terça-feira, 6 de outubro de 2015

HOMENS E MULHERES DA NOSSA HISTÓRIA: CHICA DA SILVA

Prof. Douglas Barraqui
Nossa História - N°.02 - Chica da Silva

Nascida escrava Chica da Silva encantou o coração de um dos homens mais poderosos do Brasil colônia, o contratador de diamantes João Fernandes de Oliveira e se tornou a rainha dos diamantes no Brasil, essa foi Chica da Silva.

Chica da Silva era filha de Antônio Caetano de Sá, homem branco, capitão das ordenanças de Bocaina, Três Cruzes e Itatiaia e distritos de Vila Rica. Chica herdou a condição de escrava da sua mãe, Maria da Costa, africana da Costa da Mina, onde hoje se situam o Benim e a Nigéria. Onde trabalhava Chica era conhecida como "Francisca mulata" ou "Francisca parda", vez que os escravos não tinham sobrenome e normalmente eram diferenciados de acordo com seu grupo étnico ou cor da pele. Até os 22 anos Chica era uma cativa e em 1754 foi identificada num documento como "Francisca da Silva, parda forra". O sobrenome Silva, bastante comum no mundo português, era adotado normalmente por pessoas sem procedência ou origem definida.

A aparência de Chica fica no imaginário de muitos biógrafos e historiadores, fato que ninguém sabe como era de fato a sua fisionomia. Alguns dizem que ela era uma mulata linda, outros dizem que ela dominava como ninguém as artes da sedução, o que teria levado o nobre português, contratador de diamantes, João Fernandes de Oliveira a se apaixonar por ela. João Fernandes era o homem responsável pela exploração de todas as pedras preciosas do Arraial do Tijuco, atual Diamantina, Minas Gerais. Em 1754, tomado pela paixão desmedida, o contratador não só alforriou Chica como se casou com ela. Tiveram 13 filhos, Francisca de Paula (1755); João Fernandes (1756); Rita (1757); Joaquim (1759); Antonio Caetano (1761); Ana (1762); Helena (1763); Luiza (1764); Antônia (1765); Maria (1766); Quitéria Rita (1767); Mariana (1769); José Agostinho Fernandes (1770), todos foram registrados no batismo como sendo filhos de João Fernandes, ato incomum na época quando os filhos bastardos de homens brancos e escravas eram registrados sem o nome do pai.

Chica da Silva, graças a influência e poder do marido, passou a ser uma espécie de dona de Diamantina. Ela mesma exercia grande domínio sobre o esposo que realizava seus caprichos. Um deles foi construir um lago artificial no vasto jardim da casa que ele lhe presenteara e pôr ali um navio de verdade, com mastros, velas e âncora, para que Chica e os amigos pudessem navegar, o que faziam com grande alarido. Curiosamente, embora nascida de ventre escrava, parece não ter se comportado diferente de muitas senhoras brancas da sua época. Possuía escravos chegando inclusive a tratá-los mal.

Em 1770 João Fernandes de Oliveira teve que retornar a Portugal, levou consigo os seus quatro filhos homens que em Portugal, receberam educação superior, ocuparam postos importantes na administração do Reino e até receberam títulos de nobreza. João Fernandes acabou nunca mais vendo Chica que ficou em Minas Gerais. Morreu em 1796, dona de várias propriedades, foi sepultada dentro da igreja de São Francisco de Assis, privilégio esse exclusivo de brancos ricos, poderosos e influentes.

REFERÊNCIAS:

CARDOSO, Manuel da Silveira. O Desembargador João Fernandes de Oliveira. Coimbra: Universidade de Coimbra, 1979. p. 310. Disponível em: https://goo.gl/B5tj70. Acesso em 06 de outubro de 2015.


GRINBERG, Almeida, Keila e Lúcia, Anita. Para Conhecer Chica da Silva. Rio de Janeiro: Zahar. p. 75. Disponível em: https://goo.gl/vjIEN7. Acesso em 06 de outubro de 2015. 

Um comentário:

Edu Mari disse...

Era comum os brancos terem relações incestuosas com suas escravas, mesmo os casados. Chica, segundo consta, foi abusada por seu primeiro dono ainda na juventude, talvez aos dezenove anos, em 1750 pois teve seu primeiro filho, em 1751. Ela devia ter uma beleza excepcional pois João Fernandes, homem poderoso, a tratou como verdadeira esposa e com ela teve treze filhos! Naturalmente, ele era homem cobiçado pelas "donzelas" brancas do Tejuco.Ele só a deixou quando foi obrigado pelo Conde de Valadares, a se mudar para Portugal em 1770. Ele levou os quatro filhos homens e deixou as meninas aos cuidados de Chica que, segundo consta, cuidou de suas filhas muito bem educando-as e arranjando bons casamentos para elas.
Ela NÃO era essa "negra vagabunda" que os racistas tentam mostrar nas novelas e filmes...Mas, uma mulher de valor e ótima mãe de família!