sábado, 26 de fevereiro de 2011

A História do carnaval: "domesticaram Dionísio"

Por Douglas Barraqui


Entrudo Ruado Ouvidor 1884



Bem, como está próximo um dos festejos mais populares das terras tupiniquins, o carnaval, resolvi por fazer uma releitura e republicar um antigo artigo meu. Em A História do Carnaval: domesticaram Dionísio, faço um breve tracejo da história do carnaval com o ar da graça e com a mesma irreverência de um folião atrás do trio. Narro aqui os fatos de forma descontraída e desinibida sem muitas amarras formais, mas é claro, sem romper com meu relacionamento com a ciência, logo me respaldo de outros autores, e se eles erraram em algum momento o problema é deles. 



“Ah! Classe média! Nos anos cinqüenta ela foi se aproximando de mansinho, temerosa, espichando um olhar comprido para os ensaios dos crioulos. Nos anos sessenta, já mais desinibida, ensaiou seus primeiros passos: no princípio em torno das mesas, depois no meio da quadra (por esses tempos começou a chegar também o pessoal do wonderful, marcelous, fantastic). Nos anos setenta, ela (a classe média) está entrando de sola, consumando a invasão, dando palpites, criando suas alas. Possivelmente nos anos oitenta, se os crioulos não tomarem cuidado, domingo de carnaval vão ficar sentados nas arquibancadas enquanto a classe média faz suas evoluções pela Via Dutra. Sim, porque até lá a Avenida já ficou pequena.” (“Revolução Carnavalesca da Classe Média”, descrita por Novais, na crônica, Gloria às Pastoras e à Bateria, do livro O Caos Nosso de Cada Dia.)

E realmente, sem nenhuma bola de cristal, Carlos Eduardo Novaes, em uma de suas crônicas do livro O Caos Nosso de Cada Dia, escrito ainda na década de setenta, acertou na mosca: O carnaval brasileiro, a festa popular de rua mais famosa do mundo, ou melhor dizendo, a festa de rua mais pop do mundo, foi tomada de assalto pela classe média e hoje se o crioulo precursor do carnaval quiser apreciar o festejo vai ficar espremido nas arquibancadas e pagar bem caro por isso. 

Errou feio quem achou que o carnaval é genuinamente “made in brazil”. Embora não há como comprovar empiricamente o nascimento do carnaval, sabemos que a 10.000 a.C. homens, mulheres, crianças, (sogras, cachorros, gatos e papagaios) se reuniam no verão de corpos pintados, caras mascaradas, pulando e cantando para espantar os demônios da má colheita. Poderia ser a origem do carnaval? Quem sabe?!.

Outros ainda buscam o carnaval nas áridas terras dos faraós. No Egito homens celebravam cultas a deusa Isis e ao Touro Apis, celebrações que alguns pesquisadores denominam de “cultos agrários” (e penso que não seria nada fácil arrastar um carro alegórico de três toneladas em um calor escaldante de quarenta graus no meio do deserto).

Os principais cultos agrários da história foram:
· No Egito, festa da deusa Ísis e do boi Apís;
· Na Pérsia, festas da deusa da Fecundidade Naita e de Mira, deus dos Pastores;
· Na Fenícia, Festa da deusa da Fecundidade Astarteia;
· Em Creta, festa da Grande Mãe, deusa protetora da terra e da fertilidade, representada por uma pomba;
· Na Babilônia, as Sáceas, festas que duravam cinco dias e eram marcadas pela licença sexual e pela inversão dos papéis entre servos e senhores, e pela eleição de um escravo rei que era sacrificado no final da celebração;

E quem sabe não tenha sido aqueles filósofos (pederastas gregos) os inventores do carnaval? O fato é que foi Pisistrato, governador e tirano de Atenas, (561 – 556 / 546 – 527 a.C.) que teria sido responsável por tornar oficial o Culto a Dionísio, deus do Vinho da alegria (e algo mais). Incentivou o culto entre camponeses e lavradores (os mesmos adentrarem no mundo do alcoolismo, aqui surge, portanto os primeiros alcoólatras sendo estes adoradores de Dionísio). Procissões dionisíadas, pelo qual embarcações com rodas (os primeiros carros anfíbios da história), chamados de carrum navalis, levavam a imagem de Dionísio, simbolizando sua chegada em Atenas pelo mar. Os carros carregavam homens e mulheres nús em seu interior, e eram seguidos por uma multidão frenética de mascarados alegres, que por sua vez puxavam um touro que posteriormente seria sacrificado. O fim da procissão era no templo de Lenaion, onde se consumava a hierogamia: o casamento do deus com a Polis (e que festão).

Os louvores a Dionísio se arrastavam de dezembro a março, nas seguintes celebrações: as Lenias, as Dionísias urbanas também chamadas de grandes Dionísias, as Antestérias e as Dionísias Rurais (e só não se arrastava mais porque já estavam todos em coma alcoólico). O culto a Dionísio já existia a uns 3 ou 3,5 mil anos atrás, significava uma oportunidade às mulheres para escaparem da vigilância dos pais, dos irmãos (e é claro do maridão, veja que o dom das mulheres em darem suas escapadelas já é bem antigo do que se pensava). Em bandos, com os rostos pintados de pó e com vestes transformadas e literalmente rasgadas, elas caiam na “folia” em meio a danças e gritos de júbilo em um estado de frenesia, eram chamadas de coribantes. Os homens (descontentes em terem que ficar em casa cuidando dos filhos) logo deram um jeito de aderir ao levante feminino, em uma bebedeira coletiva (a uma espécie de salve-se quem puder pansexualista).

Então, quando a hegemonia de Atenas começa a ser carcomida pelas constantes guerras civis, isso a partir do século IV a.C. já se pode sentir (literalmente) a penetração do culto a Dionísio dentro de Roma, (os romanos, descendentes daqueles meninos que mamaram na teta da loba, achariam muito bacana toda aquela bagunça, e deram o nome de bacanais). Em terras romanas Dionísio era mais conhecido como Baco e suas sacerdotisas eram chamadas de Bacchantes

Em meio a gritarias e escândalos uma multidão demasiadamente enlouquecida dançava, pulava, tomavam as ruas, causando uma verdadeira desordem ao ponto de o Senado Romano proibir os Bacanais em 186 a.C. (e isso não foi nada bacana por parte do Senado). Estes festejos também eram teatralizações coletivas, uma maneira irreverente de criticar os governantes corruptos (aqui sim se explica o porquê de terem sido proibidos). Em uma inversão de papéis o miserável vestia-se de rei, o rico de pobretão e o libertino aparece como guia religioso. Os tidos como machos viris se vestiam de mulher e a rameira local pousava como a mais pura donzela (não mudou muito hoje: o carnaval está cheio de homens que se vestem de mulheres, mulheres vestindo-se de homens, uns acabam gostando tanto das fantasias que resolvem ficar o ano todo com elas e tem ainda aqueles que nem precisam se fantasiar).

Ainda fundamentada no ascetismo, lá dos tempos dos senhores feudais, a civilização judaica e os Católicos condenam e renegam o carnaval (se pudessem queimar todos os foliões na fogueira da Santa Inquisição, fariam de bom gosto e as escolas de samba não teriam um passista se quer), todavia, no século XV, o Papa Paulo II, permitiu a realização de bailes de máscaras em frente a seu palácio, na Via Lata. Como a Igreja não tolerava qualquer tipo de manifestações sexuais e bebedeiras, o carnaval adquiriu nova forma: parecia um desfile de pessoas fantasiadas, tudo cercado por um ar de deboche e morbidez (os nobres esbanjando o luxo exacerbado de suas fantasias, realizavam bolões entre si para saberem quem é o nobre que está por de trás de cada máscara: seria o Duque de Sforza? Seria a Condessa de Barral? Ou Marques de Pombal?). O carnaval se limitava, portanto, a celebrações ordeiras, de caráter artístico, com bailes e desfiles alegóricos.

Friedrich Nietzsche (1844 – 1900 depois de J.C.), filósofo alemão, na obra O Nascimento da Tragédia, fez um excelentíssimo estudo a respeito de Dionísio e Apolo. Segundo Nietzsche a arte se torna a única justificativa plausível para o sofrimento do homem, por isso ele combate a moral cristã que lhe parece fruto do ressentimento de frustrados (foi trágico para Nietzsche, que provavelmente foi visto pela igreja como um ateu de marca maior).

Jose Guilherme Merquior, filósofo, sociólogo e escritor (ele também escrevia), diz em sua obra, Saudades do Carnaval

“É fácil calcular a intensidade dos inconvenientes dessa atitude anti-natural quando a civilização racionalizada da Idade Moderna suprimiu justamente os pulmões carnavalescos da cultura. O Cristianismo da sociedade industrial, a religiosidade do tempo de Nietzsche não só havia negado e sufocado toda válvula orgiástica - toda composição sistemática com erros e carisma - como virara franca ideologia da sublimação ressurgida das massas aburguesadas , era nesse contexto, que a moral da renúncia significa repressividade absoluta, e repressividade doentia, “indecorosa” para usar a expressão do anti-cristo. O ascetismo vitoriano, a serviço da massificação repressiva, da 'redução à mediocridade', de todas as dimensões morais do homem eis o que levou Nietzsche a um desmascaramento indignado do cristianismo”. 

(Então você diz: “não entendi nada”. Eu digo: “eu também li três ou quatro vezes para entender”, mas em fim, Jose apenas está dizendo que a sociedade cristã, moderna e industrial censurou o Carnaval de forma repressiva, trocando em miúdos: chega de bacanais e orgias. E foi o que fez Nietzsche ficar indignado com o cristianismo provavelmente ele gostava muito de bacanais e orgias).

No Brasil o carnaval chega em 1723 (como sempre as coisas chegam por aqui com atraso), recebendo o nome de Entrudo, isso por influência dos lusitanos das Ilhas de Madeira, Açoures e Cabo Verde. Constituíam-se de destrambelhadas correrias, mela-mela de farinha, água com limão (isso parece limonada) que evoluiu depois para batalhas de confetes e serpentinas (não seria um aniversário de criança?).

O tal Entrudo, que vem do latim Intruitus, faz referência às solenidades litúrgicas da Quaresma. Um primogênito, herdeiro das bacantes e das dionísias, podia ser um intruso em terras tupiniquins, mas os colonos imediatamente aderiram ao festejo, como um momento imperdível e esta se tornou a festa mais popular do Brasil (Pode perguntar no exterior: you know Brasil? “Yes football, Carnival”).

Os primeiros blocos de carnaval e os famosos corsos só vão surgir no século XIX. Como (instituto educacional) escola de Samba somente em 1928 (depois de J.C.), com a Deixa Eu Falar, no Bairro do Estácio. O jornal Mundo Esportivo promovia na Praça Onze, em 1930, o primeiro desfile de escolas de samba (que com a intervenção da polícia acabou em um desfile de pancadaria). "E a Deixa Eu Falar falou, mas não por muito tempo". No desfile de 1932 a escola montou um enredo a fim de homenagear o movimento político que levara Getúlio ao poder (aquela dita Revolução de 1930), o enredo chamava-se Revolução de Outubro (e a polícia, novamente ela, especialista em história das revoluções, desconfiou que a que a história se referia a outra revolução, uma ocorrida em 1917 em um país “onde o Rei Momo atendia pelo nome de Czar), e bem disse Novaes: “e não deixaram mais a Deixa Eu Falar falar”. O carnaval, afinal é fundamental que seja lembrado, teve seu próprio mártir, seu apelido Caqueira, compositor da Lira e Amor, morreu enforcado em cima do caminhão da escola em 1947 (quase um Tiradentes). 
O carnaval cresceu, de forma tão vertiginosa, que acabou se tornando um produto de nossa cota de exportação, surgindo até os carnavais fora de época às famosas micaretas: em Fortaleza é chamado de Fortal; em Natal, o Carnatal (se papai Noel souber disso?!); em João Pessoa, a Micaroa; Campina Grande, Micarande; em Maceió, Carnaval Fest; em Caruaru, o Micarú, todos com a presença indispensável do trio elétrico (que na verdade é um só). “E ninguém ficará surpreso se amanhã, na relação das vinte maiores empresas brasileiras, aparecer o nome da Mangueira”. 
Conclusão


Não sou inimigo do Carnaval, um dos festejos mais populares do Brasil, mas faço uma crítica na forma e de como se comemora. Por de trás das fantasias do carnaval está um trio de absurdos, uma escola de ignorância é uma marcha de corruptos.

O primeiro erro é acreditar que o carnaval é uma festa genuinamente “made in Brasil”. Embora não há como comprovar empiricamente o nascimento do carnaval, sabemos que a 10.000 a.C. homens, mulheres, crianças, se reuniam no verão de corpos pintados, caras mascaradas, pulando e cantando para espantar os demônios da má colheita. Festejos parecidos e peculiares foram comemorados entre egípcios, gregos e romanos. Mas, o carnaval tal como conhecemos tem sua origem na Europa no Período Vitoriano e se espalhou pelo mundo afora metamorfoseando a outras culturas. No Brasil quando aqui chegou por influência dos lusitanos das Ilhas de Madeira, Açoures e Cabo Verdena, na primeira metade do século XVIII, recebeu o nome de entrudo. Consistia de destrambelhadas correrias, mela-mela de farinha, água com limão que evoluiu depois para batalhas de confetes e serpentinas. Os primeiros blocos de carnaval e os famosos corsos só vão surgir no século XIX. E a primeira Escola de Samba somente em 1928, com a Deixa Eu Falar, no Bairro do Estácio.

Enganam-se os pobres coitados que correm atrás de trios e de marchinhas carnavalescas pensando que carnaval é uma festa popular. Hoje carnaval é negócio, e dos mais lucrativos, coisa de gente rica. Pobre não tem acesso aos camarotes VIP (Very Important Person), as festas privadas e luxuosas e aos abadas caríssimos intitulados “passaportes da alegria”.

A maioria dos blocos, trios, palanques e escolas vivem à custa do poder público. Seu, meu e nosso dinheiro. E convenhamos ninguém subirá em um palanque somente para fazer do carnaval uma festa democrática, ou para fazer feliz o público. Esses artistas, mega artistas, não cobram menos do que na casa dos milhares e até mesmo milhões para divertir um público anestesiado e supostamente feliz porque é carnaval. Uma política de circo para uma população paupérrima que não tem se quer um pão na mesa.

Todo carnaval são as mesmas coisas dantescas: a boa música e amordaçada pelas supostas músicas do momento como “o melo da mulher maravilha” e um “ai se eu te pego”. Dezenas de ambulâncias são disponibilizadas para atender bêbados e machões brigões enquanto o povo morre as minguas nos corredores dos hospitais. A polícia é colocada com todo seu efetivo a fim de guardarem a ordem, e no dia a dia o mesmo folião que pula atrás dos blocos vive encarcerado dentro de sua casa por grades e muros com medo da insegurança.

Os falsos gurus da economia dizem até que o carnaval faz girar a economia, gera renda para dona Maria do cachorro quente e até o senhor João catador de latinhas. Se João e Maria fossem depender do carnaval para o sustento de seus filhos morreriam de fome. Carnaval só é lucrativo para grandes cervejarias, hotéis luxuosos, donos de trios elétricos, e músicos famosos. No mais é prejuízo atrás de prejuízo. São gastos para socorrer vítimas de acidentes de trânsitos os mesmos foliões embriagados ao volante. Gastos em limpeza de rua, ao passo que os foliões parecem mais com porcos dançando em um chiqueiro. Fora os gastos com gravidez indesejada, e com tratamentos para novos soro positivo.
  
E o ano, como dito popular, só começa de fato após o carnaval. Só depois que os trios e os tambores, pandeiros, cuícas se calaram, que o efeito das drogas passarem e que as máscaras caírem é que se vai ter uma noção do prejuízo. Que o país das cores, das luzes, do deslumbre e da dança passou pela avenida e foi embora. E ficou a realidade.



A dura e vergonhosa realidade de um salário mínimo irrisório. A realidade dos autos impostos a serem pagos ao leão, não o leão da Escola Porto da Pedra, mas, o leão da receita. A realidade dos mega salários, dos corruptos, do mensalão. A realidade dos salários indignos dos professores, policiais e bombeiros que tentam salvar o que restou após o carnaval. Entre tantas outras realidades. 

Um dito popular brasileiro diz que o ano só começa depois do carnaval e não deixa de ser verdade. No carnaval o povo esquece de tudo: da roubalheira na política, do reajuste dos deputados de 61%, da crise ambiental, dos filhos e por ai vai. Brasileiro não sai na rua para protestar ou pedir um aumento digno do salário mínimo, mas sai na rua atrás de um trio elétrico gastando todo seu mísero salário com abadas; fica o ano todo pagando chega até ser cômico.  E alguns dizem que com todas as mudanças ao decorrer da história e intervenções de uns e outros, o Carnaval caiu na mesmice. Não há mais as safadices e irreverências de outrora: “domesticaram Dionísio!”.

Referências Bibliográficas

Coleção Arenas do Rio. RioArte e Relume-Dumará Editores, 2003.

MAGALHÃES, Rosa. Fazendo carnaval: the marking of carnival. São Paulo: Lacerda, 1997.


MEIRELLES, Gilda Fleury. Tudo sobre eventos: o que você precisa saber para criar, organizar e gerenciar eventos que promovem sua empresa e seus produtos. São Paulo: Editora STS, 1999.

MORAES, Eneida de. História do carnaval carioca. Rio de Janeiro: Record, 1987.

NOVAES, Carlos Eduardo. O Caos Nosso de Cada Dia. 6º ed. Rio de Janeiro: Nórdica, 1978.

RABAÇA, Carlos Alberto e BARBOSA, Gustavo Guimarães. Dicionário de
comunicação. Rio de Janeiro: Campus, 2001.

VALENÇA, Rachel. Carnaval: para tudo se acabar na quarta-feira. Rio de Janeiro.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O “ciberativismo” e a nova era das revoluções

Por Douglas Barraqui

Seria muita ousadia minha dizer que as redes sociais, como o Facebook e Twitter, possam ser os novos veículos motores, condutores, interlocutores de massas para às revoluções? Como os panfletos liberais da Revolução Francesa ou como os jornais de esquerda no período do nosso Regime Militar as redes sociais se demonstram como veículos de comunicação capazes de unir massas, propagar informações, opiniões e ideologias. O mundo da velocidade de informação via telemática agora colabora para a derrubada de um regime que há 30 anos estava no poder no Egito.

A terra das múmias e das pirâmides, enfrentou uma das maiores revoltas populares por alterações políticas que culminaram na renuncia do presidente Hosni Mubarak que há 30 anos se colocava no poder como um verdadeiro déspota faraônico.

Mubarak enfrentou a crise em três frentes: de um lado a Irmandade Mulçumana, principal força de oposição. Sua bandeira é a luta contra a influência ocidental e instalação da xariá, lei islâmica. Do outro lado os Democratas, pró-ocidente tendo como porta-voz o prêmio Nobel da paz Mohamed El-Baradei ex diretor geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). E em uma ponta mais ocidental Mubarak enfrentava a oposição internacional Barack Obama, que tem no Egito o principal aliado no mundo islâmico, também pressionou pela renuncia de Mubarak e é claro se pondo do lado dos pró-ocidente.

Mas, o combustível da máquina da revolução foi o povo ligados direta ou indiretamente a algumas das ideologias mencionadas. E as redes sociais, resultado dos avanços tecnológicos dos últimos anos, foram utilizadas como instrumento de revolução.

Há cerca de três anos Khaled Said, um ativista egípcio, iniciou uma página do Movimento 6 de abril no site para apoiar os trabalhadores em greve no país. Desde então, a página conseguiu reunir mais de 60 mil membros preocupados com problemas como liberdade de expressão, economia e frustração com o governo. O blogueiro acabou espancado até a morte por policiais egípcios no ano passado. Outro jovem, Wael Ghonim, também por intermédio das redes sociais liderou milhares de manifestantes em defesa da democracia no Egito.

O regime de Hosni Mubarak até que tentou conter a revolução tentando bloquear o Facebook e o Twitter, e interrompendo o sinal de algumas operadoras de telefonia celular. Mas as redes sociais se comportavam como verdadeiros catalisadores do processo revolucionário independentes dos meios de comunicação de massa convencionais controlados pelo governo de Mubarak. É neste cenário que surge o “ciberativista”, como uma forma de ativismo, por intermédio dos meios de comunicação eletrônicos. Uma alternativa, que não nos parece convencional, ou que talvez não eram esperadas pelos criadores das redes sociais, para driblar os meios de comunicação de massa tradicionais geralmente monopolizados ou controlados por governos ou sistemas.

Acabou que o Facebook virou até nome de gente. Segundo jornal egípcio Al-Ahram um pai teria batizado sua filha como Facebook Jamal Ibrahim. Segundo o pai, Gamal Ibrahim, foi uma forma de homenagear a rede social uma das ferramentas online usadas pelos “ciberativistas” para organizar a revolução e reunir multidões em torno da praça Tahrir, centro da resistência contra o regime de Mubarak.

Hosni Mubarak sucumbiu à revolução; as redes sociais foram utilizadas como instrumentos de luta pelos “ciberativistas”; e Facebook virou nome de gente. A terra das múmias, faraós e pirâmides entra novamente para a história das revoluções.

Fontes consultadas:


sábado, 5 de fevereiro de 2011

Nada como a sensibilidade de uma mulher para falar de mulher

Além de uma amiga, uma doce amiga, Cida Neuenschwander é uma daquelas mulheres que fazem das palavras poemas. Uma mulher que quando você se dá conta já se tornou amigo. E Nada como a sensibilidade de uma mulher para falar de mulher.


Por Cida Neuenschwander

"A história da mulher é a história da pior tirania que o mundo conheceu: a tirania do mais fraco sobre o mais forte."  Oscar Wilde

Maria Antonieta
Noite passada, assistindo a um programa, creio que eslovaco, uma frase me chamou a atenção. Em determinado momento a repórter fala: “A vida sangra a mulher durante cinco dias de cada mês”.  Documentário muito bem feito sobre um dos problemas, além de outros fatos bem conhecidos por nós mulheres, que a história impõe: o direito ou não de conceber e dar continuidade a esta história. Este direito é para umas, fundamental, para outras uma questão de escolha.

“As questões da alma feminina não podem ser tratadas tentando-se esculpi-las de uma forma mais adequada a uma cultura inconsciente, nem é possível dobrá-la até que tenha um formato intelectual mais aceitável para aqueles que alegam ser os únicos detentores do consciente. Não! Na verdade a meta deve ser a recuperação e o resgate da bela forma psíquica natural da mulher”[1]

Além de suas forças poderosas e naturais.

Não tenho aqui a pretensão técnica e expertise no assunto, não defendo correntes de pensamento e sim fatos, e tenho uma condição: Sou MULHER. E nesta condição sou toda emoção, controle da vida, “dona” das preocupações, soluções, mazelas familiares. E mais. Independente, portanto, não me vejo como vítima,corro atrás do que precisa e deve ser compartilhado por todos, dentro do que chamo comunidade e cidadania.

Nossa casa, nossa vida é uma empresa e como disse o poeta, posso cuidar para que ela não vá à falência. Como mãe, sempre digo, sou e serei a culpada; mãe não tem culpa de tudo? Digo aos meus filhos: se forem à terapia podem me culpar, pois não nasci deusa, tótem, algo para ser venerado. Nasci na melhor essência: MULHER, GENTE.

Embora a história mostre o contrário, ser mulher não é fazer o que nos foi ensinado e muito menos ensinar da mesma forma, pois tudo o que nos foi ensinado e cravado em pele, foi para a submissão. E discriminação lembra a Terceira Lei de Newton. Quando dois corpos A e B interagem, se A aplica sobre B uma força, esse último corpo aplicará sobre A outra força de mesma intensidade, mesma direção e sentido contrário. E aos poucos, a falta de identidade, a intensidade da reação sucederam-se ao longo de mais de 200 anos. Somos mesmo intensas. E isto rondará a história quer alguns queiram ou não. As evidências estão aí. A igualdade foi buscada e continua sua luta 

Apesar das conquistas da mulher no decorrer da História muitos ainda são os abusos que devem ser conhecidos e discutidos, para que sejam tomadas medidas que levem à sua extinção, para sempre. Há leis, leis e leis, direitos adquiridos e realidade. A realidade mostra uma questão largamente conhecida como gênero. A questão gênero ronda homens e mulheres e vice-versa. Pois neste momento, não discutiremos quem é o melhor / pior e sim a igualdade dos direitos. A igualdade de ir e vir, a liberdade de expressão, como consta em nossa mambembe constituição. O que poderia ainda explicar a discriminação nas questões intelectuais, profissionais, de saúde, força e vitalidade?

A agressão, a violência nas mínimas coisas? E por violência leiam-se também direitos. Sem exageros: as lutas continuam acesas aos olhos abertos ou fechados da sociedade. Desafio a todos, homens e mulheres: Anotem, notem, o quanto o apelo discriminatório prevalece e sobrevive. A questão é quando a história deixará de mostrar tais coisas e veiculá-las.  Onde ficam então a capacidade mental, física, criativa e multiplicadora de funções exercidas pelo sexo feminino? Aqui, pergunto apenas, quero e exijo sim, continuar sendo quem sou e com tranquilidade ter-me igualada. Os gêneros podem ou não? Troquemos os papéis. Por um dia! Façam este exercício de raciocínio, multiplicidade e poder de solução. 

Discutam os pobres de entendimento, falem muita besteira. Apenas confirmarão na pele e no desgaste do dia a versátil figura que é capaz de ser, em várias situações, onipresente.

Referências: 

1. ESTÉS, Clarissa Pinkola. Mulheres que correm com lobos: Mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1994. 


Cida Neuenschwander tem Licenciatura Plena em Português, Inglês e suas Literaturas. Ataulmente é Coordenadora pedagógica e de Projetos de eMentoring - ADE Brasil – www.adebrasil.org.br

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Gladiadores de ontem e de hoje

Por Douglas Barraqui

Introdução

Provavelmente você já deve ter visto uma luta de boxe televisionada, ou uma luta de MMA (Mixed Martial Arts), mais conhecido como “vale tudo”. Agora você já viu uma luta entre gladiadores romanos? a não ser em filme, certamente que não. Os jogos romanos sobrevivem até os dias de hoje, como uma nova roupagem e certo, mas ainda desperta em seus espectadores o mesmo interesse de tempos romanos.

Arenas lotadas, estádios lotados: passaram mais de dois mil anos e o prazer por assistir o combate “homem a homem” continua perpetuado na sociedade moderna. A ética cristã, não foi capaz de mudá-lo e hoje o MMA é um dos esportes que mais cresce em todo o mundo gerando lucros exorbitantes.  Meu caro leitor, o que se segue é um breve capítulo da história que não passa, meu artigo tem por objetivo traçar um breve panorama entre os gladiadores de ontem e os gladiadores de hoje.

Origem

Foi entre os romanos que os combates entre gladiadores se popularizaram, tendo seu auge por volta do século II a.C. e V d.C. Todavia, os combates homem a homem eram bem mais antigos do que se pensa. Foram os etruscos, povo que habitou o norte da península Itálica, que costumizaram a luta entre servo e escravo como um ritual fúnebre com a finalidade de homenagear o morto. É bem certo dizer que os etruscos acabariam por influenciar a cultura romana.

Seria em 264 a.C. realizado o primeiro combate público quando os irmãos Décimo Bruto e Marcus promoveram um combate com três duplas para homenagear o pai falecido. Um século se passou e, também para homenagear a morte de seu pai, o general Tito Flavio promoveu um torneio com 74 gladiadores que duraram três dias.

Os romanos conheceram a República e os jogos perderam seu caráter fúnebre. Agora o Estado romano financiava os combates. 105 a.C. os Cônsules Rutilo Rufo e Caio Mamilo, realizaram os primeiros jogos sob a tutela do Estado. À população os jogos agradaram e os espectadores cresceram a cada evento. Em 44 a.C. Julio César organizou evento com 300 pares de lutadores. No Império, Trajano colocaria frente a frente 5 mil gladiadores em um evento que durou 117 dias sob os olhos e a ovacionação de espectadores que lotavam as arenas.

Os jogos foram proibidos por Constantino (306-337), todavia a relatos de combates até o governo do imperador Honório (395-423). O fato é que o público existia e era fanático por aquilo, alguns historiadores comparam o fanatismo pelo futebol na atualidade ao fanatismo pela luta entre gladiadores em Roma.

Os lutadores de ontem

Diferentemente do que muitos pensam quem lutava nas arenas romanas não era somente escravo. Os chamados homens livres também se enfrentavam, bem como alguns criminosos.

Em seu grande número os escravos que combatiam eram decorrente de guerras, alugados por seus senhores para promover o espetáculo. Sendo escravos, portanto, esses homens não tinham muitas escolhas a não ser lutar e ser um campeão nas arenas. O que  poderia significar conquistar da tão sonhada espada de madeira chamada de  rudiarii, ou seja era a conquista da liberdade.

Durante o período da República romana foi muito comum o enfrentamento de homens livres, chegando a metade dos gladiadores sendo formados por eles. O mais famoso deles talvez tenha sido o grande campeão Públio Ostório que na cidade de Pompéia fez 51 combates.

Mas o que levava homens livres a se submeterem ao fio da espada? Bem, apesar de toda a insalubridade da vida de um gladiador a fama e a admiração do público, principalmente feminino, faziam do gladiador um herói. E esse apreço feminino gerou várias histórias: Eppia, mulher de um senador romano, fugiu para o Egito com um gladiador isso quem nos confirma são os registros do poeta Juvenal. Cômodo, filho de Marco Aurelho e Faustina, era de fato fruto de uma paixão dela com um gladiador.

O fato é que os combates entre homens, e entre homens e feras era muito bem quisto entre os romanos.

Os gladiadores hoje 


Os tempos mudaram e hoje nos assistimos lutas entre homens, sem regras ou com um limite mínimo, televisionadas é o Mixed Martial Arts (mistura de artes marciais). Poucos sabem, mas o Mixed Martial Arts, que já foi conhecido como “Vale Tudo”, é uma invenção brasileira  legado da família Gracie (criadores do Jiu-jitsu brasileiro), cujo seus membros nos anos de 1950 e 1960, desafiavam praticantes de outras categorias marciais para combates que valia tudo mesmo. 

Em 1993, a família Gracie  levou o evento para os EUA que foi batizado de Ultimate Fighting Championship (UFC). O campeão seria aquele que vencesse o torneio de caráter eliminatório entre oito homens praticantes de qualquer luta marcial. O esporte se difundiu e devido às barbáries assistidas teve que se impor algumas regras.
Antônio Rodrigo Nogueira

O UFC foi comprado pela empresa de cassinos norte-americana Zuffa, que pertencia aos irmãos Frank e Lorenzo Fertitta. A Zuffa investiu pesado nos eventos e transformou em espetáculos televisionados. Os atletas foram divididos em categorias, foram realizados eventos em várias partes do mundo, inclusive no Brasil, foram criados jogos de vídeo game, brinquedos, em fim, em tudo se lucrava. Um esporte que gera divisas volumosas nas bolsas de apostas, e é o  que mais cresce no mundo hoje. 

Os lutadores tem prestigio e fama estando os brasileiros entre os melhores nas diversas categorias como Anderson Silva, “the Spiderman”, Atual campeão do cinturão dos Medios do UFC; Mauricio Milani Rua, o “Shogun”; José Aldo da Silva Oliveira Júnior, Atual campeão dos Peso Pena do UFC, temos ainda nomes lendários que fizeram história e fama como Antônio Rodrigo Nogueira, o “Minotauro” e o Wanderlei Silva. Os dois brasileiros juntamente com o croata Mirko "Cro Cop" Filipović foram os homens mais perigosos das arenas durante vários anos.

Fedor
Mas o maior de todos os tempos para vários especialistas em MMA é o russo Fedor Vladimirovich Emelianenko "The Last Emperor". O último imperador como é chamado pelos fãs pode ser comparado ao grande campeão romano Públio Ostório. 

Conclusão

O MMA é um dos esportes que mais cresce em todo mundo. Uma contradição em meio a uma sociedade ocidental pautada pela ética cristã que condena a violência. Os gladiadores de hoje, bem como os de ontem, tem fama e prestigio sendo ovacionados por multidões quando entram nas arenas octogonais cercadas por arame. No passado as lutas tinham uma função política, fazendo parte do "panis et circenses" e acabavam, geralmente, com a morte do perdedor; os gladiadores lutavam por suas vidas, pela liberdade. Os combates de hoje estão inseridos na ótica capitalista de lucrar; não se luta pela liberdade ou pela vida, se luta por dinheiro e o evento é formidavelmente lucrativo e felizmente não mais acaba em mortes. É a história que se repete ou o passado que teima em não passar?



Bibliografia:

FERREIRA, Olavo Leonel. Visita à Roma Antiga. São Paulo: Moderna, 1993 História em Revista: impérios em ascensão (400 a.C. – 200 d.C.). 3.ed. Rio de Janeiro: Abril Livros, 1993. p.65.

ZANCHETTA, Maria Inês. Os que vão morrer. Superinteressante. São Paulo, nº10, ano 10, out. 1988.

GRECCO, Dante. Por que lutavam os gladiadores. Galileu. Rio de Janeiro, nº108, ano 9, jul. 2000

Ultimate Fighting Championship (UFC). Disponível em: http://br.ufc.com/. Acesso em 21 de janeiro de 2011.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Para que serve a história: um exercício prático

Por Douglas Barraqui

Meus alunos e até mesmo alguns amigos me perguntam: por que é que se estuda o passado? Afinal de contas o passado passou é imutável; e eu respondo: por causa do presente. Mas, como isso funciona? Faremos um exercício prático para isso e primeiro preciso que você, meu caro leitor, assista o vídeo abaixo:


A caça as bruxas é um tema badalado nos estudos históricos, todavia é frequente da Idade Média e quando nos deparamos com as “crianças bruxas na África” em pleno século XXI o que devemos fazer? Aqui podemos recorrer a Marc Léopold Benjamim Block quando ele defende que problema é algo que acontece no campo da realidade, que nos incomoda, que nos estimula a buscar explicações, problemas são /estão no presente. A capacidade de analisar os fenômenos complexos da realidade a partir da sua complexidade é justamente o que distingui a História de outras disciplinas. O que acontece é que os historiadores são descompromissados com o presente. Por isso é que as pessoas se perguntam: para que serve a História?

O tema as “crianças bruxas na África” é motivo de debate para a mídia, para os direitos humanos, governos e especialista acadêmicos (os intelectuais). E como a história poderia estudar esse tema? Vejamos: a mídia, como é muito comum, transforma a notícia em espetáculo com uma postura moralista em seu fundo; acabam condenando os pastores neopentecostais (vistos nos vídeos acusando as crianças de serem bruxas) de agirem de má-fé, visando o enriquecimento particular; e o moralismo midiático nos ajuda a conceber um fenômeno complexo do presente. Resumindo a imprensa cumpre seu papel de informar, chamando nossa atenção para um problema atual. Os grupos em sua grande maioria ONGs ligadas aos direitos humanos são levados pela emergência da situação e muitas das vezes não questionam a crença em questão. A postura dos governos e a de condenação, todavia, estamos falando de África e de países que sobrevivem precariamente com a falta de recursos.

Agora se formos fazer uma analise intelectual em toda a complexidade da historicidade do caso em questão teríamos que sim fazer uma analise histórica. Pois bem: a áfrica conheceu o cristianismo a partir das cruzadas do século XI, XII e XIII que levaram consigo a cruz e a espada pela África setentrional, mas de forma mais ampla, principalmente nas regiões que correspondiam ao antigo Reino do Congo, a introdução do cristianismo ocorreu a partir do século XVI. Entre as religiões do Reino do Congo, principalmente na cosmologia barongo, era comum crianças receberem espíritos benignos para fazer o bem para suas famílias.

Pesquisando mais sobre o caso descobrimos que até pouco tempo as acusações de bruxarias para com as crianças se mantinha no seio da família, geralmente em segredo. Mais recentemente que o tema tomou ares mais problemáticos atingindo a estrutura familiar e ferindo os direitos humanos.

Então temos um problema recente, um fenômeno recente. Alguns esperavam, e até mesmo chegaram a acreditar, que com a modernidade a feitiçaria iria desaparecer. Isso não aconteceu. Pois bem, como historiador apresento uma hipótese, para explicar o fenômeno das “crianças bruxas na África”: fazendo uma análise econômica percebemos que a partir dos processos de independência, os países africanos promoveram aberturas a modernização e ao processo de globalização. Tudo foi muito rápido, concentração de renda e desemprego, não deu tempo para os essas nações se prepararem estruturalmente.

Politicamente vários países africanos estiveram por anos imersos em guerra civil que produziu mortos, mutilados e crianças órfãs.

Em termos religiosos houve crescimento das Igrejas Pentecostais e em caráter familiar, a desestruturação da família por fatores mais gerais acaba levando pais e parentes a acusarem as crianças de bruxaria. As igrejas entram na sequência trazendo a suposta cura e ao mesmo tempo alimentando essa crença.

O que proponho então é a seguinte explicação: o desenvolvimento do capitalismo em sua fase neoliberal atingiu alguns países africanos, assolados por anos de exploração colonial e guerras civis, de modo a afetar suas organizações sociais. Sem recursos para as áreas de assistência social como emprego, educação, saúde, segurança entre outros, esses países assistem a desestruturação da organização familiar que buscam refugio no apego religioso. Entram em sena as Igrejas Pentecostais atuando alimentando a crença e em muitos casos extorquindo o pouco que essas pessoas têm. As “crianças bruxas na África” são na verdade só uma parte da desgraça social que recai sobre diversos países daquele continente no contexto pós-colonialismo.

Concluindo: essa é “a explicação”? certamente que não é a única. É claro que a intervenção da História neste problema não vai resolvê-lo. Mas, não pode se negar que ajuda a discutir melhor a relação entre os fatores e sua temporalidade. Fenômenos complexos como o caso das “crianças bruxas na África” exigem abordagens múltiplas para assim encontrar qual o melhor diálogo que pode ser estabelecido entre os diversos atores (família, lideres religiosos e autoridades). O que eu quis mostrar e que sim, a História pode contribuir com as problemáticas do presente, todavia a maioria dos historiadores não se interessam pelo presente. Devemos lembrar que a história é o estudo do homem no tempo, mas quem estuda essa homem está aqui no presente.

Referencias Bibliográficas:

OLIVER, Roland Anthony. A experiência africana: da pré-história aos dias atuais. Rio de Janeiro: J. Zahar, c1994. 313p.

SARAIVA, José Flávio Sombra. Formação da África contemporânea. 3. ed. - São Paulo: Atual, c1990. 66p.

PEREIRA, André Ricardo Valle Vasco. Descompromisso do historiador com o presente. Palestra pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Semana da História. Novembro de 2010.

sábado, 8 de janeiro de 2011

A “ciência” de Hitler: por um bem maior

Por Douglas Barraqui

INTRODUÇÃO

"A ciência se compõe de erros que, por sua vez, são os passos até a verdade."  (Julio Verne) "

Se formos pensar sobre a ótica da ética, a ciência produzida na Alemanha nazista de Hitler foi um show de monstruosidade que de nada perde para os filmes de terror hollywoodianos, repugnante aos olhos de uns, grotesco a de outros.

Os relatos e registros dos experimentos mostram que causaram dor, humilhação e mortes terríveis às pessoas. Alguns lembram somente dos judeus, mas houveram ainda os ciganos, homossexuais, anões, negros, portadores de necessidades físicas e mentais e tantos outros tidos como raça inferior ou inimigos do regime.

Quem eram os responsáveis por essas ditas “pesquisas”? Alguns os chamam de sádicos, mas eles se declaravam como cientistas e é certo que leigos não eram. Muitos dos “doutores de Hitler” se formaram nas academias mais tradicionais do mundo e, podemos dizer com exatidão, antes de o nazismo chegar ao poder na Alemanha, este país já era uma liderança em inovações científicas.

O fato é que a ciência desumana de Hitler deixou um extenso legado, que recentemente vem sendo trazido à luz por novas pesquisas historiográficas. Quais seriam as heranças de “pesquisas” que ceifaram vidas humanas em nome de uma dita ciência? O que foi e o que houve com a ciência sob a égida do nazismo? São essas algumas das perguntas que pretendo responder nas linhas que se seguem meu caro leitor.
                                                                                                    
Hitler e o entusiasmo pela ciência

"Após a guerra, a elite científica levou o país à liderança nos ramos de balística, química, aviação e construção de foguetes." (Helmut Maier, pesquisador do Instituto Max Planck)

Adolf Hitler foi veterano da Primeira Guerra. Em combate foi ferido por gás que lhe causou cegueira temporária. Conheceu na pele o poder da ciência aplicada no poder bélico. Ao alcançar o poder não mediu esforços e fez da ciência um dos sustentáculos da “nova Alemanha”.

Havia um problema: Hitler era um leigo, admirava a ciência, mas sabia pouco dela: "Hitler não era devidamente instruído em ciência. Ele apenas seguia seu instinto, seu feeling", diz o historiador alemão Joachim Fest, um dos mais importantes biógrafos do líder nazista.

No alto de seu egocentrismo Hitler se considerava um cientista de vanguarda, sendo um entusiasta quanto à teoria da “higiene racial”, uma teoria científica que defendia a eliminação dos genes não arianos do povo alemão. É claro que não podemos nos esquecer que Hitler não era alemão, mas sim austríaco.

"O povo alemão é um só corpo, mas a sua integridade está ameaçada. Para manter a saúde do povo, é preciso curar o corpo infestado de parasitas". Em seu livro intitulado Mein Kampf  (traduzido para o português como Minha Luta), de 1925, Hitler lançou as bases que seriam amplamente utilizada para o progresso da teoria da “higiene racial”. Os tais parasitas que Hitler faz menção eram os judeus. Onde esta a ciência nisso?  Em nenhum lugar. Hitler de fato acusava os judeus de serem os causadores da crise econômica que assolava a Alemanha e os mesmos deveriam se expurgados. A ciência que Hitler pregava era fruto de uma simbiose entre ideologia e ciência. E no limiar da ascensão de um dos maiores nomes da história, já estava difícil diferenciar o que era ciência e o que era ideologia, onde começava uma e terminava a outra.

Cientistas sobre a égida de Hitler

A medicina, um ramo da ciência, em especial aderiu muito bem a doutrina de limpeza dos “parasitas” judeus. Já em 1933, 44,8 % dos médicos alemães eram filiados ao partido nazista era, dizem os pesquisadores, a profissão de maior representatividade entre todas as profissões. Muito além de favoráveis a “higiene racial” os médicos eram também anti-semita. E quando em 1934 a lei de esterilização compulsória dos qualificados na época como doentes físicos e mentais foi promulgada, os médicos não hesitaram em implementá-la imediatamente.  O resultado foi à esterilização de mais de 350 mil pessoas à força entre os anos de 1934 e 1945. Resumindo era a ciência sendo utilizada como instrumento para concretização dos planos ideológicos de Hitler.

Uns podem ser culpados por se silenciarem outros ainda não tiveram dúvidas em aderir ao nazismo e ao ideário de “higiene racial”. As vésperas da Segunda Grande Guerra, em 1939, apenas os cientistas “mais fortes”, assim considerados pelo regime nazista, puderam ficar no país. Dentre eles segue abaixo alguns dos nomes que fizeram da ciência instrumento da máquina ideológica do nazismo e ao mesmo tempo conseguiram deixar um legado fundamental para a ciência de hoje:

Fritz Haber

Abril de 1915, Primeira Grande Guerra, planície de Ypres, na fronteira da Bélgica com a França. Soldados do exército francês se encontravam entrincheirados e estavam prontos a enfrentar um inimigo chamais enfrentado antes, impossível de vencê-lo. Alguns batem em retirada outros permanecem parados e estarrecidos sem saber o que fazer. Era o oponente mais mortal que enfrentavam o gás cloro.

Minutos antes da arma mortal em forma de nuvem esverdeada e amarelada varrer o ar e ceifar vidas a tropa Pionierkommando 36, batalhão formado por cientista vestindo uniformes militares e máscaras de gás abriram 730 cilindros, com cerca de 100 quilos cada de gás cloro. Essa tropa era liderada pelo Prêmio Nobel de Química Fritz Haber.

A nuvem de gás cloro demonstrou um poder devastador sobre as tropas inimigas, corroendo pulmões e causando cegueira. Quando então a nuvem letal se dissipou o saldo era de 10 mil mortos e 5 mil feridos. Nenhum comando alemão tinha conseguido tal sucesso em batalha.

O gás cloro permitiu que a Alemanha prolongasse a Primeira Grande Guerra. Mas a técnica de fixação de amônia a partir do nitrogênio do ar utilizada na criação explosivos por Haber, hoje permite que se produzam alimentos para bilhões de pessoas no desenvolvimento de fertilizantes.

Ironicamente Haber, que era um judeu, acabaria demitido pela Alemanha de Hitler e muitos de seus parentes acabariam mortos pelo mesmo gás que ele desenvolveu.

Max Karl Ernst Ludwig Planck

Max Planck pai da física quântica, foi também presidente da Kaiser Wilhelm Institute hoje Instituto Max Planck, foi até Hitler em 6 de maio de 1933. seu objetivo era evitar a demissão do amigo judeu Fritz Haber, o mesmo que comandara a primeira tropa de gás da história na Primeira Guerra. Bem recebido por Hitler, Planck argumentou que haveriam diversos tipos de judeus, alguns valiosos e outros inúteis para a Alemanha. O Führer lhe respondeu:  "Se a ciência não pode passar sem judeus, teremos de nos haver sem a ciência!"  e Haber acabou demitido, morrendo em 1934 de enfarto. Planck optou por permanecer na Alemanha, mesmo não concordando com a ideologia nazista. Todavia em meio ao clima que se seguiu, em 1937, deixou seu emprego e quando seu filho Erwin, em 1944, foi executado após se envolver em um plano frustrado para assassinato do Führer, já havia se mudado da Alemanha.

Max Planck descobriu a constante fundamental, batizada de Constante de Planck, usada para traçar cálculos da energia do fóton. Foi igualmente responsável pela descoberta da lei de radiação térmica, intitulada de Lei de Planck da Radiação, que lançaria as bases para a Teoria Quântica que surgiria anos depois com a colaboração de Niels Bohr e Albert Einstein.

Albert Einstein

"A conduta dos intelectuais alemães como grupo não foi melhor que a de uma ralé", afirmou Albert Einstein. Prêmio Nobel de Física em 1921, Einstein é responsável pelo desenvolvimento da Teoria da Relatividade. Seu trabalho teórico propiciou a utilização e o desenvolvimento da energia atômica.

Einstein era um judeu optou por sair da Alemanha em março de 1933, um mês antes da expulsão de todos os descendentes dos judeus do funcionalismo público alemão.

Julius Hallervorden

Hallervorden, em 1944, possuiu a maior coleção de cérebros humanos que qualquer outro colecionador excêntrico do planeta.  Hallervorden foi responsável por um projeto médico que diagnosticava a lebensunwertes leben, ou "vida indigna de viver". As pessoas, doentes mentais em sua grande maioria, que recebessem esse diagnóstico estavam condenados à morte por eutanásia.

"Escutem, colegas, já que vocês vão matar toda essa gente, pelo menos arranquem os cérebros deles", disse Hallervorden. E em 1944 ele contava com a coleção de 697 cérebros. Em meio a coleção seu favorito era de uma menina cuja mãe fora envenenada acidentalmente, durante a gravidez, por gás.

Foi graças à sua suntuosa coleção de cérebros que Hallervorden pode desenvolver uma série de estudos do ramo neurológico que favoreceram a medicina atual.

August Hirt

O médico da renomada Universidade de Estrasburgo, August Hirt, dava preferência a cabeças inteiras, corpos inteiros ao invés de somente cérebros. E essas cabeças tinham que ser necessariamente de judeus. Sua encomenda bizarra está devidamente documentada: 115 judeus que foram devidamente executados em junho de 1943 e enviados a Estrasburgo. Dois meses depois chegariam novos carregamentos com cerca de 80 corpos, eles seriam usados para estudos anatômicos para determinação da superioridade do povo ariano.

Os estudos promovidos pelo médico “carniceiro” August Hirt, contribuíram de forma incontestável para os estudos de anatomia humana e favoreceram direta e indiretamente a medicina atual.

Sigmund Rascher

"Sou, sem dúvida, o único que conhece por completo a fisiologia humana, porque faço experiências em homens e não em ratos". Era o que dizia com ar de orgulho Sigmund Rascher, responsável pelo campo de concentração de Dachau. Ali ele se utilizava de cobaias humanas vivas para seus experimentos.

Rascher era bem quisto e protegido por Heinrich Luitpold Himmler, outro entusiasta das pesquisas "científicas" a ponto de fazer dos terríveis experimentos em câmaras de baixa pressão, seu show de horrores particular, para os quais forneceu dezenas de prisioneiros em maio de 1941. Os resultados foram uma verdadeira carnificina: das cerca de 200 cobaias humanas que passaram pelas câmaras de pressão até maio de 1942, 80 morreram durante os testes. Outros ainda tiveram seu cérebro dissecado enquanto ainda estavam vivos para que o médico pudesse observar as bolhas de ar que se formavam nos vasos sanguíneos.

Rascher ainda fez experiências sobre hipotermia e descobriu que aquecendo o pescoço de uma vítima de naufrágio em águas geladas suas chances de sobrevivência aumentam significativamente. Foram graças a esses experimentos que os coletes salva-vidas de hoje em dia são desenhados para aquecer o pescoço.


Joseph Mengele

Joseph Mengele talvez tenha sido o “cientista” mais carniceiro de Hitler: seus experimentos custaram à vida de cerca de 400 mil pessoas em Auschwitz. Mengele injetou tinta azul em olhos de crianças, uniu as veias de gêmeos, jogou pessoas em caldeirões de água fervente, amputou membros de prisioneiros, dissecou anões vivos e coletou milhares de órgãos em seu laboratório. Após a Guerra, conseguiu escapar e viveu escondido no Brasil até sua morte, em 1979. Oficialmente, teria comprado sua fuga com anéis de casamento e dentes de ouro que retirava dos cadáveres judeus.



PESQUISAS

Tabagismo / câncer

Berlim, na década de 1940, foi a primeira cidade do mundo a adotar medidas anti-tabagismo, que serviram de base para as adotadas nos dias atuais. Na época os nazistas eram os únicos que detinha conhecimento cientifico necessário para implementá-las.

O fumo era proibido em todas as áreas públicas de Berlim, isso incluía escritórios públicos e privados e salas de espera. Se pego fumando em um dos vagões de trem para não-fumantes a pessoa seria multada.

O fato é que os nazistas foram pioneiros nos estudos estatísticos que comprovaram a relação intrínseca entre o hábito de fumar e o câncer de pulmões, é o que nos mostra Robert Proctor, historiador da ciência e professor da Universidade Stanford, nos EUA, e autor de The Nazi War on Cancer ("A Guerra Nazista contra o Câncer", sem tradução em português).

É até uma ironia pensar que a origem de uma das maiores descobertas médicas do século 20 esteja relacionada a um efeito psicológico da doutrina de higiene racial. A esse efeito Proctor chamou de paranóia homeopática. "Os nazistas tinham pavor de agentes minúsculos que poderiam corromper o corpo alemão. Eram obcecados por ar limpo, comida natural e um estilo de vida saudável." Foi o que direta e indiretamente contribuísse para que os nazistas desenvolvessem pesquisas criteriosas sobre o câncer. "O mesmo fanatismo que nos deu Mengele também nos deu a preciosa pesquisa antitabagista. A verdade é que a política científica nazista foi muito mais complexa que a maioria das pessoas imagina",  nos diz Proctor.

Frio


O médico John Hayward, da Universidade de Victoria, no Canadá, que estuda os efeitos do frio no corpo humano a fim de salvar vidas não viu outra saída a não ser utilizar os dados das pesquisas nazistas. Criticado ele se defende: “Eu não queria ter de usar os dados nazistas. Mas não existem outras opções para a minha pesquisa. Nem nunca existirão num mundo ético".

 Fosfogênio

Outro caso polêmico envolveu a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) na regulamentação da utilização do fosgnio, também chamado fosfogênio, é um gás tóxico e corrosivo de fórmula COCl2. O fosgênio é muito utilizado hoje na fabricação de plásticos e pesticidas e em 1989, os especialistas da (EPA) foram chamados a definir regras para a utilização do fosgênio. Como os únicos estudos conhecidos, detalhados e minuciosos sobre os efeitos do fosgênio em seres humanos haviam sido produzidos em experiências nazistas durante a Segunda Guerra. A EPA então decidiu por utilizar os dados nazistas ao por em risco vidas de americanos.

Química

As pesquisas químicas alemãs eram pioneiras: O país inventou a aspirina e a novocaína (anestesia usada por dentistas) e desenvolveu fertilizantes, corantes e microscópios muito mais baratos e eficientes. Foi um dos setores que mais se envolveram com o nazismo - a ponto de o maior conglomerado farmacêutico do mundo na época instalar uma fábrica dentro do campo de concentração de Auschwitz. Posteriormente esse mesmo conglomerado farmacêutico formariam as empresas Basf, Bayer e Hoechst.

Matemática

Os nazistas associaram o raciocínio matemático abstrato ao judaísmo, o que é um erro, mas assim o substituíram pela chamada “verdade empírica concreta” ou “intuição nórdica”.

Biologia

Os biólogos alemães desenvolveram pesquisas pioneiras no campo da genética, o que faz com que até hoje o campo seja visto com reservas naquele país. De 1933 e 1938, o financiamento para pesquisas aumentou em 10 vezes. Biólogos trabalhavam com relativa tranqüilidade - apenas 14% deles foram perseguidos.

Física

A mecânica quântica e a relatividade talvez tenha sido as idéias mais revolucionárias da física alemã. Todavia, 25% do total de físicos deixaram o país, entre eles 6 vencedores de prêmios Nobel. Semdo, portanto, um dos ramos da ciência mais prejudicada com a ascensão do nazismo.

Anatomia

Para muitos especialistas em anatomia o Atlas Pernkopf, produzido com base na dissecação de corpos de 1377 prisioneiros, é o melhor trabalho ilustrado sobre anatomia humana já realizado na história. Para outros é um livro controverso e póstumo que ao lado de suásticas trás a seguinte frase: "feliz conjunção de ilustradores brilhantes e corpos de criminosos executados"




Ezoteria “ciências” místicas

Nigel Pennick, em “As ciências secretas de Hitler”, mostra que o nazismo foi um fenômeno que exterminou milhões de pessoas com base em uma tentativa mágica de alterar o mundo. Seus atos de guerra e genocídio fazia na verdade parte de um ritual de preparação do mundo para uma raça superior de humanos dotados e esplendidos poderes psíquicos, trata-se de super-homens. Pennick demonstra como os princípios ocultos do conhecimento esotérico serviu de criação para uma das mais violentas doutrinas políticas da história. Demonstra ainda que as raízes do ocultismo nazista está escondida nas tradições esotéricas da chamada “ciência fronteiriça”, teosofia (um corpo de conhecimento que sintetiza Filosofia, Religião e Ciência) e nacionalismo místico.

Segundo o autor a Ahnenerbe, uma organização voltada para a preservação das antigas sociedades ocultas alemãs e o estudo das tradições mágicas, era quem patrocinava os estudos em cosmologia não-ortodoxa, crenças pagãs, habdomancia, geomancia e astronomia. O objetivo final era utilizar esse conhecimento para viabilizar a expansão do Terceiro Reich.

CONCLUSÃO

Há um dilema que envolve ética, humanidade confrontados com a luz da ciência. Michael Kater, uma das maiores autoridades em ciência alemã nazista diz: "Os dados são péssimos. Não havia livros de controle, métodos estatísticos nem repetição de experimentos em condições similares. Eles não têm uso nenhum para a ciência".

Robert Lifton, entrevistou os doutores nazistas, e diz também ter razões para duvidar da validade das experiências. "Os médicos nazistas usavam como assistentes prisioneiros do campo, gente muito mais preocupada com a própria sobrevivência do que com a acuidade das pesquisas", diz. "Mas qualquer dado que sirva para poupar sofrimento humano deve ser usado." Ambos, no entanto, defendem a utilização das pesquisas nazista pela ciência.

Alguns dizem ainda que a utilização e a exposição de tantos atos desumanos cometidos deixa a impressão de que, em pleno século 21, o nazismo arrastou a ciência para o arcabouço da idade das trevas. Essa visão esta sendo recentemente mudadas a luz de novas pesquisas historiográficas . Novos estudos revelam uma realidade muito mais complexa escondia nos porões, nos campos de concentração e nas salas de pesquisas, atrocidades e absurdos científicos do nazismo.

Concordamos então em chamar as pesquisas de Hitler de pseudociência.  Mas, se aquilo não era ciência então que essas pesquisas sejam agora, uma vez o mundo tendo superado as atrocidades nazista, utilizadas pela ciência para um bem muito maior. E para que milhões de vidas não tenham sido ceifadas em vão.

Bibliografias relacionadas e consultadas


CORNWELL, John. Os Cientistas de Hitler. Editora Imago, 2003.

LIFTON, Robert Jay. The Nazi Doctors. Basic Books, EUA, 2000.


MÜLLER-HILL, Benno. Murderous Science. Cold Spring Harbor Lab Press, EUA, 1988.

PENNICK, Nigel. As ciências secretas de Hitler. H & E Vol. 01.  1981

SPITZ, Vivien. Doctors from Hell. Sentient Publications, EUA, 2005.

PROCTOR, Robert N. The Nazi War on Cancer. Princeton University Press, EUA, 2000.

Site do United States Holocaust Memorial Museum (Museu Memorial do Holocausto dos EUA) www.ushmm.org

Super Interessante. Doutores da Agonia. Disponível em: http://super.abril.com.br/superarquivo/2006/conteudo_127934.shtml#top. Acesso em 8 de janeiro de 2011.