Pintura de um túmulo egípcio, por
volta de 1200 a.C.: um par de bois arando um campo.
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À medida que os humanos se espalharam pelo mundo, os animais domesticados também o fizeram. Há dezenas de milhares de anos, não mais de alguns milhões de ovelhas, vacas, cabras, javalis e galinhas viviam em nichos seletos na África e na Ásia. Hoje, segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o mundo tem cerca de um bilhão de ovelhas, um bilhão de porcos, mais de um bilhão de cabeças de gado e mais de 25 bilhões de galinhas. E eles estão pelo mundo todo, só no Brasil são 218,23 milhões de cabeças de gado, mais bois e vacas do que gente. As galinhas domesticadas são as aves mais disseminadas até hoje. Depois do Homo sapiens, o gado, o porco e a ovelha são, nessa ordem, os grandes mamíferos mais difundidos no mundo.
Infelizmente, a perspectiva
evolutiva é um parâmetro de sucesso relativo. Julga tudo segundo os critérios
de sobrevivência e reprodução, sem considerar o sofrimento e a felicidade
individuais. As galinhas e as vacas domesticadas podem ser uma história de
sucesso evolutivo, mas também estão entre as criaturas mais miseráveis que já
existiram. A domesticação de animais se baseou em uma série de práticas brutais
que só se tornaram cada vez mais cruéis com o passar dos séculos.
A expectativa de vida natural de
galinhas selvagens é de 7 a 12 anos, e de bovinos é de 20 a 25 anos. Já a
grande maioria das galinhas e vacas domesticadas no mundo hoje é abatida com
algumas semanas ou no máximo alguns meses de vida.
Galinhas chocadeiras, vacas
leiteiras e animais de carga às vezes têm a chance de viver por muitos anos.
Mas o preço é a sujeição a um estilo de vida completamente alheio a suas
necessidades e desejos. É razoável supor, por exemplo, que os bois preferem
passar seus dias vagando por pradarias abertas na companhia de outros bois e
vacas do que puxando carroças e arados sob o jugo de um primata com chicote.
A fim de transformar bois,
cavalos, jumentos e camelos em animais de carga obedientes, seus instintos
naturais e laços sociais tiveram de ser destruídos, sua agressão e sexualidade,
contidas e sua liberdade de movimento, restringida. Os criadores desenvolveram
técnicas como trancar animais em jaulas e currais, contê-los com rédeas e
arreios, treiná-los com chicotes e aguilhadas e mutilá-los. O processo de
domesticar quase sempre envolve a castração dos machos. Isso restringe sua
agressividade e permite que os humanos controlem seletivamente a procriação do
rebanho.
Referências:
HARARI, Yuval Noah. Sapiens: uma breve história da
humanidade. Tradução Janaína Marcoantonio. 11 ed. Porto Alegre, RS: L&PM,
2016.
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