Prof. Douglas Barraqui
Recentemente tive a oportunidade de dar aula em um
projeto social de iniciativa de alguns amigos professores, o Projeto Ser. Pude
notar a seriedade dos profissionais envolvidos e o comprometimento dos alunos.
Foi dada a mim a responsabilidade de trabalhar
atualidades. Preparei quatro questões: as duas primeiras tratando sobre
economia e as duas últimas sobre política. Abaixo seguem as questões por mim elaboradas,
gabaritadas e devidamente comentadas.
QUESTÃO 01
Reportagem I
“O mundo não vai continuar crescendo
alegremente enquanto os EUA sofrem uma recessão, onde a desaceleração da
economia está provocando a desconfiança dos investidores. O abalo tem origem no
mercado imobiliário dos EUA, a chamada bolha imobiliária: os americanos estão
atrasando ou deixando de pagar a hipoteca da casa própria. Com isso, são
afetadas todas as empresas envolvidas nos empréstimos imobiliários. E o calote
não é pequeno. Segundo o professor de economia Ricardo Almeida, do Ibmec São
Paulo, grande parte do total de empréstimos feitos nos EUA são hipotecas.” (Fonte:
http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/0,,MUL11182-9356,00.html)
Reportagem II
“[...] A crise financeira da Grécia,
país de apenas 11 milhões de habitantes, pode ter profundas implicações para a
economia mundial e a União Europeia. O déficit no orçamento grego, ou seja, a
diferença entre o que o país gasta e o que arrecada, é de 13,6% do PIB, um dos
índices mais altos da Europa e quatro vezes acima do tamanho permitido pelas
regras da chamada zona do euro.”(Fonte:http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2010/04/100428_entendagrecia_ba.shtml)
Sobre
os cenários políticos descritos na reportagem acima, de países diferentes e
contextos diferentes, podemos dizer que
a)
A
crise econômica na Grécia tem sua origem na crise financeira, a chamada bolha
imobiliária, norte americana. Ambas, portanto podem ser tratadas como crise
econômica mundial.
b)
Tanto
a crise grega quanto a crise imobiliária Norte Americana podem ser tratadas
exclusivamente como uma crise de caráter financeiro e que não afetou e nem
afetará outros países.
c)
A
crise grega está direta e indiretamente relacionada com gastos excessivos que
culminaram em uma crise econômica que afeta toda Europa. Ao passo que a crise
imobiliária Norte Americana afetou exclusivamente os EUA.
d)
Ambos
os casos podem ser comparados a crise de 29 quando uma crise econômica do
capitalismo evoluiu para uma crise financeira global, atingindo os países
capitalistas.
e)
a
bolha imobiliária nos EUA desencadeou uma crise financeira que evoluiu para uma
crise econômica mundial. A elevada dívida grega afundou o país em uma crise
financeira com potencial risco para uma crise econômica na zona do euro.
QUESTÃO 02
Os
atuais cenários econômicos do Brasil e da Grécia, é bem verdade, são
diferentes. Mas os caminhos que esses países estão trilhando para sair da crise
são parecidos, pois os países promoveram
a)
cortes
de gastos públicos em áreas como saúde, educação e segurança, aumento de
impostos e a Grécia, como caso exclusivo, recorreu a empréstimos.
b)
a
Intervenção do Estado na economia taxando produtos estrangeiros, injetando
dinheiro na economia e nos bancos.
c)
a
Desaceleração da economia e recorreram a empréstimos com o Fundo Monetário
Internacional (FMI).
d)
incentivos
fiscais e criação de empregos com obras públicas a fim de reaquecer a economia
interna.
e)
Cortes
de gastos orçamentários como ministérios e salários de políticos a fim de
poupar dinheiro para superar a crise financeira que ameaça vários outros
países.
DISCUSSÃO DAS
QUESTÕES 1 E 2:
A palavra economia vem do grego “oikos” (casa) e “nomos” (leis, costumes). Economia, portanto, seria o modo (regras)
de como uma família administra uma casa. Em uma definição mais técnica, seria “a ciência que estuda os fenômenos
relacionados com a obtenção e a utilização dos recursos materiais necessários
ao bem-estar”.
Porém, só entenderemos economia se compreendermos
que ela está inserida em um modo de produção denominado CAPITALISMO. A economia
no sistema capitalista funciona com base no tripé: AGRICULTURA, COMÉRCIO e INDÚSTRIA.
Temos que entender, também, que a economia no sistema capitalista pode ser de
dois tipos:
1) ECONOMIA DE SUBSISTÊNCIA: sem
excedentes, voltada para o consumo próprio e organizada em torno da produção familiar
e/ou tribal.
2) ECONOMIA DE MERCADO: produz
excedente que é destinado para o comércio, geralmente exportação e é organizado
em torno de grandes empresas, aglomerados industriais e bancos.
Na economia de subsistência ocorrem as crises. Para
responder as questões de número 01 e 02 temos que entender os três tipos de
crises que acontecem nesse tipo de economia (segue abaixo definições bem
didáticas que podem ser encontradas em qualquer manual de economia):
1) CRISE FINANCEIRA: decorrente do aumento das
despesas (gastos) e diminuição da arrecadação (impostos). Resumindo é quando os gastos superam a
arrecadação. As principais medidas adotadas pelos governos para superar uma
crise financeira são: cortes de gastos públicas (áreas como saúde, educação,
segurança), aumento dos impostos e mesmo recorrer a empréstimos financeiros. As
medidas para tentar solucionar a crise financeira, se não forem equilibradas,
podem desencadear uma crise inflacionária.
2) CRISE INFLACIONÁRIA: É quando os
preços nas prateleiras dos supermercados sobem descontroladamente. Por exemplo:
digamos que como medida para solucionar a crise financeira o governo tenha
aumentado impostos sobre a energia e sobre os combustíveis. Em países como o
Brasil, em que há uma grande dependência e demanda por energia elétrica e pelo
transporte rodoviário para escoar a produção, essa medida pode significar em
aumento do preço, uma vez que esses produtos dependem de energia elétrica para
serem produzidos e veículos para serem transportados. Os industriais e as
transportadoras terão que aumentar seus lucros para compensar os gastos e no
final quem paga a conta é o consumidor, pois esse valor vai chegar ao produto
final na prateleira dos supermercados. Tanto a crise financeira, quanto a crise
inflacionária podem desencadear uma crise econômica.
3) CRISE ECONOMICA: o país entra em recessão
econômica. Não há expectativas de crescimento e um grave déficit na balança
comercial. Uma crise econômica direta e
indiretamente afeta outros países.
Agora vamos a uma análise histórica para
conseguirmos responder a nossa questão:
Crise de 29 – o crash da bolsa de valores de Nova York
desencadeou uma das maiores crises da história do sistema capitalista.
Basicamente a crise foi ocasionada pela super produção. Após a Primeira Guerra
(1914-1918) os EUA ascenderam como grande potencia econômica mundial.
Exportaram para o mundo o self-made-man
(homem de negócios/empreendedor) e o American
Way of Life (“modo de vida americano” pautado pelo consumismo). Ficaram
igualmente responsáveis pela reconstrução da Europa que teve seus principais
cidades e parques industriais devastados pela guerra. As indústrias Norte Americanas
trabalhavam a todo vapor e forneciam para a economia européia matéria prima e
produtos industrializados. O parque industrial e as grandes cidades européias
foram reerguidas, e o mercado europeu foi gradativamente diminuído as
exigências dos produtos importados dos EUA. O governo norte americano não
interveio na economia e o resultado foi uma crise de super produção que se
transformou em uma grande crise econômica mundial. Franklin Delano Roosevelt,
presidente dos EUA, adotou algumas medidas para superar a crise. O pacote de
medidas foi intitulado New Deal (novo acordo): marcado pela intervenção do
Estado na economia, as principais medidas foram a criação de empregos em obras
públicas, aumento dos salários, compra e queima da produção entre outras, o que
tirou o capitalismo da crise.
Bolha
imobiliária de 2008: a origem dessa crise financeira que evoluiu para
uma crise econômica está no setor imobiliário dos EUA. Na segunda metade da
década de 1990 os EUA passavam por uma desaceleração da sua economia. Para
resolver o problema o governo injetou dinheiro e incentivou o setor imobiliário.
Com juros muito baixos e possibilidade de resgate da valorização do imóvel
através de hipotecas, o setor aqueceu a economia. O norte americano comprava
uma casa por 200 mil dólares e no ano seguinte, devido à valorização do imóvel,
a mesma casa estava valendo 230 mil dólares. A pessoa corria até o banco,
refinanciava a casa e embolsava os 30 mil. Esse efeito, como uma bolha,
aconteceu por alguns anos. Porém em 11 de setembro de 2001 ocorrem os atentados
terroristas. A política norte americana, bem como a economia, tomaram novos
rumos. Os gastos com segurança interna e com manutenção de tropas em países
como Afeganistão e Iraque forçaram a subida dos juros e desestabilizaram o
mercado. Com os juros altos, o norte americano se viu na situação de não poder pagar
as hipotecas. Resultado foi o calote generalizado. Os bancos faliram, setor
imobiliário foi à bancarrota, construtoras quebraram. A crise atingiu outros
países.
A crise grega de
2015 – a crise na Grécia é muito simples de ser entendida: a Grécia deve
muito dinheiro. A dívida grega está por volta de 300 bilhões de euros,
aproximadamente 700 bilhões de reais. Para superar a crise a Grécia fez mais
divida. Recorreu a empréstimos ao FMI (Fundo Monetário Internacional) e aos
países da zona do Euro. Foi preparado um pacote de empréstimos de 110 bilhões
de euros por 3 anos. Em contra partida, os credores exigem uma política de
austeridade (cortes de gastos públicos e aumento de impostos). A população
grega foi contra política de austeridade e demonstrou sua insatisfação através
de um plebiscito realizado no último dia 5 de julho deste ano.
A crise financeira da Grécia oferece um risco em
potencial a outros países da zona do euro. Se a Grécia der calote os bancos que
emprestaram dinheiro a Grécia irão falir. Para sobreviverem esses bancos terão
que aumentar as taxas de juros o que afetará outros países da zona do euro que
também se encontram com elevadas dívidas públicas. Essa condição conjuntural econômica
vai arrastar outros países para a mesma situação da Grécia, havendo um risco na
dissolução da EU (União Européia).
Gabarito -
questão 01 – letra E:
A bolha imobiliária nos EUA desencadeou uma crise
financeira que evoluiu para uma crise econômica mundial. A elevada dívida grega
afundou o país em uma crise financeira com potencial risco para uma crise
econômica na zona do euro. Para
responder essa questão o aluno tem que entender a diferença entre crise financeira
e crise econômica.
Gabarito -
questão 02 – letra A:
De fato para superar a crise o governo atual optou
por “cortes de gastos públicos em áreas como saúde, educação e segurança,
aumento de impostos e a Grécia, como caso exclusivo, recorreu a empréstimos.
QUESTÃO
03
Observe
a manchete abaixo:
Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/11/1550471-nao-se-faz-obra-publica-no-brasil-sem-acerto-diz-advogado-de-lobista.shtml
Sobre
a corrupção, no caso dos últimos escândalos no Brasil, apontamos para uma
questão envolvendo a ética e a moral dos nossos governantes. Sobre isso podemos
afirmar que
a)
o
advogado está sendo moralista ao fazer uma afirmação que coloca a prova o
comportamento dos políticos brasileiros de maneira generalizada.
b)
os
políticos são imorais, pois aceitam propina, porém são éticos pois, todos
aceitam propinas para fazer obras públicas.
c)
a
moral incutida nessa reportagem é construída a parti do coletivo enquanto a
ética é construída a partir do individual.
d)
os
“acertos” são formas de fazer a manutenção da ética e da moral nas aditividades
públicas.
e)
por
aceitarem ou cobrarem propinas os políticos, representantes do povo, são
antiéticos em seu modo social de agir e são imorais em seu modo pessoal de
agir.
DISCUSSÃO DA
QUESTÃO – 3
A palavra política vem do grego “polis” (Cidade-Estado)
e “tikos” (bem comum). Quando falamos em política falamos em uma relação de
poder. Poder que emanar do povo. E qual seria o problema da política? Alguns responderiam
que são os políticos, todos corruptos. Outros dirão que é o povo, afinal os
nossos políticos são reflexo do povo que os elege.
De fato os homens que fazem a nossa política, ditos
nossos representantes, são suscetíveis a corrupção. Podemos dizer que um
político ou uma pessoa é corrupto quando adota uma postura antiética e imoral.
a) Ética – do grego “êthos” (caráter): como você se
comporta em meio a sociedade que você vive, o modo como agimos em
sociedade. A ética e fundamenta em
normas e regras sociais e construída a partir do coletivo.
b) Moral – do latim “mores” (costumes/valores): modo pessoal de
agir, com base em normas e regras pessoais. Construída a partir do individual. A
moral fundamenta a ética.
Para saber mais sobre ética e moral leia mais em FILOSOFIA- AULA 04 - ÉTICA E MORAL.
Gabarito -
questão 03 – letra E
Por aceitarem ou cobrarem propinas os políticos,
representantes do povo, são antiéticos em seu modo social de agir e são imorais
em seu modo pessoal de agir.
QUESTÃO 04
A
aprovação do Projeto de Lei Ficha Limpa, no Senado, ocorrida no dia 19 de maio
de 2010, foi considerada um avanço na política brasileira, no sentido de criar
mecanismos para combater a corrupção no país. (Fonte: http://educacao.uol.com.br/atualidades,
28.05.2010)
Sobre
essa Lei, pode-se afirmar que
a) foi um projeto de lei apresentado pela
iniciativa popular, contendo assinaturas de mais de 1 milhão de brasileiros e
que passou a ser aplicada nas eleições municipais de 2012.
b) a lei torna para sempre inelegível um
candidato que tiver o mandato cassado, renunciar para evitar a cassação ou for
condenado por decisão de órgão colegiado.
c) impede a candidatura de políticos
suspeitos de terem praticado crimes de corrupção ativa ou passiva e crimes de
tráfico de influência.
d) a lei ainda não entrou em vigor, pois,
ainda carece de aprovação no Supremo Tribunal Federal.
e) a lei foi obstaculada no congresso
nacional, não aprovada, o projeto da Ficha Limpa acabou engavetado.
DISCUSSÃO DA
QUESTÃO – 4
A Lei da Ficha limpa, Lei Complementar nº. 135 de
2010, foi fruto da iniciativa popular idealizado pelo juiz Márlon Reis entre
outros juristas que reuniu cerca de 1,6 milhão de assinaturas com o objetivo de
aumentar a idoneidade dos candidatos.
A lei torna inelegível por oito anos um candidato
que tiver o mandato cassado, renunciar para evitar a cassação ou for condenado
por decisão de órgão colegiado (com mais de um juiz), mesmo que ainda exista a
possibilidade de recursos.
Em fevereiro de 2012, o Supremo Tribunal Federal
(STF) considerou a lei constitucional e válida para as eleições municipais do
mesmo ano.
Gabarito - questão 04 – letra A
“Foi
um projeto de lei apresentado pela iniciativa popular, contendo assinaturas de
mais de 1 milhão de brasileiros e que passou a ser aplicada nas eleições
municipais de 2012”.