domingo, 15 de abril de 2012

Titanic: o que podemos aprender

Por Douglas Barraqui

Há cem anos atrás a natureza demonstrou ao homem a sua força implacável e colossal. Um simples bloco de gelo, obra da mãe natureza, colocaria em baixo da água, e não em cima dela, uma das maiores obras da engenharia humana: o RMS Titanic.

O Titanic foi fruto de uma sociedade industrial, de um período de cultura cosmopolita da sociedade europeia, momento de avanços tecnológicos que mudariam o mundo a exemplo do telegrafo, o telefone sem fio, o cinema, a bicicleta, o automóvel e o avião. Inventos que inspiravam no homem uma nova percepção a mercê da realidade: era a Belle Époque, bela época em francês.

Essa mesma sociedade do início do século XX devastava a natureza de modo atroz e voraz. Era o preço do luxo, das praticidades e comodidades da bela época.

Concebido para ser inafundável” dizia um folheto publicado em 1910 da White Star Line empresa operadora do navio. Com quase 50.000 toneladas de aço e 270 metros de comprimento o Titanic era o maior navio de passageiros do mundo. Resultado das mais avançadas tecnologias disponíveis na época.

Mas o que parecia impossível aconteceu: na noite do domingo do dia 14 de abril de 1912, por volta das 23:40 o Titanic se chocaria com um bloco de gelo a deriva no oceano, afundando na manha do dia seguinte. De 2.240 pessoas a bordo o naufrágio vitimou, nas gélidas águas do Atlântico Norte, 1.523 pessoas.

Foi um grande choque para a sociedade daquela época. Apesar do que havia de melhor de tecnologia e de uma experiente tripulação, o inafundável Titanic não só afundou como levou a morte milhares de pessoas.

E o que podemos aprender com Titanic? Atualmente nossa sociedade industrializada, consumista e capitalista não estaria indo em rota de colisão com as forças desconhecidas da mãe natureza. Segundo relatório intitulado “A Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade para Políticas Locais e Regionais”, as cidades atualmente ocupam um pouco mais de 2% da superfície da terra, e que mais da metade da população mundial vive nelas e que, de forma alarmante, já consumimos mais de 70% dos recursos naturais disponíveis em nosso planeta.

Assim como o Titanic não era inafundável, nós não somos inatingíveis. Temos que superar o “paradigma da imunidade humana” (human exemptionalism paradigm) aos fatos naturais, como nos fala José Augusto Drummond. Não estaríamos, todos nós, a bordo de um grande barco em uma trágica rota de colisão com nosso passado de séculos de espoliação desenfreada dos recursos naturais de nosso planeta? Teremos o mesmo fim trágico daqueles abordo do Titanic?

Referência:

DRUMMOND, José  Augusto. A história ambiental: temas, fontes e linhas de pesquisas. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, Vol. 4 n. 8, 1991, Pg. 179. 

Relatório intitulado "A Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade para Políticas Locais e Regionais" (Teeb, na sigla em inglês), lançado no Brasil em 9 de setembro de 2010, em workshop realizado em Curitiba, no Paraná. Disponível em http://www.teebweb.org/Portals/25/TEEB%20Synthesis/TEEB_Sintese-Portugues_web[1].pdf. Acesso em 15 de abril de 2012.

2 comentários:

Professor Josimar Tais disse...

A grandeza, a superioridade e o poder de criação do ser humano pareciam ser infalíveis. Só pareciam...


Além de representar a capacidade humana, a construção do navio desafiava a força Divina. Porém, o que parecia ser improvável, ou até impossível, aconteceu, e talvez seja por essa frustração que o naufrágio do Titanic é tão marcante. Bela postagem companheiro. A reflexão é muito apropriada à nossa realidade.

Marcio Nicolau disse...

Sim, me parece que estamos naufrando. E a grande geleira é o esfriamento das relações humanas, com as abissais distâncias surgidas depois que a fé em tecnologia nos cegou. Há uma nova geração de inventores construindo às cegas navios que navegam em rios de dinheiro enquanto o planeta morre à mingua e de sede.