Introdução
Há partir de minhas esperiências em sala de aula e após uma boa
garimpagem de livros e textos abordando o uso de jornais na sala de aula dedico
esse artigo em especial para abordar como os jornais podem ser ferramentas
úteis para o professor de história na sua prática de ensino. Fazendo da sua
aula algo mais lúdico e apreciado pelos alunos.
Foi a partir da Escola dos Annales, no início do século XX, que os
historiadores contemporâneos passaram a se mostrar acessíveis as novas fontes
para se fazer história. [1] Essa abertura significativa permitiu que novas
fontes e linguagens viessem também a agregar e enriquecer o ensino de história,
tornando-o mais dinâmico e, por vezes, menos sistematizado em datas, eventos,
heróis ou personagens.
Dentre essas novas linguagens e possibilidades podemos elencar a
televisão, a internet, as revistas, os jornais e as fotografias. Alguns desses
elementos só foram surgir a partir do século XX e, em um curto espaço de tempo,
causaram impacto no modo e na velocidade de se produzir e reproduzir
conhecimento e informação.
Este artigo dará atenção especial ao jornal, especificamente em
como ele pode ser usado nas aulas de história. Trata-se de um artigo destinado
à uma primeira análise, o intuito é colocar a aplicabilidade do jornal na sala
de aula para o ensino de história: Se é realmente possível aprender história a
partir de uma ferramenta que é fruto do presente, que carrega tendências e
construções, pontos de vista, opiniões e visões de mundo diferentes em muitos
dos casos. Por fim faremos uma proposta de trabalho, um plano de aula, com o
uso de jornais em sala de aula na disciplina de história.
O JORNAL NAS MÃOS DO
EDUCADOR: UMA METODOLOGIA
O jornal é um meio de comunicação e divulgação dos fatos. Através
de suas noticias, charges, artigos, anúncios, imagens, entre outros, podemos
ter um ponto de partida para uma visão não só do presente, mas, também do
passado. Jornais carregam em seu conteúdo informações do presente, que tão logo
serão acontecimentos e fatos do passado. Ao narrar um fato, os jornalistas
fazem uma singular contribuição para os historiadores, pois seu trabalho,
quando convertido em documentos, se torna uma fonte histórica única para a
compreensão do passado histórico.
O professor também pode usar os jornais em suas aulas? Sim, mas,
deve saber usar essa ferramenta, de modo que seu trabalho não seja diminuído em
mera leitura e narrativa de um fato segundo a visão de um outro profissional.
Para tanto destacamos alguns pontos que podem ajudar a orientar
metodologicamente o educador que queira trabalhar com jornais em suas aulas.
O primeiro passo é escolher um eixo temático, de tal modo, que
permita a relação entre diferentes processos envolvidos nas mudanças
históricas. O professor deve estar ciente que ao fazer isso, também deve
adequar sua escolha ao Projeto Político Pedagógico da escola e, bem como, que
esse eixo temático esteja dentro do conteúdo programático da disciplina de
história para o nível ou série em que pretende trabalhar. Um segundo ponto é
saber o conteúdo a ser trabalhado. Os jornais trazem em suas páginas valores e
conteúdos bem diversificados, o que inclui formas e diferentes maneiras de
interpretar um mesmo fato. Logo, o professor tem que estar ciente de que os
textos jornalísticos podem ser, além de ferramentas de ensino, mediadores entre
a escola e o mundo externo ajudando os alunos a relacionar seus conhecimentos e
experiências pessoais com as notícias. Um terceiro ponto, tão importante quanto
o primeiro e o segundo, é explicar ao aluno alguns elementos básicos que
compõem os jornais, como as diferenças entre tipos de textos – reportagens,
artigos, comentários, crônicas, entre outros. O aluno terá,
também, que saber analisar anúncios, legendas, tiras, quadrinhos,
gráficos, mapas e fotografias. Sem esse conhecimento prévio a atividade pode
perder muitas abordagens e possibilidades. Eis então, muito além da
possibilidade, a necessidade de um trabalho em parceria com a disciplina de
português, matemática, geografia, entre outros, podendo tornar o trabalho
interdisciplinar.
Os jornais, portanto, podem levar o aluno a formar um novo
conhecimento a ampliar seu pensamento crítico e, consequentemente, sua visão de
mundo. E algo que vai além, as páginas de um jornal podem formar um cidadão
capaz para compreender a sociedade de forma mais crítica. Esse acúmulo de
conhecimento pode partir do eixo temático que é observado, e dentro deste, do
conteúdo que é lido.
O JORNAL NAS MÃOS DO
ALUNO: COMO SE LÊ
O jornal carrega em suas páginas história, mas esta está truncada
de tal maneira que o professor terá que ser capaz de ensinar o aluno a ordenar
e compreender aquele conteúdo; ensinar a relacionar o passado com o presente,
buscando as origens dos fatos, e a refletir sobre as consequências para o
presente e futuro. Assim, a utilização dos jornais, particularmente os antigos,
para o ensino de história, precisa levar em consideração: contextos sociais,
conjunturas políticas e econômicas em que foram produzidas.
Um primeiro passo é não aceitar o texto jornalístico como uma
verdade inalienável, mas sim olhar para o texto como um testemunho histórico.
Testemunho este que carrega em seu conteúdo subjetividade, interpretação,
ideologia e visões de mundo. A partir de então, comparar diversos jornais para
ajudar os alunos a perceberem estas coisas, é um passo impar para o professor
que deseja um trabalho de qualidade. Por exemplo: ao pesquisar uma greve no
início do século XX – veja que o eixo temático deste exemplo são as greves do
início do século XX - em diferentes jornais, podemos encontrar um que seja de
orientação comunista ou anarquista – quanto a orientação do jornal, comunista
ou anarquista, está relacionado com o conteúdo do que será lido. Em seu
conteúdo podemos encontrar um texto carregado de ideologia, reivindicações, e
com uma imagem negativa dos empresários. Já em um jornal aliado aos interesses
patronais – outro exemplo de conteúdo – podemos verificar uma visão diferente;
rotulando grevistas como arruaceiros, que deveriam ser punidos com o rigor da
lei. Este exemplo mostra que os jornais trazem visões maniqueístas a respeito
dos fatos históricos.
Assim ao utilizar os jornais como fontes de pesquisa em sala de
aula, o professor terá uma responsabilidade a mais, que muito além de situar a
produção jornalística em seu tempo e espaço, é ensinar o aluno ler esse jornal.
SUGESTÃO PARA OS
PROFESSORES
A partir do que já foi explanado podemos lançar algumas sugestões.
Estas são flexíveis e possíveis de serem adequadas, da melhor maneira possível,
as necessidades e dificuldades que o professor terá em sala de aula.
Sugestão 01
Eixo temático: a transição
do trabalho escravo para o assalariado, início século XX
Essa temática é um ponto chave para auxiliar o aluno a ter uma
compreensão ampla das alterações econômicas e sociais do Brasil no início do
século XX. De fato, a transição do trabalho escravo para o assalariado não foi
um processo simples. Muitos dos recém libertos não queriam mais o trabalho
árduo das fazendas e buscavam melhores opções de sobrevivência e moradia na
cidades. Essa mudança culminou em problemas sociais e urbanos imediatos:
insuficiência de moradias, inchaço de cortiços e, posteriormente, a opulência
das favelas. O espaço no campo deixado pelos recém libertos foi ocupado pelos
imigrantes. Claro que esse processo não foi algo uniforme para todas as
regiões. Cada região teve sua característica distinta, suas contradições e
tensões particulares, e isso foi registrado pelos jornais
da época. Sugerimos que sejam trabalhados os jornais entre 1888 e
1910, pelo fato de que 1888 é o ano da abolição da escravatura e a década
seguinte ter sido a que concentrou a maior parte dos impactos desta transição.
O nível de escolaridade em que esse trabalho é recomendado é o
atual sétimo ano (antiga 6ª série). Pois, além de fazer parte do conteúdo
programático deste nível, nesta faixa etária, eles são capazes de compreender
os impactos das mudanças no cotidiano e de se familiarizar com a leitura e
pesquisa em jornais. Se
preferir o professor também pode trabalhar com essa sugestão no 9º ano (antiga
8ª série), pois, a transição do trabalho escravo para assalariado, com ênfase
na chegada dos imigrantes, faz parte do conteúdo programático do primeiro bimestre.
Materiais e ferramentas
úteis:
Jornais atuais, jornais de época (fim do século XIX e início do
século XX) [2], cartolinas e/ou papel cenário, canetas hidrográficas, cola,
tesoura sem ponta, réguas entre outros materiais que podem se tornar úteis ao
longo da confecção do trabalho.
Como os jornais de época podem ser adquiridos através de
microfilmagens e/ou copias sugiro que os microfilmados sejam apresentados à
leitura com todos os alunos com base em apresentação de slides em data show.
Caso seja copias sugiro que cada grupo de alunos possa ter uma ou mais copias
as sua disposição.
Duração da atividade:
A duração da atividade é muito relativa, podendo variar conforme a
turma e as condições específicas de cada escola, isso inclui as necessidades de
cada calendário escolar. A sugestão, com base na experiência como docente, que
esta
atividade não exceda o número de dez aulas. Aulas de 50 minutos
intercaladas por algumas semanas.
Primeira parte da
atividade:
É fundamental que o professor saiba que este tipo de atividade
está fadado a um trabalho extraclasse, pois, antes mesmo do início da
atividade, ele precisará ir a campo para descobrir quais jornais e em que
locais eles estão disponíveis. Igualmente é necessário que os estudantes já
tenham entrado em contato, em sala de aula, com o conteúdo que será pesquisado.
Recomendo uma aula prévia para a introdução do conteúdo.
Uma segunda aula poderá ser usada para explanação dos objetivos e
direcionamento das atividades para os alunos: o cronograma de atividades, divisão
da sala em grupos de estudo e especificar os jornais a serem pesquisados bem
como o período e o local – se possível em sua cidade coordenar junto ao local
onde estes jornais estão disponibilizados (arquivos, bibliotecas ou acervos dos
próprios jornais) uma visitação dos alunos.
Quanto a divisão dos grupos de estudo isso depende da quantidade
de alunos da sala e mais ainda do período a ser estudado. Por exemplo, o
professor pode dividir a sala em seis grupos, cada grupo ficando responsável
por publicações de dois anos, cumprindo o período de 1888 a 1910.
É necessário junto aos alunos estabelecer uma estratégia que
facilitará e dinamizará a pesquisa. Por exemplo: definir duas publicações por
semestre ou trimestre, que fique a cargo e escolha dos alunos e professor.
Outra estratégia é delimitar, ainda que de forma aleatória, um dia da semana a
ser pesquisado – recomendo as segundas feiras, pois costuma trazer nas
publicações os fatos marcantes do fim de semana; ou ainda dos domingos que
muitos jornais trazem um resumo da semana.
Este trabalho, que fique a cargo do professor e dos alunos, pode
resultar na confecção de um painel, infográficos, trabalhos escritos, redações,
resumos entre outras modalidades. Tudo que foi proposto acima vai necessitar de
um tempo médio de duas aulas.
Segunda parte da
atividade:
Está relacionada com a pesquisa dos jornais, ou seja, a ida a
campo se for o caso. Ali serão feitas a seleção dos jornais e os alunos serão
colocados em contato direto com fontes históricas e em até certo ponto com o
trabalho do historiador no levantamento das fontes. Tempo estipulado de uma a
duas aulas.
Terceira parte:
Em sala de aula, com o auxílio do professor, os grupos deverão
organizar os jornais interpretar os conteúdos a partir da leitura das reportagens
que estão direta ou indiretamente relacionadas com a transição do trabalho
escravo para o assalariado nos diferentes jornais. Tempo estipulado duas aulas.
Quarta parte:
Cada grupo deverá apresentar suas conclusões, comparando-as com as
conclusões de seus colegas. Para isso usaram a apresentação das reportagens.
Tempo estipulado uma aula.
Quinta parte:
Cada grupo devera confeccionar painéis, cartazes, textos
informativos, infogramas entre outras possibilidades, fica aqui a cargo do
professor e do aluno escolherem em conjunto qual melhor meio de produzir o
conhecimento produzido no trabalho. Recomendo que a produção de cada grupo seja
ordenado em ordem cronológica para facilitar um maior entendimento e
visualização dos acontecimentos. Tempo estipulado uma a duas aulas.
Objetivos da atividade:
Os objetivos do trabalho tem por caráter simples e direto, porém
de uma riqueza de conteúdo e de compreensão impar:
- Compreender que o processo de substituição do trabalho escravo pelo assalariado não foi uniforme e tranquilo.
- Mostrar que essa transição provocou impactos sociais, culturais e econômicos, incluindo a expansão urbana e, depois, industrial.
- Ensinar o aluno a pesquisar informações históricas em jornais, produtos culturais da época, documentos históricos que podem fornecer dados fundamentais para a compreensão das transformações do passado.
- Relacionar, junto com os alunos, como e quais foram os impactos das forças e dos acontecimentos do passado histórico do Brasil para o presente e o cotidiano desses mesmos alunos.
Sugestão 02
Eixo temático: Cidades:
antigos, novos e remanescentes problemas
A cidade é uma realização muito antiga. Da Ur dos zigurates à
Tebas, de Roma a Dubai, as cidades deixaram a sua marca histórica sobre a forma
de tijolos, pedras, ferro e concreto erguidos pelas civilizações. Como aponta
Sandra Passavento, na obra O Imaginário da Cidade: as cidades possuem e
possuíram processos econômicos, sociais, culturais e políticos muito claros que
se delineiam, transformando as condições de existência, características
populacionais, transformações do espaço, configuração e crescimento.
Assim quando olhamos para as cidades do passado e do presente
encontramos antigos, novos e remanescentes marcas de sua existência, por isso a
proposta desse eixo temático: fazer com que os alunos percebam que a cidade
onde eles vivem pode ter antigos e novos problemas, pode ter inovado e ou
superado.
Sugerimos que os alunos façam leituras dos jornais atuais e de sua
cidade. Os conteúdos devem estar relacionados com os acontecimentos presentes
do lugar onde eles vivem.
O nível de escolaridade em que esse trabalho é recomendado é o
atual sétimo ano (antiga 6ª série). Pois, além de fazer parte do conteúdo
programático deste nível – no segundo bimestre se estuda o renascimento urbano
na Europa, que faz parte do processo de crise do feudalismo, assim, como um
exercício prático, as cidades medievais podem ser comparadas com as cidades
atuais –, nesta faixa etária, eles são capazes de compreender os impactos das
mudanças no cotidiano e de se familiarizar com a leitura e pesquisa em jornais. Se preferir o
professor também pode trabalhar com essa sugestão no 8º ano (antiga 7ª série),
pois, dentro do conteúdo programático de Revolução Industrial, podem igualmente
ser estudado e comparado os processos de urbanização, bem como as
características das cidades da Idade Moderna com as cidades de hoje.
Materiais e ferramentas
úteis:
Jornais atuais, da cidade em que vivem os alunos [4], cartolinas
e/ou papel cenário, canetas hidrográficas, cola, tesoura sem ponta, réguas
entre outros materiais que podem se tornar úteis ao longo da confecção do
trabalho.
Como texto complementar, a fim de comparação, o professor pode
providenciar relatos de cidades antigas dispostos em livros como o Ocidente Renasce,
de Peter Clark. O autor, a partir de fontes históricas, faz uma detalhada
descrição das cidades medievais (ver anexo).
Duração da atividade:
A duração da atividade é muito relativa, podendo variar conforme a
turma e as condições específicas de cada escola, isso inclui as necessidades de
cada calendário escolar. Sufgerimos, com base na experiência como docente, que
esta atividade não exceda o número de oito aulas. Aulas de 50 minutos
intercaladas por algumas semanas.
Primeira parte da
atividade:
É necessário que os alunos já tenham entrado em contato, em sala
de aula, com o conteúdo que será pesquisado. Recomendo uma aula prévia para a
introdução do conteúdo.
Uma segunda aula poderá ser usada para explanação dos objetivos e
direcionamento das atividades para os alunos: o cronograma de atividades,
divisão da sala em grupos de estudo e especificar os jornais a serem
pesquisados bem como o período e o local – Para o caso da Grande Vitória, há
três jornais de grande circulação: A Gazeta, A Tribuna e Notícia Agora.
Nossa sugestão é que a sala seja dividida em três grandes grupos e
que cada grupo fique a cargo de um jornal. Entre os integrantes do grupo serão
divididos os conteúdos a serem lidos dentro das páginas dos jornais.
Para apresentação da proposta de trabalho e introdução do conteúdo
sobre cidades. Espera-se que duas aulas sejam suficientes. É necessário
salientar que a leitura dos jornais, bem como a sua coleta, será de
responsabilidade do aluno como uma atividade extra classe.
Segunda parte da atividade:
Após a divisão dos grupos, um ou mais integrantes do grupo ficará
a cargo de um caderno específico do jornal. Os jornais, como veículos de
comunicação, são divididos em cadernos que vão desde esportes, passando por
política, cultura, policial, economia, meio ambiente entre outros; alguns
desses cadernos trazem em seu texto importantes contribuições no que se referem
às características, problemas, soluções, e avanços da cidade em que o aluno
vive.
Para essa segunda parte da atividade serão necessários mais duas
aulas.
Terceira parte da
atividade:
Após coletar as informações dos jornais o aluno deverá ser capaz
de confrontar, comparar e estabelecer relações com a cidade medieval descrita
no texto de Peter Clark (ver anexo).
Para essa atividade espera-se que em forma de debate, em sala de
aula com o auxílio do professor, gaste-se uma aula.
Quarta parte atividade:
Nesta parte os alunos farão levantamentos de imagens e reportagens
a cerca de suas cidades montando murais e/ou cartazes fruto do conhecimento adquirido
após confrontar as reportagens com o texto de Peter Clark.
Para essa atividade espera-se que sejam necessárias umas três
aulas.
Objetivos da atividade:
Este trabalho possui um objetivo singular no que expressa a
compreensão do passado e do presente do mundo das cidades. Espera-se que o
aluno a partir do conhecimento antigos, novos e remanescentes problemas das
cidades seja capaz de:
- Compreender que o processo evolutivo das cidades carregam novos e antigos problemas.
- Mostrar que as cidades, ainda nos dias de hoje, possuem uma gama de problemáticas sociais, culturais, políticas, estruturais, ecológicas e econômicos.
- Ensinar ao aluno que a pesquisar informações históricas em jornais, produtos culturais da época, documentos históricos que podem fornecer dados fundamentais para a compreensão das transformações do passado e do presente.
CONCLUSÃO
A partir do que foi exposto e apresentado como proposta de ensino
com uso de jornais na aula de história podemos perceber que os jornais são
ferramentas fundamentais e indispensáveis para a produção e reprodução do
conhecimento histórico.
Jornais antigos ou jornais de hoje de manha, suas notícias são
reflexo de seu tempo, seu texto são fruto dos acontecimentos de um momento
histórico e que muito pode nos ajudar a compreender o passado e o presente.
ANEXO:
"As cidades medievais eram superlotadas, barulhentas, escuras
e tinham cheiro de estábulo. Só as ruas mais largas eram pavimentadas; as
outras eram sujas, com esterco e lama. Na maioria are apenas vielas estreitas
onde não se podia passar com duas mulas sem derrubar os quiosques dos vendeiros
ou os toldos e tabuletas dos que anunciavam seus serviços.
De dia, as ruas ficavam apinhadas de gente: ferreiros, sapateiros,
vendedores de tecido, açougueiros, dentistas... Bastava o comerciante abrir as
venezianas de sua casa para transformá-la numa banca de mercadoria. Ficavam
também cheias de animais: cães, mulas, porcos, cavalos, galinhas... À noite,
eram silenciosas e muito escuras: não havia iluminação pública. Era comum toque
de recolher decretado pelas municipalidades, como prevenção contra assaltos e
assassinatos. Nas cidades medievais ocorriam castrações, enforcamentos e
amputações, e a população aglomerava para assistir aos espetáculos de castigo.
Muitas vezes os criminosos eram arrastados pelas ruas numa carroça e torturados
antes da execução pública, sob o burburinho e os gritos das multidões.
Eram frequentes, também, os incêndios. As casa, de três ou quatro
andares, eram construídas de materiais inflamáveis: paredes de madeira e galhos
e tetos de palha ou junco, que ardiam em poucos minutos. Se por um lado os
incêndios geravam prejuízos para os moradores, por outro era benéfico, pois
amenizava as condições de sujeira que provocavam as doenças.
Apesar de existirem hábitos de higiene pessoal, como o costume de
freqüentar os banhos públicos, preservados desde a época de Roma, só os ricos
tinham as suas próprias latrinas e fossas. A maioria da população jogava seus
excrementos em esgotos ou em pilhas de detritos a céu aberto, tornando as
vielas imundas, o mau cheiro insuportável e as águas de abastecimento da cidade
poluídas. A canalização da água não era recomendada pelas oficialidades, que
temiam a desvantagem de tornar as cidades vulneráveis a sabotagens de exércitos
inimigos.
Só em 1236, Londres começou a trazer água para a cidade em aquedutos. Uma das
soluções adotadas para reduzir a sujeira foi a pavimentação das ruas. Paris, em
1185, foi à primeira cidade a ter suas ruas calçadas com pedras. Mais ainda do
que os excrementos humanos e a água suja, a maior maldição das cidades
medievais era a pulga, o parasita do rato negro. As epidemias eram frequentes
e, de 1348 a 1349, as pulgas espalharam a peste bubônica, conhecida como a
peste negra, provocando milhões de mortes.” [5]
NOTAS:
1.
EVEL, Jaques. A Invenção da
Sociedade. Lisboa. Difel, 1990. p. 16-17.
2.
Esses jornais podem ser conseguidos, para o caso do Espírito
Santo, junto ao Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, que possui um
acervo microfilmados de 1534 a 1822, documentos originais 1768 a 2006.
3.
Essa sugestão partiu de minha experiência, atuando como docente em escolas de ensino fundamental da rede particular
de ensino, compartilhada e enriquecida com idéias e sugestões de outros colegas de trabalho.
4.
Para o caso da Grande Vitória como um todo temos três jornais de
grande circulação. A Gazeta, A Tribuna e Notícia Agora.
5.
CLARK, Peter. O Ocidente
renasce. In: Evolução das cidades. Rio de Janeiro, Abril Livros/ Editora de
Time-Life, 1993, p.98-102.
REFERÊNCIAS
ABUD, K. M.; SILVA, A. C. M.; ALVES, R. C. Ensino de História. São Paulo: Cengage Learning, 2010 (Coleção
Ideias em ação).
EVEL, Jaques. A Invenção da
Sociedade. Lisboa. Difel, 1990
ABUD, K. M.; SILVA, A. C. M.; ALVES, R. C. Ensino de História. São Paulo: Cengage Learning, 2010 (Coleção
Ideias em ação).
PESAVENTO, Sandra J. O
imaginário da cidade. Visões literárias do urbano. Porto Alegre: Editora da
UFRGS, 2002. 400p.
CLARK, Peter. O Ocidente
renasce. In: Evolução das cidades. Rio de Janeiro, Abril Livros/ Editora de
Time-Life, 1993.
Um comentário:
Amei este artigo prof. Douglas... estou recomendando para professores amigos meus.
Clarissiane Goulart
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