sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

MARIA QUITÉRIA “MULHER MACHO SIM SENHOR”

Prof. Douglas Barraqui
Maria Quitéria (Domenico Failutti, 1920)

Hábil com as armas, disciplinado e audacioso o soldado Medeiros, herói da luta pela independência do Brasil, era na verdade Maria Quitéria de Jesus Medeiros. Em 1823 Maria Quitéria foi a primeira mulher a assentar praça numa unidade militar das Forças Armadas Brasileiras. Foi também a primeira mulher a entrar em combate defendendo o Brasil.

Maria Quitéria nasceu no sítio do Licurizeiro, uma pequena propriedade no Arraial de São José das Itaporocas, na comarca de Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira, atual município de Feira de Santana no estado da Bahia. A data mais aceita pelos historiadores para o seu nascimento é o ano de 1792. Foi filha primogênita dos portugueses nascidos na colônia do Brasil Gonçalo Alves de Almeida e Quitéria Maria de Jesus.

Em 1822 quando eclodiram as lutas pela independência do Brasil Maria Quitéria, pediu autorização ao pai para se alistar, tendo este negado. Fugiu para a casa de sua meia-irmã, Teresa Maria, casada com José Cordeiro de Medeiros e, com o auxílio de ambos, cortou os cabelos e vestindo-se como um homem, dirigiu-se à vila de Cachoeira, onde se alistou sob o nome de Medeiros, no Regimento de Artilharia. Mas, duas semanas depois, acabou sendo descoberta pelo pai.

O Major José Antônio da Silva Castro, avô do poeta Castro Alves, que na época era comandante do Batalhão dos Voluntários do Príncipe, mais conhecido como "Batalhão dos Periquitos", se colocou do lado de Maria Quitéria que acabou sendo incorporada às tropas. Em seu uniforme foi acrescentado um saiote estilo escocesa.

A amazona seguiu com seu batalhão para defesa da Ilha da Maré em 29 de outubro de 1822. Integrando a Primeira Divisão de Direita, lutou ainda em Conceição, Pituba e Itapoã. Em fevereiro de 1823, participou com grande bravura do combate da Pituba, quando atacou uma trincheira inimiga, onde fez vários prisioneiros portugueses, segundo alguns autores apenas dois, escoltando-os, sozinha, ao acampamento.

Em 31 de março de 1823, alcançou o posto de Cadete, recebeu, por ordem do Conselho Interino da Província, uma espada e seus acessórios. Em 2 de julho de 1823, vestindo uniforme de cor azul, com saiote por ela elaborado, além de capacete com penacho, Maria Quitéria foi saudada e homenageada pela população em festa de Salvador. General Pedro Labatut, enviado por D. Pedro I para o comando geral da resistência, conferiu-lhe as honras de 1º Cadete. E no dia 20 de agosto foi recebida no Rio de Janeiro pelo próprio Imperador D. Pedro I, que a condecorou com a Imperial Ordem do Cruzeiro, no grau de Cavaleiro.

Mesmo vestindo roupas de soldado, muitos cronistas da época diziam que Maria Quitéria mantinha sua feminilidade e tinha uma beleza marcante. Casou-se com o lavrador Gabriel Pereira de Brito, com quem teve uma filha Luísa Maria da Conceição. Após a morte do marido mudou-se com a filha para Salvador, onde ficou parcialmente cega e faleceu no anonimato em 1853.

Por Decreto da Presidência da República, de 28 de junho de 1996, Maria Quitéria foi reconhecida como Patronesse do Quadro Complementar de Oficiais do Exército Brasileiro. A sua imagem encontra-se em todos os quartéis, estabelecimentos e repartições militares da Força, por determinação ministerial.

REFERÊNCIAS:

AMARAL, Braz do. História da Independência da Bahia. Salvador: Livraria Progresso Ed., 1957.

PALHA, Américo. Soldados e Marinheiros do Brasil. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército-Editora, 1962. p. 47-51.


SILVA, Joaquim Norberto de Souza. Brasileiras Célebres (ed. fac-similar). Brasília: Senado Federal, 1997.

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