Por Douglas Barraqui
“Na paz prepare-se para a guerra, na guerra prepare-se para paz”; no caso do Rio de Janeiro, quando deveremos nos preparar para a paz? Bombas, tanques, tiros de fuzis rasgando a noite; o Rio virou Bagdá. Veículos em chamas, correria nas ruas, carros de polícia em alta velocidade; pena não ser mais um filme de Hollywood. A muito se falava de um Estado paralelo, o crime organizado, e de uma guerra não declarada que ceifava vidas humanas todos os dias. Hoje o que podemos dizer sobre o Rio de Janeiro? Continua lindo?
De 2000 a 2009, 822 ônibus foram queimados e depredados por bandidos no Rio. Desde o início dos ataques neste mês de outubro, pelo menos 100 carros de passeio, ônibus, motos, vans e caminhões já foram incendiados e, até sexta feira, dia 26, eram cerca de 50 mortos na capital, Região Metropolitana, Baixada Fluminense e em cidades do interior. Mata-se mais no Rio de Janeiro do que em Israel. O que sobra é o choro das mães que perdem seus filhos.
Para o sociólogo e pesquisador do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Gláucio Soares, a instalação de UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) resultou "numa redução considerável de renda" pelos traficantes, e na perda de um domínio territorial que já somava décadas. As UPPs culminaram na perda do monopólio territorial do tráfico, paralelamente as milícias, começaram a concorrer nas mesmas atividades ilícitas, coisas da concorrência do mundo capitalista. Então, restou aos traficantes protestar a perda de seu ganha pão queimando carros.
Então parabéns se você gostou dessa explicação. Agora entenda de fato os fatos: uma das origens históricas para o controle do tráfico sobre comunidades carentes do Rio remonta aos mandatos do ex-governador Leonel Brizola (1983-1987 e 1991-1994). A política brizolista, de que polícia não sobe morro, foi desastrosa porque deu tempo, e de sobra, para esses grupos estabelecessem suas bocas de fumo e seus domínios territoriais. As UPPs puseram fim a esses domínios.
Há ainda uma motivação política por trás dos ataques, lembrando que estamos num momento de transição entre um mandato político e outro. A situação lembra a virada de 2006 para 2007, quando uma série de ataques, incluindo ônibus queimados e policiais mortos, foi realizada antes da posse do governador Sérgio Cabral. A única diferença e que os ataques de agora pareceram muito mais articulados e coordenados.
E por último o país do futebol não poderia correr o risco de manchar de sangue a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016. O Rio se tornou foco de atenção em função desses dois grandes eventos, que vão atrair muito investimento e muito turismo. Qualquer coisa que acontecer aqui, tipo um turista assaltado e morto por traficantes do Morro do Alemão, viraria uma manchete de prato cheio para a mídia internacional. Assim é melhor cortar o mal agora e, esperamos que seja, pela raiz.
E hoje, garimpando informações para escrever o artigo que você está lendo meu caro leitor., me dei conta de como o crime organizado gera divisas, incentiva o lucro, nutri a mídia. Em uma das reportagens com o título “Soldados do Bope vão invadir Alemão em blindados da marinha”, logo abaixo do texto consta “links patrocinados”, com as seguintes propagandas: “Manutenção de Vidros Blindados Vamos Até Você! Cartão 3x Sem Juros”; “Excelência em Blindagem para carro, venha blindar seu carro agora mesmo” e, a minha prefirida, “Camiseta do Bope, compre agora R$ 60 camiseta faca na caveira”. Rio babilônia.
Fontes: