By Douguera
A Primeira Guerra Mundial, disse François Furet[1], em nada se pareceu com a Segunda. Ninguém previa uma guerra provocada pelo afloramento de sentimentos nacionalista. O povo daquela época, assim como o de hoje, estava inserido na ótica do mercado: liberdade individual, a felicidade privada e o enriquecimento o que fez com que esses “homos economicus” estivessem espiritualmente despreparados para a guerra.
O homem econômico tem um papel central, mas não é o ator principal do conflito; o capital tem seu lugar marcado no Hall das desgraças da humanidade, todavia não deve ser o bode expiatório. A guerra só foi aceita em amplitude e plenitude por razões nacionalistas – a origem imediata parte das questões nacionalistas nos Bálcãs, perceptivo no sentimento de patriotismo que levou os homens ao fronte de batalha. Era, por assim dizer, o sentimento mais bem compartilhado naquele momento que se alastrava nação a nação. No caso da Alemanha em especial havia um forte amor pela “raça” que era expresso no movimento pan-germânico[2].
Podia si ver indo para o campo de batalha: a paixão da honra militar, o sentimento de nação e, a fé sega na ciência. A paixão da honra militar, sentida nas guerras revolucionárias, segredo do sucesso e das glórias dos exércitos de Napoleão, sobreviveu ao tempo; o sentimento de nação que vem dos séculos dos reis, anteriores até mesmo as democracias e a sociedade capitalista burguesa, também estava vivo; e a ciência, maior substituta da religião no século XIX, trouxe a justificativa para o pan-germanismo, retirando do evolucionismo darwinista a idéia de seleção natural e da espécie mais forte.
E entre o ataque de Sarajevo[3] e as decisões mobilizadoras, no mês de julho de 1914, era muito possível parar a engrenagem da máquina que levaria a matança. Ninguém o fez, todavia, então seu desencadeamento se deveu, em termos, digamos puramente técnico, pelo déficit da ação arbitrária diplomática. A guerra poderia também ser encurtada se um dos beligerantes tivesse a capacidade de se impor, no entanto quando a guerra foi parar nas lamacentas trincheiras há um prolongamento do embate, para lançar os dados de uma média de 30 mil mortes a cada 200 metros[4]. Assim podemos notar seu caráter interminável pelo infeliz equilíbrio das forças.
Em poucos meses de conflito: acabara o exército profissional e também não se via sua relação custo benefício, mesmo assim ela se arrastou por longos e sangrentos anos, inaugurando o ciclo das grandes tragédias que marcariam o século XX.
A guerra acaba e os ditos vencedores não têm uma concepção comum para a nova ordem mundial. E o Tratado de Versalhes[5], assinado em 28 de junho de 1919, fidelidigno as promessas feitas no calor do combate, tendeu a um caráter punitivo e vingativo em detrimento de ser um mediador das relações causa conseqüência, fazendo com que o terreno ficasse fértil para o totalitarismo, semente da Segunda Grande Guerra.
[1] François Furet. Historiador francês nascido em Paris, um dos principais estudiosos da Revolução Francesa
[2]O pan-germanismo foi um movimento político e sociocultural do século XIX, que
buscava a união de todos os povos germânicos.
[3]Sarajevo (por vezes Saraievo) é a capital e a maior cidade da Bósnia e Herzegovina. Palco do assassinato de Francisco Ferdinando, herdeiro do império Austro húngaro.
[4] FURET, François. O passado de uma ilusão. Pg. 62.
[5] O Tratado de Versalhes (1919) foi um tratado de paz assinado pelas potências européias que encerrou oficialmente a Primeira Guerra Mundial.
Bibliografias:
Esqueletos de soldado alemão morto durante a Primeira Guerra Mundial, encontrado em Violaines, na França. Disponível em http://www.lucianomarinho.com.br. acessado em 24/05/09.
FURET, François. O passado de uma ilusão. São Paulo: Siciliano, 1995. 599p.
HOBSBAWM, Eric J. Era dos Extremos: o breve século XX, 1914 - 1991. Tradução Marcos Santarrita. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 20001.