Prof. Douglas Barraqui
Arte serve para quê?
Existe alguma coisa em comum
entre o filme “E o Vento Levou”, dirigido
por Victor Fleming; “Dom Quixote de La
Manch”, escrito por Miguel de Cervantes; a peça teatral “Romeu e Julieta”, de William Shakespear;
a música “será” da Legião Urbana e a
escultura “Davi” de Michelangelo? É
que todas essas coisas são formas de arte, MANIFESTAÇÕES
ARTÍSTICAS.
A ARTE tem um poder de estimulante sobre nos seres humanos: um livro
pode nos fazer chorar, um filme pode nos deixar triste, uma música pode nos
deixar felizes, ou tocar nossa paixão por alguém. A arte consegue tocar nossos
sentidos, emoções e pensamentos.
A arte, igualmente, pode
transmitir todas essas emoções. Veja o exemplo abaixo da obra Davi” de Michelangelo:
Michelangelo retrata o herói
bíblico com realismo anatômico impressionante. Trata-se de uma estátua em
mármore branco e bruto que mede 5,17 m de altura. Michelangelo levou três anos
de trabalho para concluir a escultura.
Michelangelo retrata o
personagem bíblico Davi, não após a batalha contra Golias (como Donatello e
Verrochio antes dele fizeram), mas no momento imediatamente anterior a ela,
quando David está apenas se preparando para enfrentar uma força que todos
julgavam ser impossível de derrotar. Isso é notado na confusão de sentimentos
que o semblante do rosto de Davi passa ao espectador. Olhando atentamente o
semblante da estátua consegue nos passar sentimentos como medo, angustia, raiva,
o olhar para cima remete ao gigante que se aproxima. Observe ainda que Davi é
descrito na bíblia como franzino e pequeno, porém Michelangelo esculpiu um Davi
grandioso. Simbolizando a visão antropocêntrica da época, que colocava o homem
no centro das atenções. O homem se torna importante para a arte daquele momento
histórico.
A ARTE pode ser inúmeras coisas. E uma das coisas mais importantes, a
saber, sobre a arte é que ela “recria o
mundo em que vivemos”. Seja no cinema, na dança, na música, na literatura
ou no teatro, o artista cria um mundo novo feito de palavras, sons, traços,
cores, movimentos, gestos, melodia, símbolos, formas, massas e volumes. Esse
mundo, dependendo de quem observa, pode ser mais belo ou mais feio; mais ou
menos significativo. Porém, de alguma forma, esse mundo novo revela alguma
coisa diferente sobre essa mesma realidade. Ao mesmo tempo um livro, uma
música, uma escultura, uma dança, uma pintura pode nos ensinar algo que não
sabíamos. Nesse sentido a arte pode ser EDUCATIVA.
Arte nem sempre é algo belo
e maravilhoso. Pode ser feia, de causar espanto e ojeriza, mas não deixa de ser
arte por isso, desde que consiga tocar nossas emoções arte é arte. Embora a
beleza esteja indissociavelmente ligada à arte, esta não é necessariamente, e
nem tem que ser, bela. Durante muito tempo os artistas se preocuparam em não
ferir a sensibilidade do espectador. Mesmo quando falava de eventos terríveis,
como o caso das tragédias, este era maquiado de belo usando palavras elevadas.
No entanto, ao longo dos séculos, o homem evoluiu e com ele a arte que mudou
bastante, passando a registrar os eventos traumáticos e eventos que não
caberiam mais dentro da idéia de belo. Surgiram então novas modalidades de arte
como, por exemplo, os contos de terror, os romances góticos, filmes trágicos e
as representações pictóricas do século XX que mostram o feio e o traumático
como uma realidade inerente ao homem e suas manifestações artísticas.
Mas, a ARTE serve para quê?
A arte serve para refinar o
ser humano. Serva para construir um homem melhor. A arte serve para libertar o
homem da realidade em que vive. A arte serve para traduzir emoções, das mais
variadas. A arte serve para dar significado a vida. A arte é uma maneira do
homem se tornar mais rico internamente. A arte serve como um consolo para o
difícil fardo de viver. Para um artista a arte pode servir para colocar para
fora o que o atormenta. A arte nos faz pensar e repensar o mundo. Arte é a
maior expressão da vida humana neste planeta. Em meio a tantas espécies de
animais se o ser humano for extinto, o que ficará de nós será a arte expressa
em nossas construções, esculturas, pinturas e arquitetura.
A arte é uma criação do
homem e quando nos admiramos alguém talentoso, dizemos que é um ARTISTA. Veja Pelé, muitos dizem que
com a bola nos pés ele era um artista. Mas Pelé era um esportista, é possível
um esportista ser um artista? Futebol também é arte? Bem, futebol é sim um
esporte, mas quando ele é jogado muito bem, de uma forma talentosa, a gente
identifica algo artístico nele. É algo que tem a ver com a criatividade do
jogador, a exemplo de Pelé. O mesmo se pode dizer sobre um cozinheiro, quando
seus pratos são tão saborosos, espetaculares e CRIATIVOS, as pessoas dizem que o cozinheiro é um artista na
cozinha. Arte, então, tem a ver com criar um mundo novo, um jeito novo de fazer
as coisas como jogar futebol ou mesmo cozinhar.
Mas de onde vem nossa CRIATIVIDADE?
Durante muito tempo o
artista foi visto de um jeito especial, dotado de um TALENTO especial ou de uma INSPIRAÇÃO.
O que inspira o talento do artista e o leva a criar sua arte é a sua
experiência de vida, das idéias que ele forma em sua cabeça sobre o mundo em
que vive, de sua cultura, de sua forma de ver o mundo. O talento é fundamental, é claro, mas sem inspiração não existe arte.
Arte,
portanto tem a ver com criação. O artista,
dotado de talento e inspiração, cria um mundo novo com
formas, cores, gestos e sons variados. Esse mundo novo tem o poder de mexer com
os nossos sentidos sendo capaz de nos emocionar, tocar e mesmo ensinar. A arte
tem o poder de nos fazer sentir coisas novas e diferentes, nos renova e nos faz
pensar e indagar sobre o mundo em que vivemos. A arte é o motor dos nossos
questionamentos filosóficos. A arte nos faz pensar e repensar o mundo.
REFERÊNCIAS:
BLACKBURN, Simon. Pense: uma introdução à filosofia.
Lisboa: Gradiva, 200.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 7. ed. 2. reimp.
São Paulo: Ática, 2000.
COLCHETE, Eliane e MORAIS
JUNIOR, Luis Carlos de. A formação da
filosofia contemporânea. Rio de Janeiro: Litteris, 2014.
DELEUZE, Gilles e GUATTARI,
Félix. O que é a Filosofia? Trad.
Bento Prado Jr. E Alberto Alonso Muñoz. Rio de Janeiro, 34, 1992.
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