Por Marcos Emílio Ekman Faber
Numa certa manhã nublada do século XIV a.C., são raras as manhãs nubladas no Egito, o faraó Amenófis IV saltou da cama com o coração em disparada. Havia tido um pesadelo terrível que o havia atormentara por toda a madrugada. No sonho, o faraó estava numa grande sala onde vários deuses estavam reunidos. Apesar de Amenófis estar presente, quem liderava a reunião era Seth, o deus com cabeça de chacau. Por ordem de Seth, os deuses cercaram o rei egípcio, todos empunhando adagas. Seth se aproximou e desferiu um golpe contra o faraó que, antes da lâmina o tocar, acordou ensopado de suor.
Angustiado, Amenófis mandou chamar seus conselheiros e magos, queria uma interpretação para o sonho. Porém, nenhuma das interpretações devolveu paz ao coração do faraó.
Inquieto, Amenófis resolve se retirar. Sobe até seus aposentos onde, do alto da janela, fica a fitar o céu. O raro dia nublado perturbava ainda mais o faraó, “Será este um sinal?”. Foi então que, em meio às nuvens, o sol saiu imponente a brilhar, em questão de segundos as nuvens se desfizeram. A mudança no tempo devolveu paz ao coração do monarca. Amenófis não tinha mais dúvidas, sua vida e seu reinado corriam sérios riscos.
No entendimento do faraó, os deuses conspiravam contra sua vida. Somente Aton, deus representado pelo disco solar, poderia protegê-lo. Para fugir dessa cilada, o faraó teria de afastar os outros deuses do Egito.
Tomada a decisão, Amenósis inicia um novo programa de governo. Era necessária uma reforma político-religiosa no Egito. A primeira medida foi mudar seu próprio nome. Amenófis torna-se Akhenaton “o espírito atuante de Aton”.
A partir daí, Akhenaton começa um processo de reestruturação da religião egípcia. O culto aos deuses é proibido, com exceção ao culto a Aton. Templos são fechados. Sacerdotes, responsáveis pelo culto aos outros deuses, são destituídos.
A reforma religiosa parecia não ter fim quando Akhenaton decide construir uma nova capital para o reino. A nova cidade, mesmo antes de ser concluída, foi batizada de Akhetaton, o “horizonte de Aton”. Mas a construção trouxe consigo sérios problemas ao faraó, pois a construção obrigou o deslocamento de milhares de escravos para as obras da nova capital. Isso gerou o descontentamento dos outros centros políticos egípcios. Como se isso não bastasse, antigos ministros, conselheiros e, principalmente, os sacerdotes destituídos passaram a conspirar contra Akhenaton.
Os conspiradores não aceitavam as reformas promovidas pelo faraó. Muitos haviam perdido seus preciosos cargos, outros tinham sofrido com o fechamento de seus lucrativos templos. Assim, na calada da noite os conspiradores se reuniram tomando uma importante decisão: Akhenaton precisa ser assassinado.
Em uma bela noite do ano 1382 a.C., Akhenaton recebeu a visita de seus antigos conselheiros. No final daquele encontro o faraó estava morto. A forma como Akhenaton foi assassinado permanece um mistério até hoje.
O que não é mistério foi o que aconteceu com o Egito nos meses que se seguiram. A antiga religião politeísta foi restaurada, templos foram reabertos e a memória do falecido faraó apagada. Até a cidade de Akhetaton foi abandonada. Era o fim do único faraó monoteísta que se tem notícia.
Mas a resistência à mudança não foi exclusividade dos egípcios antigos. Há muito tempo que ouço falar em reforma política no Brasil. Alguns defendem o voto distrital, outros o fim da reeleição, também há quem acredite que o voto em lista seria a melhor solução para o processo eleitoral.
Das alternativas que são apontadas para a reforma política, a que acredito ser a mais adequada é a do deputado federal Henrique Fontana, relator da comissão especial da Câmara. Fontana defende o financiamento público de campanha, ou seja, cada candidato deverá buscar exclusivamente em verbas públicas os recursos para sua campanha. Essa Lei barraria a formação de caixa dois, pois tornaria proibido o recolhimento de recursos de campanha junto à iniciativa privada. Com isso, diminuiriam os políticos que fazem lobby para as empresas que os financiam.
Mas na minha opinião a única reforma política que realmente surtiria algum efeito é a que criasse Leis que garantissem a educação política dos eleitores. Enquanto o país não investir na educação política de nossa população, ensinando-a sobre o funcionamento do processo eleitoral, de nada adiantará realizar grandes reformas.
O problema eleitoral do país está no fato das pessoas não conhecerem as regras do sistema. Alegar que uma reforma política irá impedir que Tiriricas sejam eleitos é não desejar mudança alguma. O que precisa ser feito é conscientizar o eleitorado sobre as regras do jogo. Enquanto não criarmos uma consciência político-eleitoral no país, nada mudará.
Mas que o exemplo de Akhenaton seja observado, pois os sacerdotes e ministros que não desejam mudança alguma estão por todos os lados. Afinal, muitos irão perder com uma reforma política no Brasil.
Fonte: História Livre
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