domingo, 29 de novembro de 2015

DEDO NO CU INCOMODA MAIS OS OLHOS DO QUE O ÂNUS

Prof. Douglas Barraqui

O 22º Festival MIX Brasil de Cultura da Diversidade, trouxe uma atração no mínimo inusitada: “performance Macaquinho” que conta com nove atores que exploraram os ânus alheios, uns dos outros.



ISSO É ARTE?

A ARTE tem um poder de estimulante sobre nos seres humanos: um livro pode nos fazer chorar, um filme pode nos deixar triste, uma música pode nos deixar felizes, ou tocar nossa paixão por alguém e o dedo no cu de alguém pode nos causar ojeriza. A arte consegue tocar nossos sentidos, emoções e pensamentos.

A ARTE pode ser inúmeras coisas. E uma das coisas mais importantes, a saber, sobre a arte é que ela “RECRIA O MUNDO EM QUE VIVEMOS”. Esse mundo, dependendo de quem observa, pode ser mais belo ou mais feio; mais ou menos significativo. Porém, de alguma forma, esse mundo novo revela alguma coisa diferente sobre essa mesma realidade.

Embora a beleza esteja indissociavelmente ligada à arte, esta não é necessariamente, e nem tem que ser, bela. Arte nem sempre é algo belo e maravilhoso. Pode ser feia, de causar espanto e ojeriza, mas não deixa de ser arte por isso, desde que consiga tocar nossas emoções arte é arte.

As perguntas que devemos fazer são outras:

1)    De onde veio a CRIATIVIDADE para a “performance Macaquinhos"?

2)    Durante muito tempo o artista foi visto de um jeito especial, dotado de um TALENTO especial ou de uma INSPIRAÇÃO. De onde viria a INSPIRAÇÃO para essa manifestação, no mínimo anti-higiênica?

3)     Se a arte recria o mundo em que vivemos, que mundo essa performance estaria recriando?

Se a arte, de fato, recria o mundo em que vivemos. E esse mesmo mundo serve de inspiração para a criatividade do artista. QUE MUNDO SERIA ESSE?

Aqui eu recorro a Zigmunt Bauman, sociólogo polonês, um dos intelectuais mais respeitados da atualidade, especificamente o que ele trata como sendo o “MUNDO LÍQUIDO”. Recorro, também, ao filósofo estadunidense Marshall Berman e sua obra, que é uma crítica a modernidade, “TUDO QUE É SÓLIDO DESMANCHA NO AR”, originalmente um frase de Karl Marx.

Hoje vivemos em um mundo líquido. Assim como a água, os valores se escorrem, se perdem ao evaporar, fluem e se moldam. Assim como o ar, tudo se esvai, evapora, é levado pelo vento que é o ar em movimento.

Vivemos em um mundo em que os valores facilmente se vão, se moldam, se escorrem. Vivemos em um mundo, uma sociedade, em que ninguém mais se preocupa com o próprio umbigo ou o próprio nariz, ou o próprio cu. Estamos preocupados com o do outro. Temos que “cutucar”, olhar, bisbilhotar, tocar, cheirar. Isso acontece em nossas interações sociais, no trabalho, na escola, com os amigos em um bar, na família e, principalmente, nas redes sociais.

Ao “bisbilhotarmos” a vida do outro, o que nos interessa é justamente o que causa escárnio, o que fede, a parte mais asquerosa e nojenta do outro. Aqui entra o cu da “performance macaquinho”.

Por exemplo: ninguém está interessado no vídeo do you tube “Jovem ajuda vovozinha atravessar avenida”. Mas, todos estão interessados em “senhora é atropelada por um caminhão de gás”. Paramos para ver, tiramos fotos, filmamos e postamos nas redes sociais. Em algumas horas milhares de compartilhamentos e likes. Repito: o que nos interessa é o que nos causa escárnio, ojeriza, o que fede. E buscamos isso no outro.

A “performance macaquinho” foi aplaudida, pessoas pagaram para assistir. Mas, como seria recebida essa mesma performance nas décadas de 70, 80 e 90? Na década de 70, muito provavelmente, todos, inclusive os espectadores, seriam presos, torturados e acusados mancomunar com o comunismo – isso porque enfiar o dedo no cu do outro é coisa de comunista. Na década de 80, a década perdida, crise econômica, moeda desvalorizada, inflação que chegou há fechar o ano acumulada em 365,9%, muito provavelmente não teria dinheiro para realização de tal performance. Na década de 1990 todos seriam presos por atentado violento ao pudor.

Agora lanço outras reflexões, outros problemas:

1)    O QUE FEZ O NOSSO MUNDO SE TORNAR TÃO LÍQUIDO?

2)    COMO É POSSÍVEL VALORES SE PERDEREM TÃO RAPIDAMENTE?


3)    COM OS VALORES SE ESCORRENDO, SENDO LEVADOS TÃO RAPIDAMENTE, PARA QUE DIREÇÃO NOSSO MUNDO ESTÁ CAMINHANDO?

Um comentário:

Unknown disse...

PQP!!!
A questão é: após o 'espetáculo' os atores cumprimentam a platéia apertando-lhes as mãos ou enfiando o dedo?