sábado, 26 de fevereiro de 2011

A História do carnaval: "domesticaram Dionísio"

Por Douglas Barraqui


Entrudo Ruado Ouvidor 1884



Bem, como está próximo um dos festejos mais populares das terras tupiniquins, o carnaval, resolvi por fazer uma releitura e republicar um antigo artigo meu. Em A História do Carnaval: domesticaram Dionísio, faço um breve tracejo da história do carnaval com o ar da graça e com a mesma irreverência de um folião atrás do trio. Narro aqui os fatos de forma descontraída e desinibida sem muitas amarras formais, mas é claro, sem romper com meu relacionamento com a ciência, logo me respaldo de outros autores, e se eles erraram em algum momento o problema é deles. 



“Ah! Classe média! Nos anos cinqüenta ela foi se aproximando de mansinho, temerosa, espichando um olhar comprido para os ensaios dos crioulos. Nos anos sessenta, já mais desinibida, ensaiou seus primeiros passos: no princípio em torno das mesas, depois no meio da quadra (por esses tempos começou a chegar também o pessoal do wonderful, marcelous, fantastic). Nos anos setenta, ela (a classe média) está entrando de sola, consumando a invasão, dando palpites, criando suas alas. Possivelmente nos anos oitenta, se os crioulos não tomarem cuidado, domingo de carnaval vão ficar sentados nas arquibancadas enquanto a classe média faz suas evoluções pela Via Dutra. Sim, porque até lá a Avenida já ficou pequena.” (“Revolução Carnavalesca da Classe Média”, descrita por Novais, na crônica, Gloria às Pastoras e à Bateria, do livro O Caos Nosso de Cada Dia.)

E realmente, sem nenhuma bola de cristal, Carlos Eduardo Novaes, em uma de suas crônicas do livro O Caos Nosso de Cada Dia, escrito ainda na década de setenta, acertou na mosca: O carnaval brasileiro, a festa popular de rua mais famosa do mundo, ou melhor dizendo, a festa de rua mais pop do mundo, foi tomada de assalto pela classe média e hoje se o crioulo precursor do carnaval quiser apreciar o festejo vai ficar espremido nas arquibancadas e pagar bem caro por isso. 

Errou feio quem achou que o carnaval é genuinamente “made in brazil”. Embora não há como comprovar empiricamente o nascimento do carnaval, sabemos que a 10.000 a.C. homens, mulheres, crianças, (sogras, cachorros, gatos e papagaios) se reuniam no verão de corpos pintados, caras mascaradas, pulando e cantando para espantar os demônios da má colheita. Poderia ser a origem do carnaval? Quem sabe?!.

Outros ainda buscam o carnaval nas áridas terras dos faraós. No Egito homens celebravam cultas a deusa Isis e ao Touro Apis, celebrações que alguns pesquisadores denominam de “cultos agrários” (e penso que não seria nada fácil arrastar um carro alegórico de três toneladas em um calor escaldante de quarenta graus no meio do deserto).

Os principais cultos agrários da história foram:
· No Egito, festa da deusa Ísis e do boi Apís;
· Na Pérsia, festas da deusa da Fecundidade Naita e de Mira, deus dos Pastores;
· Na Fenícia, Festa da deusa da Fecundidade Astarteia;
· Em Creta, festa da Grande Mãe, deusa protetora da terra e da fertilidade, representada por uma pomba;
· Na Babilônia, as Sáceas, festas que duravam cinco dias e eram marcadas pela licença sexual e pela inversão dos papéis entre servos e senhores, e pela eleição de um escravo rei que era sacrificado no final da celebração;

E quem sabe não tenha sido aqueles filósofos (pederastas gregos) os inventores do carnaval? O fato é que foi Pisistrato, governador e tirano de Atenas, (561 – 556 / 546 – 527 a.C.) que teria sido responsável por tornar oficial o Culto a Dionísio, deus do Vinho da alegria (e algo mais). Incentivou o culto entre camponeses e lavradores (os mesmos adentrarem no mundo do alcoolismo, aqui surge, portanto os primeiros alcoólatras sendo estes adoradores de Dionísio). Procissões dionisíadas, pelo qual embarcações com rodas (os primeiros carros anfíbios da história), chamados de carrum navalis, levavam a imagem de Dionísio, simbolizando sua chegada em Atenas pelo mar. Os carros carregavam homens e mulheres nús em seu interior, e eram seguidos por uma multidão frenética de mascarados alegres, que por sua vez puxavam um touro que posteriormente seria sacrificado. O fim da procissão era no templo de Lenaion, onde se consumava a hierogamia: o casamento do deus com a Polis (e que festão).

Os louvores a Dionísio se arrastavam de dezembro a março, nas seguintes celebrações: as Lenias, as Dionísias urbanas também chamadas de grandes Dionísias, as Antestérias e as Dionísias Rurais (e só não se arrastava mais porque já estavam todos em coma alcoólico). O culto a Dionísio já existia a uns 3 ou 3,5 mil anos atrás, significava uma oportunidade às mulheres para escaparem da vigilância dos pais, dos irmãos (e é claro do maridão, veja que o dom das mulheres em darem suas escapadelas já é bem antigo do que se pensava). Em bandos, com os rostos pintados de pó e com vestes transformadas e literalmente rasgadas, elas caiam na “folia” em meio a danças e gritos de júbilo em um estado de frenesia, eram chamadas de coribantes. Os homens (descontentes em terem que ficar em casa cuidando dos filhos) logo deram um jeito de aderir ao levante feminino, em uma bebedeira coletiva (a uma espécie de salve-se quem puder pansexualista).

Então, quando a hegemonia de Atenas começa a ser carcomida pelas constantes guerras civis, isso a partir do século IV a.C. já se pode sentir (literalmente) a penetração do culto a Dionísio dentro de Roma, (os romanos, descendentes daqueles meninos que mamaram na teta da loba, achariam muito bacana toda aquela bagunça, e deram o nome de bacanais). Em terras romanas Dionísio era mais conhecido como Baco e suas sacerdotisas eram chamadas de Bacchantes

Em meio a gritarias e escândalos uma multidão demasiadamente enlouquecida dançava, pulava, tomavam as ruas, causando uma verdadeira desordem ao ponto de o Senado Romano proibir os Bacanais em 186 a.C. (e isso não foi nada bacana por parte do Senado). Estes festejos também eram teatralizações coletivas, uma maneira irreverente de criticar os governantes corruptos (aqui sim se explica o porquê de terem sido proibidos). Em uma inversão de papéis o miserável vestia-se de rei, o rico de pobretão e o libertino aparece como guia religioso. Os tidos como machos viris se vestiam de mulher e a rameira local pousava como a mais pura donzela (não mudou muito hoje: o carnaval está cheio de homens que se vestem de mulheres, mulheres vestindo-se de homens, uns acabam gostando tanto das fantasias que resolvem ficar o ano todo com elas e tem ainda aqueles que nem precisam se fantasiar).

Ainda fundamentada no ascetismo, lá dos tempos dos senhores feudais, a civilização judaica e os Católicos condenam e renegam o carnaval (se pudessem queimar todos os foliões na fogueira da Santa Inquisição, fariam de bom gosto e as escolas de samba não teriam um passista se quer), todavia, no século XV, o Papa Paulo II, permitiu a realização de bailes de máscaras em frente a seu palácio, na Via Lata. Como a Igreja não tolerava qualquer tipo de manifestações sexuais e bebedeiras, o carnaval adquiriu nova forma: parecia um desfile de pessoas fantasiadas, tudo cercado por um ar de deboche e morbidez (os nobres esbanjando o luxo exacerbado de suas fantasias, realizavam bolões entre si para saberem quem é o nobre que está por de trás de cada máscara: seria o Duque de Sforza? Seria a Condessa de Barral? Ou Marques de Pombal?). O carnaval se limitava, portanto, a celebrações ordeiras, de caráter artístico, com bailes e desfiles alegóricos.

Friedrich Nietzsche (1844 – 1900 depois de J.C.), filósofo alemão, na obra O Nascimento da Tragédia, fez um excelentíssimo estudo a respeito de Dionísio e Apolo. Segundo Nietzsche a arte se torna a única justificativa plausível para o sofrimento do homem, por isso ele combate a moral cristã que lhe parece fruto do ressentimento de frustrados (foi trágico para Nietzsche, que provavelmente foi visto pela igreja como um ateu de marca maior).

Jose Guilherme Merquior, filósofo, sociólogo e escritor (ele também escrevia), diz em sua obra, Saudades do Carnaval

“É fácil calcular a intensidade dos inconvenientes dessa atitude anti-natural quando a civilização racionalizada da Idade Moderna suprimiu justamente os pulmões carnavalescos da cultura. O Cristianismo da sociedade industrial, a religiosidade do tempo de Nietzsche não só havia negado e sufocado toda válvula orgiástica - toda composição sistemática com erros e carisma - como virara franca ideologia da sublimação ressurgida das massas aburguesadas , era nesse contexto, que a moral da renúncia significa repressividade absoluta, e repressividade doentia, “indecorosa” para usar a expressão do anti-cristo. O ascetismo vitoriano, a serviço da massificação repressiva, da 'redução à mediocridade', de todas as dimensões morais do homem eis o que levou Nietzsche a um desmascaramento indignado do cristianismo”. 

(Então você diz: “não entendi nada”. Eu digo: “eu também li três ou quatro vezes para entender”, mas em fim, Jose apenas está dizendo que a sociedade cristã, moderna e industrial censurou o Carnaval de forma repressiva, trocando em miúdos: chega de bacanais e orgias. E foi o que fez Nietzsche ficar indignado com o cristianismo provavelmente ele gostava muito de bacanais e orgias).

No Brasil o carnaval chega em 1723 (como sempre as coisas chegam por aqui com atraso), recebendo o nome de Entrudo, isso por influência dos lusitanos das Ilhas de Madeira, Açoures e Cabo Verde. Constituíam-se de destrambelhadas correrias, mela-mela de farinha, água com limão (isso parece limonada) que evoluiu depois para batalhas de confetes e serpentinas (não seria um aniversário de criança?).

O tal Entrudo, que vem do latim Intruitus, faz referência às solenidades litúrgicas da Quaresma. Um primogênito, herdeiro das bacantes e das dionísias, podia ser um intruso em terras tupiniquins, mas os colonos imediatamente aderiram ao festejo, como um momento imperdível e esta se tornou a festa mais popular do Brasil (Pode perguntar no exterior: you know Brasil? “Yes football, Carnival”).

Os primeiros blocos de carnaval e os famosos corsos só vão surgir no século XIX. Como (instituto educacional) escola de Samba somente em 1928 (depois de J.C.), com a Deixa Eu Falar, no Bairro do Estácio. O jornal Mundo Esportivo promovia na Praça Onze, em 1930, o primeiro desfile de escolas de samba (que com a intervenção da polícia acabou em um desfile de pancadaria). "E a Deixa Eu Falar falou, mas não por muito tempo". No desfile de 1932 a escola montou um enredo a fim de homenagear o movimento político que levara Getúlio ao poder (aquela dita Revolução de 1930), o enredo chamava-se Revolução de Outubro (e a polícia, novamente ela, especialista em história das revoluções, desconfiou que a que a história se referia a outra revolução, uma ocorrida em 1917 em um país “onde o Rei Momo atendia pelo nome de Czar), e bem disse Novaes: “e não deixaram mais a Deixa Eu Falar falar”. O carnaval, afinal é fundamental que seja lembrado, teve seu próprio mártir, seu apelido Caqueira, compositor da Lira e Amor, morreu enforcado em cima do caminhão da escola em 1947 (quase um Tiradentes). 
O carnaval cresceu, de forma tão vertiginosa, que acabou se tornando um produto de nossa cota de exportação, surgindo até os carnavais fora de época às famosas micaretas: em Fortaleza é chamado de Fortal; em Natal, o Carnatal (se papai Noel souber disso?!); em João Pessoa, a Micaroa; Campina Grande, Micarande; em Maceió, Carnaval Fest; em Caruaru, o Micarú, todos com a presença indispensável do trio elétrico (que na verdade é um só). “E ninguém ficará surpreso se amanhã, na relação das vinte maiores empresas brasileiras, aparecer o nome da Mangueira”. 
Conclusão


Não sou inimigo do Carnaval, um dos festejos mais populares do Brasil, mas faço uma crítica na forma e de como se comemora. Por de trás das fantasias do carnaval está um trio de absurdos, uma escola de ignorância é uma marcha de corruptos.

O primeiro erro é acreditar que o carnaval é uma festa genuinamente “made in Brasil”. Embora não há como comprovar empiricamente o nascimento do carnaval, sabemos que a 10.000 a.C. homens, mulheres, crianças, se reuniam no verão de corpos pintados, caras mascaradas, pulando e cantando para espantar os demônios da má colheita. Festejos parecidos e peculiares foram comemorados entre egípcios, gregos e romanos. Mas, o carnaval tal como conhecemos tem sua origem na Europa no Período Vitoriano e se espalhou pelo mundo afora metamorfoseando a outras culturas. No Brasil quando aqui chegou por influência dos lusitanos das Ilhas de Madeira, Açoures e Cabo Verdena, na primeira metade do século XVIII, recebeu o nome de entrudo. Consistia de destrambelhadas correrias, mela-mela de farinha, água com limão que evoluiu depois para batalhas de confetes e serpentinas. Os primeiros blocos de carnaval e os famosos corsos só vão surgir no século XIX. E a primeira Escola de Samba somente em 1928, com a Deixa Eu Falar, no Bairro do Estácio.

Enganam-se os pobres coitados que correm atrás de trios e de marchinhas carnavalescas pensando que carnaval é uma festa popular. Hoje carnaval é negócio, e dos mais lucrativos, coisa de gente rica. Pobre não tem acesso aos camarotes VIP (Very Important Person), as festas privadas e luxuosas e aos abadas caríssimos intitulados “passaportes da alegria”.

A maioria dos blocos, trios, palanques e escolas vivem à custa do poder público. Seu, meu e nosso dinheiro. E convenhamos ninguém subirá em um palanque somente para fazer do carnaval uma festa democrática, ou para fazer feliz o público. Esses artistas, mega artistas, não cobram menos do que na casa dos milhares e até mesmo milhões para divertir um público anestesiado e supostamente feliz porque é carnaval. Uma política de circo para uma população paupérrima que não tem se quer um pão na mesa.

Todo carnaval são as mesmas coisas dantescas: a boa música e amordaçada pelas supostas músicas do momento como “o melo da mulher maravilha” e um “ai se eu te pego”. Dezenas de ambulâncias são disponibilizadas para atender bêbados e machões brigões enquanto o povo morre as minguas nos corredores dos hospitais. A polícia é colocada com todo seu efetivo a fim de guardarem a ordem, e no dia a dia o mesmo folião que pula atrás dos blocos vive encarcerado dentro de sua casa por grades e muros com medo da insegurança.

Os falsos gurus da economia dizem até que o carnaval faz girar a economia, gera renda para dona Maria do cachorro quente e até o senhor João catador de latinhas. Se João e Maria fossem depender do carnaval para o sustento de seus filhos morreriam de fome. Carnaval só é lucrativo para grandes cervejarias, hotéis luxuosos, donos de trios elétricos, e músicos famosos. No mais é prejuízo atrás de prejuízo. São gastos para socorrer vítimas de acidentes de trânsitos os mesmos foliões embriagados ao volante. Gastos em limpeza de rua, ao passo que os foliões parecem mais com porcos dançando em um chiqueiro. Fora os gastos com gravidez indesejada, e com tratamentos para novos soro positivo.
  
E o ano, como dito popular, só começa de fato após o carnaval. Só depois que os trios e os tambores, pandeiros, cuícas se calaram, que o efeito das drogas passarem e que as máscaras caírem é que se vai ter uma noção do prejuízo. Que o país das cores, das luzes, do deslumbre e da dança passou pela avenida e foi embora. E ficou a realidade.



A dura e vergonhosa realidade de um salário mínimo irrisório. A realidade dos autos impostos a serem pagos ao leão, não o leão da Escola Porto da Pedra, mas, o leão da receita. A realidade dos mega salários, dos corruptos, do mensalão. A realidade dos salários indignos dos professores, policiais e bombeiros que tentam salvar o que restou após o carnaval. Entre tantas outras realidades. 

Um dito popular brasileiro diz que o ano só começa depois do carnaval e não deixa de ser verdade. No carnaval o povo esquece de tudo: da roubalheira na política, do reajuste dos deputados de 61%, da crise ambiental, dos filhos e por ai vai. Brasileiro não sai na rua para protestar ou pedir um aumento digno do salário mínimo, mas sai na rua atrás de um trio elétrico gastando todo seu mísero salário com abadas; fica o ano todo pagando chega até ser cômico.  E alguns dizem que com todas as mudanças ao decorrer da história e intervenções de uns e outros, o Carnaval caiu na mesmice. Não há mais as safadices e irreverências de outrora: “domesticaram Dionísio!”.

Referências Bibliográficas

Coleção Arenas do Rio. RioArte e Relume-Dumará Editores, 2003.

MAGALHÃES, Rosa. Fazendo carnaval: the marking of carnival. São Paulo: Lacerda, 1997.


MEIRELLES, Gilda Fleury. Tudo sobre eventos: o que você precisa saber para criar, organizar e gerenciar eventos que promovem sua empresa e seus produtos. São Paulo: Editora STS, 1999.

MORAES, Eneida de. História do carnaval carioca. Rio de Janeiro: Record, 1987.

NOVAES, Carlos Eduardo. O Caos Nosso de Cada Dia. 6º ed. Rio de Janeiro: Nórdica, 1978.

RABAÇA, Carlos Alberto e BARBOSA, Gustavo Guimarães. Dicionário de
comunicação. Rio de Janeiro: Campus, 2001.

VALENÇA, Rachel. Carnaval: para tudo se acabar na quarta-feira. Rio de Janeiro.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O “ciberativismo” e a nova era das revoluções

Por Douglas Barraqui

Seria muita ousadia minha dizer que as redes sociais, como o Facebook e Twitter, possam ser os novos veículos motores, condutores, interlocutores de massas para às revoluções? Como os panfletos liberais da Revolução Francesa ou como os jornais de esquerda no período do nosso Regime Militar as redes sociais se demonstram como veículos de comunicação capazes de unir massas, propagar informações, opiniões e ideologias. O mundo da velocidade de informação via telemática agora colabora para a derrubada de um regime que há 30 anos estava no poder no Egito.

A terra das múmias e das pirâmides, enfrentou uma das maiores revoltas populares por alterações políticas que culminaram na renuncia do presidente Hosni Mubarak que há 30 anos se colocava no poder como um verdadeiro déspota faraônico.

Mubarak enfrentou a crise em três frentes: de um lado a Irmandade Mulçumana, principal força de oposição. Sua bandeira é a luta contra a influência ocidental e instalação da xariá, lei islâmica. Do outro lado os Democratas, pró-ocidente tendo como porta-voz o prêmio Nobel da paz Mohamed El-Baradei ex diretor geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). E em uma ponta mais ocidental Mubarak enfrentava a oposição internacional Barack Obama, que tem no Egito o principal aliado no mundo islâmico, também pressionou pela renuncia de Mubarak e é claro se pondo do lado dos pró-ocidente.

Mas, o combustível da máquina da revolução foi o povo ligados direta ou indiretamente a algumas das ideologias mencionadas. E as redes sociais, resultado dos avanços tecnológicos dos últimos anos, foram utilizadas como instrumento de revolução.

Há cerca de três anos Khaled Said, um ativista egípcio, iniciou uma página do Movimento 6 de abril no site para apoiar os trabalhadores em greve no país. Desde então, a página conseguiu reunir mais de 60 mil membros preocupados com problemas como liberdade de expressão, economia e frustração com o governo. O blogueiro acabou espancado até a morte por policiais egípcios no ano passado. Outro jovem, Wael Ghonim, também por intermédio das redes sociais liderou milhares de manifestantes em defesa da democracia no Egito.

O regime de Hosni Mubarak até que tentou conter a revolução tentando bloquear o Facebook e o Twitter, e interrompendo o sinal de algumas operadoras de telefonia celular. Mas as redes sociais se comportavam como verdadeiros catalisadores do processo revolucionário independentes dos meios de comunicação de massa convencionais controlados pelo governo de Mubarak. É neste cenário que surge o “ciberativista”, como uma forma de ativismo, por intermédio dos meios de comunicação eletrônicos. Uma alternativa, que não nos parece convencional, ou que talvez não eram esperadas pelos criadores das redes sociais, para driblar os meios de comunicação de massa tradicionais geralmente monopolizados ou controlados por governos ou sistemas.

Acabou que o Facebook virou até nome de gente. Segundo jornal egípcio Al-Ahram um pai teria batizado sua filha como Facebook Jamal Ibrahim. Segundo o pai, Gamal Ibrahim, foi uma forma de homenagear a rede social uma das ferramentas online usadas pelos “ciberativistas” para organizar a revolução e reunir multidões em torno da praça Tahrir, centro da resistência contra o regime de Mubarak.

Hosni Mubarak sucumbiu à revolução; as redes sociais foram utilizadas como instrumentos de luta pelos “ciberativistas”; e Facebook virou nome de gente. A terra das múmias, faraós e pirâmides entra novamente para a história das revoluções.

Fontes consultadas:


sábado, 5 de fevereiro de 2011

Nada como a sensibilidade de uma mulher para falar de mulher

Além de uma amiga, uma doce amiga, Cida Neuenschwander é uma daquelas mulheres que fazem das palavras poemas. Uma mulher que quando você se dá conta já se tornou amigo. E Nada como a sensibilidade de uma mulher para falar de mulher.


Por Cida Neuenschwander

"A história da mulher é a história da pior tirania que o mundo conheceu: a tirania do mais fraco sobre o mais forte."  Oscar Wilde

Maria Antonieta
Noite passada, assistindo a um programa, creio que eslovaco, uma frase me chamou a atenção. Em determinado momento a repórter fala: “A vida sangra a mulher durante cinco dias de cada mês”.  Documentário muito bem feito sobre um dos problemas, além de outros fatos bem conhecidos por nós mulheres, que a história impõe: o direito ou não de conceber e dar continuidade a esta história. Este direito é para umas, fundamental, para outras uma questão de escolha.

“As questões da alma feminina não podem ser tratadas tentando-se esculpi-las de uma forma mais adequada a uma cultura inconsciente, nem é possível dobrá-la até que tenha um formato intelectual mais aceitável para aqueles que alegam ser os únicos detentores do consciente. Não! Na verdade a meta deve ser a recuperação e o resgate da bela forma psíquica natural da mulher”[1]

Além de suas forças poderosas e naturais.

Não tenho aqui a pretensão técnica e expertise no assunto, não defendo correntes de pensamento e sim fatos, e tenho uma condição: Sou MULHER. E nesta condição sou toda emoção, controle da vida, “dona” das preocupações, soluções, mazelas familiares. E mais. Independente, portanto, não me vejo como vítima,corro atrás do que precisa e deve ser compartilhado por todos, dentro do que chamo comunidade e cidadania.

Nossa casa, nossa vida é uma empresa e como disse o poeta, posso cuidar para que ela não vá à falência. Como mãe, sempre digo, sou e serei a culpada; mãe não tem culpa de tudo? Digo aos meus filhos: se forem à terapia podem me culpar, pois não nasci deusa, tótem, algo para ser venerado. Nasci na melhor essência: MULHER, GENTE.

Embora a história mostre o contrário, ser mulher não é fazer o que nos foi ensinado e muito menos ensinar da mesma forma, pois tudo o que nos foi ensinado e cravado em pele, foi para a submissão. E discriminação lembra a Terceira Lei de Newton. Quando dois corpos A e B interagem, se A aplica sobre B uma força, esse último corpo aplicará sobre A outra força de mesma intensidade, mesma direção e sentido contrário. E aos poucos, a falta de identidade, a intensidade da reação sucederam-se ao longo de mais de 200 anos. Somos mesmo intensas. E isto rondará a história quer alguns queiram ou não. As evidências estão aí. A igualdade foi buscada e continua sua luta 

Apesar das conquistas da mulher no decorrer da História muitos ainda são os abusos que devem ser conhecidos e discutidos, para que sejam tomadas medidas que levem à sua extinção, para sempre. Há leis, leis e leis, direitos adquiridos e realidade. A realidade mostra uma questão largamente conhecida como gênero. A questão gênero ronda homens e mulheres e vice-versa. Pois neste momento, não discutiremos quem é o melhor / pior e sim a igualdade dos direitos. A igualdade de ir e vir, a liberdade de expressão, como consta em nossa mambembe constituição. O que poderia ainda explicar a discriminação nas questões intelectuais, profissionais, de saúde, força e vitalidade?

A agressão, a violência nas mínimas coisas? E por violência leiam-se também direitos. Sem exageros: as lutas continuam acesas aos olhos abertos ou fechados da sociedade. Desafio a todos, homens e mulheres: Anotem, notem, o quanto o apelo discriminatório prevalece e sobrevive. A questão é quando a história deixará de mostrar tais coisas e veiculá-las.  Onde ficam então a capacidade mental, física, criativa e multiplicadora de funções exercidas pelo sexo feminino? Aqui, pergunto apenas, quero e exijo sim, continuar sendo quem sou e com tranquilidade ter-me igualada. Os gêneros podem ou não? Troquemos os papéis. Por um dia! Façam este exercício de raciocínio, multiplicidade e poder de solução. 

Discutam os pobres de entendimento, falem muita besteira. Apenas confirmarão na pele e no desgaste do dia a versátil figura que é capaz de ser, em várias situações, onipresente.

Referências: 

1. ESTÉS, Clarissa Pinkola. Mulheres que correm com lobos: Mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1994. 


Cida Neuenschwander tem Licenciatura Plena em Português, Inglês e suas Literaturas. Ataulmente é Coordenadora pedagógica e de Projetos de eMentoring - ADE Brasil – www.adebrasil.org.br