sábado, 4 de julho de 2009

"Vacas gordas" acabam no brejo


By Douguera

Períodos de vacas gordas são bem perceptíveis na história das sociedades, o de vacas magras então, nem se fala. A sociedade capitalista em si (aqui me refiro restritamente a países desenvolvidos) passou por trinta maravilhosos anos de graúdas vacas, que alguns gurus da economia gostam de chamar de “anos dourados”. Esse momento de pujança econômica pertenceu essencialmente aos países capitalistas desenvolvidos, aos subdesenvolvidos restaram as pastagens.

A reforma da fachada do capitalismo, no pós-guerra, “ao ponto de ficar irreconhecível” para os cegos e o avanço da internacionalização (leia-se aqui globalização) da economia, foram de fundamental importância para a engorda. Significou basicamente uma noite de núpcias, resultado do casamento entre a democracia social e o liberalismo econômico. Cerimônia presidida por governos conservadores moderados, não eram mais aqueles brucutus de outrora.

Uma revolução tecnológica, fruto da Segunda Grande Guerra, parecia alimentar o surto econômico. A consciência do consumidor foi moldada de tal maneira que as novidades tecnológicas se tornariam o principal recurso de vendas, e o que não era novidade dar-se-ia um jeito.

A conseqüência disso foi dias de vacas gordas: aumentou os financiamentos externos e de forma opulente o fluxo de comércio mercadológico; houve uma efervescência das empresas transnacionais. Malthus deve ter se remoído na sepultura quando descobriu a escalada significativa da produção de alimentos em todo o mundo e subiu também a produção de manufaturados. A classe média pode agora usufruir de muitos confortos antes restritos aos ricos.

Bem, claro que algo teria de servir de ração concentrada à crescente engorda, assim a ação antrópica foi notória. A poluição teve como responsáveis diretos e indiretos os países desenvolvidos com um forte impacto sobre as áreas urbano industrial. A concentração de dióxido de carbono, que aquecem a atmosfera, praticamente triplicou entre 1950 e 1973 (World Resources, 1986, tabela 11.1, p. 318; 11.4, p. 319; Smil, 1990 p. a, fig. 2). Foram despejados na atmosfera até 1974 uma média de 400 mil toneladas de clorofluorcarbonos, produto químico nocivo à camada de ozônio (World Resources, 1986, tabela 11.2, p. 319). Um ruminante tem que defecar.

A Europa só foi tomar sua prosperidade como coisa certa na década de 1960 e ao mesmo tempo via-se a distância, em caráter econômico, entre o capitalismo e o comunismo. E os sábios gurus da economia só foram se dar conta que o mundo, em particular capitalista desenvolvido, passava por uma fase excepcional no final da década de 1970.

A era de ouro, a vaca gorda da sociedade capitalista ocidental, necessitava cada vez mais de investimentos, cada vez menos de seres humanos a não ser consumidores. Dependia do esmagador domínio político econômico dos Estados Unidos que, muita das vezes sem pretender, atuavam como asseguradores da economia mundial.

Como nos “booms” anteriores os anos dourados acabariam em bancarrota de imóveis e bancos. A década a partir de 1973 seriam novamente períodos de vacas magras, porque a gorda foi pro brejo.

Referências Bibliográficas:

World Resources. Disponível em: http://www.wri.org/. Acessado em 04/07/2009.

HOBSBAWM, E. J. Era dos extremos: o breve século XX : 1914-1991. 2. ed. - São Paulo: Companhia das Letras, 1996. 598 p.

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