terça-feira, 28 de julho de 2015

SER PROFESSOR DE HISTÓRIA NO MUNDO DOS MEUS ALUNOS

Por Douglas Barraqui

Há algo que me dá muito orgulho, ser professor de história. E ser professor de história no mundo em que vivemos, no hoje, no mundo dos meus alunos. Eu, enquanto filho do meu tempo, estou me referindo a um mundo sem uma forma definida, por vezes sem coesão e coerência, um mundo do superficial do passageiro e onde existem mais incertezas do que certezas, um mundo onde os nossos valores escorrem por ralos e vielas do individualismo.

Em sala de aula quando, em meio a debates históricos, me pego conversando com meus alunos sobre meu passado, eles se espantam quando falo que na minha infância TV não tinha controle remoto e celular não existia. E quando falo que não existia, e nunca imaginaria que um dia viesse a existir, facebook, twitter e instagram, meus alunos se compadecem de mim, sentem pena de mim e da minha infância que, na visão dos meus alunos, devia ter sido muito difícil, horrível.

Esse mundo, que tem como programa básico o individualismo, das redes sociais, todos são eminentemente felizes. Todos compartilham sua felicidade intensa pelas redes sociais em fotos lindas, perfeitas, maravilhosas. E se assim não forem usa-se fotoshop. Pelas redes sociais tudo é belo, invejável e perfeito. Ninguém, absolutamente ninguém, vai postar coisas do tipo “meu dia foi chato”.

Meus alunos não conhecem o que é escrever uma carta e postar uma carta. Conhecem o que é um E-mail, enviar um E-mail, ou mesmo, cutucar pelo facebook e chamar pelo “Zap Zap”. Não os culpo, tão pouco os descrimino. De tal forma, uma parte que noto na qualidade de historiador, é a primeira vez na história humana que os jovens detém e dominam a tecnologia. Isso é bom ou ruim, hora deixo previsões para o futuro para os especialistas em  cartas de tarô. 

Alguns podem até chegar à seguinte conclusão: meu mundo, o mundo em que fui criado e formado, está obsoleto. As mudanças ocorreram tão rapidamente, foram tão dinâmicas, que referências de mundo se perderam.

Meus alunos nascem viciados e dependentes de uma coisa chamada tecnologia, não que seja uma droga.  Um reflexo disso está na escrita, meus alunos não sabem escrever, por mais que eu ensine, eles não sabem. Por exemplo: o pronome de tratamento real que, em Portugal, era “vossa mercê” (mercê significa graça, concessão), foi se vulgarizando através dos séculos, transformado em suas colônias, nas fazendas e nos meios mais coloquiais foi se “caipirizando” (vossamecê, vossancê, voismecê, vancê) até chegar ao atual (e dentro da norma culta, afinal a norma é clara, parafraseando um famoso árbitro-comentarista) “você”. E agora chegou ao que considero o limite “VC”. Se caminharmos nesse ritmo alucinante em dez anos “você” vai virar “C” – “’c’ fez a atividade de casa”.

Nas palavras do filósofo Francês Jean Baudrillard “a revolução contemporânea é a da incerteza”. Nossas certezas, não existem mais. As explicações mudam e são descartadas muito rapidamente: até ontem eu acreditava que ovo e banha de porco faziam mal a saúde, entupiam as veias. Vem a minha esposa - pela rede social veja VC -, compartilha um vídeo comigo em que um médico e nutrólogo – eu nem sabia que havia essa especialidade –, José Roberto Cater, explica que ovo é o melhor e mais saudável alimento do mundo, só não tem vitamina C. E que banha de porco é mais saudável do que óleo de cozinha vegetal.


Os jovens da nossa sociedade cometem um erro comum e grotesco: achar que tudo que é novo é bom e tudo que é velho é ruim. Ou, ao contrário, os velhos concebem tudo que é novo como ruim e catastrófico e tudo que é velho como bom e idílico. Pois eu digo, nem um nem outro. O velho não é melhor que o novo, o novo não é melhor que o velho, eles apenas são diferentes. São cabeças diferentes, épocas diferentes e, para ser mais técnico, trata-se de estruturas epistemológicas diferentes. Ser historiador me permite entender isso muito bem.  

domingo, 26 de julho de 2015

FILOSOFIA - AULA - 05 - ARTE

Prof. Douglas Barraqui

Arte serve para quê?

Existe alguma coisa em comum entre o filme “E o Vento Levou”, dirigido por Victor Fleming; “Dom Quixote de La Manch”, escrito por Miguel de Cervantes; a peça teatral “Romeu e Julieta”, de William Shakespear; a música “será” da Legião Urbana e a escultura “Davi” de Michelangelo? É que todas essas coisas são formas de arte, MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS.

A ARTE tem um poder de estimulante sobre nos seres humanos: um livro pode nos fazer chorar, um filme pode nos deixar triste, uma música pode nos deixar felizes, ou tocar nossa paixão por alguém. A arte consegue tocar nossos sentidos, emoções e pensamentos.

A arte, igualmente, pode transmitir todas essas emoções. Veja o exemplo abaixo da obra Davi” de Michelangelo:

Michelangelo retrata o herói bíblico com realismo anatômico impressionante. Trata-se de uma estátua em mármore branco e bruto que mede 5,17 m de altura. Michelangelo levou três anos de trabalho para concluir a escultura.

Michelangelo retrata o personagem bíblico Davi, não após a batalha contra Golias (como Donatello e Verrochio antes dele fizeram), mas no momento imediatamente anterior a ela, quando David está apenas se preparando para enfrentar uma força que todos julgavam ser impossível de derrotar. Isso é notado na confusão de sentimentos que o semblante do rosto de Davi passa ao espectador. Olhando atentamente o semblante da estátua consegue nos passar sentimentos como medo, angustia, raiva, o olhar para cima remete ao gigante que se aproxima. Observe ainda que Davi é descrito na bíblia como franzino e pequeno, porém Michelangelo esculpiu um Davi grandioso. Simbolizando a visão antropocêntrica da época, que colocava o homem no centro das atenções. O homem se torna importante para a arte daquele momento histórico.

A ARTE pode ser inúmeras coisas. E uma das coisas mais importantes, a saber, sobre a arte é que ela “recria o mundo em que vivemos”. Seja no cinema, na dança, na música, na literatura ou no teatro, o artista cria um mundo novo feito de palavras, sons, traços, cores, movimentos, gestos, melodia, símbolos, formas, massas e volumes. Esse mundo, dependendo de quem observa, pode ser mais belo ou mais feio; mais ou menos significativo. Porém, de alguma forma, esse mundo novo revela alguma coisa diferente sobre essa mesma realidade. Ao mesmo tempo um livro, uma música, uma escultura, uma dança, uma pintura pode nos ensinar algo que não sabíamos. Nesse sentido a arte pode ser EDUCATIVA.

Arte nem sempre é algo belo e maravilhoso. Pode ser feia, de causar espanto e ojeriza, mas não deixa de ser arte por isso, desde que consiga tocar nossas emoções arte é arte. Embora a beleza esteja indissociavelmente ligada à arte, esta não é necessariamente, e nem tem que ser, bela. Durante muito tempo os artistas se preocuparam em não ferir a sensibilidade do espectador. Mesmo quando falava de eventos terríveis, como o caso das tragédias, este era maquiado de belo usando palavras elevadas. No entanto, ao longo dos séculos, o homem evoluiu e com ele a arte que mudou bastante, passando a registrar os eventos traumáticos e eventos que não caberiam mais dentro da idéia de belo. Surgiram então novas modalidades de arte como, por exemplo, os contos de terror, os romances góticos, filmes trágicos e as representações pictóricas do século XX que mostram o feio e o traumático como uma realidade inerente ao homem e suas manifestações artísticas.
Mas, a ARTE serve para quê?

A arte serve para refinar o ser humano. Serva para construir um homem melhor. A arte serve para libertar o homem da realidade em que vive. A arte serve para traduzir emoções, das mais variadas. A arte serve para dar significado a vida. A arte é uma maneira do homem se tornar mais rico internamente. A arte serve como um consolo para o difícil fardo de viver. Para um artista a arte pode servir para colocar para fora o que o atormenta. A arte nos faz pensar e repensar o mundo. Arte é a maior expressão da vida humana neste planeta. Em meio a tantas espécies de animais se o ser humano for extinto, o que ficará de nós será a arte expressa em nossas construções, esculturas, pinturas e arquitetura.

A arte é uma criação do homem e quando nos admiramos alguém talentoso, dizemos que é um ARTISTA. Veja Pelé, muitos dizem que com a bola nos pés ele era um artista. Mas Pelé era um esportista, é possível um esportista ser um artista? Futebol também é arte? Bem, futebol é sim um esporte, mas quando ele é jogado muito bem, de uma forma talentosa, a gente identifica algo artístico nele. É algo que tem a ver com a criatividade do jogador, a exemplo de Pelé. O mesmo se pode dizer sobre um cozinheiro, quando seus pratos são tão saborosos, espetaculares e CRIATIVOS, as pessoas dizem que o cozinheiro é um artista na cozinha. Arte, então, tem a ver com criar um mundo novo, um jeito novo de fazer as coisas como jogar futebol ou mesmo cozinhar.

Mas de onde vem nossa CRIATIVIDADE?

Durante muito tempo o artista foi visto de um jeito especial, dotado de um TALENTO especial ou de uma INSPIRAÇÃO. O que inspira o talento do artista e o leva a criar sua arte é a sua experiência de vida, das idéias que ele forma em sua cabeça sobre o mundo em que vive, de sua cultura, de sua forma de ver o mundo. O talento é fundamental, é claro, mas sem inspiração não existe arte.

Arte, portanto tem a ver com criação. O artista, dotado de talento e inspiração, cria um mundo novo com formas, cores, gestos e sons variados. Esse mundo novo tem o poder de mexer com os nossos sentidos sendo capaz de nos emocionar, tocar e mesmo ensinar. A arte tem o poder de nos fazer sentir coisas novas e diferentes, nos renova e nos faz pensar e indagar sobre o mundo em que vivemos. A arte é o motor dos nossos questionamentos filosóficos. A arte nos faz pensar e repensar o mundo.

REFERÊNCIAS:

BLACKBURN, Simon. Pense: uma introdução à filosofia. Lisboa: Gradiva, 200.

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 7. ed. 2. reimp. São Paulo: Ática, 2000.

COLCHETE, Eliane e MORAIS JUNIOR, Luis Carlos de. A formação da filosofia contemporânea. Rio de Janeiro: Litteris, 2014.

DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. O que é a Filosofia? Trad. Bento Prado Jr. E Alberto Alonso Muñoz. Rio de Janeiro, 34, 1992.



sábado, 25 de julho de 2015

FILOSOFIA - AULA 04 - ÉTICA E MORAL

Prof. Douglas Barraqui

Ética para quem?

As nossas ações do dia-a-dia são reflexos dos valores que cultivamos. A maioria de nós concorda quanto a valores básicos como não roubar, não mentir, não matar. Mas, e quando os valores básicos entram em choque? Aqui entram as QUESTÕES ÉTICAS. Diria até que são as encruzilhadas da nossa vida humana, quando temos que escolher entre dois caminhos.

Por vezes nos deparamos entre dois caminhos, ambos com aspectos morais positivos e, ao mesmo tempo, negativos. A complexidade da vida em sociedade emerge e não podemos dizer que existe uma certeza absoluta. É o momento em que cada um deve estar pronto para reavaliar e rediscutir seus valores. Nessas encruzilhadas da vida é você com você mesmo e o que entra em jogo é o CARÁTER.

Mas o que é ÉTICA? E qual a sua origem? A palavra ÉTICA vem de duas palavras gregas: Éthos que significa “o caráter de alguém” aquilo que pertence ao "bom costume", "costume superior", ou "portador de caráter" e êthos que significa “conjunto de costumes instituídos por uma sociedade para formar, regular e controlar a conduta de seus membros”. Para esse último sentido a ética confunde-se com a MORAL, uma palavra quem vem do latim mores ou costumes.

Mas, á ética não consiste apenas em seguir a moral e os costumes da sociedade. Ninguém será pura e simplesmente ético por obedecer ao que está predeterminado pela moral dominante. Como já vimos nas aulas anteriores, os costumes, os valores o que é bem e o que é mal mudam. Portanto, ÉTICA é

a atitude de colocar-se em dúvida, de questionar a moral e os valores.

ÉTICA, portanto, tem haver com:

Autonomia pessoal

AUTONOMIA vem das palavras gregas altos que quer dizer “si mesmo” e nómos que significa “leis”. Assim uma pessoa autônoma é aquela que “dá a lei para si mesmo”. É aquela pessoa que decide por si mesmo quais são seus valores.

Posso dizer então que eu tenho a ÉTICA quando eu paro para refletir sobre as minhas ações e nas minhas ações com as pessoas dentro da sociedade em que vivo. É imprescindível, não podemos confundir ÉTICA com MORAL:

MORAL - é fundamentada nos nossos costumes e é de acordo com a moral que a gente faz escolhas: de fazer isso ou aquilo, vai por este ou aquele caminho.

ÉTICA -  é quando paramos para pensar se valem mesmo esses costumes e se os valores são consistentes.

Veja exemplo abaixo:


Você se encontra  numa guerra e descobre que seu melhor amigo é agente duplo? O que você faria? Do ponto de vista ético, pela amizade (que é um valor humano)  que tem, não contaria nada ao seu capitão. Mas, do ponto de vista das outras pessoas que podem morrer em razão do que ele faz, você tem obrigação de contar. Se não o fizer, estará sendo antiético no plano social, global.

É necessário saber ainda que existem éticas diferentes, conjuntos de referências ou de princípios orientadores da maneira de agir. Isso se dá pela maneira de pensar das pessoas, que é diferente – cada um reage de uma forma frente a uma determinada circunstancia ou estímulo –, bem como isso também se dá por conta dos costumes que são diferentes, variam dentro de uma mesma sociedade. Se a fonte da ética, e desses princípios reguladores, é o jeito de pensar das pessoas, que está ligado, à maneira de viver das pessoas, que pode variar de acordo com o contexto histórico, país e cultura, obviamente as referências vão variar, portanto, teremos éticas diferentes.

Em nível de conclusão: a ética está relacionada, portanto, a discussão dos valores e da moral. Ser ético, no entanto, não consiste pura e simplesmente em seguir a moral e os costumes dominantes na sociedade. Ninguém é simplesmente ético por obedecer ao que está determinado pelos outros. A ética tem a ver com autonomia pessoal. É justamente nas decisões éticas que as pessoas constroem o que chamamos de caráter. Logo, a ética nos coloca em situação de escolhas. Testamos nossa ética quando temos que escolher entre dois caminhos, em que ambos aparecem aspectos positivos e negativos. Assim, para uma vida ética, são indispensáveis consciência e responsabilidade.
  
REFERÊNCIAS:

BLACKBURN, Simon. Pense: uma introdução à filosofia. Lisboa: Gradiva, 200.

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 7. ed. 2. reimp. São Paulo: Ática, 2000.

COLCHETE, Eliane e MORAIS JUNIOR, Luis Carlos de. A formação da filosofia contemporânea. Rio de Janeiro: Litteris, 2014.

DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. O que é a Filosofia? Trad. Bento Prado Jr. E Alberto Alonso Muñoz. Rio de Janeiro, 34, 1992.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

FILOSOFIA - AULA 03 - VALORES

Prof. Douglas Barraqui

Qual é o valor?

Nos, diariamente, somos levados a tomar decisões e agimos de acordo com os nossos VALORES. Não estou me referindo ao valor das coisas em si, não se trata da propriedade das coisas ou das pessoas. Os valores dependem, necessariamente, de quem avalia. Assim, valores podem variar de pessoa para pessoa, país para país, de cultura para cultura. Valores também podem mudar ao longo do tempo. Quando os valores mudam, significa que mudou nossa forma de ver as coisas do mundo em que vivemos.

Valores só existem na medida em que alguém avalia e valoriza. Portanto, há muitas diferenças nos valores. Valor implica em uma relação de um sujeito com o objeto. Veja um exemplo:

Sr. Eclésio está indignado com a quantidade de cães vadios abandonados nas ruas e defende a captura; e que esses animais sejam sacrificados. D. Fátima, pelo contrário, é defensora dos animais, favorável a castração e que todo cão abandonado deve ser cuidado e mereça um lar.

Perceba que os cães abandonados têm um valor diferente para cada um. A preocupação com a sobrevivência de outras formas de vida podemos qualificar como sendo um VALOR ÉTICO.   

Nossas decisões, bem como nossas ações do cotidiano são tomadas em relação aos valores que temos. Mas, o mais correto seria dizer que as nossas decisões e ações mostram quais valores nos temos. Há casos em que as pessoas dizem acreditar em determinados valores e acabam agindo de outra forma. Assim o valor de verdade é aquele que se manifesta em nossas ações. Veja exemplo:

Claudia tem uma opinião forte e bem formada sobre o aborto, se diz contra. Porém em sua farmácia vende medicamentos abortivos.

Veja outro exemplo na charge abaixo:

Se eu digo que sou contra a corrupção, mas na prática eu suborno um guarda de trânsito indo para uma manifestação contra a corrupção, então o verdadeiro valor que eu estou defendendo não é o que está nas placas dos manifestantes, mas sim em minhas ações no cotidiano.

Vamos ver um exemplo de como os valores mudam ao longo da história: no passado mulheres “gordinhas” era sinônimo de beleza. Hoje, gordura é sinônimo de feiúra.

Mas quem inventa os valores? Como é possível que algo que tenha valor para mim, não tenha valor para outra pessoa? Nos seres humanos é que inventamos os valores. E nos estamos continuamente avaliando, bem como, reavaliando os valores. Nesse quase que um processo de revisão permanente os homens tendem a buscar valores que proporcionem uma vida melhor, mais justa, digna e fraterna; de convívio pacífico entre todos. Perseguindo esses valores o homem se modifica e se aprimora. O Filósofo, da segunda metade do século XIX, Friedrich Wilhelm Nietzsche disse que a ação mais alta da vida livre é o nosso poder para avaliar os valores.
Friedrich Wilhelm Nietzsche - 1882

Nietzsche disse que o bem e o mal não são valores existentes em si mesmos. Tem uma identidade e uma significação independentes dos grupos humanos ou dos indivíduos em confronto, que definem o que é o bem e o que é o mal. Portanto, esses valores nunca são questões eternas, mas dizem respeito sempre àquele que é mais forte para firmar o seu ponto de vista. Assim, sempre há uma relação de forças: O forte concebe espontaneamente o princípio "bom" a partir de si mesmo e só depois cria a idéia de "ruim". Do ponto de vista do forte, "ruim" é apenas uma criação secundária, enquanto para o fraco "mau" é a criação primeira, o ato fundador da sua moral, a moral dos ressentidos. O forte só procede por afirmação e, mais, por auto-afirmação; o fraco só pode firmar-se negando o que considera ser o seu oposto.

Podemos concluir então, que os valores são entidades virtuais. Eles não existem na realidade, não se trata de propriedades dos objetos e coisas do nosso mundo. Valores são atribuídos as coisas por um sujeito, o homem. Assim os valores só podem existir na medida em que o homem avalia e valoriza. Isso explica as muitas diferenças nos valores, variam conforme o contexto histórico, o país, a cultura e o critério das pessoas. As nossas decisões do dia-a-dia são tomadas frente a julgamento de valores. Assim quando nossos valores mudam, muda também a nossa maneira de conceber o mundo que nos cerca.

REFERÊNCIAS:

BLACKBURN, Simon. Pense: uma introdução à filosofia. Lisboa: Gradiva, 200.

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 7. ed. 2. reimp. São Paulo: Ática, 2000.

COLCHETE, Eliane e MORAIS JUNIOR, Luis Carlos de. A formação da filosofia contemporânea. Rio de Janeiro: Litteris, 2014.

DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. O que é a Filosofia? Trad. Bento Prado Jr. E Alberto Alonso Muñoz. Rio de Janeiro, 34, 1992.


NIETZSCHE, Friedrich. Além do Bem e do Mal - Coleção Grandes Obras do Pensamento Universal - 31. 3ª edição. Editora Escala, 2011.

FILOSOFIA – AULA 02 – LÓGICA

Prof. Douglas Barraqui
Aristóteles é o autor do primeiro
trabalho sobre lógica

Isso tem lógica!

Quando fazemos perguntas sobre o mundo em que vivemos e seus fenômenos, começamos, portanto, a filosofar. Mas, para passar nossos pensamentos às outras pessoas, precisamos exprimir em palavras. É necessário, para um bom entendimento, que nossas palavras sejam organizadas em uma frase, ou em um discurso, que tenha uma lógica.

Podemos definir a lógica como:

A disciplina da filosofia que estuda as regras do raciocínio e do discurso.

A lógica é fundamentalmente útil em nosso dia-a-dia, ao passo que, embora as palavras esclareçam os que os outros queiram ou pesam, elas também podem nos enganar.

As regras da lógica foram inicialmente propostas pelo filósofo grego Aristóteles do século IV a.C. Aristóteles propôs que a chave de um raciocínio lógico é um silogismo.

O silogismo é um tipo de raciocínio estudado pela lógica e é composto de três afirmações: a primeira afirmação é sempre um juízo sobre um fato, é chamada de PRIMEIRA PREMISSA. A segunda afirmação, ou segundo juízo, sobre o mesmo fato, é a SEGUNDA PREMISSA. Os dois juízos quando colocados em ordem levam, então a uma terceira afirmação que chamamos de CONCLUSÃO. Veja um exemplo:

PRIMEIRA PREMISSA: toda igreja católica é cristã
SEGUNDA PREMISSA: nem todo cristão é católico
CONCLUSÃO: existem outras igrejas cristãs

O silogismo, portanto, é a chave de um raciocínio lógico. Porém, sempre é necessário tomar cuidado, pois, se os juízos ou premissas forem falsos, o raciocínio estará comprometido. Veja exemplo como o raciocínio pode ser perigoso e sem lógica:

Primeira premissa: mulçumano é aquele que segue o islã
Segunda premissa: o islã surgiu na Península Arábica e o árabe é muçulmano
Conclusão: todo árabe é muçulmano e seguidor do islã

Veja o perigo dessa conclusão: Os árabes estão espalhados pela península arábica, norte da África, Síria, Líbano, Iraque e Jordânia, em todos esses locais, eles convivem com outros povos, culturas e religiões. Assim, existem muitos árabes cuja religião é o cristianismo ou o judaísmo. Portanto, o que temos no exemplo acima é uma FALÁCIA. Falácia é uma armadilha lógica, no pensamento aristotélico é um raciocínio falso que, entretanto simula a veracidade. É um argumento que, em primeiro momento, parece verdadeiro, mas, quando bem analisado, é falso; mal direcionado e/ou mal conduzido. No exemplo acima, a segunda premissa não está diretamente relacionada com a primeira, assim a CONCLUSÃO acaba sendo falsa, pois, nem todo árabe é muçulmano.

Observação importante: mentira é diferente de falácia. A mentira tem um tão moral; eu sei que estou enganando alguém e construo uma argumentação com esse objetivo. A falácia não tem o objetivo de ser um equivoco moral, trata-se de um erro lógico embutido em suas premissas. É uma argumento que parece ser verdadeiro, aparentemente é um argumento correto, mas contem algum tipo de erro lógico na argumentação.

Vamos tirar uma CONCLUSÃO de todas as PREMISSAS aqui apresentadas:

A lógica é a área da filosofia que estuda raciocínios; resumindo a lógica estuda como que os raciocínios são elaborados e estruturados. A lógica, então, oferece regras e ferramentas que vão dizer quando eu posso afirmar uma determinada coisa, com base em outras. Outro exemplo: se eu afirmo que todos os cães são mortais, e eu conheço certo cão chamado Fortune (pug de Josefina, esposa de Napoleão). O que eu poço extrair de base lógica nisso? eu posso concluir que Fortune é mortal. A lógica, portanto, estuda se é válida e se é possível fazer esse tipo de conclusão. Logo, quanto mais investigarmos a lógica, mais bem preparados estaremos frente às ações errôneas do nosso pensamento, bem como, do pensamento dos outros.

REFERÊNCIAS:

BLACKBURN, Simon. Pense: uma introdução à filosofia. Lisboa: Gradiva, 200.

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 7. ed. 2. reimp. São Paulo: Ática, 2000.

COLCHETE, Eliane e MORAIS JUNIOR, Luis Carlos de. A formação da filosofia contemporânea. Rio de Janeiro: Litteris, 2014.


DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. O que é a Filosofia? Trad. Bento Prado Jr. E Alberto Alonso Muñoz. Rio de Janeiro, 34, 1992.

FILOSOFIA - AULA 01 - MITO E A FILOSOFIA

Prof. Douglas Barraqui
O pensador, de Auguste Rodin,
representação clássica de um homem
imerso em pensamentos.

Por que o mundo existe?
Quem Somos? De onde Viemos? Para Onde Vamos?
Qual o sentido da vida?

Quando fazemos esses tipos de pergunta estamos filosofando. Filosofar é buscar uma explicação; uma explicação que dê sentido as coisas da vida. Essa busca pela sabedoria, segundo os filósofos, surgiu na Grécia a cerca de 2.500 anos atrás.

Todos nós somos filósofos quando nos deixamos ser levados pela nossa curiosidade desmedida e adentramos fundo buscando explicações para as coisas de nosso mundo.

A palavra "filosofia" vem do grego e é uma composição de duas palavras: philos e sophia. A primeira é uma derivação de philia que significa amizade, amor fraterno e respeito entre os iguais; a segunda, Sophia, significa sabedoria ou simplesmente saber. Filosofia significa, portanto, “amizade pela sabedoria”, “amor e respeito pelo saber”; e o filósofo, por sua vez, seria aquele que ama e busca a sabedoria, tem amizade pelo saber, deseja saber. Teria sido Pitágoras de Samos, que viveu no século V a.C., o criado da palavra.

Mito e a Filosofia

No passado, na busca por respostas para explicar o nosso mundo, o homem recorreu e criou os mitos. Veja um exemplo:

A muito tempo os homens não conheciam o fogo. O homem vivia com frio e seus alimentos não eram cozidos. O fogo pertencia unicamente aos deuses. Um dia o fogo foi roubado e entregue aos homens. Os deuses ficaram furiosos e resolveram castigar a humanidade. Criaram uma mulher, Pandora, a quem foi entregue uma caixa cheia de coisas maravilhosas, porém, esta nunca deveria ser aberta. Pandora foi enviada aos homens e, cheia de curiosidades, abriu a caixa e dela saíram as doenças, as pestes, as guerras e a morte. Foi assim que o mundo dos homens ficou cheio de males e desgraças.

Esse mito explica a origem dos males que afligem os homens. É uma criação dos gregos antigos, uma história com mais de 3.000 anos.

Mas qual seria a diferença entre a mitologia e a filosofia? Tanto a filosofia quanto a mitologia buscavam explicações para os fenômenos e as coisas da vida. A mitologia usa a imaginação, já a filosofia usa a razão. A razão é a base filosófica de toda a ciência. É importante destacar que tanto a mitologia quanto a filosofia, partem do mesmo lugar que é a curiosidade do homem pelo mundo, a busca por respostas, o porquê das cosias.

Na Grécia, seis séculos antes de Cristo, os mitos não eram mais suficientes para explicar todos os fenômenos do mundo. Assim o homem passou a fazer uma analise e uma observação mais rigorosa dos eventos e fenômenos. Assim nasceu a filosofia que significa “amizade pela sabedoria” ou “amor e respeito pelo saber”. Os gregos foram, portanto, os primeiros a buscar explicações racionais para os fenômenos naturais sem a ajuda dos mitos. Platão, no século V a.C., por exemplo, já propunha explicações para o movimento dos astros do céu.

Convencionou-se a dizer que a filosofia nasceu na Grécia antiga por volta do século V a.C. É quando as explicações para o mundo deixaram de ser mitológicas, para buscarem bases racionais.

REFERÊNCIAS:

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 7. ed. 2. reimp. São Paulo: Ática, 2000.


DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. O que é a Filosofia? Trad. Bento Prado Jr. E Alberto Alonso Muñoz. Rio de Janeiro, 34, 1992.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

MODOS DE PRODUÇÃO

Prof. Douglas Barraqui

Modo de produção é a forma de organização socioeconômica associada a uma determinada etapa de desenvolvimento das forças produtivas e das relações de produção de uma determinada sociedade. Reúne as características do trabalho preconizado, seja ele artesanal, manufaturado ou industrial. São constituídos pelo objeto sobre o qual se trabalha e por todos os meios de trabalho necessários à produção (instrumentos ou ferramentas, máquinas, oficinas, fábricas, etc.). Existem 7 modos de produção: Primitivo, Asiático, Escravista, Feudal, Capitalista, Socialista e Comunista. Aqui iremos abordar o modo de produção asiático, escravista, feudal e capitalista.


O modo de produção, portanto, permite compreender a maneira pela qual a sociedade produz seus bens e serviços, como os utiliza e os distribui. O modo de produção de uma sociedade é formado por suas forças produtivas e pelas relações de produção existentes nessa sociedade.


MODO DE PRODUÇÃO ASIÁTICO
MODO DE PRODUÇÃO ESCRAVISTA
MODO DE PRODUÇÃO FEUDAL
MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA

PERÍODO HISTÓRICO


ü  Idade Antiga

ü  Idade Antiga

ü  Idade Média

ü  Idade Moderna em diante


POVOS

ü  Mesopotâmicos
ü  Egípcios
ü  Chineses
ü  Indianos
ü  Hebreus


ü  Gregos
ü  Romanos


ü  Europeus



ü  Ocidentais e orientais

LOCAL


Ásia, Nordeste da África

Grécia e Roma

Europa
América, Ásia, Europa, Oceania e África
(Obs. Regimes socialistas: República Popular da China, Cuba, República Socialista do Vietname, República Democrática Popular de Laos; Coreia do Norte – “socialismo real”)







ASPECTOS SOCIAIS






ü  Sociedades Hidráulicas:
·         Egípcios – rio Nilo.
·         Mesopotâmicos – Rios Tigre e Eufrates.
·         Chineses – rios Huang Ho (Amarelo) e Yang Tsé (Azul)
·         Indianos – Rio Ganges e Indo.
·         Hebreus – Rio Jordão.

ü  Sociedade estamental:
·         Hierarquizada;
·         Mobilidade social quase nula;
ü  Escravos:
·         Escravo de guerra;
·         Escravo de dívida;
ü  Oligarquias :
ROMA
Direito a cidadania era para poucos.
Patrício – Proprietários de terras; Ocupavam importantes cargos públicos; Considerados cidadãos; Detinham direitos políticos.

Plebeu - Pequenos artesãos e comerciantes; Faziam parte do exército Realizavam comércioPoucos direitos);

GRÉCIA
·         (Grécia - A pólis - uma comunidade de cidadãos livres que se autogovernavam.
·         Reunidos em assembleias, promoviam discussões que definiam o que aconteceria na cidade.
·         Cidadãos - Aqueles que tinham direito de participar das reuniões.

·         Excluídos: mulheres, estrangeiros e escravos.








ü  Sociedade estamental - divida em ordens (influência da Igreja Católica):
clero
“os que rezam”
nobres
“os que lutam”
camponeses
“os que trabalham”

ü  Pouca mobilidade social.
ü  Servidão (tributos feudais)





ü  Sociedade capitalista;
·         Capitalismo mercantil
·         Capitalismo industrial
·         Capitalismo financeiro
ü  Trabalho assalariado;
ü  Sociedade divida em classes sociais;
ü  Conflito de classes:
·         Burguês VS Proletário
Burguesia tem a propriedade privada dos meios de produção.
ü  Surgimento das idéias socialistas:
·         Socialismo utópico,
·         Marxismo;
·         Anarquismo;
·         Socialismo Cristão;


ASPECTOS POLÍTICOS


ü  Monarquias absolutas teocráticas (ex. Faraó)
Ex. Roma – Senado e Imperador. (conflito de interesses)

Democracia – ateniense (Em Atenas somente pequena parcela do povo tinha direito de participar da vida política; (cidadão ateniense)

ü  Poder descentralizado.
(senhor feudal)
ü  Fonte de poder:
·         Nascimento
·         Terra

ü  Absolutismo monárquico;
ü  Repúblicas;
ü  Experiências democráticas;
ü  Declaração dos direitos do homem e do cidadão;

ASPECTOS ECONÔMICOS


ü  Base da economia: agricultura.
ü  Servos ou camponeses trabalhavam em condição de servidão coletiva
ü  Comércio amonetário
ü  Base da economia: agricultura, desenvolvimento do comércio (monetário) e do artesanato.
ü  Propriedade privada da terra.
ü  Uso da mão-de-obra escrava.

ü  Base da economia – agricultura.
ü  Produção de subsistência;
ü  Comércio amonetário;
ü  Mercantilismo;

ü  Industrialização;
ü  Comércio globalizado;
ü  Agricultura;
Políticas Econômicas:
Mercantilismo
Liberalismo;
Neoliberalismo;

ASPECTOS CULTURAIS


ü  Religião politeísta (exceto hebreus – religião monoteista):
·         Animista
·         Antropomórfica
·         Antropozoomórfica
ü  Politeísmo (Grécia e Roma).
ü  Monoteísmo - Nascimento de Cristo (Roma – no ano 391, o cristianismo não só se tornou a religião oficial de Roma, como todas as outras religiões pagãs passaram a ser perseguidas).
ü  Religião católica:
Acumulou poder:
·         Econômico: posses de terras;
·         Político: influência nas decisões políticas;
·         Jurídico: interferência na criação de leis;
·         Poder social: estabelecia padrões de comportamento moral para a sociedade.
ü  Grande influência do cristianismo;
ü  Protestantismo;
ü  Renascimento cultural;
ü  Racionalismo – base filosófica da ciência (desenvolvimento da ciência moderna).



REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Gislane Campos; SERIACOPI, Reinaldo. Projeto Teláris: história 6° ao 9° ano. São Paulo: Ática, 1º ed., 2012.
CAPELLARI, Marcos Alexandre; NOGUEIRA, Fausto Henrique Gomes. História: ser protagonista - Volume único. Ensino Médio. 1ª Ed. São Paulo: SM. 2010.
COTRIM, Gilberto. História Global – Brasil e Geral. Volume Único. Ensino Médio. 8ª Ed. São Paulo: Saraiva 2005.
MOZER, Sônia & TELLES, Vera. Descobrindo a História. São Paulo: Ed. Ática, 2002.
PILETTI, Nelson & PILETTI, Claudico. História & Vida Integrada. São Paulo: Ed. Ática, 2002.
Projeto Araribá: História – 6° ao 9° ano. /Obra coletiva/ São Paulo: Editora Moderna, 2010. Editora Responsável: Maria Raquel Apolinário Melani.
Uno: Sistema de Ensino – História – 6° ao 9° ano. São Paulo: Grupo Santillana, 2011. Editor Responsável: Angélica Pizzutto Pozzani.
VICENTINO, Cláudio. Viver a História: Ensino Fundamental. São Paulo: Ed. Scipione, 2002.