By Douguera
O fato é que essa filosofia, que se estendeu das últimas décadas do século XVII aos últimos decênios do século XVIII, é uma filha de seu tempo. Resultante das forças conjunturais de uma época em que a fé incondicional a um Deus não mais aplacava os anseios do homem e a ciência se fixava cada vez mais como a luz que ilumina as trevas, seus valores servem de referência até os dias de hoje.
O iluminismo morreu de forma a ser impossível ressuscitá-lo, mas, ao mesmo tempo, é impossível sepultá-lo. Seus valores continuam sendo essenciais. “Qualquer um que tenha contas a ajustar ou uma causa a defender começa pelo iluminismo”[2], bem esclarece Robert Darton, historiador norte americano. Ao mesmo tempo não pode ser usado indiscriminadamente para escrever a história da civilização ocidental.
Qualquer um hoje que opte em perder um domingo de oração religiosa para estar em uma sala de aula a fim de concorrer uma vaga dentro de universidades federais; que prefira um MP10 com celular de 2 chips, câmera com flash, TV grátis, tela de 2.4, teclado QUERTY, WAP, Bluetooth e quad band em detrimento de uma carta.; que hasteie a bandeira da liberdade, igualdade e fraternidade esta incondicionalmente recorrendo aos valores do iluminismo.
Para os ditos pós-modernos que acusam o iluminismo de mascarar a hegemonia do ocidente; de ser um imperialismo cultural disfarçado de racionalidade, de alimentar uma fé excessiva na razão, fonte de inspiração para o totalitarismo de não tratar das mulheres e do meio ambiente, cabe a mim lembrá-los de que cospem no prato em que comem, pois querendo ou não, direta ou indiretamente acabam por tomar banho na mesma fonte.
O iluminismo é um morto vivo. Pertenceu há seu tempo e que assim seja, mas, sua herança e seu legado permanecem corrente nas diversas formas de pensamente do mundo, como um vírus que se propaga pelo ar e altamente contagioso. Se um dia vamos enterrá-lo?! É melhor que seja em cova profunda.
[2] Robert Darton.
Bibliografias:
DARTON, Robert. Os dentes falsos de George Washington: um guia não convencional para o século XVIII. Tradução de José Carlos Couto. São Paulo: Companhia das letras, 2005 (1 ed. Norte americana 2003)
KANT, Immanuel. Beantwortung der frage: Was ist Aufklärung. (1789).
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