O Brasil parou nesta última sexta
feira, dia 18 de outubro, para assistir o último capítulo da tele novela da
Rede Globo “Avenida Brasil”, obra de João Emanuel Carneiro:
- O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) calculou que o consumo de energia no horário de "Avenida Brasil" aumentaria 5% e por isso teve que dispor de um plano operacional para solucionar qualquer emergência de possíveis quedas e apagões.
- Em muitos locais de São Paulo e Rio de Janeiro, as ruas habitualmente cheias de automóveis e pessoas ficaram vazias, como se fosse uma final de Copa do Mundo, com direito a transmissão “ao vivo” pelo Globo-Cop registrando o fato.
- Bares e restaurantes disputaram clientes com promoções anunciadas durante toda a semana que tinham como gancho principal a transmissão da novela da "Rede Globo" em telões montados especialmente para a ocasião.
- Em um comício do PT, na cidade de Santo André, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que terminaria seu discurso antes da hora "para que os homens e as mulheres possam ir para casa ajudar o Tufão, que foi sequestrado".
- E, em São Paulo, a propaganda eleitoral do candidato José Serra (PSDB), que disputará em 28 de outubro o segundo turno do pleito contra o petista Fernando Haddad, incluiu nesta sexta-feira a inserção de uma eleitora que perguntava "Quem matou a Max?", um dos enigmas do final da novela.
Mas, o que há em “Avenida Brasil”
que parou o Brasil? Em minha opinião, olhando com as lentes da história,
“Avenida Brasil” foi uma novela deturpadora de antigos paradigmas e que rompeu
com preceitos e valores da nossa sociedade. O enredo da novela apresentou a
vingança como tema principal e, em até certo ponto, positivo; inovou por romper
com o maniqueísmo (vilã e mocinha) por vezes o telespectador se perguntava,
Nina ou Carminha, quem é a vilã. A novela apresentou a bigamia, no caso do
enredo da novela uma “trigamia”, como um fato positivo e engraçado e a traição
como algo normal e descontraído. Seria essa a formula para parar o Brasil?
Corrupção, pessoas morrendo em
leitos de hospitais, violência calamitosa, educação precária (professores mal
remunerados), drogas (mal que atinge a juventude) e o que parou o Brasil foi
uma telenovela. Isso poderia até servir de enredo para uma telenovela, mas provavelmente
não daria audiência.
Alguns doutores e especialistas
em dramaturgia podem até defender “Avenida Brasil”: “A novela acertou em cheio ao trazer como pano de fundo os novos
contextos sociais do Brasil. Ao ambientar seus personagens no subúrbio carioca
com uma visão positivista do cotidiano, o autor acionou mecanismos
psicossociais adormecidos, inclusive, em classes mais altas”, analisa o doutor em Teledramaturgia
Brasileira e Latino-Americana pela USP, Mauro Alencar. “A
isso podemos somar uma trama perfeitamente bem urdida, que flertou com outros
gêneros como o cinema e o seriado; com personagens densos, humanos a ponto de
tornarem-se adjetivos (caso do ‘Tufão’)”. “A direção cinematográfica, em
tomadas e na fotografia, e a quebra de paradigma do folhetim tradicional:
Avenida Brasil não tem como tema central uma história romântica, mas uma
história de vingança, onde não existe o mocinho e o vilão, os personagens
centrais não são maniqueistas como no folhetim tradicional” diz o escritor
Nilson Xavier, autor do Almanaque da Telenovela Brasileira. E o Doutor em
teledramaturgia pela USP, com tese recém-defendida sobre a construção do vilão
nas telenovelas brasileiras, Claudino Mayer destaca: “O sucesso dessa novela se
deve ao bairro do Divino, ele funciona independente da classe social, qualquer
nível está representado ali”, aponta. “Cada um daqueles personagens trouxe um
tipo que é uma representação dessa classe C que vem crescendo, são elementos de
representação do povo brasileiro. O João Emanuel Carneiro conseguiu. Ele estava
no momento certo, na hora certa. E olhe que é de elite, como é que consegue
escrever assim sobre esta nova classe C?! Além do que, ele vem construindo a
novela num ritmo que se aproxima do seriado”.
A
meu ver a história do Brasil se não era uma novela acabou de se transformar.
Como algo tão fútil como uma telenovela pode parar um país inteiro, e
problemáticas sociais tão importantes podem ser facilmente esquecidas da noite
para o dia. Em Roma, um dos maiores impérios da humanidade, o humorista e poeta
romano Juvenal chamava o modelo de alienação e controle das massas de política
do “Pão e Circo”. No Brasil só basta o circo. Está é a verdadeira avenida
Brasil, o país que parou.
Um comentário:
Amigo Douglas.
Parabéns pelos artigos que fazem refletir sobre a nossa realidade. Pensar criticamente torna a sociedade mais intensa e com isso torna-a mais capaz de mudar a sua própria realidade..
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