sábado, 15 de agosto de 2009

Moniz Freire

Foi lendo o livro de Jose Cândido Rifan Sueth, mestre em história social das relações políticas, que de fato entendi porque Moniz Freire ocupa um lugar especial no hall de personalidades capixabas, tendo deixado sua marca como personalidade política na história do Espírito Santo. E aqui está, portanto, a razão de existir deste artigo.


José de Melo Carvalho Moniz Freire, nasceu em 13 de julho de 1861, natural de Vitória, cursou direito na Faculdade de Recife tendo concluído o curso na área jurídica em São Paulo. em Vitória fundou alguns jornais. Casou-se com uma paulistana com quem teve nove filhos e, em 2 de maio de 1892, foi eleito presidente do estado [1].


Tinha, como meta de trabalho, a construção de uma linha férrea unindo Minas Gerais e Espírito Santo, para tanto o estado contraiu a primeira divida externa, de 17 milhões e quinhentos mil fracos franceses, que foram de fato aplicados na construção da estrada de ferro Sul do Espírito Santo, que faria ligação entre Vitória e Cachoeiro de Itapemirim. Povoar o solo e transformar Vitória em um grande centro comercial era seu sonho.



Trouxe ao estado 20 mil italianos a fim de trabalharem diretamente na lavoura. Implementou a navegação a vapor no Rio Doce e promoveu a expansão da ilha de Vitória com o projeto Novo Arrabaldi. Todavia, a carência de autonomia em relação ao governo central impediu a continuidade dos planos tão esperançosos. O próprio Governo Federal não assistia o estado, negligenciando varias reivindicações e pedidos de auxilio feitos pelo então governador Moniz Freire, São Paulo, por sua vez, era preferido. A exemplo da necessidade de um serviço regular de higiene para o Estado, assim se queixa Moniz Freire:


“[...] porque faltam-nos para isso pessoal competente, recursos, e outros elementos indispensáveis, dos quais no Brasil só dispõem a Capital Federal e São Paulo, que têm dependido muitos milhares de contos para montá-lo [...].”[2]


Outro exemplo claro da insignificância a qual era arremetida o E.S., apesar de ser a nona renda do país, estava na representatividade nos ministérios. O estado encontrava-se entre os seis estados sem nenhuma representação nesse organismo. Com o termino do primeiro mandato, em 23 de maio de 1896, sendo então sucedido por Graciano dos Santos Neves, o quadro se agravou. Governado o estado em uma situação bastante difícil, devido a crise do café, Graciano suspendeu quase todas as obras planejadas por Moniz, com exceção da via férrea.


Em meio ao contexto de baixa dos preços do café no mercado, em 23 de maio de 1900, Moniz Freire dá início ao seu segundo mandato. A seca abate os agricultores capixabas, agravando a situação produzida pela crise do café. O “Espírito Santo viu-se obrigado a pedir a moratória aos credores estrangeiros em 1902.” [3]


A fim de enfrentar a crise Moniz não vê outra saída se não corte de gastos públicos. A possibilidade de um novo recurso econômico para o estado estava na exploração da areia monazítica do litoral capixaba, que devido a um problema jurídico relacionado a constituinte de 1891, sofreu dificuldades de se efetivar. Moniz se queixa-se do Governo Federal:



a execução desse contrato tem sido dificultado por atritos entre a União e o estado, devido a falta de delimitação da área de marinhas na zona onde a exploração teve começo.[4]


A crise cafeeira assolava as zonas produtoras, levando Moniz Freire a tomar a iniciativa de procurar o presidente de São Paulo, a fim de, juntos mandarem carta aos governantes de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia, convidando-os a uma ação conjunta, para um inteligente trabalho de marketing dirigida a Europa, com intuito de arrebanhar novos mercados consumidores, o que poderia resolver o problema da superprodução causa primaria da crise. Dentre as prerrogativas do plano de Moniz, estavam a distribuição de café nas fábricas européias, liceus, exército e marinha, com a finalidade de fomentar novos consumidores em potencial, também, organizar estatísticas que permitiriam um plano de manobras em momentos de crise e estabelecimento de relações diretas entre comércio e os mercados consumidores. Um projeto audacioso, todavia, nada foi levado a diante, o que leva a novas queixas por parte de Moniz:


“não poderia o nosso estado, pequeno e exausto como se acha, pretender presentemente tomar nenhuma iniciativa no sentido de forçar uma deliberação eficaz sobre esses assuntos; por mais que a sua sorte esteja aí envolvida, sua posição não pode ser senão de passividade resignada.”[5]


Assim está o estado do Espírito Santo em seu governo: “pequeno e exausto”, impossibilitado de “iniciativa”, encontrando se numa posição de “passividade resignada”; no mais sem autonomia. Tende a se agravar com relação ao saldo devedor externo. Por fim, em 1903, é inaugurada a ligação férrea entre Cachoeiro e o Rio de Janeiro, porém o café do sul do estado continuou a ser exportado pelo Rio de Janeiro, entre outras razões devido ao baixo valor do frete Vitória/Cachoeiro, ser mais caro que o Cachoeiro/ Rio. Perpetuava-se deste modo a dependência do estado.


Moniz questiona a centralização do poder, e reclama da posição de subordinação em relação à União. O Espírito Santo estava em uma situação de fragilidade, quando comparado co outros estados considerados de primeira ordem.


É em meio a um ambiente de pessimismo e de possibilidade de agravamento das dependências que ele termina seu segundo mandato em 1904.


Notas:

1. FRANCO, Sebastião Pimentel; HEES, Regina Rodrigues. A República e o Espírito Santo. Vitória: multiplicidade, 2003. Pg. 48 e SS.

2. SUETH, José Candido Rifan. Espírito Santo, um estado "satélite" na primeira república: de Moniz Freire a Jerônimo Monteiro (1892-1912). Vitória: Flor & Cultura, 2006. Pg. 72.

3. FRANCO, Sebastião Pimentel; HEES, Regina Rodrigues. A República e o Espírito Santo. Vitória: multiplicidade, 2003. Pg. 51.

4. SUETH, José Candido Rifan. Espírito Santo, um estado "satélite" na primeira república: de Moniz Freire a Jerônimo Monteiro (1892-1912). Vitória: Flor & Cultura, 2006. Pg.82.

5. SUETH, José Candido Rifan. Espírito Santo, um estado "satélite" na primeira república: de Moniz Freire a Jerônimo Monteiro (1892-1912). Vitória: Flor & Cultura, 2006. Pg.83.


Bibliografias:

FRANCO, Sebastião Pimentel; HEES, Regina Rodrigues. A República e o Espírito Santo. Vitória: multiplicidade, 2003.

SUETH, José Candido Rifan. Espírito Santo, um estado "satélite" na primeira república: de Moniz Freire a Jerônimo Monteiro (1892-1912). Vitória: Flor & Cultura, 2006.

4 comentários:

História é Pop! disse...

Não achei seu orkut, então estou passando o meu.
Rodrigo Carioca ja faz parte dele, esteja a vontade viu!!!
bjao


Júnia
http://www.orkut.com.br/Main#Profile.aspx?rl=mp&uid=5461751261809022834

Anônimo disse...

Não achei seu orkut, então estou passando o meu.
Rodrigo Carioca ja faz parte dele, esteja a vontade viu!!!
bjao


Júnia
http://www.orkut.com.br/Main#Profile.aspx?rl=mp&uid=5461751261809022834

Anônimo disse...

Meus pais, avós, tios e primos são todos capixabas (por parte de pai e mãe) e sempre circulo por toda região, incluindo Moniz Freire e achei super interessante suas informações Douglas.
Como nasci em BH não conheci toda a história da região de minha família estou tendo oportunidade de tomar mais contato com essas informações por meio de seu blog.
Muito interessante sua publicação!

Abraços


Júnia

MARTHA THORMAN VON MADERS disse...

Como sempre querido amigo, aqui sempre aprendo coisas interessantes.
beijosssssssssss