sábado, 8 de maio de 2010

Um pouco mais de tempero ético à liberdade neoliberal


Por Douglas Barraqui


A retórica neoliberal diz que a economia de livre mercado é a única capaz de assegurar a liberdade do homem, pois então digam aos cientistas econômicos que falta tempero ético em seu projeto neoliberal, pois está descendo muito mal pela goela a baixo.


Uma postura ética tem como pressuposto a ação consciente e livre do indivíduo através do qual ele toma partido a respeito das coisas e das pessoas. Isso é negar a submissão do homem as forças do mercado, pois não há vida ética se o indivíduo não tem o direito de escolher e decidir.


Os cozinheiros da ciência econômica então se deparam com um problema que eles tentam mascarar com um tempero de dá nó na garganta: a ciência econômica trabalha com uma racionalidade que dispensa todo e qualquer julgamento de valor, ou seja, eles adotam um preparo, leia-se aqui metodologia, que dispensa considerações sobre problemas éticos fazendo deles algo inútil para seu prato principal. Sua preocupação acaba sendo com o método que possa permitir aos cozinheiros neoliberais manipular a realidade e resolver os problemas que o homem enfrenta no dia a dia. Assim não há a necessidade de perguntar a razão de ser dos problemas, mas sim discutir meios de resolvê-los e administrá-los. Afinal para o neoliberalismo você só precisa ver a cara da comida o sabor é um mero detalhe.


A ciência econômica, partindo da concepção de mercado, acaba não fazendo questionamento ou julgamento de suas explicações da realidade. Será que os cozinheiros provam sua comida antes de servi-la? Se não provam não há segurança não há segurança no que é produzido pela ciência econômica. E o que acaba entrando em questão não é como a realidade é, mas sim como ela deve ser, uma verdade isenta de qualquer valores, uma comida sem tempero. Assim os neoliberais acabam não tendo como sustentar a tese de que só uma economia de livre mercado pode assegurar a liberdade do homem, a cara da comida não prova que ela é boa.


Nessa conjuntura, há um caminho a ser seguido que é assumir a racionalidade do discurso filosófico. Seria, a filosofia julgando o saber da ciência econômica; o discurso da filosofia avaliando a teoria neoliberal e sua condição indispensável para a realização da liberdade. Afinal de contas alguém tem que avisar que está faltando tempero ético.


Para tanto a filosofia, em primeiro lugar, terá de ser capaz de legitimar seu saber e quando ela perguntar por este mundo criado pelo homem, sua preocupação é a de saber se as instituições econômicas, políticas, sociais, jurídicas estão sendo capazes de dar a liberdade ao homem. É o que o chefe da cozinha alemã, Hegel, faz na sua obra sobre Filosofia do Direito.


A tarefa da filosofia seria abrir um diálogo direto com a teoria neoliberal para encontrar um outro caminho, um novo prato talvez. Então eis que Marx oferece a lei geral da troca de mercadorias (princípio da equivalência – que se firma na troca como ato entre indivíduos e não pelo valor coisas). A liberdade apareceria como uma chance do homem construir novas configurações sociais, políticas, econômicas e jurídicas, ou seja, um novo modo de organizar a vida. Um outro restaurante, uma nova cozinha e veremos o tempero.


Se a história de fato for o lugar onde o homem luta pela sua liberdade, esta luta é em primeiro lugar a luta pela vida, pelas condições materiais que tornam possíveis a satisfação das necessidades básicas da reprodução biológica do homem. É a partir daqui que se entenderia a real condição econômica na vida humana. A atividade econômica, portanto, passa a ser entendida como meio de garantir o necessário para reprodução da vida humana. A economia estaria a serviço das necessidades básicas do homem, assim, efetivando o ser livre.


Um pouco de tempero ético viria a calhar, em um mundo neoliberal em que a liberdade é transformada em não-liberdade, a igualdade em não-igualdade, fraternidade em guerra por poder e riqueza. É difícil engolir tudo isso?!


Bibliografia:


TEIXEIRA, Francisco José Soares. Globalizaçao e mercado de trabalho no estado do Ceara: transformação da organização da produção, das relações de trabalho e do padrão demográfico no estado do Ceará. Fortaleza, CE: Universidade de Fortaleza, 1999. 180p.


BORON, Atílio; GENTILI, Pablo; SADER, Emir. Pos-neoliberalismo: as políticas sociais e o estado democrático. 3. ed. - Sao Paulo: Paz e Terra, 1996. 205p.

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