sábado, 11 de julho de 2009

John Gray: al-Qaeda e o que significa ser moderno


“o mito moderno é que a ciência capacita a humanidade a tomar conta do seu destino, mas a própria ‘humanidade’ é um mito, um resto empoeirado de fé religiosa. Na verdade, só há pessoas humanas, que usam o crescente conhecimento propiciado pela ciência na busca de seus fins conflitantes.”


John Gray é seu nome, Al-qaeda e o que significa ser moderno é a sua obra. Fui me atentar a valorosa leitura deste livro quando me ative a ler um de seus capítulos: A metamorfose da guerra, e então parti para desbravá-lo. E é claro que eu não poderia deixar de comentar, uma vez que essa rica obra me agregou valores e conhecimento fundamentais na compreensão da chamada história do tempo presente.


John Gray é professor de Pensamento Europeu na London School of Economics, é colunista do jornal britânico The Guardian. Publicou também O Falso Amanhecer; Cachorros de Palha; A Morte da Utopia; Two faces of Leberalism entre outros. Esteve também ligado à Nova Direita, que influenciou decisivamente a ascensão de Margaret Thatcher na Inglaterra.


Deixamos sua paixão direitista de lado e partamos para a obra. O livro abre a discussão fundamental sobre a crença da modernidade como condição única e vital. Ao passo que as sociedades enquanto modernas seriam mais parecidas e tornar-se-iam melhores, a pobreza e a guerra, poderiam ser abolidas com o poder conferido pela luz da ciência, a humanidade então, racional que seria em seu fervor, seria capaz de criar um mundo novo. Ser moderno é de fato, portanto, “realizar nossos valores – os valores iluministas, como gostamos de pensar.”


Acreditar, como os positivistas acreditavam, que a expansão do conhecimento científico e a emancipação da humanidade caminham de mãos dadas, para Gray, é um fiasco. A experiência soviética com o comunismo e alemã com o nazismo, em pólos ideológicos antagônicos, significaram a tentativa desastrosa de corporificar o ideal iluminista de um mundo liberto. Ambos praticaram os piores atos de genocídios da humanidade. E não é diferente com a al-Qaeda com o então 11 de setembro de 2001.


“o comunismo soviético foi concebido no coração da civilização ocidental. Não poderia ter-se originado em nenhum outro meio. O marxismo é apenas uma versão radical da crença iluminista no progresso – ela mesma uma mutação da esperança Cristã.”


“Tanto em escala quanto no objetivo de fazer surgir uma humanidade nova e socialista, o terror soviético foi unicamente moderno. O mesmo é verdade no caso dos genocídios nazistas.”


“... A idéia predominante do que significa ser moderno é um mito pós-cristão. Os cristãos sempre sustentaram que há apenas um caminho para a salvação, revelada na história e aberta a todos...”


“Não apenas no uso das tecnologias de comunicação que a al-Qaeda é moderna. Também é moderna sua organização. A al-Qaeda lembra menos as estruturas de comando centralizado dos partidos revolucionários do século XX que as estruturas celulares dos cartéis de drogas e as redes planas das empresas virtuais. Sem sede fixa e com membros ativos em praticamente todas as partes do mundo, a al-Qaeda é uma multinacional global.”


Como toda boa obra, o livro de John Gray abre um leque de problematizações que dificilmente passam pelos “lugares-comuns” da história. Tem lá seus buracos e lacunas mas, é ao mesmo tempo o que torna o texto mais degustável as mentes abertas. Sendo esta uma valiosa contribuição interpretativa para a história do tempo presente.

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