sábado, 3 de julho de 2010

Crise do sistema colonial: uma visão mais panorâmica

Por Douglas Barraqui

A relação entre colônia e metrópole eu traduziria em duas palavras: dependência e subordinação. Na verdade o Brasil tinha um significado impar para a economia lusitana, era um ponto de equilíbrio para aquele país em comparação com as colônias afro-asiáticas. Mas o navio afundou e levou junto a estrutura do pacto colonial.


A crise que se abateu sobre Portugal, e que desestruturou o pacto colonial no final do século XVIII e início do século XIX, tem que ser pensada em um contexto bem mais amplo e muito mais global do que uma mera analise de crise econômica e política. Temos que retomar o pensamento iluminista que queimou como pólvora no coração da burguesia; na Revolução Francesa e seus ideais de liberdade, igualdade e fraternidade; na propagação das idéias liberais, no vapor da Revolução Industrial, no aburguesamento da Europa que se espalhou como uma doença contagiosa.


O choque entre forças renovadoras e tradicionais marcou o esgotamento da sociedade tradicional, aquela do Antigo Regime com resquícios ainda feudais, e fez aflorar uma nova sociedade, um novo sistema econômico, o liberalismo.


Portugal sofreu com a fúria das entranhas da terra, o grande sismo de 1755; estava atrelado e intrinsecamente dependente da economia inglesa, e sofreu com a crise econômica de 1766-1769: período marcado por déficit econômico e crise na produção aurífera no Brasil. Aliado a tudo isso Portugal, em plena segunda metade do século XVIII, era o patinho feio da Europa, atrasado em relação aos demais países.


Napoleão, que o filosofo alemão Hegel intitulou como sendo “o espírito a cavalo”, tinha como projeto transformar a França na maior potência do mundo. Todavia, teria uma pedra bem grande em seu sapato, a Inglaterra. Os planos de Napoleão incluíram o chamado Bloqueio Continental, segundo o qual as nações foram impedidas de comercializar com a Inglaterra sob a pena de invasão das poderosas tropas napoleônicas. Para a França era fundamental o isolamento da Inglaterra; para Inglaterra era imprescindível preservar as alianças econômicas e os portos de apoio; para Portugal, extremamente dependente da Inglaterra, restava manter a integridade do império, no momento de invasão das tropas lideradas pelo general Junot.


A vinda da família real para o Brasil em 1808, escoltada pela marinha inglesa, deve ser interpretada como uma fuga. E esse fato histórico e seus desdobramentos abalariam as estruturas do pacto colonial, decretando seu fim.


As medidas tomadas por D. João VI, então príncipe regente no momento de loucura da ainda viva rainha D. Maria “a louca”, modificariam as relações econômicas entre Portugal e Brasil. Medidas como a abertura dos portos do Brasil as nações amigas; os favorecimentos dados à Inglaterra nas tarifas aduaneiras e nos tratados de Comércio e Navegação, e de Aliança e Amizade; e quando, em 1815, o Brasil passou a condição de Reino Unido a Portugal e Algarves, podemos dizer que, teoricamente, não éramos mais uma colonial.


O fato é que a chegada da família real e as medidas tomadas por D. João VI puseram fim ao exclusivismo comercial de Portugal para com o Brasil, que passou a manter um comércio direto com a Inglaterra. Essa conjuntura era desfavorável para Portugal que sentiu a desestruturação de suas bases econômicas. Essa desarticulação do eixo estrutural colonial trouxe consequências políticas, econômica e sociais que atingiria as bases do sistema colonial.


Portando, a desarticulação do sistema colonial e seu consequente fim têm que ser pensado em um contexto muito mais global. Este está inserido no choque entre as forças renovadores e tradicionais do fim do século XVIII e início do século XIX. Foi à pá de terra fundamental para o alvorecer de uma nova sociedade e, para o caso do Brasil, uma nova conjuntura política, econômica e social.


Bibliografia Consultada:


SIQUEIRA, Maria da Penha Smarzaro. Pobreza no Brasil colonial: representação social e expressão da desigualdade na sociedade brasileira. História - revista leletrônica do Arquivo Público do estado de São Paulo, nº 34, 2009.


WEHLING, Arno & WEHLING, Maria José C. M. Formação do Brasil colonial. 3ª. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

2 comentários:

Helaine Pimentel disse...

Ei...Valew... estarei fazendo algumas visitinha no seu tbm.

Anônimo disse...

muito bom gostei,esta bem explicadinho, valeu.