Por Douglas Barraqui
Não sou inimigo do Carnaval, um dos festejos mais populares do Brasil, mas faço uma crítica na forma e de como se comemora. Por de trás das fantasias do carnaval está um trio de absurdos, uma escola de ignorância é uma marcha de corruptos.
O primeiro erro é acreditar que o carnaval é uma festa genuinamente “made in Brasil”. Embora não há como comprovar empiricamente o nascimento do carnaval, sabemos que a 10.000 a.C. homens, mulheres, crianças, se reuniam no verão de corpos pintados, caras mascaradas, pulando e cantando para espantar os demônios da má colheita. Festejos parecidos e peculiares foram comemorados entre egípcios, gregos e romanos. Mas, o carnaval tal como conhecemos tem sua origem na Europa no Período Vitoriano e se espalhou pelo mundo afora metamorfoseando a outras culturas. No Brasil quando aqui chegou por influência dos lusitanos das Ilhas de Madeira, Açoures e Cabo Verdena, na primeira metade do século XVIII, recebeu o nome de entrudo. Consistia de destrambelhadas correrias, mela-mela de farinha, água com limão que evoluiu depois para batalhas de confetes e serpentinas. Os primeiros blocos de carnaval e os famosos corsos só vão surgir no século XIX. E a primeira Escola de Samba somente em 1928, com a Deixa Eu Falar, no Bairro do Estácio.
Enganam-se os pobres coitados que correm atrás de trios e de marchinhas carnavalescas pensando que carnaval é uma festa popular. Hoje carnaval é negócio, e dos mais lucrativos, coisa de gente rica. Pobre não tem acesso aos camarotes VIP (Very Important Person), as festas privadas e luxuosas e aos abadas caríssimos intitulados “passaportes da alegria”.
A maioria dos blocos, trios, palanques e escolas vivem à custa do poder público. Seu, meu e nosso dinheiro. E convenhamos ninguém subirá em um palanque somente para fazer do carnaval uma festa democrática, ou para fazer feliz o público. Esses artistas, mega artistas, não cobram menos do que na casa dos milhares e até mesmo milhões para divertir um público anestesiado e supostamente feliz porque é carnaval. Uma política de circo para uma população paupérrima que não tem se quer um pão na mesa.
Todo carnaval são as mesmas coisas dantescas: a boa música e amordaçada pelas supostas músicas do momento como “o melo da mulher maravilha” e um “ai se eu te pego”. Dezenas de ambulâncias são disponibilizadas para atender bêbados e machões brigões enquanto o povo morre as minguas nos corredores dos hospitais. A polícia é colocada com todo seu efetivo a fim de guardarem a ordem, e no dia a dia o mesmo folião que pula atrás dos blocos vive encarcerado dentro de sua casa por grades e muros com medo da insegurança.
Os falsos gurus da economia dizem até que o carnaval faz girar a economia, gera renda para dona Maria do cachorro quente e até o senhor João catador de latinhas. Se João e Maria fossem depender do carnaval para o sustento de seus filhos morreriam de fome. Carnaval só é lucrativo para grandes cervejarias, hotéis luxuosos, donos de trios elétricos, e músicos famosos. No mais é prejuízo atrás de prejuízo. São gastos para socorrer vítimas de acidentes de trânsitos os mesmos foliões embriagados ao volante. Gastos em limpeza de rua, ao passo que os foliões parecem mais com porcos dançando em um chiqueiro. Fora os gastos com gravidez indesejada, e com tratamentos para novos soro positivo.
E o ano, como dito popular, só começa de fato após o carnaval. Só depois que os trios e os tambores, pandeiros, cuícas se calaram, que o efeito das drogas passarem e que as máscaras caírem é que se vai ter uma noção do prejuízo. Que o país das cores, das luzes, do deslumbre e da dança passou pela avenida e foi embora. E ficou a realidade.
A dura e vergonhosa realidade de um salário mínimo irrisório. A realidade dos autos impostos a serem pagos ao leão, não o leão da Escola Porto da Pedra, mas, o leão da receita. A realidade dos mega salários, dos corruptos, do mensalão. A realidade dos salários indignos dos professores, policiais e bombeiros que tentam salvar o que restou após o carnaval. Entre tantas outras realidades. Faço minhas as palavras de Danilo Gentili: “é melhor morrer no país do carnaval do que viver no carnaval desse país."
7 comentários:
Carnaval: QUANTA FOLIA, quanta droga, quanta violência, quanta gravidez indesejada, quanta AIDS, quanto acidente, quanta briga, quanta separação, quanta morte, enfim, QUANTA FOLIA... QUANTA TRISTEZA...! http://eliybarbosa.blogspot.com/2012/02/carnaval-nenhuma-verdade-vem-da-mentira.html
Gostei ... realidade escancarada do Brasil e os foliões estão bêbados de mais para ver!
Parece-me que nesse país carnaval é o ano todo! bom texto!
só não citaria, Danilo Gentili, se permite dizer. Ele é um bobo da corte.
Escrevi dois textos recentemente, que ao mesmo tempo validam e contradizem o teu. Se quiser, dê uma lida:
http://www.campoinsolito.blogspot.com.br/2012/02/incendiarios.html
e
http://www.campoinsolito.blogspot.com.br/2012/02/outro-carnaval.html
É uma vergonha a forma como é feito
o carnaval. Para mim nunca mais quero ir pro carnaval.
http://www.verdadegospel.com/jornalista-corajosa-critica-o-carnaval-e-ganha-repercussao-na-internet/
Podia ao menos ter mudado as palavras da Seherazade... lamentável.
Meu caro amigo anônimo,
O artigo que você leu é na verdade uma releitura de uma artigo, também de minha autoria, mais velho, de fevereiro de 2011: http://dougnahistoria.blogspot.com.br/2011/02/historia-do-carnaval-domesticaram.html (fevereiro de 2011 - como você pode ver).
O vídeo da Raquel Sherazade é de março de 2011, como você pode ver. Portanto se alguém tem que levar algum crédito, essa pessoa sou eu e todos esses autores que se seguem:
MAGALHÃES, Rosa. Fazendo carnaval: the marking of carnival. São Paulo: Lacerda, 1997.
MEIRELLES, Gilda Fleury. Tudo sobre eventos: o que você precisa saber para criar, organizar e gerenciar eventos que promovem sua empresa e seus produtos. São Paulo: Editora STS, 1999.
MORAES, Eneida de. História do carnaval carioca. Rio de Janeiro: Record, 1987.
NOVAES, Carlos Eduardo. O Caos Nosso de Cada Dia. 6º ed. Rio de Janeiro: Nórdica, 1978.
RABAÇA, Carlos Alberto e BARBOSA, Gustavo Guimarães. Dicionário de
comunicação. Rio de Janeiro: Campus, 2001.
VALENÇA, Rachel. Carnaval: para tudo se acabar na quarta-feira. Rio de Janeiro.
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