Por Douglas Barraqui
Em “O que é Política” Wolfgang Leo Maar esboça algumas temáticas do universo político de uma forma bem didática e com uma linguagem clara que facilita a compreensão.
O autor nos ensina que as relações políticas não se dão apenas com a política institucionalizada, ou seja, estatal. Que nós seres humanos somos políticos, praticamos política no nosso dia-a-dia, uma vez que, quer seja no âmbito institucional, quer seja nas relações sociais do cotidiano estamos promovendo relações de poder, que para nosso autor é uma atividade política fundamental. Portanto, para Wolfgang Leo Maar, dentro de uma sociedade que objetiva o poder, existem diversas formas de política.
Wolfgang Leo Maar nos apresenta os partidos políticos como agentes políticos da sociedade moderna. A disputa partidária apresenta-se, para o autor, em dois vieses: de um lado como uma relação com a sociedade e seus interesses; de outro lado como disputa pelo controle do aparelho do Estado. O autor busca em Gramsci a função dos intelectuais orgânicos na atividade política, segundo o qual o intelectual tem como papel elaborar propostas de cunho cultural e política para transformação dos sujeitos e posterior transformação do mundo. Maar vê a política como resultado de um processo histórico. Assim ela se apresenta como atividade aberta ao movimento e a transformação constante.
Ao abordar a política na Grécia e na Roma Antiga, Maar nos diz que a política foi talhada a partir da atividade social dos homens que viviam nas pólis gregas. Filósofos como Platão e Aristóteles teriam dado incomensurável contribuição e lição, para o mundo ocidental, sobre política.
Maquiavel, nos diz Maar, fez importante distinção entre política de Estado e de Governo. Em Maquiavel o agente da atividade política do Estado é o governo, assim sendo, o dirigente deste governo (em Maquiavel seria o príncipe) deve possuir virtude, capacidade diante dos acontecimentos de caráter políticos, a finalidade é o poder. Nosso autor elenca ainda que para se governar é necessário ter força, astúcia e, porque não, sorte. Buscando novamente em Gramsci, o autor destaca que o príncipe moderno é nada mais nada menos do que o partido político, e sua meta fundamental é o poder estatal.
Em Marx, o autor diz que a política trata-se de uma disputa de classes sociais, onde o Estado representa a classe dominante, logo o Estado passa a condição de representante de uma classe. Assim a atividade política deixa de ser espaço exclusivo do Estado, para passar a ser palco da luta de classes. A “política”, em Marx, é resultado da luta de classes, deste modo a classe dominada, ou seja, o proletariado tem que desenvolver uma política que supere a sociedade de classes, supere o capitalismo, na busca pelo socialismo.
Maar questiona ainda o papel da política na sociedade brasileira atual, na vida das pessoas (leve em consideração que este livro foi escrito em 1982). Nosso autor se utiliza de alguns momentos da história do Brasil para demonstrar como a política é submetida a constante imprevisibilidade, mudanças e transformações. Com isso, quer nos mostrar que atividade política deve ser compreendida como uma ação prática e transformadora da realidade histórica, havendo deste modo uma gama de orientações possíveis para a política. Apresenta-nos ainda que a atividade política institucional em torno do Estado foi desenvolvida pelos homens ao longo da história, como uma forma prática de organizar a vida social, coletiva buscando atender o interesse comum. Destaca ainda que o Estado pode ser agente da persuasão, do consenso, quer dizer, pode agir através da coerção ou da hegemonia.
Maar nos ajuda a compreender melhor a diferença entre sociedade política e sociedade civil. A sociedade política trata-se da administração pública, o judiciário, as forças armadas; a sociedade civil por sua vez é onde estão os partidos, empresas, sindicatos, movimentos sociais, escolas. Logo, a sociedade civil teria suas próprias instituições para fazer suas reivindicações ao Estado e os partidos políticos seriam as principais instituições, bem como os sindicatos e outros movimentos sociais. Com isso as atividades políticas exercidas pelo Estado buscam o consenso da sociedade civil.
O autor também promove uma discussão entre a relação existente entre política, cultura e ideologia. Como a cultura se manifesta na política, partindo do princípio de que as manifestações culturais oferecem meios para a realização de preceitos políticos, portanto, a cultura não deve ser rebaixada, pois ela tem uma função política, podendo ser utilizada com uma finalidade política. A classe dominante, por exemplo, tenta impor sua cultura como se seus valores fossem universais. A cultura, portanto, aparece com um apoio ideológico usado na legitimação do poder da classe dominante. Maar busca em Georg Lukács a elaboração de que a cultura aparece como uma estratégia política para tomar o poder. E que a cultura pode aparecer como uma função ideológica tanto para quem está no poder, “ideologia conservadora”, como para os que desejam mudar o poder por intermédio de uma revolução, “ideologia libertadora”. Gramsci chama essa disputa pela conquista do estado de “guerra de posições” e aqui entra os intelectuais com seu papel de produtores da cultura. Portanto, a política também é cultura, ao passo que ela molda sentimentos e comportamentos que influenciam na transformação da realidade.
Maar diz que a política produz uma série de referências e valores para a humanidade, logo a política possuiria também uma missão civilizadora. E o autor nos ínsita a pensar em questões como coloca: Qual o papel do Estado perante a sociedade? Será mesmo que vivemos em um país democrático? Quais os limites das ações do Estado? E o que estamos fazendo enquanto cidadãos, como seres políticos, para alterar a atual realidade política de nosso país.
Referência:
MAAR, Wolfgang Leo. O que e política. 16ª ed. - São Paulo: Brasiliense, [1989?]. 109p.