Prof. Douglas Barraqui
I.
O
CRESCIMENTO DO COMÉRCIO E DAS CIDADES
A partir do século XI a
Europa feudal atravessou um período de transformações políticas, econômicas e
sociais:
A) O CRESCIMENTO POPULACIONAL (SÉCULOS
XI-XIII)
No século XIII, a população europeia saltou de cerca de
23 milhões para aproximadamente 55 milhões de habitantes.
Motivos
do crescimento populacional:
1) Relativa
estabilidade e certa segurança graças ao fim das invasões e a ações da Igreja
que visavam conter a violência – Paz de Deus (“Que nenhum cristão mate outro
cristão”) e Trégua de Deus (proibia a guerra em domingos e dias santos).
2) Mudanças
climáticas contribuíram para reduzir as epidemias e proporcionaram melhores
colheitas.
3) Houve,
assim, uma queda significativa da mortalidade.
Os senhores feudais passaram a se preocupar em ampliar as
áreas de cultivo, e a prática do arroteamento foi a primeira iniciativa nesse
sentido - os arroteamentos consistiam em transformar áreas improdutivas do
feudo em locais apropriados para o cultivo agrícola. Dessa forma, os camponeses
eram estimulados a ocupar e cultivar regiões de florestas, pântanos e bosques.
A
explosão demográfica resultou em:
1) Maior
demanda por alimentos,
2) Necessidade
de ampliar a produção de tecidos, utensílios domésticos e produtos artesanais,
entre outros, o que levou algumas pessoas a se especializar na produção desses
itens e também no comércio.
3) A
oferta de tais produtos nos feudos resultou na intensificação da atividade
comercial de caráter monetário.
B) AS TRANSFORMAÇÕES ECONÔMICAS
As transformações econômicas foram
favorecidas pelos avanços tecnológicos na agricultura:
1. Arado de ferro ou charrua: que substituiu o arado de
madeira. Mais resistente e pesado, o arado de ferro abria sulcos profundos na
terra, tornando-a mais fofa e apropriada ao plantio. Solos difíceis puderam ser
trabalhados, e isso aumentou a área disponível para o cultivo.
2. Tração animal:
para puxar o arado. No novo sistema, o cavalo, mais ágil que o boi, passou a
ser utilizado para esse fim. Assim, foi possível cultivar áreas maiores e
aumentar a produtividade do campo.
3. Rotação trienal das culturas:
que consistia em alternar cultivos diferentes em uma área previamente dividida
em três partes ao longo de três anos. A cada ano, enquanto duas áreas forneciam
dois produtos distintos, a terceira permanecia em descanso, sendo utilizada
para pastagens. Desse modo, a produtividade aumentou consideravelmente.
4. Moinhos d’água ou por cata-ventos:
foram aprimorados e tiveram seu uso amplamente difundido. Dessa forma, foi
possível moer os grãos com mais eficiência e rapidez.
Consequências
das inovações técnicas:
1) Aumento
da produção agrícola,
2) As
pessoas puderam se alimentar melhor,
3) O
número de mortes por fome e doença diminuiu
4) As
famílias puderam sustentar um número maior de filhos.
Tudo isso contribuiu para o processo do aumento
populacional
C) O CRESCIMENTO DO COMÉRCIO LOCAL
1) O
desenvolvimento agrícola gerou um excedente alimentar, que podia ser vendido
para a população urbana,
2) O
aumento populacional gerou um excedente de mão de obra, que se deslocou para as
cidades em busca de alternativas de trabalho.
3) Nas
cidades, muitos camponeses sem terra se dedicavam ao comércio e ao artesanato.
D) A EXPANSÃO MILITAR
O desejo da classe mercante medieval em dominar as rotas
comerciais dos árabes e judeus e um excedente populacional (tanto de nobres
quanto de camponeses) criaram as condições necessárias à busca por territórios
fora da Europa e à campanha pela proteção da fé cristã.
As
Cruzadas e as ordens militares
Dá-se o nome de Cruzadas às expedições religiosas e
militares que, entre os séculos XI e XIII, se dirigiram contra aqueles
considerados inimigos da cristandade os muçulmanos que invadiram a terra santa
e proibiram a peregrinação de fiéis.
Objetivo: reconquista da cidade
de Jerusalém, tomada pelos turcos em 1076.
Organização: As
cruzadas foram aclamadas pelo Papa Urbano II em 1095 Concílio de Clermont
(França)
Causas:
1. Causa
religiosa: libertar Jerusalém;
2. Causa
econômica: abrir Mediterrâneo ao comércio;
3. Causa
política: questão da primogenitura – os filhos dos nobres sem
herança viram nas cruzadas a oportunidade de conquistarem terras;
4. Causa
social: crescimento populacional;
Consequências:
1. Crise
do sistema feudal, com o enfraquecimento dos senhores que se endividaram para
montar exércitos e perderam camponeses;
2. Despovoamento das terras do norte da Europa;
3. Criação
de rotas comerciais pelo mar Mediterrâneo;
4. Revigoramento
do comércio entre o Oriente e o Ocidente;
5. Chegada
das especiarias do oriente na Europa;
6. O
estabelecimento de contatos culturais entre a Europa e o Oriente;
7. Os
cruzados contribuíram para a abertura e a recuperação de estradas;
II.
MUDANÇAS
NA EUROPA: ECONOMIA, SOCIEDADE E POLÍTICA
A) O RENASCIMENTO COMERCIAL E URBANO:
Entre os séculos XI e XIII, o feudalismo sofreu
transformações sociais e econômicas, como o aumento populacional, as inovações
nas técnicas agrícolas e a revitalização das cidades devido ao comércio. Esse
conjunto de mudanças ficou conhecido como renascimento
comercial e urbano.
O
comércio:
O crescimento do comércio modificou a estrutura da
sociedade europeia, provocando o fortalecimento de uma nova camada social: a burguesia formada por comerciantes e
artesãos.
As
cidades:
A expansão comercial foi fundamental para o
desenvolvimento da vida urbana na Europa. Os movimentos migratórios do campo
para a cidade aumentavam a população urbana e, com isso, as cidades cresciam e o
comércio prosperava ainda mais.
1.
As
atividades artesanais: Com o crescimento dos núcleos urbanos
surgiram novas ocupações profissionais, como as atividades artesanais. Os
artesãos medievais passaram a se organizar para aumentar sua produção. Em
geral, os artesãos de um mesmo ofício formavam uma associação, a corporação de ofício, responsável por
controlar a qualidade do produto e seu preço.
Faziam parte dessas corporações:
a) Os
mestres de ofício, que eram os donos das oficinas artesanais e dos instrumentos
de trabalho,
b) Os
aprendizes que eram homens livres que dependiam do mestre para trabalhar e
aprender o ofício.
c) Os
jornaleiros que trabalhavam por jornada, recebendo uma remuneração diária.
Objetivo: As
corporações protegiam os artesãos de uma cidade da concorrência dos de outras.
A produção era pequena e não havia grande divisão do trabalho.
2.
O
crescimento do comércio regional
Com
o aumento populacional do período, esses negócios se ampliaram e o comércio
passou a enriquecer os senhores feudais, que lucravam com o crescimento
agrícola e comercial, e a própria burguesia em formação.
3. O comércio de longa distância
O
comércio de longa distância, que envolvia comerciantes e produtos de outras
regiões, também cresceu, principalmente envolvendo as chamadas especiarias do oriente – cravo, canela,
nós moscada, perfumes, essências, ceda, ouro, marfim, açúcar mascavo entre
outras mercadorias.
Para
facilitar o comércio das especiarias, foram criadas as rotas comerciais. Nos pontos de encontro das rotas mais
movimentadas, estabeleceram-se as feiras,
importantes locais de venda. As feiras mais famosas ficavam na região de
Champagne, na França, loca-lizada entre duas grandes áreas de comércio
internacional: o norte da penín-sula Itálica e a região de Flandres. As cidades
do norte da península Itálica, especialmente Gênova e Veneza, controlavam o comércio
com o Oriente.
O
comércio de longa distância gerou maior circulação de dinheiro e novas formas
de pagamento, como a letra de câmbio
- título de crédito intermediado geralmente por uma instituição financeira.
B) A CRISE DO SÉCULO XIV
No início do século XIV, mudanças climáticas e
desmatamentos provocaram colheitas insuficientes e, com isso, houve aumento do
preço dos cereais, em especial do trigo. A população urbana sofreu com o
declínio da produção, os negócios recuaram e alguns banqueiros faliram. Guerras,
doenças e aumento na cobrança de tributos, levaram ao surgimento de violentas
revoltas no campo e nas cidades.
A
guerra dos cem anos (1337-1453): destruiu os campos
cultivados e aumentou a fome, especialmente nos territórios da atual França.
A
peste negra: doença transmitida por pulgas de ratos
doentes reduziu drasticamente a mão de obra disponível para a agricultura.
As cidades medievais não eram planejadas. Nessas cidades,
as ruas eram tortuosas, estreitas e escuras, e não havia nenhum serviço de coleta
de lixo. Nas casas mais pobres não havia banheiros ou qualquer sistema de
esgotos. Nas mais ricas e nos castelos havia latrinas, que eram esvaziadas de
tempos em tempos. Sem condições adequadas de higiene, esse cenário favoreceu o
aparecimento e a transmissão de doenças. Foram comuns no período as epidemias
de varíola, cólera, lepra e tifo, além da peste negra.
O comércio entre as cidades da Europa e o Oriente – de
onde vinham artigos de luxo, como tecidos, pedras preciosas e especiarias –
possibilitou que diversas doenças chegassem pelas rotas comerciais e se
alastrassem pelo continente europeu.
Origem: Os
primeiros casos dessa doença parecem ter ocorrido na China, no iní-cio do
século XIV, quando era dominada pelos mongóis. Em pouco tempo, a peste dizimou
populações da Ásia central até chegar às cidades do mar Negro.
Calcula-se que, de 1348 a 1390, a doença tenha vitimado
entre 20 e 25 milhões de pessoas, o que equivale a um terço da população
europeia da época.
Consequência:
dessa tragédia foi uma redução ainda maior da atividade agrícola, o que
aprofundou a crise econômica e promoveu mais miséria.
A
grande fome de 1315 a 1317: A fome foi resultado da
queda da produção agrícola decorrente de secas. Dessa forma, a peste negra
alastrou-se rapidamente, pois encontrou o povo desnutrido e sem anticorpos para
a doença. Devido às más colheitas, o preço dos cereais, especialmente do trigo,
aumentou e o banditismo cresceu. A população urbana sofria com a falta de
produtos básicos e alguns banqueiros faliram.
As
Jacqueries, revolta camponesa: Os senhores feudais
passaram a explorar mais intensamente os camponeses. Camponeses e servos
passaram a pressionar seus senhores, reivindicando liberdade e melhores
condições de vida, já que estavam presos à terra.
Famintos, cansados e sem a proteção dos senhores, os
camponeses deram início, em 1358, às Jacqueries,
revoltas que ocorreram nas regiões francesas da Picardia e da Provença, e nas
áreas em torno de Paris. A expressão jacquerie deriva de “Jacques Bonhomme”
(equivalente a “joão-ninguém”, em português), apelido que os nobres deram aos
camponeses para ridicularizá-los.
Motivação: era
contestar, por meio de ações violentas contra os nobres, a exploração a que
estavam submetidos.
Ações: os
rebelados queimaram castelos e assassinaram senhores.
Apesar de toda a mobilização popular, a revolta foi
reprimida e mais de 20 mil camponeses foram massacrados pelos exércitos dos
reis e seus aliados.
As
lutas urbanas: Nesse período, outro foco de ocorrência das
revoltas populares foram as cidades.
Causas:
dificuldades provocadas pela Guerra dos Cem Anos e pela peste negra, a luta
pela independência dos poderes feudais, reais e eclesiásticos.
C) AS MUDANÇAS SOCIAIS NA BAIXA IDADE MÉDIA
As dificuldades materiais e as revoltas do século XIV
desestabilizaram o feudalismo:
O Clero:
1.
Perdeu parte de seus poderes, pois estava
menos ligado à aristocracia;
2.
As leis de Deus passaram a ser questionadas;
3.
Perdeu terras e influência;
A Nobreza
1. Em
razão dos problemas econômicos, a aristocracia teve seu poder diminuído;
2. Muitos nobres perderam suas terras e tiveram
de se deslocar para as cidades ou para as cortes reais;
3. Outros
procuravam casar as filhas com burgueses ricos.
Os Camponeses
1. Depois
da peste, das revoltas e do declínio demográfico, muitos conseguiram suas
próprias terras e se livraram da servidão.
2. Outros
migraram para as cidades, tornando-se trabalhadores livres.
A Burguesia
1. Em
geral, o grupo mais favorecido, pois, apesar das dificuldades, muitos burgueses
compraram terras dos nobres,
Passaram a participar e a influenciar cada vez
mais do governo das cidades e da administração real. Referências:
AZEVEDO, Gislane Campos; SERIACOPI, Reinaldo. Projeto Teláris: história 7° ano. São Paulo: Ática, 1º ed.,
2012.
CAPELLARI, Marcos Alexandre; NOGUEIRA, Fausto Henrique Gomes. História:
ser protagonista - Volume único. Ensino Médio. 1ª Ed. São Paulo: SM. 2010.
COTRIM, Gilberto. História Global – Brasil e Geral. Volume
Único. Ensino Médio. 8ª Ed. São Paulo: Saraiva 2005.
MOZER,
Sônia & TELLES, Vera. Descobrindo a
História. São Paulo: Ed. Ática, 2002.
PILETTI,
Nelson & PILETTI, Claudico. História
& Vida Integrada. São Paulo: Ed. Ática, 2002.
Projeto Araribá: História – 7° ano. /Obra coletiva/ São Paulo: Editora Moderna, 2010. Editora Responsável:
Maria Raquel Apolinário Melani.
Uno: Sistema de Ensino – História –
7° ano. São Paulo: Grupo Santillana, 2011. Editor Responsável: Angélica
Pizzutto Pozzani.
VICENTINO,
Cláudio. Viver a História: Ensino
Fundamental. São Paulo: Ed. Scipione, 2002.
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