terça-feira, 1 de maio de 2012

Ensinar a tabuada ou fazer um rap? "that is the question"


Por Douglas Barraqui

O que é melhor: “boas leis ou boas armas?” Formar cidadão ou qualificar mão-de-obra para o mercado de trabalho? Um aluno virtuoso ética, política e socialmente ou um aluno de raciocínio afiado e de conhecimento sólidos? Eis o “to be, or not to be da educação brasileira. Uma instituição mal equipada, mal estruturada e com seus profissionais recebendo salários miseráveis, é responsabilizada com o pesado fardo de salvar a pátria formando ao mesmo tempo o homem virtuoso e a mão-de-obra qualificado para o mercado de trabalho. Nossas escolas conseguem dar conta do recado?

Uma instituição que mal consegue ensinar o básico “Be à Ba”, irá conseguir resolver todos os problemas sociais, éticos, políticos, culturais e dentre outros do país? Historicamente a escola foi responsabilizada e foi cobrada. Uma demanda por eficiência em que nossos gurus da educação acreditam que para todos os problemas educacionais basta criar uma lei aqui outra ali. E em meio a esse confronto entre “boas” intenções e uma realidade atroz, a última sempre vence.

Criaram um sistema com um currículo ciclópico; aplicaram um sistema de cotas raciais e sociais; forçaram as escolas a não reprovar, depois, a receber todos os alunos, inclusive os portadores de necessidades especiais. Passamos décadas copiando modelos educativos europeus e americanos como se fossem receitas perfeitas para o bolo. E quando nada dava certo: era culpa do professor. O professor colocava a culpa nos pais. Os pais culpavam o filho. Afinal de contas, de quem é a culpa no cartório?

Eu acredito que precisamos parar, repensar e começar tudo de novo a partir da seguinte problemática: que tipo de instituição escola precisamos? Aquela que ensina a boa e velha matemática, o rígido português e a racional ciência, ou aquela que ensina tudo isso e ainda  filosofia, música, ensino religioso, dança e outras alegorias? Ensinar a tabuada ou fazer um rap? De certo que as engrenagens do capitalismo precisam de “equispertis” em matemática, porque música e filosofia não dão dinheiro, pelo menos aos moldes do mercado. Pois, então, deixe eu mudar a minha pergunta: que tipo de homem nossa sociedade precisa?

Corrigir mais de 500 anos de desigualdades e injustiças sociais é um fardo pesado demais para nossas escolas e professores, mas, não impossível. Então o que é necessário? Essa é a pergunta mais fácil de todas que já fiz até aqui: investimento maciço na educação da base ao seu topo. Escolas aparelhadas, estruturadas para receber, não os alunos, mas a diversidade de crianças, jovens e adultos todos com suas necessidades especiais ou não. Profissionais valorizados, qualificados e bem remunerados. Uma política educacional que integre todos os valores, todos os personagens: pais e alunos, escola e comunidade. Utopia? Não, é um sonho.