Por
Douglas Barraqui
Meus alunos, os mais e os menos
crentes, sempre me perguntam: “professor, você acredita no Evolucionismo ou no
Criacionismo?”. Levando em consideração que nós educadores somos formadores de
opinião, temos que ter muito cuidado em colocar nossa opinião. Não vejo nada de
errado em expor, para nossos alunos, a nossa opinião como professores. O que
temos que nos ater é como fazemos isto.
Um primeiro ponto que o
considero como fundamental para evitar eventuais conflitos é retirar esse
“ismo” de criacionismo e evolucionismo. Pois dá uma noção de tipo de idéias e
ideologias de cunho fundamentalista. É justamente isso que nós, professores,
devemos evitar. Podemos falar, sem nenhum problema do ponto de vista teórico,
em “evolução” e “criação”. Alunos do ensino médio serão muito receptivos a esta
linha de observação quanto ao tema em questão.
Falando
de Evolução
Ao falar de evolução, a
primeira coisa a se fazer é definir para o nosso aluno o que seria evolução.
Não estou falando da definição histórica de evolução, mas sim biológica.
Portanto, requer do professor uma interdisciplinaridade. Para a biologia “evolução
é a simples constatação de que organismos compartilham ancestrais comuns”.
Podemos até dizer que esses organismos estão unidos por relações históricas. Ou
seja, nenhum ser vivo desse planeta tem origem independente. Os seres vivos são
parte de um todo que envolveu diversificação. Portanto, ao falar de evolução o
professor não deve ficar limitado a falar de Darwin, pois a idéia de evolução é
anterior a esse cientista. Falar de evolução é falar de um longo período da
história de nosso planeta que rompe mesmo à existência humana, que, inclusive, também
passou por um processo evolutivo.
Falando
de Criação
Ao falar de criação o
professor tem que mostrar ao aluno, com cuidado e polimento das palavras, que
não existe uma única versão para a criação. A versão mais difundida e comumente
compartilhada nas famílias de nossos alunos é aquela disposta no livro do
gênesis da bíblia, em que Deus criou a terra em sete dias.
É fundamental que o
professor mostre para o aluno outras histórias sobre a criação dispostas em
outros povos, culturas e civilizações. Por exemplo, os egípcios acreditavam que
antes do mundo surgir existiam somente as trevas e a chamada “água primordial” (o que faz clara
referência ao Rio Nilo). A partir dessa água primordial teria surgido o deus Atum, que deu origem a descendentes
responsáveis pela criação dos ares, das terras e do céu. Na mitologia grega, a
criação seria fruto dos filhos gerados a partir de Caos. Entre todos os descendentes, foi da união de Urano (céu) e Gaia (terra) que o mundo teria surgido.
Não há, portanto, apenas uma
versão da criação. Criação é uma explicação para a origem do universo e de
todas as coisas, segundo alguma doutrina religiosa ou mitológica.
Podemos
Contestar a Evolução?
Aqui o professor deve
explicar para o aluno que, como prova de um longo processo evolutivo, existem os
registros fósseis. É fundamental que o professor explique ao aluno o conceito
de fóssil e como ele pode ajudar a explicar o processo evolutivo.
Existem ainda vários casos,
muito bem documentados, de fatores evolutivos atuando no momento. O professor
pode citar como exemplo os salmões introduzidos no lago Washington, na década
de 1950. Por contingências do próprio fundo do lago alguns desses alevinos se
estabeleceram no rio, que deságua no lago Washington, e outras se estabeleceram
no próprio lago em uma margem favorável a desova. Mesma população de salmões,
mesmos filhotes. Sessenta anos depois, no lago Washington, há duas populações
que não mais se cruzam, apesar de serem da mesma espécie de salmões e de
poderem se encontrar no mesmo lago. Existe uma população que ficou
fisiologicamente e morfologicamente adaptada ao rio e outra adaptada ao lago.
Os salmões do rio possuem uma forma alongada, talvez influência das correntes e
da necessidade de vencê-las. Os salmões do lago, sem influência de correntes,
possuem uma forma mais alta e arredondada. Portanto, evolução é possível.
Até mesmo do ponto de vista
da igreja católica a evolução não é mais vista como algo contra a doutrina
religiosa. Desde 1996 existe um documento do vaticano, ratificado pelo papa
João Paulo II, dizendo que a evolução material e do corpo era perfeitamente
passível de uma explicação por parte dos evolucionistas, ou seja, por parte da
ciência.
Podemos
Contestar a Criação?
Não há necessidade, tão
pouco seria ético, por parte do professor provar a existência de Deus, tão
pouco contestá-la. Tão pouco o professor deve criar na imaginação do seu aluno
– atente-se, pois a imaginação do nosso aluno pode ser demasiadamente fértil –
um Deus, benevolente, que pregue a justiça, o amor entre o próximo, realizando
um processo em que o mais apito sobrevive. Isso romperia com toda e qualquer
ensinamento desse próprio Deus. Portanto, do ponto de vista da doutrina
religiosa, não haveria espaço para a evolução. Logo, cabe ao professor o máximo
de respeito a esta explicação. Eu diria
até um pouco mais, respeitar o criacionismo é respeitar o meu aluno na suas
crenças e fé. Portanto, nada aqui, nem ciência e nem religião devem ser
contestados, mas sim apresentados.
Concluindo
Então, “professor, você acredita
no Evolucionismo ou no Criacionismo?” sempre digo que não é papel do professor
dar respostas óbvias, capciosas, engessadas, maquiadas, maquinadas e
partidárias. Assim sendo eu respondo ao meu aluno: “eu estou aqui, você meu
aluno está ai, nós estamos aqui nesse bioma, fazemos parte desse ecossistema,
desse planeta, nesse sistema solar, nesta galáxia e nesse universo, portanto, trata-se
de uma questão de liberdade de escolha em que acreditar”.
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