domingo, 1 de março de 2015

QUANTO A CORRUPÇÃO

Por Douglas Barraqui

O debate em torno da corrupção está tão latente atualmente no Brasil que na qualidade de historiador e, acima de tudo cidadão, resolvi me pronunciar. Algumas pessoas, ditas honestas, integras, pseudo moralistas e demagogas, estão polarizando esse debate a um grau tão específico que acabam olhando somente para o próprio umbigo. Não vamos ser hipócritas ao ponto de achar que nessa história, na história desse país, a corrupção tem cor (vermelha, branca ou azul) ou mesmo direção (esquerda, centro e direita). No Brasil corrupção tem tons de cinza e é ambidestra.

Andam repetindo por ai, feito papagaio de piratas, a fala de uma mídia tendenciosa, capciosa, controladora e totalmente parcial, que “nunca se roubou tanto”. Não sejamos justiceiros e afoitos ao ponto de agirmos pela precipitação da emoção e da indignação. Nessa novela, tão antiga quanto às da Rede Globo, existem atores, os coadjuvantes, vilões, mocinhos e mocinhas e, aquilo que considero como mais importante, os bastidores. Precisamos entender os bastidores, caso contrário vai continuar “o sujo falando do mal lavado”.

A corrupção é algo histórico e estrutural

Lula, Dilma, Dirceu e outros tantos, toda corja corrupta desse país, se assim for provado por meio de processo legal - tenho dito - devem ir para a cadeia. Portanto, não estou aqui para falar por este ou por aquele partido. Estou aqui para dizer que corrupção é tão antiga no Brasil quando o conto-da-carochinha. Que esta, está tão impregnada em nossa sociedade que as pessoas, em um pisca de olhos, conseguem confundir o público com o privado. 
Primeira coisa a fazer é olhar para o passado, para a história do nosso país. A corrupção vem sido escrita errada e por linhas tortas desde a carta de Pero Vaz de Caminha, quando este encerra a carta pedindo ao rei D. Manuel de Portugal um emprego para um sobrinho, um “rapaz competente e cumpridor dos deveres” segundo o próprio Caminha. 
Durante o Segundo Reinado (1840-1889) Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, obteve junto ao governo a concessão e a licença para exploração de cabo submarino para rede de telégrafo que ligaria o Brasil a Europa. A efetiva ligação do Brasil à Europa pelo telégrafo ocorreu em 1874, com a instalação do cabo submarino ligando Pernambuco a Portugal, realizada pela empresa The Western Telegraph Company Limited, organizada pelo barão de Mauá que, assim que recebeu a concessão, tratou de transferi-la para capitalistas ingleses. Na inauguração desse cabo transatlântico, o governo imperial, em reconhecimento aos serviços prestados por Mauá, "fê-lo visconde, como o fizera barão ao inaugurar-se a primeira estrada de ferro". Ainda no Império, outro empresário brasileiro, que havia recebido a concessão para a rede de iluminação a gás da cidade do Rio de Janeiro, assim como fez Mauá, transferiu a concessão para uma companhia inglesa em troca de 120 mil libras.
Na República, proclamada em 1889, não havia de ser diferente. O chamado “voto do cabresto” foi a marca registrada do período. Os grandes latifundiários, conhecidos como coronéis, impunham por meio da intimidação, força das armas e da violência de seus jagunços, o voto desejado aos seus empregados e pessoas sobre sua influência.  A compra de voto por favores, mantimentos e mesmo por um par de sapatos era muito comum. No dia da votação o pobre coitado do indivíduo ganhava um pé, após a apuração das urnas, ganharia o outro pé, mas somente se o candidato do coronel vencer as eleições.
No pleito eleitoral de 1950 um caso pitoresco tornou-se muito famoso e entrou para o anedotário da política do país, foi a caixinha do Adhemar. Político de São Paulo, Adhemar de Barros era conhecido pelo lema “rouba, mas faz!”. A tal caixinha era um meio de arrecadar dinheiro em troca de favores. A caixinha envolvia políticos, empresários, bicheiros, entre outros que desejavam algum benefício político. Adhemar chegou a agadanhar com sua caixinha o montante de 2,4 milhões de dólares que ele guardava para gastos pessoais em sua própria casa em um cofre. O tal cofre de Adhemar de Barros foi roubado, em 18 de julho de 1969, pelos guerrilheiros da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR- Palmares) que na época tinha como cabeças o ex ministro do meio ambiente Carlos Minc e atual presidenta Dilma Rousseff.
Essas empreiteiras investigadas pela operação lava jato começaram os namoricos com o poder público ainda no governo JK. Na construção de Brasília as empreiteiras receberam favorecimentos e houve superfaturamento de muitas obras. A lua de meu foi na ditadura com as chamadas obras faraônicas como a ponte Rio Niteroi, a trans amazônica e a usina de Itaipu. A pouca vergonha só foi descoberta agora no governo PT, e com envolvimento de petistas, não poderia ser diferente.
A corrupção está impregnada
Portanto, meu caro amigo leitor, a corrupção no Brasil é histórica, estrutural, está impregnada na sociedade e na cultura de uma maneira quase que generalizada. Sejamos, portanto, justos; não é algo exclusivo do governo PT e não é monopólio de criminosos do colarinho branco.
Quando furamos uma fila; achamos uma carteira no banheiro pegamos o dinheiro e jogamos a carteira no lixo; quando cortamos um sinal vermelho; quando escapamos da blitz graças ao aviso do grupo de whatsapp, quando recebemos o troco a mais e ficamos quietos; sempre quando fazemos valer o velho jargão “jeitinho brasileiro” estamos sendo tão corruptos quanto Dirceu, Delúbio, Genoino e toda corja de mensaleiros.
A verdade é que somos incondicionalmente todos éticos, moralistas e probos quando algo não nos convém, a exemplo da alta da gasolina, alta dos impostos, a Petrobras e seus escândalos de corrupção. E quando nos convém somos pioneiros em esconder, surrupiar, manipular, escorchar, afanar, rapinar, escamotear e, também, a nos safar.
Repito: a corrupção não é algo exclusivo deste ou daquele partido. A corrupção faz morada em sua casa, no dia a dia, nas pequenas e grandes atitudes. Quando você, pai, promete um brinquedo, um celular, ou aquele jogo de vídeo game se a seu filho se ele passar de ano; parabéns, você está comprando o seu filho. Ele vai crescer acreditando em um mundo onde se pode conquistar as coisas em troca de favorecimentos, proventos e privilégios; e a política será a parte mais trágica desse enredo.
Devemos começar pelas nossas crianças
A “negociata é um bom negocio para o qual não me convidaram”, disse uma vez o Barão de Itararé. Ele estava fazendo referência à diluição da ética no sentido aristotélico do termo corrupção. Todos querem mudança, todos aparentam ter raiva da corrupção, apontam para este e aquele partido e se fazem de justiceiros afoitos.
Então, tenhamos a convicção de que, se queremos mudar a história de nosso país, teremos que começar pelas nossas crianças e dentro de nossos lares e, em extensão, nas escolas. É fundamental ensinar as nossas crianças, desde a tenra idade, a linha tênue e a sutil diferença entre mentir e dizer a verdade, entre a honestidade e a desonestidade, este é um princípio.

Um Brasil sem corrupção depende, inexoravelmente, da honestidade de seus cidadãos. Eu tenho um sonho, quero um dia poder reescrever o velho axioma de Lima Barreto: “O Brasil não tem povo, tem público”. 

Um comentário:

Anônimo disse...

Cara essa foi a fala mais coerente e a mais pura realidade!