Por Douglas Barraqui
O debate em torno da
corrupção está tão latente atualmente no Brasil que na qualidade de historiador
e, acima de tudo cidadão, resolvi me pronunciar. Algumas pessoas, ditas
honestas, integras, pseudo moralistas e demagogas, estão polarizando esse debate
a um grau tão específico que acabam olhando somente para o próprio umbigo. Não
vamos ser hipócritas ao ponto de achar que nessa história, na história desse
país, a corrupção tem cor (vermelha, branca ou azul) ou mesmo direção
(esquerda, centro e direita). No Brasil corrupção tem tons de cinza e é
ambidestra.
Andam repetindo por ai, feito
papagaio de piratas, a fala de uma mídia tendenciosa, capciosa, controladora e
totalmente parcial, que “nunca se roubou tanto”. Não sejamos justiceiros e
afoitos ao ponto de agirmos pela precipitação da emoção e da indignação. Nessa
novela, tão antiga quanto às da Rede Globo, existem atores, os coadjuvantes, vilões,
mocinhos e mocinhas e, aquilo que considero como mais importante, os
bastidores. Precisamos entender os bastidores, caso contrário vai continuar “o
sujo falando do mal lavado”.
A
corrupção é algo histórico e estrutural
Lula, Dilma, Dirceu e outros
tantos, toda corja corrupta desse país, se assim for provado por meio de
processo legal - tenho dito - devem ir para a cadeia. Portanto, não estou aqui
para falar por este ou por aquele partido. Estou aqui para dizer que corrupção
é tão antiga no Brasil quando o conto-da-carochinha. Que esta, está tão
impregnada em nossa sociedade que as pessoas, em um pisca de olhos, conseguem
confundir o público com o privado.
Primeira coisa a fazer é
olhar para o passado, para a história do nosso país. A corrupção vem sido
escrita errada e por linhas tortas desde a carta de Pero Vaz de Caminha, quando
este encerra a carta pedindo ao rei D. Manuel de Portugal um emprego para um
sobrinho, um “rapaz competente e cumpridor dos deveres” segundo o próprio
Caminha.
Durante
o Segundo Reinado (1840-1889) Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá,
obteve junto ao governo a concessão e a licença para exploração de cabo
submarino para rede de telégrafo que ligaria o Brasil a Europa. A efetiva
ligação do Brasil à Europa pelo telégrafo ocorreu em 1874, com a instalação do
cabo submarino ligando Pernambuco a Portugal, realizada pela empresa The Western Telegraph Company Limited,
organizada pelo barão de Mauá que, assim que recebeu a concessão, tratou de
transferi-la para capitalistas ingleses. Na inauguração desse cabo
transatlântico, o governo imperial, em reconhecimento aos serviços prestados
por Mauá, "fê-lo visconde, como o fizera barão ao inaugurar-se a primeira
estrada de ferro". Ainda no Império, outro empresário brasileiro, que
havia recebido a concessão para a rede de iluminação a gás da cidade do Rio de
Janeiro, assim como fez Mauá, transferiu a concessão para uma companhia inglesa
em troca de 120 mil libras.
Na
República, proclamada em 1889, não havia de ser diferente. O chamado “voto do
cabresto” foi a marca registrada do período. Os grandes latifundiários,
conhecidos como coronéis, impunham por meio da intimidação, força das armas e
da violência de seus jagunços, o voto desejado aos seus empregados e pessoas
sobre sua influência. A compra de voto
por favores, mantimentos e mesmo por um par de sapatos era muito comum. No dia
da votação o pobre coitado do indivíduo ganhava um pé, após a apuração das
urnas, ganharia o outro pé, mas somente se o candidato do coronel vencer as
eleições.
No
pleito eleitoral de 1950 um caso pitoresco tornou-se muito famoso e entrou para
o anedotário da política do país, foi a caixinha do Adhemar. Político de São
Paulo, Adhemar de Barros era conhecido pelo lema “rouba, mas faz!”. A tal
caixinha era um meio de arrecadar dinheiro em troca de favores. A caixinha
envolvia políticos, empresários, bicheiros, entre outros que desejavam algum
benefício político. Adhemar chegou a agadanhar com sua caixinha o montante de
2,4 milhões de dólares que ele guardava para gastos pessoais em sua própria
casa em um cofre. O tal cofre de Adhemar de Barros foi roubado, em 18 de julho
de 1969, pelos guerrilheiros da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-
Palmares) que na época tinha como cabeças o ex ministro do meio ambiente Carlos
Minc e atual presidenta Dilma Rousseff.
Essas
empreiteiras investigadas pela operação lava jato começaram os namoricos com o
poder público ainda no governo JK. Na construção de Brasília as empreiteiras
receberam favorecimentos e houve superfaturamento de muitas obras. A lua de meu
foi na ditadura com as chamadas obras faraônicas como a ponte Rio Niteroi, a
trans amazônica e a usina de Itaipu. A pouca vergonha só foi descoberta agora
no governo PT, e com envolvimento de petistas, não poderia ser diferente.
A corrupção está impregnada
Portanto,
meu caro amigo leitor, a corrupção no Brasil é histórica, estrutural, está
impregnada na sociedade e na cultura de uma maneira quase que generalizada.
Sejamos, portanto, justos; não é algo exclusivo do governo PT e não é monopólio
de criminosos do colarinho branco.
Quando
furamos uma fila; achamos uma carteira no banheiro pegamos o dinheiro e jogamos
a carteira no lixo; quando cortamos um sinal vermelho; quando escapamos da blitz
graças ao aviso do grupo de whatsapp, quando recebemos o troco a mais e ficamos
quietos; sempre quando fazemos valer o velho jargão “jeitinho brasileiro”
estamos sendo tão corruptos quanto Dirceu, Delúbio, Genoino e toda corja de
mensaleiros.
A verdade
é que somos incondicionalmente todos éticos, moralistas e probos quando algo
não nos convém, a exemplo da alta da gasolina, alta dos impostos, a Petrobras e
seus escândalos de corrupção. E quando nos convém somos pioneiros em esconder, surrupiar,
manipular, escorchar, afanar, rapinar, escamotear e, também, a nos safar.
Repito:
a corrupção não é algo exclusivo deste ou daquele partido. A corrupção faz
morada em sua casa, no dia a dia, nas pequenas e grandes atitudes. Quando você,
pai, promete um brinquedo, um celular, ou aquele jogo de vídeo game se a seu
filho se ele passar de ano; parabéns, você está comprando o seu filho. Ele vai
crescer acreditando em um mundo onde se pode conquistar as coisas em troca de favorecimentos,
proventos e privilégios; e a política será a parte mais trágica desse enredo.
Devemos começar pelas nossas crianças
A “negociata
é um bom negocio para o qual não me convidaram”, disse uma vez o Barão de
Itararé. Ele estava fazendo referência à diluição da ética no sentido
aristotélico do termo corrupção. Todos querem mudança, todos aparentam ter
raiva da corrupção, apontam para este e aquele partido e se fazem de
justiceiros afoitos.
Então,
tenhamos a convicção de que, se queremos mudar a história de nosso país,
teremos que começar pelas nossas crianças e dentro de nossos lares e, em
extensão, nas escolas. É fundamental ensinar as nossas crianças, desde a tenra
idade, a linha tênue e a sutil diferença entre mentir e dizer a verdade, entre
a honestidade e a desonestidade, este é um princípio.
Um Brasil
sem corrupção depende, inexoravelmente, da honestidade de seus cidadãos. Eu tenho
um sonho, quero um dia poder reescrever o velho axioma de Lima Barreto: “O Brasil
não tem povo, tem público”.
Um comentário:
Cara essa foi a fala mais coerente e a mais pura realidade!
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