quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Escola e Democracia: um olhar sobre a obra de Demerval Saviani


O objetivo de Dermeval Saviani, na obra Escola e Democracia, é o de expor a situação educacional e sua intrínseca relação com a sociedade ao longo da história. O foco central do livro é a questão da democracia e a educação no Brasil, as teorias de caráter pedagógico e seus resultados.
O texto é de fácil leitura e bem elucidador, sendo ele dividido em quatro partes: uma primeira parte que trata das teorias educacionais; uma segunda parte (capítulo referente à Escola e Democracia I) que aborda a Teoria da Curvatura da Vara; a terceira parte (capítulo referente à Escola e Democracia II) que faz uma abordagem problematizando a Teoria da Curvatura da Vara; e a quarta parte Saviani guarda para a elaboração de onze teses a respeito da educação e política.
No início da obra Saviani divide as teorias pedagógicas em não-criticas e as crítico-reprodutivistas. Para a teoria não-critica Saviani coloca em questão a pedagogia tradicional, onde a figura central das escolas é o professor, transmissor do conhecimento aos alunos; e aos alunos resta apenas receber e assimilar os conhecimentos transmitidos. A pedagogia nova também faz parte das não-críticas, é aquela em que o:
“[...] professor agiria como um estimulador e orientador de aprendizagem cuja iniciativa principal caberia aos próprios alunos. Tal aprendizagem seria uma decorrência espontânea do ambiente estimulante e da relação viva que se estabeleceria entre os alunos e entre estes e o professor" (SAVIANI, 2000, p. 13)
Por fim, também dentro da ótica de Saviani como pedagogia não-critica, estaria a pedagogia tecnicista, o professor e aluno por essa visão ocupam uma posição secundária e o ponto principal é a organização racional dos meios.
Para as teorias crítico-reprodutivistas, que tem como objetivo somente explicar o mecanismo de funcionamento das escolas do modo como está constituída, Saviani coloca: a Teoria do Sistema de Ensino Enquanto Violência Simbólica, uma educação funcional: reproduzir a desigualdade social. A Teoria da Escola como Aparelho Ideológico do Estado, seria a perpetuação da exploração segundo a ótica do sistema capitalista. Por fim a Teoria da Escola Dualista seria a escola contribuindo para a formação da força de trabalho inserido na ideologia burguesa. Saviani encerra este capítulo colocando sugestões de como se poderia fomentar uma teoria, de fato, crítica para a educação que seria a teoria que não se deixa ser expropriada pelos interesses dos dominantes.
Nos dois capítulos seguintes, intitulados Escola e Democracia I e II, o autor delineia seu raciocínio em três pontos fundamentais: a tese filosófica-histórica; a Filosófica-metodológica; e por fim a teses Política. Toda essa analise é feita com base na teoria da Curvatura da Vara, enunciada por Lênin ao ser criticado por assumir posições extremistas e radicais:
"[...] quando a vara está torta, ela fica curva de um lado e se você quiser endireitá-la, não basta colocá-la na posição correta. Ê preciso curvá-la para o lado oposto". (SAVIANI, 2000, p. 40)

Na primeira, filosófica-histórica, Saviani esboça como que, historicamente, a classe burguesa levantava a bandeira da educação para todos com o objetivo de transformar o que era servo em cidadão. Defendia-se a pedagogia da essência baseado no pensamento de Rousseau, que dizia “o homem é bom a sociedade que o corrompe”.  O verdadeiro discurso estava pautado na ideologia de que servos educados e inseridos em uma política democrática escolheriam representantes, considerados pela burguesia como, ideais. Todavia, nem sempre eram a melhor escolha para os servos. Assim, a burguesia passou a defender a chamada pedagogia da existência que, então, legitimaria a desigualdade.
Na segunda tese, filosófica-metodológica, Saviani ataca a Escola Nova do que diz respeito a dissolução da diferença entre o ensino e a pesquisa, que de alguma forma influiu para o empobrecimento do ensino propriamente dito.
Na terceira tese, Política, que segundo o autor é resultante da junção das duas primeira, “[...]aquela conclusão segundo o qual quando mais se falou em democracia no interior da escola, [...]”(SAVIANI, 2000, p. 59). Saviani basicamente argumenta sobre a falta de democracia no seio da Escola Nova.
E por fim, no último capítulo, Saviani elabora 11 teses sobre educação e política; distingui as duas partes, as relaciona e consegue nos mostrar que embora política e educação possuem conceitos diferentes, uma não existe sem a outra. Existindo, portanto, uma relação de dependência entre ambas.
A pensarmos sobre a Teoria da Curvatura da Vara
Agora presto-me a analisar especificamente o capítulo que trata a Teoria da Curvatura da Vara de Lênin. Nele Saviani quer tentar um ajuste na educação desse modo: “quando a vara está torta, ela fica curva de um lado e se você quiser endireitá-la, não basta colocá-la na posição correta. É preciso curvá-la para o lado oposto”. Assim, Saviani nos diz que quanto mais se falou de democracia nas escolas, menos democrática foi essa mesma escola e, por incrível que possa parecer, quanto menos se falou em democracia na escola, mais ela esteve engajada com a construção de uma ordem democrática.
A pedagogia nova, baseada na filosofia existencialista, substituiu a pedagogia tradicional que estava pautada na filosofia essencialista. Foi uma imposição da burguesia para sobreviver, a existência superando a essência.
Saviani, então, puxa a vara para o lado oposto, com o objetivo de trazê-la para o centro, que não é nem a escola tradicional nem a escola nova. Contudo, a vara parece viciar na nova posição e, portanto, terá que ser feito ajustes para que venha ao centro.
Nessa perspectiva Saviani quer dar um abalo na máquina política educacional, balançando, a meu ver, as Curvaturas das Varas em busca do equilíbrio dito ideal para nosso autor.


BIBLIOGRAFIA

SAVIANI, Dermeval. Escola e democracia. 33. ed. rev. - Campinas: Autores Associados, 2000. 94 p.

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