Por Douglas Barraqui
A revista Veja deste mês trás em sua capa “o poder da ressurreição: como o grande dogma
do cristianismo resiste em um mundo cada vez mais cético”. Por que, depois de pouco menos de 2 000 anos,
a crença na ressurreição de Jesus Cristo, um dos mais extraordinários mistérios
da fé, ainda exerce efeito tão arrebatador?
Acreditar na ressurreição de
Cristo, você pode me dizer, trata-se de uma questão de fé. Sim, trata-se de uma
questão de fé, mas a história, também, nos dá uma visão privilegiada desse acontecimento
ímpar do cristianismo.
Flávio Josefo, historiador
judeu que viveu de 37 d.C. até o ano 100, em seu livro “Antiguidades Judaicas”,
livro 18, parágrafos 63 e 64, escrito em 93 em grego koiné, diz sobre Jesus
Cristo:
"Havia
neste tempo Jesus, um homem sábio [, se é lícito chamá-lo de homem, porque ele
foi o autor de coisas admiráveis, um professor tal que fazia os homens receberem
a verdade com prazer]. Ele fez seguidores tanto entre os judeus como entre os
gentios. [Ele era o Cristo.] E quando Pilatos, seguindo a sugestão dos
principais entre nós, condenou-o à cruz, os que o amaram no princípio não o
esqueceram; [ porque ele apareceu a eles vivo novamente no terceiro dia; como
os divinos profetas tinham previsto estas e milhares de outras coisas
maravilhosas a respeito dele]. E a tribo dos cristãos, assim chamados por causa
dele, não está extinta até hoje."
Alguns podem até contestar o
testemunho de Flávio Josefo, pois seus textos poderiam ter sido alterados pelos
monges copistas da Idade Média. Primeiro, os monges copistas eram, grande
maioria, analfabetos justamente para não alterarem os textos que copiavam. Segundo,
as cópias em árabe, feitas por muçulmanos, trazem a mesma observação sobre
Jesus Cristo.
Os mais céticos contestam
mesmo os evangelhos dizendo que a ressurreição de Cristo nada mais é do que uma
pura e simples propaganda. Porém, a forma como esse acontecimento único está
disposto nos evangelhos nos mostra o contrário: Primeiro, a ressurreição era uma
das doutrinas da antiguidade que poucos ousavam acreditar e aceitar. Comprar
mais essa idéia seria se colocar ainda mais em perigo em um momento de
perseguição dos cristãos. Segundo, na antiguidade, o testemunho de uma mulher
era facilmente invalidado. Mas, curiosamente, a primeira a avistar e
testemunhar Cristo ressuscitado foi Maria Madalena. Se, de fato, fosse uma
propaganda, o primeiro a ser testemunho da ressurreição de Cristo deveria ter sido um
homem, mas assim não o foi.
Não estou aqui, portanto, para desmistificar
a sua fé, tão pouco contestar seu ceticismo. Quero apenas pontuar como a
história pode dar sua contribuição para um dos acontecimentos mais singulares
da história do cristianismo.
Referência:
Revista Veja: http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/ressureicao-o-grande-dogma-do-cristianismo/.
Acesso em 05 de abril de 15.
JOSEFO, Flávio. Seleções de
Flávio Josefo, Editora das Américas, 1974, tradução de P. Vicente Pedroso.
DONINI, Ambrogio. História do Cristianismo. Lisboa,
Edições 70, s/d