Prof. Douglas
Barraqui
O movimento republicano
Homenagem da Revista Ilustrada à proclamação da república brasileira |
O ideal de república não era novo no
país e se divide em duas fases: durante o Período colonial, significou a
revolta contra a metrópole, é o que a autora do livro “Da Monarquia a Republica”, Emila Viotti Costa, chama de
republicanismo utópico e após independência:, que significou uma oposição ao
governo.
O partido republicano surge em 1870,
sua origem está no partido liberal, que em 1868 cindiu-se em duas alas:
radicais e moderados. Dentro da ala dos radicais que vai evoluir o ideário
republicanismo.
De 1870 até 1889 o partido republicano ampliou
sua influência. Foram criados vários clubes e jornais, e essa ampliação do
ideário de república se dá graças a propaganda feita por esses órgãos, que se
concentraram preferencialmente no sul, segundo o qual 73% dos jornais e 89% dos
clubes, localizavam-se nessas províncias. Portanto, o sul do país demosntrava
que era o grande emissor da propaganda republicana.
Grande parte do corpo militante do
movimento republicano era composto por fazendeiros, rompendo com a idéia de que
as zonas rurais eram predominantemente conservadoras. Os dirigentes do
movimento deixavam bem claro em não ter nada a ver com a questão abolicionista
(o que não significava que alguns de seus membros fossem simpáticos ao fim do
escravismo) a fim de conservarem a simpatia com os fazendeiro. Quando a
participação no movimento era preponderante a presença de elementos do oeste
paulista em detrimento do Vale do Paraíba. Emília Viotti da Costa, diz que o Oeste Paulista configurava-se em
uma zona pioneira e que destacava-se pelo espírito progressista: pioneiros
na substituição da mão de obra escrava pela de imigrantes, ampliação de
ferrovias e organismos de credito, a própria população era mais diversificada
profissionalmente, formação de uma mentalidade mais urbana do que rural devido
que os fazendeiros viviam boa parte do ano nas cidades. Portanto em
São Paulo os fazendeiros formavam o núcleo mais importante do partido
republicano, já no Rio de Janeiro e demais províncias era constituída por
representantes da camada urbana.
O partido republicano se dividia em
duas tendências: A revolucionária, idealizava a revolução popular, o povo
deveria fazer a revolução e a evolucionista, acreditavam que se chegaria a
republicanismo pelo modo pacífico, através da via eleitoral. Essa ala
evolucionista é a vencedora no congresso realizado em são Paulo em
1889, e Quintino Bocaiúva é indicado para a chefia do partido.
A solução militarista
É em 1887 que a chefia do partido
começa a cogitar na possibilidade de recorrer ao exército a fim de derrubar a
monarquia e instaurar a república. A questão militar era explorada pelos
republicanos a fim de colocar os militares contra a monarquia, e
assegurava-lhes incondicional apoio. A autora explica que não havia uma questão
militar e sim várias: a primeira data do fim da Guerra do Paraguai; difusão do
positivismo de conte nas escolas militares, principalmente com a ação de
Benjamin Constant; entre os militares havia a difusão da convicção de que os
homens de farda eram “puros” e “patriotas”, e estavam ansiosos para corrigir os
vícios da organização política do país, ao contrário dos civis corruptos e sem
nenhum sentimento patriótico. Dentro do corpo militar havia certamente
profundas divergências, mas a adesão de uma facção, mais ou menos importante, à
idéia de república foi decisiva para a proclamação da mesma. Emília argumenta
que: "A república nasce sobre o signo do exército".
Tentativas de frear o movimento
O movimento abolicionista e a
propaganda republicana faziam generalizar a impressão de que a monarquia estava
com seus dias contados. Foram então deixadas algumas palavras proféticas pelo
Barão de Cotegipe, disse ele:
“não se apresse a correr para ela que ela está correndo para nós. O meu
ministério caiu por uma conspiração do palácio, o meu sucessor sairá na ponta
das baionetas e talvez com ele a Monarquia.”
Ouro Preto, quem assumira o ministério
em 1889, tinha a plena convicção dos riscos que estava por enfrentar.
E deste modo era necessário neutralizá-la, não por meio da violência ou
repressão, mas sim demonstrando a elasticidade do regime monárquico, por
intermédio de reformas políticas, sociais e econômicas, inspiradas na escola
democrática. Inicia-se então o programa de reformas: ampliação da
representação; plena autonomia das províncias; liberdade de culto religioso;
temporariedade do senado; liberdade de ensino; lei de terras que
facilitasse sua aquisição; estabelecimento de créditos; elaborar um código
civil; reformas no conselho de Estado dentre outras reformas de nítido carater
liberal.
"Proclamação da República", 1893, óleo sobre tela de Benedito Calixto (1853-1927). Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo |
Pedro Luiz Soares de Souza, deputado do
Rio de Janeiro, pergunta a Ouro preto: “é o começo da República?”, ao que lhe
respondeu Ouro Preto: “não, é a inutilizarão da República.” A câmara recuou
diante das medidas, que pareciam demasiadamente radicais. O que testemunhando,
portanto, a incapacidade dos grupos dominantes em aceitar as reformas
necessárias para inutilizar o movimento republicano sem a repressão. O fato é
que seria impossível realizar tais reformas dentro dos quadros da monarquia.
O golpe de 15 de novembro
Com a dissolução da câmara a situação
se agravou. Ouro preto tomou algumas medidas que desagradaram os militares e
foram amplamente utilizadas pelos republicanos, que se aproveitando do momento
de inquietação, passaram a insistir com os militares para que se colocassem à
frente do movimento republicano. Em 11 de novembro, Rui Barbosa, Benjamin
Constant, Aristides Lobo, Bocaiúva, Glicério e o coronel Sólon reuniram-se na
casa de Deodoro a fim de convencê-lo a tomar partido. Assim em 15 de novembro
era proclamada a República, por um golpe militar, conjugando três forças: O
exército, fazendeiros do Oeste Paulista e Representantes da classe média
urbana.
O ano de 1889, todavia, não significou
uma ruptura do quadro histórico do Brasil: As condições de vida do trabalhador
rural continuaram as mesmas; Permaneceu o sistema de produção e o caráter
colonial da economia e persistia a dependência em relação ao mercado externo e
ao capital estrangeiro.
Proclamação da República no Rio de Janeiro (por Georges Scott, publicado em Le Monde Illustré, nº 1.708, 21/12/1889). |
Referência:
COSTA, Emilia Viotti da. Da Monarquia
a Republica: momentos
decisivos. 5. ed. - São Paulo: Brasiliense, [1989?]. 361p. ISBN 8511130462
(broch.).
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