Prof. Douglas Barraqui
Para Níkos
Poulantzas, filosofo e sociólogo grego, o fascismo constitui de uma forma de
estado e uma forma de regime, representando uma conjuntura extremamente
particular da luta de classes. Desenvolveu-se de forma orgânica a partir da
democracia burguesa. Na concepção da Internacional comunista, compartilhada por
Trotsky, fascismo corresponde a uma guerra civil aberta da burguesia contra a
classe operária.
Poulantzas destaca
que o fascismo não é a simples substituição de um governo burguês por um outro,
mas sim uma mudança na forma de Estado. Trata-se de um fenômeno complexo que
pode ser explicado a partir das suas relações com as diversas classes de lutas.
O processo de fascização e a instauração do fascismo correspondem à situação de
aprofundamento das contradições internas entre as classes e a fração da classe
dominante.
A conjuntura do
fascismo corresponde a uma crise da ideologia dominante, a democracia liberal.
E acima desta crise ideológica podemos falar em uma conjuntura determinada - o
pós-guerra, as consequências para os países derrotados e a crise de 1929.
Poulantzas divide o
processo de fascização da seguinte maneira: em primeiro momento há o
aparecimento das milícias; e em um segundo momento ocorre o recrudescimento do
papel do próprio Estado.
Ainda sobre a forma
embrionária de bandos armados, milícias, assumem um caráter de partido de massa
quando apoiado por frações dominantes durante a etapa de ofensiva contra o
proletariado. Nesse momento o partido fascista, dando garantias seguras, ganha
o apoio do grande capital e sua ligação com as massas populares mantém-se
forte.
Em outro momento o
fascismo caminha em direção as massas há ainda uma aliança entre a fração
monopolista e a pequena burguesia. Uma vez no poder: Concessões são dadas as
massas, é o momento em que se dá início da dominação do Estado.
No período de
estabilização do fascismo: é imposto pelo bloco no poder certas concessões às
massas populares. É neste momento que se estabelece a hegemonia do grande
capital.
Na visão de Otto
Bauer, um dos principais pensadores esquerda, o fascismo é resultado de três
processos sociais: Primeiro: A guerra expulsou da vida burguesa e desempregou
grande massas incapazes de retornar ao modo de vida burguês, formaram milícias
fascistas, com peculiar ideologia militarista, antidemocrática e nacionalista.
Segundo: A crise econômica do pós-guerra levou a miséria grandes massas de
pequenos burgueses e camponeses. Essas massas abandonaram as fileiras dos
partidos de massas democráticos e levantaram-se cheios de ódio e decepção
contra a democracia. E por último: Diminuição dos benefícios contra das classes
capitalistas que para ressarcir-se aumentou o grau de exploração sobre a classe
operária. Como a classe capitalista duvidava que pudesse conseguir por
intermédio do regime democrático conter a classe operária, optou então em
recorrer às milícias fascistas nacionalistas para que semeasse o terror na
classe operária.
Capitalistas ajudaram
os fascistas em primeiro momento com auxílio financeiro, posteriormente induzio
o Estado a fornecer armas aos fascistas e por fim cedeu o poder Estatal aos
fascistas.
O exemplo do caso da
Itália os oficiais da reserva desmobilizados depois da guerra foram quem
constituiu os núcleos do partido fascista. Homens que não estavam na vida
burguesa; odiavam o capitalista especulador; orgulhosos de suas
condecorações e seus ferimentos e que criaram uma aversão ao capitalismo
proletário; ressentidos, pois sua pátria, pelo qual haviam dado seu sangue, não
podia oferecer-lhes melhores condições e posições; nacionalistas exacerbados em
oposição a democracia; homens que não queriam deixar os antigos hábitos
contraídos durante a guerra: desejavam dar e receber ordens, usar uniformes e
desfilar no ritmo da marcha. Apreciavam assim a indústria da guerra.
Foram esses homens
que começaram a formar as organizações paramilitares (ainda mais numerosos na
Alemanha). Foram essas as células primordiais do fascismo as que desenvolveram
sua ideologia geral.
Para o caso da
Alemanha a República na Alemanha nasceu em meio a uma amarga miséria. Um país
arruinado no pós-guerra e humilhado. Foi nessa conjuntura que os nacionalista
da intelectualidade rebelaram-se contra a situação do país. Assim podemos dizer
que as consequências do pós-guerra mundial contribuíram assim para fomentar o
nacionalismo alemão.
A grande crise do
sistema capitalista de 1929 teve um impacto muito forte sobre a Alemanha e
Hitler soube muito bem manobrar a crise de modo colocar o povo a seu lado e o
nazismo no poder. Antes da crise, durante a época de prosperidade, o
partido Nacional Socialista de Hitler era um grupo sem importância, com a crise
de 1929 ele ganha força. A democracia não pode evitar que a crise arruinasse a
pequena burguesia e camponeses. Assim esses voltaram-se contra a
democracia. Em meio as constantes pressões por parte da classe operária a
classe capitalista então decidiu fazer do fascismo para submeter a classe
operária. Foi através das “expedições de castigo” que a classe capitalista
descobriu como romper com o impetuoso ataque da classe operária. A milícia
fascista foi lugar de confluência dos marginalizados de todas as
classes. Podemos concluir em Otto que o fascismo nacionalista seria
patrocinado pela burguesia e seu poder Estatal.
Uma vez no poder o
partido fascista dominaria o proletariado; expulsaria os representantes da
burguesia do poder dissolvendo seus partidos sob a justificativa de que
salvaria a burguesia da revolução proletária. Na verdade o movimento operário
já estava debilitado. Era o momento dos capitalistas escolherem entre destruir
o fascismo e assim favorecer a classe operária, ou ceder ao fascismo o poder
estatal. Talvez tarde de mais; pois o terror fascista dissolveria e submeteria
à sua tutela algumas organizações capitalistas.
Níkos Poulamtzas e
Otto Bauer são contribuições valiosas no que tange a compreensão dos regimes
fascistas da Europa entre guerras, bem como o processo de fascilização. São
autores que embora partem de uma visão de esquerda devem ser lidos e levados em
consideração no estudo da história política da Europa.
Bibliografias:
BAUER, Otto. O
Fascismo.
POULANTZAS,
Nicos. Fascismo e a ditadura: A III Internacional face ao fascismo.
Tradução João G. P. e M. Fernanda S. Granado. 1ª ed. Porto: Portucalense
Editora, 1972.
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