliando os valores. Nesse quase que um
processo de revisão permanente os homens tendem a buscar valores que
proporcionem uma vida melhor, mais justa, digna e fraterna; de convívio
pacífico entre todos. Perseguindo esses valores o homem se modifica e se aprimora.
O Filósofo, da segunda metade do século XIX, Friedrich Wilhelm Nietzsche disse que a ação mais alta da vida livre é o nosso poder para avaliar os valores.
Friedrich Wilhelm Nietzsche - 1882 |
Nietzsche disse que o bem e
o mal não são valores existentes em si mesmos. Tem uma identidade e uma
significação independentes dos grupos humanos ou dos indivíduos em confronto,
que definem o que é o bem e o que é o mal. Portanto, esses valores nunca são
questões eternas, mas dizem respeito sempre àquele que é mais forte para firmar
o seu ponto de vista. Assim, sempre há uma relação de forças: O forte concebe
espontaneamente o princípio "bom" a partir de si mesmo e só depois
cria a idéia de "ruim". Do ponto de vista do forte, "ruim"
é apenas uma criação secundária, enquanto para o fraco "mau" é a
criação primeira, o ato fundador da sua moral, a moral dos ressentidos. O forte
só procede por afirmação e, mais, por auto-afirmação; o fraco só pode firmar-se
negando o que considera ser o seu oposto.
Podemos concluir então, que os
valores são entidades virtuais. Eles não existem na realidade, não se trata de
propriedades dos objetos e coisas do nosso mundo. Valores são atribuídos as
coisas por um sujeito, o homem. Assim os valores só podem existir na medida em
que o homem avalia e valoriza. Isso explica as muitas diferenças nos valores,
variam conforme o contexto histórico, o país, a cultura e o critério das pessoas.
As nossas decisões do dia-a-dia são tomadas frente a julgamento de valores. Assim
quando nossos valores mudam, muda também a nossa maneira de conceber o mundo
que nos cerca.
REFERÊNCIAS:
BLACKBURN, Simon. Pense: uma introdução à filosofia.
Lisboa: Gradiva, 200.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 7. ed. 2. reimp.
São Paulo: Ática, 2000.
COLCHETE, Eliane e MORAIS
JUNIOR, Luis Carlos de. A formação da
filosofia contemporânea. Rio de Janeiro: Litteris, 2014.
DELEUZE, Gilles e GUATTARI,
Félix. O que é a Filosofia? Trad.
Bento Prado Jr. E Alberto Alonso Muñoz. Rio de Janeiro, 34, 1992.
NIETZSCHE, Friedrich. Além do Bem e do Mal - Coleção Grandes
Obras do Pensamento Universal - 31. 3ª edição. Editora Escala, 2011.
Um comentário:
Parabéns! Gosto muito do modo como prepara esses aulas
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